Eu já estava ficando irritado com tudo isso. Como se eu já não estivesse ansioso o bastante, os segundos custavam a passar. E Jake continuava com aquela cara serena, como se fosse uma conversa casual. Caso ele não tivesse percebido, aquela conversa talvez teria uma ligação direta com todo o meu futuro. Ela poderia até sentenciar se eu iria ter um futuro. Eu não queria admitir, mas estava apavorado. Eu não sabia o que esperar daquilo, pelo que eu conhecia do tal Edward, ele era extremamente hostil e obstinado, quando queria. A minha vida poderia acabar tão rapidamente que eu não iria nem iria notar. Talvez ele simplesmente quisesse dar um aviso, trazer a pequena Nessie talvez fosse um sinal de paz, como Jake dissera antes. Mas mesmo assim, eu não conseguia deixar de ver uma iminente tragédia naquilo tudo. Não tinha como dar certo. Eu me sentia encurralado. Como uma criança que aprontara e esperava a punição dos pais, sem ter como fugir de apanhar.

Então eles chegaram. Edward com Renesmee e, mais atrás, o grandalhão Emmett. Renesmee abriu um largo sorriso, abrindo os braços para Jake, que já ia na sua direção. Como Jacob podia fazer daquilo uma alegre visita? Eu estava pasmo com a sua posição diante da situação. Já começava a duvidar de sua amizade, será que ele não via que eu poderia morrer ali? Ou pior, ser proibido de ver Amélia outra vez!? Não cabia tal possibilidade na minha cabeça. Eu sem dúvida preferiria morrer a nunca mais vê-la; seus olhos amêndoa-escuros, seu cabelo cor de mogno... De repente, Edward falou:

     -Nessie, Emmett, porque não vão com Jacob dar um passeio na praia? – Emmett pareceu que ia abrir a boca para falar alguma coisa, mas Edward respondeu a pergunta não pronunciada antes disso.

     -Não se preocupe. Se eu precisar, eu chamo. Vai lá com eles, Emmett. Aproveite que Não tem sol, para conhecer a praia.

Enquanto Jake, Nessie e Emmett saíram dali, Seth ficou ao meu lado.

     -Está tudo bem Seth. Nós só vamos conversar... Civilizadamente - Edward acrescentou ao ver que Seth não se movera.

      -Ér... Tudo bem Seth. Eu chamo se precisar.

      -Não será preciso, não tem o que temer – ele tranquilizou Seth, que saiu em disparada atrás de Jake.

Eu não sei dizer se estava tremendo, mas com certeza prendia o fôlego para não vomitar naquela hora, tamanho era o meu nervosismo. Então ele começou a falar.

      -Matthew, não é? – ele perguntou. Idiota. Como se ele não soubesse. Se não fosse quem era, eu até diria que estava nervoso.

      -Matthew Brime. – eu respondi cordialmente. Tentava conter o fluxo dos meus pensamentos para que ele visse o menos possível, mas isso se mostrou muito mais dificil do que eu esperava.

     -Olha, eu sei que vou me arrepender por isso. Mas eu não vou matar você, tampouco proibi-lo de ver a minha irmã. – ele leu meus pensamentos – Admito que era o que eu pretendia até esta manhã... – ele falava aquilo com uma naturalidade que me assustava.

    -Mas...? – eu disse, quando ele pareceu se perder no assunto.

    -Mas mudei de idéia. Depois do que Amélia fez hoje de manhã. Ela nem ao menos conhece você e já voltou atrás em seus princípios, só para proteger você. – ele disse as duas últimas palavras entre os dentes, como se usasse de esforço para pronunciá-las. Aquilo criou borboletas no meu estômago. – Eu me dei conta de que você não planejou isso. A atitude dela me fez parar para pensar. Tenho certeza de que se você pudesse escolher, iria querer alguém menos... hum... problemática. Percebi também que ela tem o direito de ser feliz, e de escolher o que ela quer da vida. Mas isso não quer dizer que eu tenha desistido de te matar – eu estremeci, ele falou aquilo tão sério... – Nunca magoe ela. Jamais, entendeu? Nem espere qualquer tipo de retorno da parte dela. Ela decide. Eu sinto que não devo te impedir de vê-la, mas eu odiaria se ela se machucasse. Eu a amo muito. Mais do que você imagina. Talvez até mais que você. Por isso, você não vai contar nada para ela sobre a sua impressão. Nem você, nem ninguém do bando. Isso fica entre nós cinco aqui, e pára por ai. Não quero que mais ninguém saiba disso. Não quero que ela se sinta pressionada de forma alguma. – ele dizia cada frase, pausadamente, como se estivesse ditando um texto. Eu ouvia tudo aquilo calado. Não podia acreditar, era bom demais para ser verdade.

   -Muito obrigado por confiar em mim, Edward!

   -Eu não disse que confio. Ainda não gosto de você. Mas eu acho que não tenho direito de me meter nisso. Mais do qualquer um, eu desejo a felicidade da Mel e se esta felicidade estiver ao seu lado, eu vou ter que me conformar – ele disse, impassível. – Mas se você magoá-la de qualquer forma, lembre-se, ela tem três irmãos, além de pai, mãe e irmãs. Você nem saberia de onde veio o golpe. Fugir seria impossível. – ele completou, ameaçador.

   -Eu jamais a magoaria. E menos ainda teria forças para fugir. Eu sinto que tenho que protegê-la e estar ao seu lado, independente de qualquer coisa. Eu a amo. Mesmo que não houvesse toda essa confusão de sentimentos causada pela impressão, eu a amaria da mesma forma, você entende?

  -Eu entendo Matt. – ele deu um suspiro. – Faça ela feliz. Se não for pela sua vida, faça por mim. Eu preciso que ela consiga seguir em frente com a vida dela, para que eu também consiga seguir a minha. – ele adquiriu um tom de súplica, seus olhos implorativos.

   -Como assim?

   -Acho melhor darmos uma volta, tem algumas coisas sobre a Amélia que você vai gostar de saber, antes se aproximar dela. Eu vou contar pra você a história da Mel, desde que ela ainda era humana... e minha noiva...

  -Sua o que!?! – era como se eu tivesse levado um soco no estômago.

  -Cale a boca e escute. Quando eu terminar, você discute o que quiser.

(...)