“Eu gostaria de saber por quê,

Na TV e nas revistas

o amor parece ser divertido

e colorido de felicidade.

Mas porque meu amor é

Tão triste...

...e Desagradável?”

---X---

Continuo a andar a esmo pela areia branca e fofa desta praia. Olho para cima e reparo nas estrelas. Ah... Como elas brilham nesse céu desprovido de nuvens... Dão a sensação de esquentar ainda mais essa noite quente de verão.

Sento-me em um velho tronco de árvore que a maré não conseguiu levar e sem que eu possa impedir, uma onda de lembranças povoa a minha mente. Elas machucam. Tento, a todo custo ignorá-las, mas são tantas...

---X---

_ Você é idiota? Ta na cara que eu não tenho idéia alguma de que dia é hoje. Tenho coisas mais importantes do que essas suas loucuras... Tchau!

Diante do som da porta batendo a garota se esforçou para segurar as lágrimas, e tenta se convencer que não doeu ele não lembrar do seu aniversário.

Que não doeu ele ter ido embora sem se importar...

Fingiu não doer ouvir sua própria voz cantando “ Parabéns pra você...”.

---X---

Distraidamente ouço ao longe o som de música e pessoas, provavelmente de uma das barracas coloridas da orla; Vozes, risos e gritos se mesclam com a melodia de rádio e formam um único e indecifrável som.

Isso me acalma. Não chego a relaxar, pois alívio é algo raro desde que o conheci. Pensar nele acaba comigo...Sinto a vista nublada e o corpo tenso. As lembranças amargas começam a dançar insinuantes sobre meus olhos.

---X---

Rindo o rapaz foi embora sem olhar para trás.

“Eu esperava que talvez seu coração olhasse um pouco mais na minha direção...

Por que sempre eu acabo sonhando?

Você não me amava como eu te amava. Não era recíproco, não é?

Mas por que você tinha de dizer coisas tão... cruéis?"

Corforme os fatos iam sendo dolorosamente assimilados, a garota percebe um som diferente entre o silêncio... Quando compreendeu o que era, um sorriso fraco brotou em meio as lágrimas...

Nunca imaginou um dia ouvir o som de um coração se estilhaçando.

---X---

Estremeço diante das memórias e da idéia “salvadora” que surgiu em minha confusa mente. Não posso me deixar dominar assim... Resolvo distrair-me no mar à minha frente; Entro vagorosamente, sentindo as águas envolverem meu corpo. Diferentemente da atmosfera aquecida da areia, o mar está congelante gerando arrepios e bater de dentes.

Porém, estava calmo. Praticamente imóvel, mais parecendo um espelho refletindo a lua e as estrelas. Uma lua que brinca comigo, cálida me chama, me ilude com pontos brilhantes muito tentadores aos meus olhos tristes.

Estou um pouco confusa... Como posso estar tão calma e, ao mesmo tempo, com tamanha vontade de chorar?

---X---

“Por que quando penso em você, as lágrimas tendem a rolar tão facilmente?

Pensar na pessoa amada deveria ser algo reconfortante, não?

Deveria nos deixar alegres, com sorrisos bobos e olhos brilhantes...

Mas então, por que quando eu me lembro do seu rosto, meu coração dói?”

---X---

Percebo meu corpo sendo lentamente puxado para cada vez mais próximo da lua-mar. Não me esforço para impedir, e logo sou encoberta por esse mar reconfortante... Esse mar mais parecido com o céu noturno. E então... Por um momento... Sinto-me livre de toda tristeza, e das amarras da solidão de um amor torto.

Abaixo minhas barreiras, e como se só esperasse uma oportunidade, aquela idéia de antes retorna e não me parece de todo má. Sussurando promessas de alívio... Inumerando propostas de um mundo sem dor.. Sem lagrimas... Sem você.

Buscando esse mundo, eu me entrego... e suavemente mergulho no mar-céu.

Fundo... Fundo... Mergulho mais e mais fundo... Mergulho até tudo ser apenas escuridão.

---X---

E essa sou eu quando não me conheço mais.

E aqui é onde me perco ao fugir de você...

E é isso o que escolho, quando tudo está me deixando.

E assim é como eu desapareço,

Quando me jogo fora.

---X---

Agora nada mais dói...

Nada mais é triste...

Não sinto mais frio, nem dúvidas, nem saudades...

Tudo que há no fundo desse céu é paz. Estou feliz. Realmente feliz. E contente posso afirmar que, pela primeira vez, essa alegria não está ligada a ele... Não mais.

Aqui, ele não existe.

Eu não existo.

Muito menos o 'nós'.

Aqui só há o silêncio.

---X---