Estudávamos em um colégio interno, ou seja, apenas nos finais de semana podíamos ver nossos pais. Acho que esta regra foi criada para evitar confusões com nossos

poderes pela cidade, mas não adiantava nada para mim e nem para Alex.

 A PP era bem longe da nossa escola. Voltamos de ônibus. Chegamos umas 09:00 horas da manhã, e os alunos já estariam acordando para a aula de prática. Nesta aula nós

escolhíamos nosso parceiro para treinar nossos poderes, como uma luta num ringue. Eu sempre escolhia Caterine Half, minha melhor amiga, mais conhecida como "Cat", uma

das meninas mais disputadas pelos meninos da escola.

 Quando avistamos a escola "Santa Freedom", fomos para trás do local e subimos no muro. Como eu sou muito fraca para me pendurar, eu fui primeiro e Alex me ajudou a

subir. Como sempre, fui mal na descida. Cai de joelhos e me apoiei com as mãos, segurando um grito de dor. Alex foi ótimo na descida. Caiu em pé, como um gato, e me

ajudou a levantar.

 Entramos pela porta da cozinha e nos despedimos ali mesmo, pois os quartos dos meninos e meninas eram separados. Ele me abraçou, e sussurrou no meu ouvido, pedindo

para eu o encontrar na biblioteca quando anoitecesse. Assenti, com as bochechas coradas, e com cuidado me dirigi para meu quarto. Meu desejo naquele momento era de

deitar na cama e dormir até a eternidade, mas era dia de aula.

 Com cuidado, abri a porta. Eu esperava que Cat estivesse no banheiro se arrumando, mas ela foi rápida no assunto. Ela estava sentada na sua cama, que ficava de frente

pra porta, com as pernas e braços cruzados e uma cara séria. Ela estava maqueada. Batom rosa bem fraco e lápis nos olhos. Ela usava uma jaqueta curta, que ia até antes

da cintura. A sua blusa era preta de manga comprida. Sua calça rasgada era curta e ela usava All Star preto. Tinha um estilo rock. Seu cabelo era loiro ia até os

ombros. Tinha franjas que podiam cobrir seus olhos.

 Fechei a porta de ferro e me sentei ao seu lado.

- Por onde você se meteu?! - Ela perguntou indignada e preocupada.

- Por aí. - Dei de ombros e encarei o chão. Ela sabia que eu estava mentindo sobre algo só de olhar nos meus olhos, então era melhor eu evitar qualquer pergunta.

- Óbvio, né Belle? - Ela levantou, ficou na minha frente e cruzou os braços. - Você estava com quem?

- Ninguém! - Ela cerrou os olhos e me encarou. Ela também sabia como me fazer fala a verdade. Suspirei e a encarei de volta. - OK! Eu estava com Alex... - Ela soltou

uma gargalhada tão alta, que obviamente o som ultrapassou a grande porta de ferro.

- Espero que finalmente tenha rolado. - Ela deu de ombros e se dirigiu a sua escravinha, provavelmente para passar mais bugigangas no seu rosto.

- Ele é meu melhor amigo, Cat! Não rolou e nunca vai rolar!

- Mas eu e toda escola sabemos que você quer que role! - Ela falou rindo, enquanto passava rímel em seus cílios.

- Ele namora, Caterine! - Alías, eu odiava a metida, horrível e ignorante namorada de Alex. Ela era uma loira, alta e considerada "gostosa" pelos meninos. Seu nome era

Amanda. Argh! - E eu não duvido que ele já saiba... - Sussurrei para mim mesma. Naquela hora, eu estava me referindo aos meus sentimentos por Alexander.

 Eu já estava arrumada para a aula. Um short jeans simples, com uma blusa sem manga, branca e com estampa que estava escrito "Live". Fui em direção ao espelho e me

encarei. Meus fios de cabelo longos e pretos estavam para trás da orelha. Minhas sardas estavam, como sempre, em destaque. Cat chegou pelas minhas costas, e com cuidado, colocou uma presilha de laço no meu cabelo.

 Abri um pequeno sorriso como forma de agradecimento.

- Você está linda, Bella. - Cat falou, com um sorriso que mostrava seus dentes brancos.

- Obrigada. - Dei de ombros e, ao lado de minha melhor amiga, saímos pela porta.

 O corredor era longo e bem enfeitado. Tinha quadros, e pessoas com cara bem sérias neles. Provavelmente antigos alunos que naquele momento, estavam no campo de

batalha. Vivos, vitoriosos, ou mortos.

 Chegamos no refeitório e nos dirigimos a bancada para nos servir. Peguei a bandeja, prato e colher. Despejei leite no prato e coloquei o meu cereal favorito.

Sucrilhos!

 Sentamos na nossa mesa que ficava ao lado da grande TV, que servia para dar avisos do nosso diretor. Mas raramente era usada, pois o velho costumava ir com suas

própias pernas ao local para falar o que queria. Cat estava ao meu lado. Observei Carlos se aproximando de nós duas. Ele era um grande amigo, mas não chegava a ser meu

melhor, pelo simples fato de ele gostar de mim.

 Carlos sentou na minha frente, com os olhos brilhando. Sempre com um sorriso no rosto, ele nos deu um incrível e bem humorado "Bom dia". A alegria dele era

contagiante. Eu não podia deixar de abrir um pequeno sorriso cada vez que ele falava. Ele era bonito. Do meu tamanho, forte e cabelo preto, bem curto. Ele tinha o

poder de força. Era um poder bem díficil de controlar, mas ele era capaz disso.

 Alex estava com Amanda na outra mesa, com seus amigos populares. Não nos falávamos muito durante os dias de aulas. Mas a culpa era minha. Eu tinha vergonha do que

podiam falar. Eu gostava de ficar com Alex apenas quando tínhamos privacidade. Eu não deixava de direcionar o olhar para a mesa de Alexander a cada colherada de

cereal. Isto até Carlos me acordar do mundo da lua, ou melhor, mundo do Alex.

- Belle? Por acaso alguém nesse refeitório te hipnotizou? - Carlos perguntou bem irônico, logo em seguida dando uma risadinha.

- Nossa, que engraçado. - Rolei os olhos e encarei minha refeição. - Eu só estava observando o ambiente.

- Ambiente... Sei! - Cat falou, e para evitar a risada, deu um gole no seu chocolate quente.

- Cala a boca! - Falei e soquei o braço dela.

- A Belle não gosta do Alex, Cat. Se conforme com isso. - Carlos falou.

- Você é muito bobo, Carlitos. - Caterine esgotou a paciência do menino que estava nos acompanhando. Carlos bateu forte na mesa, o que fez com que a louça pulasse, e

todos que estavam no refeitório redirecionaram seus olhares para o ele.

- OK... Vamos acabar com a comida e ir logo para o ginásio. - Decidi acabar com a possível futura discussão mudando a conversa de assunto. Agora estávamos falando

sobre o que planejamos para a nossa aula do seguinte dia, que seria de estratégia.

 Já no ginásio, os alunos formaram uma fila indiana. Era apenas um ringue, ou seja, uma luta para cada dupla. O professor chamou Carlos e Alex para iniciarem a aula. Eles subiram no ringue. Carlos cerrou os punhos, e isto fazia com que suas veias soltassem e seus músculos ficassem em destaque. Alex já estavam com uma bola de fogo em cada mão. Os dois estavam se encarando, aguardando o sinal do professor para começarem a se estrangularem.

 Quando ouviram um "Já" saindo da boca do velho com rugas, eles começaram a lutar. A torcida era maior para o lado do Alex, obviamente. O loiro de ombros largos lançou uma bola de fogo na direção de Carlos, mas ele desviou. Aproveitando que Carlos estava no chão, Alex lançou outra bola de fogo e finalmente o atingiu na perna. Eu estava ficando apreensiva. O professor não parava as lutas até alguém desistir.

 Alex pensou que tinha vencido a luta e foi se gabar para a plateia, mas nem percebeu que Carlos, com dificuldade, havia se levantado. Mancando, Carlitos foi na direção de Alexander e lhe deu uma bela rasteira. Com os punhos bem cerrados, levou a mão na cara do inimigo e o socou bem forte, tanto que o barulho fez ecó pelo ginásio. Alex levantou a mão com o sinal de "não aguento mais", e finalmente a luta tinha acabado.

 Ainda não tinha chegado a vez da minha dupla, e meu coração estava acelerado. Eu via as pessoas saindo machucadas, e pensando que podia ser eu ali. E seria, porque eu era péssima nas aulas de prática. Alex estava no canto do ginásio com uma bolsa de gelo no rosto. Ele estava sério e decepcionado consigo mesmo. Ele balançava a cabeça de um lado pro outro, ainda indignado com sua derrota.

 Só sobrava uma dupla para batalhar, e era eu e Cat. Subimos no ringue. Cat estava tranquila. Graças ao senhor ela sabia que eu era péssima nestas lutas, e sempre pegava leve comigo. Eu estava soando de nervosismo. Eu abanava as mãos para espantar o medo. Pudia ouvir os risinhos de Amanda e suas nojentas amigas na platéia. E então, eu ouvi o "Já".

 Cat abriu a mão e ergueu para trás do seu corpo. Acompanhei o ferro indo na sua direção, e então, ela o segurou com toda sua força e confiança. O poder dela era levitar objetos ou arrancá-los de algum lugar. Ela correu na minha direção, e em forma de cambalhota, eu desviei. Ergui os braços para cima e eu pude ver uma nuvem negra se aproximando do ringue. Um raio passou raspando pelo lado da minha melhor amiga, mas ela levou seu corpo para o lado. Sem perceber, outro raio caiu sobre sua cabeça, e ela foi para o chão. Levantou a mão, e a luta tinha acabado. Pela primeira vez, eu venci.

 Descemos do ringue. Eu ouvi um "Parabéns" bem surpreso do meu professor. Carlos também veio me parabenizar. Nenhum dos alunos estava ligando para a minha vitória, mas tenho que admitir que eu senti uma pontada de felicidade.

- Você me deixou ganhar, não é? - Virei para Cat. Ela não precisou de enfermeira, estava em ótimas condições. Para ela desistir, só tinha este motivo: Me ver feliz por ter ganhado.

- Eu? Não! - Ela deu de ombros, segurando um riso. Eu sabia que ela tinha desistido de propósito, mas ela fez por mim, então decidi esquecer e não ligar mais para o assunto.