O Porre escrita por PandoraLc


Capítulo 1
O porre




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O Porre

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A suave pressão da mordida que recebera em seu lábio inferior fora suficiente para acordá-lo do sono preguiçoso e aconchegante em que estava mergulhado. Se o céu não estivesse tão nublado, daria pra ver o quão alto o sol já estava. Desta vez, haviam passado da "conta".

- Bonjour... – sussurrou em tom rouco, peculiar a quem acaba de acordar e ainda está com sono. Muito sono.

- Bonjour o cacete! São duas e dez da tarde, criatura! – Kárdia ria alto, muito alto.

- Ahh? Para de rir, minha cabeça dói. – resmungou o ruivo, levando as mãos ao rosto. Pressionou as têmporas com os dedos finos, massageando-as como podia.

- Claro que está doendo! Você não está acostumado a encher a cara, e depois outra, o vinho que bebemos era de péssima qualidade. Uma lástima! – replicou o escorpiano, falando alto, gesticulando, expansivo, implicante e grego.

- Precisa mesmo falar TÃO alto, Kárdia? – cutucou, franzindo o cenho.

- Ihh qual é? Eu sempre falo alto. – defendeu-se, levando as mãos às de Dégel, entrelaçando os dedos nos dele e, consequentemente, atrapalhando o massagear de têmporas.

- Para Kárdia! Eu tô passando mal, dá pra me soltar? – Dégel estava, de fato, muito irritado.

- Você está de porre, criatura!De PORRE ! – tornou a repetir de forma pausada, enquanto puxava as mãos do aquariano para si.

- De onde você tirou esse termo? – questionou, enquanto tentava puxar suas mãos de volta a todo custo. – Larga Kárdia, eu preciso aliviar essa pressão na minha cabeça!

- Tirei das minhas vadiagens. De onde mais o tiraria? – admitiu, ganhando um olhar reprovador do companheiro. – Qual é? Quer que eu minta que encontrei em um dicionário carcomido?

Dégel moveu de leve a cabeça, inclinando-a para trás, de modo em que a farta franja ruiva descobrisse seu rosto, para que depois grunhisse, parecendo incomodado.

- Sinto um gosto ruim na minha boca. – reclamou, resetando o rosto à posição anterior.

- Eu não tenho nada com isso, gozei fora. – defendeu-se o escorpiano, levando um chute nos ditos "países baixos". – AI FILHO DA PUTA!

- Será que você não consegue deixar de ser desagradável nem quando eu estou passando mal, Kárdia? – resmungou o aquariano, recuperando a posse das próprias mãos. Voltou a se deitar no macio travesseiro de plumas, fechando os olhos.

- Óbvio que eu consigo deixar de ser desagradável! Ou vai me falar que eu não fui agradável o suficiente enquanto você gemia o meu nome e me pedia pra fazer umas paradas absurdas, que até Athena duvida, ontem à noite? – disse o grego, girando os olhos enquanto levava as mãos até a nuca, dando sustento à cabeça encostada na guarda da cama.

- Como é que é? Que coisas são essas? – Dégel parecia ter levado um choque, já que praticamente havia saltado da cama, pondo-se de joelhos ao lado do loiro.

- Ah não, não me diga que você se esqueceu? – questionou o escorpiano, parecendo ligeiramente ofendido. – Depois de tudo aquilo? Tudo aquilo?

- Kárdia, pelo amor de Athena, me diga o que foi que eu te pedi pra fazer! – inquiriu, levando as mãos ligeiras aos pulsos do grego, pressionando-os contra o travesseiro.

- Quanta estupidez! Me fez bater a cabeça na guarda da cama! – ralhou, adotando uma careta de dor. – Eu tenho culpa se você bebeu mais do que podia aguentar e soltou a franga? Não me lembro de tê-lo obrigado a entornar uma garrafa de vinho vagabundo goela abaixo!

Pego pelo próprio bom senso, Dégel soltou os pulsos de Kárdia, sentando-se no colchão ao lado dele. Levou uma das mãos ao próprio rosto, enquanto a outra servia de apoio.

- Você está certo, me desculpe.– sussurrou, respirando fundo. Por certo, ele não podia obrigar o outro a narrar o que haviam aprontado na noite anterior, contudo, a incerteza parecia latejar ainda mais que o tal porre, em sua cabeça.

- Só desculpo porque você agride feito menininha. – sibilou zombeteiro, virando-se de lado na cama. Havia uma necessidade descomunal de rir, mas o escorpiano sabia que se o fizesse agora estragaria tudo.

- Olha, eu realmente não consigo me lembrar do que... pedi que fizesse, ontem a noite. Não me lembro nem como vim parar na sua cama. – confessou, coçando os olhos com os nós dos dedos.

Kárdia deu de ombros, recusando-se a virar-se e encará-lo. Tal atitude, provavelmente, deixaria o aquariano atrapalhado ainda mais aflito. Ele sabia disso, ele adorava isso.

- Eu não esperava isso de você Dégel, depois não quer ser chamado de menininha! – acusou, ainda recluso na posição anterior. – E eu ainda me deixei levar por sua influência vil e pérfida. – se fez de vítima, remexendo-se enquanto soltava um resmungo.

À essas alturas, Dégel já não poderia caber-se em si. Estava curioso, vexado, amedrontado, e uma porção de coisas do mesmo gênero. Precisava saber o quê, de tão grave, havia feito na maldita noite anterior.

- Posição do frango assado, Dégel, posição do frango assado... – sussurrava indignado, deixando um suspiro dramático verter por seus lábios. – A que me sujeitei, meus Deuses?

Ao ouvir aquilo, o aquariano estremeceu, sentindo as bochechas esquentarem repentinamente. Não precisava se ver no espelho para saber que estava corado.

- Eu não pedi por isso... pedi? – questionou num fio de voz. Mal tinha coragem para formular sua pergunta.

- Claro que não pediu, você praticamente ordenou que eu colocasse o seu "frango" no meu "espeto"! Me senti humilhado! – disse o loiro, encolhendo os ombros num gesto sutil.

- Kárdia, por favor, me escute! – Dégel estava quase implorando, quando grudou as mãos no braço forte do escorpiano, puxando-o de leve para trás. – Olha aqui, me desculpa... estou falando sério, eu... – dizia o ruivo, nitidamente encabulado. Tropeçava nas palavras, sem saber quais vocábulos usar naquela situação vergonhosa. – Eu não sabia que ia perder o juízo dessa forma, eu não sei nem o que te dizer, sério mesmo...

Divertindo-se com a agonia alheia, Kárdia enfim se deixou virar, exibindo um largo sorriso zombeteiro em seus lábios.

- Quer que eu te ajude a lembrar pelo que pediu na noite passada? – sussurrou malicioso, levando ambas as mãos aos braços pálidos do aquariano, trazendo-o para si. – Sabe, eu nunca fui muito bom com as palavras. Sempre preferi mostrar à minha maneira, para que não restem dúvidas. – continuou, levando os lábios à orelha direita do aquariano, mordiscando-o no lóbulo.

- Não Kárdia! – vociferou, num ato desesperador. Estava com o rosto febril, contraindo os dedos dos pés e das mãos enquanto se encolhia. Se pudesse sumir, já teria o feito – Não estou em condições!

- Ah Dégel você não aprende! – exclamou o animado escorpião, antes de tomar os lábios do seu aquariano de assalto, beijando-o afetuoso. – Até quando vai ser tão inocente? – o indagou após o partir dos lábios, mantendo-o seguro em seus braços grandes e rijos. – Você cai direto nas minhas peças, Dedé. Acho que é por isso que eu te amo tanto! – exclamou, desatando a gargalhar.

Ao dar-se conta de que havia sido vítima de mais uma chacota do outro, Dégel lhe dirigiu um olhar indignado, debatendo-se a fim de fugir do enlace dos braços alheios.

- Me solta! Não teve a mínima graça! Eu estou todo quebrado, com a cabeça dolorida, me sentindo um inútil e você ainda me faz de vítima das tuas brincadeiras patéticas? – inquiriu desgostoso, ainda lutando para se livrar do outro.

Em contrapartida, Kárdia só ria. Não que não se importasse com o estado do outro, ao contrário. Contudo, Kárdia fazia o tipo que carregava como uma de suas frases de cabeceira o famoso dito popular "Perco o amigo, mas não perco a piada". Só que Dégel não era mais seu amigo. O que compartilhava com ele ia além da mera amizade.

- Não vou te soltar até você me desculpar por ter me aproveitado do seu primeiro porre para te aloprar. – disse categórico, arqueando uma das sobrancelhas. – Eu precisava comemorar seu primeiro porre em grande estilo, por favor, desculpa?

Desistindo da luta inútil que havia travado contra os braços do escorpiano, Dégel voltou seu rosto em direção ao dele, mirando-o nos olhos. Como dizer não para aquele idiota? Como?

- Que isso não se repita... – fora sua resposta. Mas ele sabia que se repetiria.

- Tá legal, tá legal... – sussurrou Kárdia, enquanto contornava os traços delicados da face do aquariano com o indicador, mantendo o rosto bem próximo do dele. – Agora me diz... Como se sente?

Devagar, Dégel ergueu o rosto, de modo em que o polegar de Kárdia - apoiado em sua bochecha - deslizasse suavemente, fixando-se em seu lábio inferior.

- Vai passar... – replicou num murmúrio, pressionando os lábios moldados em um "bico" contra o dedo do escorpiano.

- Me deixa cuidar de você? – pediu em um, nada usual, tom manso e gentil, recebendo como réplica um aceno suave seguido de um sorriso afável.

E nenhum dos dois soube precisar quanto tempo haviam ficado trocando olhares e carícias até o entardecer.

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le fim


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Notas finais do capítulo

Não levem a sério, eu só quis relaxar um pouco, é. :P