Fiquei estática com o italiano à minha frente. Lembrava claramente que Federico havia voltado para a Itália há vários meses atrás, depois que ganhara o Reality Show.

O que ele fazia ali?

— Sim, eu voltei! — exclamou, quase quicando de felicidade.

— O-o que você faz aqui? — perguntei, tentando não ser indelicada.

— Seu pai me ligou ontem dizendo que ele e Angie adiantariam o casamento, então eu vim para cá! Além do mais, estou com saudades do Studio. — Ele sorria de orelha a orelha.

— Ah!

Era incrível ter Federico ali, realmente. Ele fora um grande amigo para mim e me fez aprender muitas coisas com valores significativos. Eu até estava sentindo muito a falta dele. Mas tê-lo ali novamente, tão de repente... Era algo estranho.

Sorri de canto, tentando parecer simpática e feliz. Não que eu não estivesse. Na verdade, ainda estava me recuperando da surpresa.

Antes que eu pudesse dizer algo a mais, ele me abraçou novamente, dessa vez com mais força e animação. Dei leves tapinhas nas costas dele, desconcertada.

— Senti tanto sua falta! — disse-me, enquanto ainda estávamos abraçados.

— Err... Também senti a sua. — respondi sem graça.

Escutei passos na escada e León entrou em meu campo de visão, fazendo-me arregalar os olhos. Ele semicerrou os olhos ao nos ver abraçados. Desvencilhei-me dos braços de Federico e soltei uma risada nervosa.

Ele cruzou os braços, ignorando complemente minha tentativa de deixar o clima mais leve.

— Olha só quem voltou! — falei em um falso tom animado, gesticulando para Federico.

— E aí, cara. Há quanto tempo. — Federico apertou a mão dele de leve.

León sorriu, mas pude ver que a raiva borbulhava em seus olhos. Sabia que ele morria de ciúmes de Federico e se lembrava claramente da vez que ele tentara me beijar.

— Então... Depois falo com você. — falei para Federico. — Entra, amor.

— Tá bom, vou falar com a Olga. — Federico virou-se e desceu as escadas rapidamente.

Fechei a porta com cuidado e respirei fundo antes de olhar para o semblante de León. Ele estava muito sério e nervoso, sabia exatamente o que ele estava pensando.

Sentei-me na cama e esperei a enxurrada de palavras que estavam por vir. Entretanto, ele não disse uma palavra. Eu tinha que encontrar algum assunto, algo para quebrar o gelo.

— Como chegou aqui tão rápido? — perguntei, tentando ocultar o que acabara de acontecer.

— Meu pai me trouxe de carro. — respondeu seriamente. — Violetta, o que ele faz aqui?

— É sobre isso que eu queria te falar...

— Então fale.

Levantei-me e fiquei de frente para ele. Segurei suas mãos e olhei no fundo de seus olhos. Estava bastante irritado, algo que me intrigava um pouco. Achei que eles haviam se tornado amigos antes de Federico ir embora. Por que ele estava reagindo assim?

Bom, descobriria isso depois, tinha que dar uma explicação para ele.

— Papai e Angie vão adiantar o casamento. — disse-lhe com um ar animado, mas isso não mudou seu semblante, então tratei de explicar o resto. — Devido a isso, papai chamou Federico, para ele comparecer ao casamento.

— Não quero ele perto de você. — afirmou, olhando para outra direção com um ar enciumado.

— Mas isso é impossível! Vamos conviver na mesma casa, de novo! E além do mais, ele é meu amigo, você sabe disso. — Tentei falar tranquilizadoramente, porém estava desesperada demais para isso.

Ele continuava a olhar para outra direção e não baixou a guarda. Que droga! Tudo estava indo tão bem, meu dia estava sendo perfeito. Sempre acontecia algo para estragar tudo, minha felicidade não durava muito tempo.

Soltei suas mãos, desistindo. Deitei-me na cama e enfiei a cabeça de baixo das cobertas. Ele estava bravo demais e não importava o que eu dissesse, ele não me ouviria.

Escutei alguém se aproximando de mim e se sentando ao meu lado. Ele afagou minhas costas de leve e soltei um leve suspiro.

— Desculpa por reagir assim... Você sabe que eu sinto ciúmes, não sabe? — perguntou.

Tirei o lençol do rosto e olhei em seus olhos. Ele sorria de canto, como quem pede desculpas. Sorri também.

— Tudo bem, amor. Estou acostumada. — Ri e ele me acompanhou.

— Eu jamais vou me esquecer do dia em que ele tentou te beijar, acho que fiquei meio paranoico com isso.

— Mas não se preocupe, eu amo você e sou só sua! — Enlacei minhas mãos em seu pescoço e o abracei com ternura. Ele me abraçou de volta e deu outra risada.

— É, só minha. Mas tome cuidado, ok?

— Com o que? — Desfiz o abraço.

— Você sabe bem que ele gosta de você e fará de tudo para se aproximar. — Seu semblante ficou irritado e sua voz saiu um tanto abafada.

— Você é um bobo! Tudo bem, vou ter cuidado com ele.

— Fiquei tão enciumado que nem dei importância ao motivo de sua felicidade. Seu pai e Angie adiantaram o casamento? Isso é ótimo!

— Sim! Finalmente eles vão se casar! Na semana que vem ainda, você acredita? — Eu ia me empolgando conforme ia falando. — E além do mais, Jade e Matias estão presos. Papai está mudando e tendo mais tolerância, tudo está perfeito...

— É incrível, amor. Fico feliz que esteja tão bem. — Ele acariciou meu rosto de leve e aquele sorriso de tirar o fôlego se formou em seu rosto.

— Você é lindo, sabia?

— Eu sei. — disse convencido e dei um leve tapa em seu braço, rindo. — Agora tenho que ir, só vim fazer uma rápida visita.

— Mas já? — Fiz beicinho.

— Sim, preciso ir. Mas amanhã é domingo, não temos aula... Posso almoçar na sua casa? Nunca mais fiz isso.

— Claro! — respondi de pronto.

— Então nos vemos amanhã.

Ele beijou de leve meus lábios e se retirou do quarto, fechando a porta o sair. Deitei-me na cama, sorrindo completamente abobalhada. O que eu estava dizendo antes? Ah, sim, um dia perfeito.

***

Acordei tarde no dia seguinte pois passara a noite compondo uma nova música. No final das contas não ficou muito boa, mas com uns retoques e arranjos ficaria razoável.

Tomei um banho demorado. Hoje León almoçaria aqui em casa e eu queria ficar impecável, ou quase impecável. Penteei os cabelos cuidadosamente. Após isso, vesti uma camiseta branca e minhas clássica saia de cintura alta.

Desci para tomar o café da manhã e apenas Federico estava sentado à mesa. Quando me viu, abriu um largo sorriso. Sorri sem mostrar os dentes e sentei-me de frente para ele.

— Dormiu bem? — Tentei ser educada.

— Melhor do que nunca. Estava sentindo falta dessa casa! — exclamou.

— Onde está meu pai?

— Ele foi para a praia com a Angie.

— Para praia? — indaguei, surpresa. — Que milagre! Ele nunca gostou muito de praia.

— Pois é... E você está muito bonita!

Ri sem graça e voltei à atenção para o cereal que estava na tigela. León dissera para eu tomar cuidado. E ele tinha razão, embora Federico fosse um grande amigo, sabia de seus sentimentos por mim.

Mal toquei na comida, nervosa com tudo aquilo. León almoçaria aqui em casa e meu pai não estava. Seríamos apenas ele, eu e Federico. O clima provavelmente ficaria bem tenso e eu temia que aquilo tudo gerasse alguma confusão.

Ele tentou puxar assunto e vez ou outra soltava alguns elogios e piadinhas galantes. Não cooperei. Apenas sorria e respondia com monossílabos.

Foi uma longa manhã, embora já estivesse em seu final. Às 12h57min, quase corri até a porta quando ouvi a campainha. Federico olhou-me de forma surpresa e curiosa, mas ignorei-o.

E lá estava ele, lindo e elegante como sempre. Um sorriso terno estava estampado em seu rosto, formando aquelas lindas covinhas que me deixavam completamente derretida. Abracei-o com força e ele apertou minha cintura de leve. De repente, lembrei-me da situação e achei melhor explicar para ele antes de tudo.

— Escuta, papai e Angie saíram, então no almoço serão apenas você, eu e Federico. Por favor, não fale nada nem brigue com ele! — supliquei, juntando as mãos.

Ele soltou uma risada bem-humorada e piscou o olho para mim, fazendo-me entender ou crer que tudo ficaria bem. Ainda bem que a nossa conversa do dia anterior surtira algum efeito.

— E aí. — Cumprimentou Federico de forma animada.

— León? O que faz aqui? — O italiano mal conseguiu esconder a insatisfação em sua voz.

— Ele veio almoçar conosco! — Dei um sorrisinho cínico e puxei León pela mão, guiando-o para a mesa.

Federico nos seguiu e fez questão de sentar-se bem de frente para mim. Agora era ele que estava implicando?

— Então, Violetta... Como estão as coisas no Studio desde que saí? — perguntou.

— Ah, estão bem. Gregório deixou de ser o diretor e Pablo voltou para esse posto. Tudo está normal.

— E você, como sempre, continua sendo a mais linda e talentosa, não é mesmo? — Ele deu uma ênfase enorme e calorosa nas palavras 'você', 'linda' e 'talentosa'.

Olhei rapidamente para León e percebi que ele deixara aquela fachada serena e condescendente, e seu rosto agora assumia um tom vermelho. A raiva mais uma vez borbulhava em seu olhos. Que droga!

— OLGA, TRÁS O ALMOÇO! — gritei, tentando impedir uma tragédia.

— Estou indo, meu amor! — gritou de volta e logo apareceu com uma bandeja em mãos.

Serviu o almoço e na maior parte do tempo comemos em silêncio. Às vezes, os meninos lançavam pequenas indiretas um para o outro. Eu tentava evitar, mas isso não os impedia. No fim das contas, fiquei calada e completamente constrangida. Senti que muitos problemas estavam por vir. Federico não poderia ter vindo em hora pior. Aliás, qualquer hora para sua volta seria ruim.

León passou o restante da tarde ali conosco. Disse que seus pais saíram e não gostava de ficar sozinho em casa, mas eu sabia bem que tudo aquilo era para vigiar as ações de Federico.

Ao anoitecer, acompanhei-o até a porta.

— Esse garoto está me tirando do sério! — esbravejou.

— Calma, amor! Ele não vai fazer nada. — Tentei acalmá-lo.

— Nada? Poupe-me Violetta. Ele passou o dia inteiro dando em cima de você e...

— Mas eu não dei bola! — interrompi-o. — Agora vá, relaxe. Não vai acontecer nada.

— Não posso relaxar sabendo que esse idiota está vivendo na mesma casa que você.

— Meu amor, eu não estou mais feliz do que você. Mas não há nada que eu possa fazer.

— É, tem razão. Cuidado, sim? Nos vemos amanhã. — Ele beijou minha testa e saiu.

Fechei a porta e encarei Federico com uma fúria e irritação iminente.