The Wits Game escrita por Mei chan


Capítulo 11
A difícil vida vigiada




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- Bom, você sabe, eu nasci de uma relação comum, quando duas pessoas se amam elas se casam e depois fazem...
- Ok, poupe-me dos detalhes e passe para as partes importantes. - Ele disse me interrompendo.
- Eu não tenho irmãos, tive uma infância bem comum, estudei numa escola qualquer com poucos alunos. Eu morava numa cidade um pouco  movimentada e afastada aqui do centro, lá não acontecia nada, nós não tínhamos nem jornal pois as "notícias" nunca aconteciam. Na minha adolescência eu já estava muito entediado da minha vida chata então sai de casa para vir estudar em uma escola um pouco maior nessa cidade.
- Os seus pais não disseram nada? Nem tentaram te impedir?
- Não, bem, eles não podiam, os meus pais morreram de tuberculose um pouco antes de eu me mudar. Quando cheguei aqui arrumei um emprego de meio período para me sustentar, mas as coisas continuavam tão chatas quando antes, mesmo depois de mudar de cidade e de não ter ninguém para me controlar, eu percebi que o problema era especificamente comigo. Resolvi procurar um pessoal "diferente" pra me relacionar, e você sabe que não é difícil achar pessoas assim hoje em dia.
- Não espero ter que ouvir que você se drogou ou que contraiu uma alguma doença sexual.
- Deixa de ser idiota, não foi exatamente com esse tipo de gente. Era um pessoal sem grana que vivia nas esquinas escuras e nos bares, eles faziam pequenos roubos pra sustentar as vidinhas de playboy que eles queriam ter, então eu me interessei, não tinha nada a perder mesmo, mas não deu em nada, eles eram muito burros e eu vi que cada um já tinha sido preso pelo menos uma vez, e de uma coisa eu tinha certeza, eu não queria ser preso.
- Você estava tão desesperado? Não consigo imaginar como a sua vida pode ter sido tão diferente do resto da população.
- Talvez você não entenda, mas durante 17 anos da minha vida a minha única diversão era olhar a poeira da rua rolar, os meus "amigos" eram todos preocupados com coisas fúteis que não me interessavam, na verdade nem eu sabia exatamente o que me interessava, então fui em busca disso, precisava viver intensamente, a primeira coisa que pensei que poderia fazer era sentir um pouco de adrenalina, mas não foi bem isso que aconteceu.Eu pensei em um tipo incomum de adrenalina, do tipo que as pessoas sentem quando fazem merda. Várias vezes eu tentei prejudicar ou fazer alguma coisa ruim para alguém mas eu acabava ajudando essas pessoas.
- Como assim?
- Uma vez eu estava tão impaciente que pensei em matar alguém, não sabia bem como, então  fiz como nos filmes, peguei uma faca, enrolei em um pano, e sai pela rua para escolher a minha "vítima", eu simplesmente não podia me decidir, não podia suportar a ideia de tirar uma vida, e nesse momento eu acho que realmente senti adrenalina, porém só depois eu descobri que não era isso o que eu procurava, eis que depois de vários momentos de apreensão veio um homem correndo em minha direção, e eu pensei: "é ele, farei isso agora e não irei me arrepender ". Fui ao seu encontro mas quando cheguei bem perto dele tropecei, a faca caiu de minhas mãos e foi direto em seu pé. O homem segurava uma bolsa de couro avermelhada e com fala ofegante não parava de me xingar. Logo depois várias pessoas apareceram correndo na direção em que o cara "esfaqueado" tinha vindo, e enquanto ele babava verde no chão de tanta dor, as pessoas vinham me agradecer, principalmente uma velhinha.
- Mas porque eles fariam isso?
- Depois eu descobri, que o cara estava correndo da polícia por ter acabado de assaltar violentamente aquela velha, várias pessoas tinham corrido atras dele, mas ninguém conseguiu alcança-lo.
- Nossa, você realmente não tem sorte, mas continua sendo idiota. Como uma pessoa pensa que vai ter adrenalina matando um pessoa? Você nunca pensou em saltar de para-quedas ou  bungee jumping?
- Eu não já não disse? Depois eu descobri que não quero esse tipo de adrenalina. Você precisa prestar mais atenção nas histórias dos outros.
- Você é realmente maluco, eu não vou mais conseguir dormir direito com um psicopata em baixo do mesmo teto que eu.
- Como se você pudesse sentir medo de mim... Depois desse acontecimento eu meio que desisti dessa busca, o máximo que consegui foi arrumar um emprego na parte de inteligência na investigação de pessoas desaparecida, mas não fazia mais do que furar uns papéis ou organizar fichas. Finalmente resolvi ficar quieto no meu canto me contentando em observar as pessoas ao meu redor, eu nem sei quantas horas eu passei aqui mesmo nessa janela decifrando os sentimentos refletidos nos rostos despreocupados das pessoas que passavam.
- Isso eu percebi.
- Como assim?
- Um pouco antes de você entrar no jogo oficialmente, eu estava te observando também, tenho que dizer que te achei muito estranho. Primeiro eu achei que colocar escutas em todo o apartamento seria o suficiente mas você simplesmente não falava nada, eu só escutava ruídos de algumas coisas sendo arrastada, assim tive que colocar câmeras, mas você só ficava sentado aí, até desconfiei que você sabia sobre elas e por isso agia de forma diferente do costume.
- É por isso que você sabia onde as coisas estavam.
- Mais ou menos, essas câmeras não tem um campo de visão amplo elas só são focadas em um ponto específico. Depois de te observar por um dia gravei os lugares onde você mais ficava, (não deu muito certo porque só pude ver por essa janela), falei com o juiz e ele providenciou as câmeras.
- Cada vez mais eu odeio esse juiz.
- Nossa, como você é rebelde!
- ...
- Ah, esqueci de avisar, você precisa lavar o seu banheiro.
- Tinha câmera até no banheiro?!
- Talvez ainda tenha, morra com a dúvida. 
   Mesmo essa história sendo completamente maluca ele escutou como se fosse a coisa mais normal do mundo, até hoje fico me perguntando se ele se forçou a isso só para não me deixar constrangido ou coisa do tipo. Isso me fez lembrar de outro tópico importante, porque raios ele continuava comigo? Até quando eu poderia estar nessa zona de conforto sem me preocupar com a hipótese de no meio da noite o meu guarda-costas me apunhalasse. Ele já tinha levantado da cama e já estava virando para a direção do quarto quando tomei coragem para perguntar porque ele continuava a me proteger e ajudar mesmo sem nenhum motivo aparente.
- Porque você continua me ajudando?
- Porque você se importa tanto com isso? - Ele disse já se se virando novamente.
- E porque você sempre responde as minhas perguntas com outras perguntas?
- Porque como elas são muito idiotas e não merecem uma resposta séria, esse é apenas um método para você refletir antes de falar e perceber que não vale a pena expor os seus pensamentos impuros e conturbados, mas parece que não está dando muito certo com você.
- Você poderia apenas responder?
- Acho que métodos reflexivos não funcionam com você... Lembra que como castigo o juiz me deixou sem ajudante?
- Lembro, mas o que isso tem a ver?
- O meu castigo não era só isso. Ele disse que quando entrasse um novo jogador eu deveria ajuda-lo até o mesmo encontrar seu ajudante, pois ele seria um pirralho teimoso, cabeça-dura, filho de uma puta que só sabe reclamar e demoraria para aceitar as regras do jogo.
- Eu não acho que ele disse exatamente com essas palavras... Mas em fim, eu já achei meu ajudante. - Eu disse apontando para o CSN e ele veio até mim para que lhe fizesse carinho.
- Bom, além de ser o jogador preferido do juiz você derrotou dois jogadores, depois disso como eu poderia te deixar? Não se muda o time que esta ganhando.
- Para assim eu fico vermelho, eu não sou tão especial quanto você diz.
- Eu não disse que você era especial, na verdade na minha humilde opinião você é um viado, mas só tenta pensar logicamente: Você derrotou dois jogadores, e EU estou te "ajudando", quem em sã consciência viria aqui tirar satisfação com a gente? É só uma estratégia de jogo, assim que ela ficar cansativa de mais para mim, eu dou um jeito em você.
- Ha mais é claro, um "jeito" em mim, isso é tão reconfortante, irei até dormir melhor.
- Durma com medo, tomara que o CSN te proteja. - Ele disse num sorriso sarcástico - Foi por isso que eu achava AQUELE nome melhor.
- Você é um idiota. Porque não desce e vai comprar alguma coisa pra ficar bêbado e volta para aquela praça?!
- Eu estive bêbado por muito tempo na minha vida, cansei disso... - Ele falou com um olhar  vago - Vá dormir logo porque amanhã vou te ensinar como usar o seu briquedinho. - Ele falou apontando para a minha katana encostada na parede.
- Já era hora. Mas eu não sabia que você sabia usa-la.
- Tem muita coisa sobre mim que você ainda não sabe. - O mesmo sorriso sarcástico tomou conta do seu rosto novamente, e com essas palavras assustadoras virou-se lentamente e foi em direção ao seu quarto provisório. Ainda sentado no beiral da janela eu fui deixado apenas com pensamentos que tentei esquecer com todas as minhas forças.
   Continuo observando as pessoas lá em baixo, que à essa hora já eram bem poucas. Em meio delas uma figura me chamou atenção, estava todo de verde, num estilo de roupa já conhecido, onde as gotas de chuva escorriam lentamente até chegarem ao chão formando uma pequena poça. Sua face estava coberta por um grande guarda-chuva da mesma cor, seus passos eram elegantes e calmos, e por isso fazia tanta diferença no meio das outras pessoas. Meus pensamentos foram bem rápidos e eu só pude deduzir uma coisa: outro jogador. Acho que as estratégias do Caeruleatus estava um pouco erradas em relação a demanda de jogadores que vem até nós. O CSN ao ver minha agitação latiu bem alto me fazendo desviar o olhar da figura esverdeada para ele, quando voltei para continuar acompanhando a perigosa figura verde, ele simplesmente tinha desaparecido me fazendo parar de respirar por um instante.
   Tão cedo? Eu acabei de me livrar de uma mulher louca que deixou um dos meus olhos vermelhos, e logo depois já tem outro maluco atrás de mim! Eu me sinto o açúcar para as formigas, ( mesmo com esses sentimentos de apreensão pude imaginar o que o Caeruleatus diria seu eu falasse uma frase como esta perto dele ). Eu realmente preciso descansar, preciso de um tempo para organizar meus pensamentos, para tentar criar uma estratégia ( só minha ) ou algo parecido. Resolvi que simplesmente iria ignorar essa nova figura esverdeada, enquanto ele não se posicionasse de forma perigosa, eu não me preocuparia nem diria nada ao Caeruleatus, porque isso poderia prejudicar o nosso futuro treinamento.
   Caeruleatus. Esse nome não saia da minha cabeça, mesmo com a sua explicação eu não me conformo com o fato de ele estar comigo apenas como uma estratégia, mas se ainda assim, apesar da minha intolerância a essa ideia, essa for a verdade, eu ainda tenho que me preocupar com a minha segurança futura. Ele mesmo disse que quando ficar muito cansativo dará um "jeito" em mim, sinceramente eu não sei o que pensar, não sei até que ponto posso depender dele, tudo por um único motivo: Segurança. Isso é totalmente contraditório porque eu preciso dele para me proteger mas ainda assim eu posso estar correndo perigo se permanecer ao seu lado.
   Então eu caio em duas questões importantes: Querer e Precisar. Eu PRECISO estar ao seu lado para garantir que eu não saia do jogo tão facilmente, porém não QUERO estar preso a esse motivo que é tão controverso. Será que realmente vale a pena viver com a insegurança, tendo que desconfiar de cada movimento seu, só pela " garantia " de proteção momentânea?
   A resposta era única na minha cabeça. Distância. Eu manteria uma distância segura, de forma que não fosse tão longe ao ponto de poder manter essa dependência, mas não tão perto para que não me tornasse vulnerável de mais. Esse era o meu plano, ele já estava todo formulado só faltava coloca-lo em prática, e como muitos dizem " falar é fácil ".
   Finalmente vou em direção a minha cama, ao me deitar o CSN se deitou chão bem na minha frente de forma que eu pudesse ver bem o seu olhar que praticamente implorava por um lugar mais quente, eu não resisti e deixei que ele se deitasse na cama também. Eu cheguei para o lado, e ele ficou naquele espaço, mas mesmo assim o seus olhos ainda não pareciam totalmente satisfeitos, eu o abracei e ele finalmente sossegou, se o juiz estava procurando uma fraqueza minha, ele realmente tinha encontrado.
   Com a cabeça cheia de pensamentos paradoxais e vultos verdes finalmente vou dormir, sem saber o que me esperava.   


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