Fogo Contra Fogo escrita por Moon and Stars


Capítulo 22
Misericórdia


Notas iniciais do capítulo

Bom, pessoal. Mais um capítulo. Espero que curtam ;)



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*Ponto de vista da Lori

Pisquei lentamente sentindo minhas pálpebras pesarem. Um de meus olhos parecia maior que o outro e não consegui abri-lo. Minha cabeça doía e girava, minha visão estava turva, desfocada e meus ouvidos não identificavam qualquer som com clareza, como se eu estivesse com a cabeça imersa na água. Vários pontos do meu corpo doíam e era difícil me concentrar em apenas um lugar que estivesse dolorido.

Quando tentei me mexer, meus músculos protestaram, rígidos, por eu ter passado muito tempo naquela posição. Eu não fazia ideia de quanto tempo eu havia passado amarrada àquela cadeira. Pisquei novamente, na tentativa de clarear minha visão. Eu estava no mesmo lugar que eu me lembrava de estar antes de apagar por causa das dores e da exaustão. Era um velho e amplo galpão com algumas caixas de madeira e grandes containers. Reparei que eu estava sozinha e ao realizar isso, minha mente disparou em alerta e de repente senti-me lúcida, motivada pelo desespero. Olhei em volta e mexi os pulsos atados e comecei a tentar maquinar planos de fuga.

Minha mente ainda não estava em perfeito funcionamento, mas eu sabia que a primeira coisa que eu teria que fazer seria me livrar das amarras. Continuei a mexer os pulsos, mas estava muito apertado e meus dedos mal alcançavam a corda, muito menos o nó. Desisti quando senti uma dor gritante provocado pelo atrito direto entre a corda e minha pele. Eu tinha certeza de que estava quase em carne viva. Seria inútil continuar tentando. Mesmo preso, tentei pensar em jeitos de fugir. Eu estava muito fraca para correr e não tinha a menor noção de onde eu estava. Concentrei-me nos sons, agora com a audição um pouco mais apurada. Eu ouvi o som dos berros das gaivotas, o som da água batendo no litoral e o som distante da buzina de uma embarcação. O cheiro de água salgada também era forte ali. Eu ainda estava em terra, mas perto da água. Eu sabia também que eu ainda estava na cidade de Nova York. Meu palpite foi Lower Manhattan. Eu tinha certeza de que era o litoral do East River.

Um barulho alto me assustou e arregalei os olhos com a surpresa. A enorme porta de ferro do galpão se abriu e três homens entraram. Reconheci dois deles. Um, o alto e careca com jeito de ex-militar, havia me espancado. O outro era baixo, mas tinha um olhar feroz. Era o homem que havia me sequestrado e mencionado o nome do Adam. A presença dele despertava o pior em mim.

“Vejam só quem acordou, rapazes.” Disse ele, com um sorriso largo no rosto e estendeu os braços à frente do corpo como se esperasse receber um abraço meu. Se ele soltasse meus pulsos eu duvido muito que ele ficaria feliz com meu abraço. “Dormiu bem, gracinha?”

Não respondi. Trinquei os dentes e o encarei com coragem e com firmeza.

“Oh, não...” ele se aproximou de mim e segurou meu rosto.

Rosnei para ele e tentei me mexer para escapar de seu toque, mas cada vez que eu me mexia forte demais, a pele dos meus pulsos repuxava e provocava uma dor ardente e quase insuportável. Ele me segurou com força e conseguiu me imobilizar, mais do que eu já estava, forçando-me a encará-lo.

“Não, não lute gracinha. Você é minha agora.” Ele disse com um sorriso presunçoso.

“Você me dá nojo.” Vociferei. Minha garganta arranhou quando falei e só então percebi o quanto minha boca estava seca e o quanto eu estava com sede.

O homem ficou ereto e seu rosto ficou sério.

“Eu sei.” Ele disse e me estapeou.

O tapa fez um som agudo que se propagou pelo galpão e ainda mais intensamente no interior do meu ouvido. A princípio o impacto foi indolor, mas me deixou um pouco zonza e não tardou a começar a arder e latejar no local atingido, bem na bochecha.

“Não estou aqui para ser mau, gracinha, e gostaria que você se comportasse.” Prosseguiu ele. “Na verdade, hoje estou me sentindo até um pouco bonzinho e misericordioso.”

Ergui os olhos para ele, confusa, mas com a expressão ainda carregada com todo o meu desprezo.

“Seu namoradinho não apareceu. Talvez você estivesse falando a verdade quando disse que estava tudo acabado entre vocês.” Confesso que eu não soube muito bem como entender aquilo. “Eu vou dar a ele um prazo de trinta horas para aparecer, mas se quer minha opinião, acho que ele não vai. Eu jurava que ele se importaria mais com a cadelinha dele.”

Eu não tinha o que responder, nem o que pensar. Eu não sabia o que aquele homem queria com o Adam. Talvez vir até aqui significasse morte certa e ele apenas estivesse prezando a própria vida, ainda que isso significasse a minha. Há alguns meses esse pensamento não seria considerado uma possibilidade, mas agora eu já não tinha mais tanta certeza. Aquela ideia fez meu estômago vazio se embrulhar. Uma coisa seria lidar com o fato de que meu relacionamento com Adam havia chegado ao fim. Outra coisa seria perceber que tudo o que vivi com ele foi a troco de nada e que nunca houve amor da parte dele. Aquilo doía, mas não havia muito a ser feito além de aceitar. Eu daria um jeito, nem que eu saísse de lá morta, mas eu sairia. E sem a ajuda do Adam.

O homem suspirou espalhafatosamente e bateu as palmas das mãos fazendo um som que me fez saltar e as esfregou em seguida.

“Onde entra a misericórdia nisso? Vai me matar?” perguntei sem medo. “Vá em frente. Como já deve saber, não tenho muito a perder.”

Ele sorriu abertamente e isso aprofundou as rugas ao redor de sua boca, nos cantos de seus olhos e as linhas de sua testa.

“Oh, não, gracinha. Assim seria fácil demais e eu não sou o tipo de homem que escolhe os caminhos fáceis.” Respondeu ele, ainda sorrindo. “Eu tenho planos pra nós.”

Um arrepio me subiu pela espinha. Eu não tinha a menor noção do que ele estava dizendo. Ele estalou dois dedos e apontou para mim em seguida. Encarou-me pela última vez e se virou para ir embora. Acompanhei suas passadas enquanto ele se distanciava com um de seus homens e não percebi que o outro estava bem ao meu lado até o momento em que uma agulha penetrou meu braço. Saltei de susto e de dor. Olhei para o homem que me ofereceu um sorriso brilhante e malicioso. Ele balançou a cabeça lentamente enquanto aproximava seu rosto do meu.

“Que desperdício...” Ele disse e me surpreendeu um selinho rápido. “Bons sonhos, princesa.” Piscou para mim e se retirou, seguindo os outros dois.

Não sei ao certo quanto tempo se passou desde que os homens foram embora, deixando-me lá sozinha, com fome e com sede no escuro para penar por mais longas horas amarrada à cadeira. Pelo menos não me espancaram dessa vez. Mas eu também não sabia o que haviam injetado em mim. Só sei que depois de certo tempo, minha mente se tornou o completo caos. Meu corpo amoleceu drasticamente e eu perdi totalmente o controle da minha consciência. Relutei, mas meus olhos insistiam em fechar. Minha mente divagou em meio a pensamentos aterrorizantes como as lembranças de um Adam que me amou e as possibilidades que me aguardavam daqui para frente. Talvez morrer não fosse uma má ideia afinal. Com isso em mente, me entreguei à escuridão.


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Notas finais do capítulo

E agora, gente? E agora? Onde estará o Adam? Mereço reviews? Se sim, digam o que acharam do capítulo, o que acham que vai acontecer em seguida, opiniões, sugestões, xingamentos. Agora, vamos aguardar pelo próximo. De quem será o pov? Huhuhu Beijos e até a próxima.



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