As Crônicas de Ais escrita por Haydn, Kyoto


Capítulo 2
Entre guerras




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 As tochas crepitavam entre as janelas no salão grande, iluminando as figuras presentes. Era decorado rústicamente, com tapetes de peles e pinturas. Os móveis eram feitos quase todos de madeira, pintada de variadas cores. Estavam presentes dez homens, vesticos basicamente com vestes de couro polidas e peles de animais de inverno, brancas ou claras rajadas. As idades variavam. Alguns tinham uma vasta cabeleira coberta de enfeites e tranças, outros não tinham nem mesmo um barba rala, não aparentando ter completado ainda sua maioridade. Todos estavam reunidos em volta de uma grande mesa, coberta de mapas e papéis aleatórios. Taças com bebidas variadas estavam colocadas para cada um deles, porém, intocadas. Sentado em uma cadeira de espaldar alto, afastado e na ponta da mesa, estava um homem de aparência exuberante. Sua barba lisa e comprida atravessava o peitoral, onde se uniam as mãos marcadas pela idade. Seu cabelo sem enfeites era também liso, de uma coloração um pouco mais escura que a barba. Se vestia sem a mesma pompa que os outros, com uma capa de cor amarelada cobrindo os ombros. Suas mãos se juntavam, apoiadas nas laterais da cadeira , em frente ao rosto, em sinal de apreensão. Na outra ponta, ajoelhado, está um homem de roupas simples, sujo e maltrapilho. 

- Eles nos atacaram! Sem nem mesmo um aviso!! - Disse um homem de cabelos ruivos, cobertos de cicatrizes no rosto. Estava enfurecido.

- Não apenas isso, como também tomaram a cidade de forma covarde! - Disse outro mais jovem, loiro de cabelos trançados.

 Eles discutem o recente ataque a uma cidade pertencente ao território do reino Shiran, localizada  na fronteira entre o último e Liga de Ais. O ataque foi repentino, na surdina, e a cidade atacada não teve chance. De acordo com o homem que conseguiu escapar e chegar até a atual capital do reinado, homens em condições de pegar em armas foram em sua maioria mortos, restando apenas mulheres, crianças e inválidos. Cada um dos generais presentes queria falar mais alto, sobre retaliações, vinganças e guerra declarada, e quando os gritos chegaram ao ponto crítico, a voz mais alta do que estava sentado no trono cessou todas as vozes.

- Chega! - Ele disse, sem se mover. - Me diga, homem. Mais alguém sobrevieu, de seu conhecimento? - Ele disse, se dirigindo ao plebeu.

- N-não senhor... Que eu saiba, sou o único que conseguiu fugir da cavalaria, graças ao pântano, que os amedrontou e eu consegui fugir, quase ao custo de minha vida. - Ele disse, mirando o chão.

- Então temos certa vantagem. Isto veio em um mau momento. - O monarca disse, desvenciliando as mãos e se levantando. - Devemos nos preparar, um  confronto é inevitável, afinal, todos sabemos as motivações deste ataque. Você está dispensado agora, meu jovem, e seu serviço ao reinado não será esquecido. - Acenando ao homem, ele se afasta, passando pela porta composta de panos pendurados que prendia a passagem.

- Senhor, que medidas devemos tomar? Este incidente realmente não veio em boa hora, uma vez que os clãs estão sedentos dada a aproximação do Dia da Disputa!

- Não podemos ficar passivos! Lachelit era um importante centro comercial! - Disse o loiro de antes, rugindo.

- Acalme-se, Ruliag! -  Disse um jovem ao lado do  Rei. Com certeza era o mais novo entre todos. Vestia uma frágil armadura de couro, consoante com as peles que o protegiam do frio. - Todos sabemos da importância deste ataque, mas a população vem antes do orgulho!

- O que Leaf diz é verdade, General Ruliag. Neste momento, precisamos pensar. Como minha primeira medida, devem ser mandados mensageiros para as vilas na região de Lachelit, devem entrar em estado de urgência, se evacuarem e se concentrarem nos fortes. Também devemos mandar mensagens as ordens Druídicas das florestas do interior, mais próximas à fronteira.

- Senhor... Mas devemos montar um exército... Não podemos ficar esperando outro ataque! - Alguém falou, intimidado.

 O homem pensou, sentou-se novamente, e logo se levantou, resoluto.

- Então estou neste momento dando ao General e meu filho Leaf toda e completa autoridade sobre o exército. Uma comitiva irá seguí-lo recrutando e falando com ordens de guerreiros. Porém, o primeiro ataque deve ser ordenado por mim. - O jovem à direita do homem arregalou os olhos, e tentou argumentar, mas palvras não saíram.

 Todos começaram a falar ao mesmo tempo, com ruídos, justificativas e argumentos, mas cessaram perante a voz forte e respeitosa do líder.

- Minha ordem foi dada! Aprontem-se, as notícias devem ser espalhadas, e os Fortes precisarão de reforços e estrategistas. No fim deste dia irei, depois de consultar os druidas, designar cada um ao seu posto. Vocês podem querer meu lugar, por enquanto ainda são todos Generais sob o meu comando. - Ele disse, com o olhar agudo para cada um.

 Lentamente, eles foram saindo, alguns perplexos, outros com raiva. Apenas Leaf e o velho ficaram na sala. O jovem tinha cabelos ruivos e lisos, e a constituição leve e veloz. Suas feições eram selvagens e a pele branca e macia. Certa beleza feminina resplandecia sua face. Os olhos verdes foram herdados do pai.

- Meu pai! Como o senhor pôde me designar! Esta é uma missão digna de uma General de alto escalão!

- Leaf, meu filho. Ser um General significa ter um alto nível, em todas as qualidades requisitadas. Se fosse o contrário, eu não estaria sentado nesta cadeira agora. - Tosse, sacudindo a cabeça algumas vezes. - Eu, Armtrunk, não tinha mais que a sua idade quando me foi mandado explorar as Sanguinárias. E... Nesta época, apenas em você eu posso confiar.

 

 Saindo da tenda do pai, a primeira pessoa que chama a atenção de Leaf é o General Ruliag, o homem vestido de peles brancas felpudas e cabelos loiros compridos. Adornos de madeira eram vistos entre as mechas claras, acentuando o aspecto selvagem por que era conhecido. Ao se aproximar, ouviu a voz impregnada de ironia.

- Não achou sábia a decisão do Rei, general Leaf...? Digo, em uma guerra importante como essa mandar um general com quase nenhuma experiência em armas?! - Disse, sem sorrisos.

- Com certeza, general Ruliag. Mandar um soldado raso não teria tal aceitação, não é? - Respondeu com toda a displicência que pode acomodar.

 Virando e pisando forte, Ruliag se afastou em meio a vila burburilante. Estavam na parte central da vila de Astranna, atual central do Reino de Shiran. Fazia dez anos que o reinado era comandado pelo pai de Leaf, General Armtrunk, quando este venceu o Dia da Disputa, um dos principais eventos que decide o líder do reinado a cada 11 anos. Com o décimo ano prestes a acabar, os preparativos estavam sendo reorganizados em todo o território, fazendo com que vilas-sedes, como é o caso de Astranna, estivessem polvorosas com estoques, decorações e construções.

 A Cabana da Cadeira, onde o Chefe do Clã passa a maior parte do dia fica na parte central da vila, circundado por uma mistura de casas e comércios. Apesar do status de capital, a vila era composta de uma grande parte de agricultores, que trabalhavamnos campos de alimentos e pecuária ao redor dos limites do território pertencente à pequena cidade. O resto era dividido entre mercadores e uma grande força bélica, produto de tributos vindos de toda parte do reinado. Indo até a parte destinada aos militares, Leaf passa por várias cabanas de outras divisões, chegando finalmente a sua cabana, marcada pelo brasão de sua família, duas folhas superpostas. Entrou e encontrou alguns de seus comandantes, responsáveis pelos seus batalhões. Somando todos os homens e animais, tinha ao todo quase 1000 criaturas ao seu comando, espalhadas pelo território de Shiran. Falou a todos a maior parte das informações que havia tido na reunião.

 

 Fazia uma semana desde que tinha sido empossado como a maior autoridade sobreo exército de seu pai, dentre a qualjá havia percorrido três vilas próximas a capital. Os mensageiros estavam fazendo um bom trabalho, e quando chegava em uma vila, geralmente a maior parte dos preparativos estavam prontos, e ele podia sair em seguida, mandando cada vez mais homens para se reunirem nos fortes de combate nas fronteiras.

 Ele era o general responsável pela porção noroeste do território, e estava visitando apenas as maiores vilas, deixando as menores a cargo de capitães. Era acompanhado de uma escolta armada de 100 homens e seu segundo-em-comando, capitão Firion. Quando conversava, era com ele. No oitavo dia, uma mensagem chegou, endereçada a ele, tendo seu pai como remetente.

"General-Comandante Leaf convocado para liderar retaliação contra o ataque a Lachelit. Deve se retirar para o Posto Avançado mais próximo da cidade-alvo, onde estará se encontrando com as suas tropas recrutadas. General Leaf é esperado no Posto de Rimmepoint."

 

"O que meu pai está pensando...?!" Era o que se passava pela sua mente.

 Lachelit se encontrava na região oeste, atravessando a floresta de Ur, próxima as Montanhas Sanguinárias que serviam de fronteira com a Liga de Ais. O ataque havia sido ali por que era o ponto de passagem mais fácil entre os dois reinos, uma rachadura na cadeia de montanhas, e um ponto comercial importante. O problema era que Leaf se encontrava atualmente a mais uma semana de caminhada de onde estava, outro general devia estar mais próximo. Mas não cabia e ele questionar. Uma ordem de seu pai era suprema, e no dia seguinte ele começou a caminhada para o sudoeste, em trajetória retilínea na direção da cidade.

 Ao chegar, encontrou o motivo de ele ter sido ordenado para o ataque. Na região noroeste pra onde foi mandado, a predominância era de Bárbaros, uma vez que o clima era mais inóspito. Seu pai não pedia por uma batalha justa. Ele queria um massacre, e nessa hora, estratégias intrincadas com magias e flechas não eram uma boa escolha. Ele tinha quase 500 homens duros como rocha e fortes como ursos, completamente sedentos por sangue.


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