Fiquei pensando nisso por umas 3 horas, não sabia o que fazer, nem o que estava sentindo, meus pensamentos foram interrompidos pelo soar da campainha. Era uma menina, alta, morena e com cabelos morenos enrolados caindo sobre seus ombros.

–Yes? *Sim?

–Hey... Ér.. Sorry to bother you, but you would have a cup of popcorn? My little brother wants a lot and know how kids are, right? Hahah… *Hey... Ér.. Desculpe incomodar você, mas você teria um copo de pipoca? Meu irmãozinho quer muito e você sabe como crianças são certo? Hahah...

Ela tinha um inglês complicado, mas dava pra entender.

–Sure. Do you want to come on in? *Claro, você quer entrar?

–No, thanks, I can wait here. *Não, obrigado, eu posso esperar aqui.

–Okay.

Entrei em casa e peguei um dos 10 sacos de milho de pipoca que a gente tinha (Eu tenho amor por pipoca), e levei um saco pra ela.

–Here it is. *Aqui está.

–Oh, don’t need to give me the whole package! *Oh, não precisa me dar o pacote todo!

–Relax, I don’t need it. *Relaxa, eu não preciso.

–Okay. Thank you so much. *Okay. Muito obrigado.

–For nothing. Ah... What is your name? *Por nada. Ah... Como é seu nome?

–Oh, Emmanuelly, but you can call me Manu. *Oh, Emmanuelly, mas você pode me chamar de Manu

–Oh, are you Brazilian? *Oh, você é brasileira?

–Yes… *Sim...

–Eu também sou brasileiro chega disso de inglês. É meio confuso ainda!

–Hahahah Sim! Eu não me acostumei nem um pouco!

–Então, meu nome é Fernando, mas pode me chamar de Nando!

–Haha Ok Nando.

Ouvi gritos de uma criança.

–Ah, desculpe, mas eu tenho que ir, é meu irmão.

Ela parecia envergonhada.

–Ok, nos vemos depois!

–Ah... Claro. Tchau.

–Tchau.

Ela realmente parecia envergonhada, talvez fosse tímida, talvez eu tivesse sido um pouco “rápido” demais na amizade, sei lá. Tanto faz.

Passou-se uma semana, arrumei um emprego de garçom numa lanchonete, ganhava pouco, mas dava pras minhas despesas. Milena e Marina moravam juntas em um apartamento pago pela mãe da Marina. Lorena me ligava constantemente, mas eu não atendi nenhuma das vezes. Não sei por que, mas não queria atender. Minha amizade com a Milena continuou, com a Marina também e fiquei mais amigo da Manu. Normalmente aos domingos quando eu chegava do expediente a Milena e a Manu iam em casa e a gente jogava videogame, assistia filmes, coisas assim. É domingo e eu estava saindo do trabalho, eu estava em um dia péssimo, meu chefe tinha enchido meu saco o dia todo e uma cliente tinha gritado comigo e com outros funcionários sem motivo, então a Lorena me ligou, por um motivo estupido, atendi:

–NANDO?! MEU DEUS! POR QUE NÃO ME ATENDEU?

–O que você quer?

–Nando! Eu estou preocupada com você! Eu, sua família e seus amigos!

–E dai? Se estivesse preocupada não teria me deixado.

–Nando! Eu nunca te deixei, eu fui embora porque não aguentei!

–SE ME AMASSE TERIA SUPORTADO TUDO POR MIM! VOCÊ ACHA QUE FOI FÁCIL VIR ATÉ AQUI? ARRUMAR UM MONTE DE COISAS? IR PARAR NUMA PORRA DE UMA ILHA COM CANIBAIS? SER ATROPELADO? PRA NADA? PRA VOCÊ SIMPLESMENTE DESISTIR? LORENA NÃO ME LIGUE MAIS! VOCÊ ESTRAGOU TUDO!

Eu desliguei o telefone. Peguei o ônibus e fui pra casa. Chegando a casa a Milena estava lá (Ela tem a chave extra do meu apartamento.), e ela percebeu que eu não estava nem um pouco bem.

–Nossa Nando! Que cara é essa?

–A Lorena me ligou..

–Ah! E o que ela disse? Senta aqui e me conta!

–Ela disse que estava preocupada...

Contei tudo pra Milena e em meio disso eu chorei um pouco... Ela me consolou e foi embora, disse que era melhor eu ficar um tempo sozinho em paz. Paz era definitivamente o único sentimento que eu não tinha, estava nervoso, enfurecido, triste, sozinho... Tudo de ruim.

Logo se passaram várias horas e eu me vi na madrugada sozinho e carente. Eram 03h00min da manhã, e meu telefone vibrou, era uma mensagem:

“Falaew Nandinho, tu ta acordado?”

Era da Manu.

“To sim baby, que tu quer?”

“Eu não to conseguindo dormir...Tava pensando se quer vir aqui ou eu ir ai sabe, meu pai ta viajando e minha mãe foi junto..”

“Ah claro, pode vir.”

Eu queria um pouco de companhia. Estava chateado e tals. Logo a campainha tocou.

–Oi gato, vem sempre aqui?

Rimos. Toda vez que a Manu ia em casa ela parava na porta me olhava com uma cara e dizia isso, eu sempre ria disso.

–Entra ai.

Ela entrou e sentou no sofá.

–O que houve? A Milena me ligou e disse que era pra tu ficar um pouco sozinho..

–A Lorena me ligou.

–Nossa! Que porre. Quer falar sobre?

–Eu.. Eu arrumei tudo, nosso avião caiu, e tudo mais – Ela já sabia de tudo que havia acontecido com a gente.

–Sei.

–Então, e pra nada? Eu tive que aguentar tudo, acha que eu nunca pensei em desistir? Eu sempre tive que fazer tudo e aposto que se eu desistisse como ela fez, ela ia me jogar paus e pedras! Tenho certeza!

–Imagino. Você se meteu com ela né, ela é esse tipo de pessoa que faz e não quer ser criticado, mas quando são os outros, critica até num ter mais espaço! Certo?

–Sim...

–Sabe Nando, antes de se meter com os outros, tente conhecer muito bem a pessoa.. Às vezes dá errado seguir o coração sem nem ligar pra razão.

Ela abaixou a cabeça e parecia chorar. Eu a abracei, ficamos ali por uns minutos até eu perceber que ela dormiu em meus braços.