Chegou! Ela acabara de chegar. A garota dos cabelos verdes, curtos, os olhos castanhos cor de mel, um mel claro e doce. O sorriso singelo e cuidadoso no rosto... Ela tinha essa imagem, uma imagem de garotinha que devia ser cuidada, mas ele sabia que ela não era assim, e como ele sabia!

Mas esse pequeno detalhe não era nada pra ele, afinal ele não gostava dela por essa imagem, gostava dela porque era forte, destemida, corajosa, linda, carinhosa, pouco, mas mesmo assim carinhosa. Ela podia ser o que fosse, ele, Let Dahaka, continuaria á ama-la!

Ela foi à frente, como sempre, e depois ele a seguiu.

Assim... Sem trocar palavras, apenas uma troca de olhar na qual ele se perdia no fascínio dos olhos castanhos da garota e ela se achava no olhar abobado do garoto.

Ela sempre vinha 
Na mesma hora naquele lugar
O encontro igual
Depois sair a caminhar
Em silêncio , os dois

Eles passavam pelas ruas, ruas que iam ficando cada vez menores, chegaram á casa onde sempre iam para ficarem juntos. Lá ninguém estava por perto, eles podiam ficar longe dos olhares das pessoas da vila deles e também de Jegan, eram amigos, mas eles precisavam de um tempo só pra eles dois.

Entraram na casa, era um lugar grande, um casarão antigo, todo de madeira, várias partes da casa estavam quebradas ou eram desreguladas. Quando se andava pelo chão se ouvia rangidos e barulhos. Aquilo era velho e abandonado, mas eles não ligavam, tudo que tinham ali era um toca discos velho e um disco só.

A rua estreita, a casa antiga e
As escadas desiguais
A madeira e o som dos nossos pés

Eles iam até o quarto onde deixavam o toca discos, e finalmente falavam algo.

-Vamos?... -Ela dizia á ele, enquanto ligava o velho toca discos.

-Claro! -Ele respondia, já pegando a mão esquerda da garota com a sua mão direita e colocando a outra mão em sua cintura, enquanto ela colocava a mão direita em seu ombro passando por trás das costas largas dele e descansando a mão em seu trapézio.

Eles dançavam, dançavam bastante, até que as músicas do disco acabavam e então eles paravam, olhavam um para o outro, aquele lugar era escuro, mas os olhos dela brilhavam intensamente! 

Até o quarto de dormir
De janelas fechadas
Mas sempre cheio de luz

Ele podia ouvir seu nome repedidas vezes em sua mente, ela era tudo no que pensava, principalmente quando estavam sozinhos. Num momento só deles.

Julia , Julia , Julia

Então de repente ela começava á chorar, talvez outras pessoas pensassem que ela era maluca, mas não ele. Ele sabia por que ela chorava, ela chorava, pois lamentava a situação de Jegan. Sabia que o rapaz gostava dela, mas ela não podia fazer nada, ela amava Let, amava-o, mas não podia deixar de se sentir mal por seu amigo querido, Jegan.

-Me desculpe... Eu... Eu de novo... Eu... -Ela tentava se desculpar por ter estragado o clima entre eles, ele não se preocupava com isso.

-Sim, tudo bem... -Ele respondia. Ela só precisava daquela resposta, era tudo que precisava pra sorrir novamente.

Eles sentavam no chão, escorados na parede.

durante uma hora , talvez um 
Pouco mais
Ela chorava até cansar
Eu respondia sim
Pouca coisa pra dizer
Ela quer que tudo seja assim

E então ele brincava:

-Você é sempre tão bipolar, julia-chan! -Ele ria e deixava-a com uma cara de brava.

-Não me enche, Let! -Ela falava dando um safanão no rapaz.

-Você tem mãos de homem! -Ele continua á brincar.

-E você reclama tanto quanto uma garotinha! -Ela quase gritava com ele.

-... -ele apenas ria. Então ela, já com uma cara debochada, deixava-se rir.

E os dois riam juntos, sorriam largamente um para o outro, coisas simples como essas os faziam chorar de rir, não pelas piadas, que, diga-se de passagem, eram estranhas e ridículas, mas por ter um ao outro.

Pouco tempo depois eles paravam de rir e ficavam se olhando, mudando lentamente a expressão facial e então chegando mais perto, cada vez mais perto e então pronto!

Davam um beijo, um longo beijo, um bom beijo, um beijo apaixonado, um beijo maravilhoso, um beijo... Apenas um GRANDE beijo. Paravam apenas com a falta de ar. E depois esse beijo era seguido se selinhos, beijinhos, carinhos e mais beijos.

E então já estava escurecendo. 

-Tchau, Let! -Ela dizia debochada, afastando o rosto abobado do namorado que avançava para outro beijo.

-Vai lá então, menina má! -Ele dizia vendo ela se levantar e seguir até a porta.

E então já não tinha mais a companhia da amada, deixava o tempo passar um pouco, não queria magoar Jegan mostrando que estava com ela, ele sabia que eles dois estavam namorando, mas não precisava ver eles juntos.

Ela dizia adeus 
Eu dizia boa sorte e estava só
Até amanhã
Naquele mesmo lugar
Ela vem me encontrar

A sua mente trabalhava continuamente, repetindo o dia novamente e mostrando a ele que ela era a única em quem podia pensar, a única que podia amar. E a sua imagem se repetia,ela se repetia.

Julia , Julia , Julia

E assim era o relacionamento dos dois, assim era o tempo que passaram juntos, o tempo que se tiveram, o tempo que eram a perfeita dupla, em que eram companheiros, em que aturavam um ao outro com o maior destreza...

Os dois se encontravam diariamente.
E bastava isso para que continuasse assim.

*~FIM~*