Nicotina escrita por Yuna Aikawa


Capítulo 1
Único




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                Os cochichos e risadas soltas na sala estavam insuportáveis. Eu não passei alguns anos da minha curta juventude estudando para ser desrespeitado por adolescentes malditos do segundo ano. Bem, como eu adoro o poder da caneta vermelha, fechei a apostila e considerei Iluminismo como matéria dada, os alunos que se fodam depois.

                Sentei no degrau do tablado e, depois de assistir duas garotas se estapeando, abri minha PlayBoy e fiquei lendo piadas ridículas enquanto aguardava o sinal.

                “Blééééén!”, o som da liberdade ecoou entre as carteiras, fazendo todos voltarem aos seus lugares e se calarem. Isso mesmo, a minha presença não significava nada para aquelas criaturas, mas a droga de um sinal fazia-os se comportarem. Nunca vou entender os jovens.

                Guardei minha revista e fitei as pernas de Carolline, a aluna que eu estava “pegando” – adolescentes são tão promíscuos – e sai da sala, sendo acompanhado por olhos curiosos por todo o corredor. Filhos da puta, só prestam atenção em mim quando estou partindo.

                Fora do colégio, acendi um cigarro vendo o feto deformado atrás  da caixa. Babês são mesmo uma graça, ao contrário daqueles macacos a quem tento lecionar.

- Robespierre! – O professor de Química B, Joshua, juntou-se a mim – Já disse para parar de fumar.
- Dawton! – Sorri – Olha só quem fala!

                Enquanto Joshua acendia sua dose de nicotina, lembrei-me de onde “brotaram” tais apelidos. Revolução Francesa, Robespierre, o sádico da guilhotina, responsável pela prisão de 300 mil pessoas e morte de 20 mil; e Dawton, o melhor amigo de Robespierre, que acabou com a cabeça decepada.

                Eu não mataria Joshua, deixaria seu vício em cigarros e boates gays fazer isso... Eu acho.

- Agora sério, Robert – Uma neblina de fumaça nos cercava – Qual é o lance com a garota do segundo ano?
- Sexo casual – Respondi devagar – Por quê?
- Curiosidade.
- Ciúmes?
- Não.

                Ficamos em silêncio por um bom tempo, até meu amigo dizer que precisava dar aula. Pobre Joshua, iria direto para a “jaula” do segundo ano. Fiquei sozinho, fumando mais um pouco, antes de me render às responsabilidades e ir ao banco, onde dei de cara com Allan Glory, o pai de Carolline e professor de Física A.

                Cumprimentamo-nos com uma troca de olhares frios e tímidos e cada um seguiu seu rumo. Pergunto-me até hoje se ele sabia sobre eu e sua adorada e patética filha.

                Sim, Carolline era patética, uma garotinha bonita e ingênua, do tipo que chora ao receber um simples “não”. Patética ou não, era burra o suficiente para dar para mim e ainda “me amar”.

                Você sabe o que é Amor? É pensar em alguém antes de si mesmo, morrer por essa pessoa e ficar feliz pelo simples fato dela estar feliz*. Talvez você ame seu pai ou mãe, mas não existe Amor fora da família, do sangue.

                Enfim, com meu salário no bolso, fui para casa, onde pensei que dormiria um pouco, mas, para minha infelicidade, Carolline estava sentada, esperando-me na porta do apartamento. Aquele porteiro cretino, por que a deixou subir?

                Fui obrigado a convidá-la a entrar, o que só fez a garota sorrir de uma orelha à outra. Já estava de saco cheio de vê-la deitada no meu sofá – três meses é muito para sexo causal – como se fosse sempre bem vinda, então lhe dei o fora.

- Por quê? – As lágrimas vieram à tona nas bochechas rosadas de Carolline.
- Não gosto mais de você, enjoou.

                Enquanto ela argumentava e esperneava inutilmente, fui até a cozinha, acendi um cigarro e peguei um garfo. De todas as noites que passamos juntos, aquela me deu muito mais prazer, principalmente depois de garfar o braço da garota no balcão.

                Ah! Os gritos, as lágrimas e o sangue... Aquilo me deliciava, então por que parar por ali? Digamos que minha parceira de atividades horizontais não aproveitou a noite, mas é difícil aproveitar algo quando se está morrendo.

                Serei breve, não quero me empolgar descrevendo o sangue. Depois de garfá-la quantas vezes meu braço de trinta anos agüentou, passei a sufocá-la, aproveitando cada ruído que morria em sua garganta. Por fim, apaguei o cigarro nos olhos abertos e inconscientes da garota e a joguei pela janela. Espero ter acertado algum vagabundo com o corpo.

                A policia nunca desconfiou de mim, muito menos Allan, o que foi ótimo, além de eu não ser preso, ainda pude “namorar” outras alunas, matando-as depois.

- Robespierre – Joshua veio falar comigo depois das aulas – Por que todas as alunas que se envolvem com você somem?
- Ah, você me conhece...
- Sério, Robert... Acho que a nicotina te deixa meio neurótico...
- “Psicopático”, eu diria – Sorri – Algo contra?
- Tudo. Isso é loucura, cara!
- Nem é...
- Você virou um maníaco!
- Oras, cale-se!

                Acabei empurrando meu melhor amigo na frente de uma moto. O motorista não bateu, nem caiu, mas Joshua foi transformado numa lombada. Aquele foi o único sangue que não me excitou, na verdade, fez-me chorar.

                Ajoelhei-me ao lado de Joshua e, colocando sua cabeça no meu colo, o beijei. Isso mesmo, eu sempre soube que amava Dawton, sempre soube que seria correspondido, mas meu orgulho falava mais alto.

Onde estava meu orgulho agora? Perdi meu melhor amigo e amado, por culpa do excesso de nicotina no sangue, talvez, mas nem por isso parei de fumar, na verdade, apenas mudei meus alvos de pedofilia.

- Mandou me chamar, professor Robert? – Luke, um aluno do terceirão, entrou na sala dos professores.
- Mandei – Meu malicioso sorriso apareceu – Já pensou em “pegar” um professor, Luke?


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Notas finais do capítulo

*Definição dada por Uchiha Alice.