Já havia passado das sete da manhã, ainda tomávamos chá e nos deliciávamos com as delicias quem tinham naquela mesa espetacular, quanta alegria e bom humor! Sinto que poderia ficar nesta mesa para sempre! Eternamente me servindo de chá e bolos deliciosos e lindos! Ora esse lugar é magnífico!

-Alice!

    A voz do Chapeleiro me desperta dos meus devaneios sobre bolos e outras delicias da mesa, olho para ele e percebo que apenas nós estamos firmes e fortes comendo e bebendo chá, todos estavam dormindo. Ele me olha de forma intensa, me arrepio... Por céus que merda foi essa Alice?

-Sim...

-Não deveria ter voltado! Não deveria! Você não está pronta, não pode ficar aqui... Se Lizabeth te encontra serão nossas cabeças. –o vejo engolir em seco- Literalmente nossas cabeças Alice! Tem que voltar para o outro mundo! Agora!

-Voltar? Para onde?

-Não! Não pode esquecer-se de lá agora... Não... Apenas me escute Alice e me siga.

    Vejo ele se levantar e puxar minha mão, ele corre de forma louca e desesperada me levando para a floresta de antes... Estamos... Voltando?

-Para onde vamos? Chapeleiro!

-Não pode ficar não deve! Não ainda!

-Como assim ainda? Explique-me!

-Alice... Por favor, não fique! Não fique! Não se lembre... Esqueça os sonhos, o mundo... Não se torne insana minha Rainha... Lizabeth pode te encontrar caso isso aconteça! – o sinto passar os dedos finos e mal cuidados em meu rosto.

-Mas... Rainha?

-Não posso te explicar... Não posso... Ou será que posso?- o vejo fazer perguntas estranhas para si mesmo.

-Chapeleiro quem é Lizabeth?

-Oh! Viu por isso não pode ficar não tem consciência de si mesma ainda e isso é perigoso! Mais do que perigoso e muito perigoso! É perigosíssimo! Tem que voltar para lá! Só volte quando estiver boa o suficiente para enfrentar o que se esconde aqui...

-Me explique direito!

-Não posso Alice... Mas vá e só volte quando necessário! Segure suas memórias dentro da sua própria mente, não escute nossas vozes, não sonhe conosco, não se lembre de nós...

    Ele coloca um colar em meu pescoço e sorri.

-Boas lonjuras... Alice.

    Sinto o chão abaixo de mim se romper, estou caindo outra vez... O mesmo buraco de antes, a mesma sensação de antes... A mesma insanidade de antes... Wonderland... O que está acontecendo com os meus sonhos? Comigo? Sinto o colchão macio de minha cama abaixo de meu corpo, olho para o lado e me vejo deitada confortavelmente pelo espelho, e mais uma vez...  Fora apenas um sonho? Vejo o colar em meu pescoço, a pequena e brilhante pedrinha azul em forma de gota brilha em meu vestido... Não fora um sonho!

-Por Deus!

    Levanto-me correndo e saio desesperada pela porta, desço as escadas escutando gritos grotescos e assustadores, acabo por fim me lembrando das coisas que o Chapeleiro disse...

-Nada disso é real, nada disso é real... Nada disso é... – falo várias vezes de olhos fechados.

-Alice!

    Abro meus olhos assustada e me deparo com minha irmã e seu noivo na nossa sala de estar, junto deles nossos pais e um rapaz... Familiar, muito familiar. Principalmente os olhos verdes esmeraldinos.

-Oh! Mil perdões... Não havia visto vocês!

-Mas ora vejam! Vive no mundo da lua essa minha filha! – ouvi meu pai dizer entre risos.

    Acabei sorrindo envergonhada, aquilo era estranho.

-Querida, sente-se, por favor...

    Assim que me sentei vi todos me olharem atentos, menos o rapaz dos olhos esmeraldas.

-Querida esse é Tristan Scott... Ele será seu noivo.

    Olhei todos ali presente com os olhos arregalados, Tristan...? Mas, oh pelos céus estou endoidando! Sim, é pura maluquice!

-Prazer Alice...

    A voz doce e suave dele entrou pelos meus ouvidos me dando um leve e bom arrepio na espinha. A mesma voz, o mesmo nome... Os mesmos olhos e... A mesma cor do cabelo! Não! Por Deus! Tristan!

-Prazer... – digo receosa.

-Pois bem... Alice querida mostre nosso jardim de inverno para o seu noivo.

-Sim mamãe... Acompanhe-me sim?

    Levanto-me e vejo que ele faz o mesmo, ando calma tentando não deixar tudo aquilo afetar minha mente. Quando chego ao jardim de inverno sento-me em um dos bancos brancos que tem ali e fico vendo as borboletas, ele senta do meu lado e sorri... Um sorriso branco e tranquilo.

-Não fique assustada Alice... Eu irei cuidar de você até você ficar pronta para voltar pra Wonderland.

    Assustada viro-me para ele... Não pode ser! Não!

-Chapeleiro?

    E analisando-o melhor percebo a grande semelhança. Meu mundo está saindo de minha mente? Meus sonhos estão se tornando... Reais?

-Sim...

-Por que está aqui?

-Por que você precisa de mim...

-Por quê?

-Ora! Eu não sei!

-Mas...

-Relaxe Alice... Não acontecerá nada...

-Mas... Você faz parte da minha mente!

-Sou real...

-Na minha mente! Apenas na minha mente!

-Não pareço real para você? – ele me olha, sinto meu corpo esfriar e me calo. – Sou real... Você precisa de mim, até se lembrar de tudo, até tudo voltar ao normal... Só até lá.

    Sinto um receio nele e uma angustia estranha. Sinto meu corpo tremer... O que está acontecendo?

“Por favor, esqueça... Esqueça... Não durma não se lembre... Nunca mais minha Rainha. Por favor, não volte. Esqueça-me, nunca mais se lembre... Você corre perigo Alice, por isso eu voltei... Apenas por isso...”.