“Seu nível de insanidade está me assustando querida, por favor, Alice não pule sobre as mesas na hora do jantar! Isso só irá piorar sua situação amorzinho!”

    “Verdade! Irei parar de pular mamãe!”        

    Acordei e abri os olhos, a claridade os irritava, mas eu deveria estar de pé. Espreguicei-me e sorri olhando a foto no criado mudo, hoje afinal é aniversário de Mellanie a minha gata de estimação, estou com ela desde os meus sete anos de idade, ganhei por que papai disse que eu deveria parar com as insanidades absurdas de falar comigo mesma e ter uma amizade com alguém ou algo, pois bem... Deram-me Mellanie, e hoje aqui estou eu indo para a cozinha ainda com minha camisola preparar o leite de minha gata, assim que chego me deparo com mamãe preparando panquecas, pulo sobre a mesa.

-ALICE! Já te disse não pule sobre a mesa! Às vezes parece que você é um sapo! Ora que horror! – ela diz divertida e séria ao mesmo tempo, bem de sue jeito amável e bipolar.

-Mil perdões, é um costume!

-Desacostume-se então querida! Insanidades! Você sempre faz insanidades!

    Rio com isso, todos me falam que eu beiro a loucura, insana, maluca, uma doida varrida. Mas não é isso o que acontece, desde menininha tenho sonhos com um lugar fantástico e até mesmo assustador! É fascinante! Quando vejo as pessoas tenho a mania de contar-lhes o sonho e isso faz com que me chamem de insana. Não me importo antes me importava, mas agora não, agora eu me sinto única com esse sonho apenas meu, sendo ele louco ou não.

    Ponho o leite para Mellanie e volto para o quarto, me visto com um de meus vestidos favoritos e amarro os cabelos, assim que me olho no espelho vejo uma figura parada no canto de meu quarto me olhando com um sorriso sombrio, me viro assustada e não vejo ninguém, volto a olhar no espelho e também não vejo mais o reflexo da pessoa de antes.

-Por Deus!

    Levanto-me apressada e vou até a sala, pego um livro e fico lendo para passar o tempo. Quando menos se espera no relógio marca meio dia, vou até a cozinha e almoço com a minha mãe e minha irmã mais velha, termino e volto para a sala para poder terminar o livro que eu lia antes, mas não o encontro.

-Mas... Ora! Estava aqui agorinha mesmo! Eu o deixei em cima da poltrona tenho certeza disso!

-O que foi Alice? – Pergunta minha irmã.

-Meu livro! Não o acho! Jurava que tinha o colocado em cima da poltrona antes de irmos comer!

-Deve ter levado pra cozinha então...

-Não! Nunca levo os livros para a cozinha! Eu tinha o deixado aqui!

-Ora Alice pode ter acontecido afinal! Procure na cozinha sempre há uma primeira vez em tudo! –Lizzie me diz calma.

    Fui até a cozinha e procurei o livro, procurei na mesa, no balcão até mesmo no forno eu procurei e nada,quando estava voltando para a sala ouvi uma risada de criança olhei para as escadas afinal era de lá que a risada estava vindo, vi um vulto de uma criança com um livro em mãos.

-Ora, mas seja o santo papa!

    Sai atrás do tal vulto de criança a procura de meu amado e precioso livro, assim que comecei a correr nas escadas ouvi minha irmã rir com felicidade e dizer “Cuidado onde corre Alice! Mas por Deus você e suas insanidades!”, não liguei muito de principio e voltei a correr pelo extenso corredor em que ficavam a portas dos aposentos, vi a tal criança entrar em meu quarto e fui o seguindo até lá, quando cheguei... Não havia ninguém, apenas meu livro em cima de minha cama aberto quase no final do mesmo. O olhei e lá continha uma frase em negrito.

“Volte pequena Rainha, volte para nós, volte para o seu povo e sua insanidade!”

    Olhei para aquilo com descrença e li mais uma vez a frase, ora como pode. O livro nem era sobre reinos e maluquices! O fechei e coloquei em cima do criado mudo, abri as janelas e as cortinas do quarto e me deitei, era cansaço apenas isso... Cansaço.

    Dormi e descansei bastante, quando acordei já estava anoitecendo, peguei o livro e tornei a ler, a frase não estava mais lá... Ora como assim? Eu não estou maluca! Existia uma frase no livro! Folheei por incontáveis vezes e não encontrei a frase.

-Sem dúvida é muito curioso! Pois deixe estar deve apenas ter sido parte do sonho. – falei calmamente.

-Querida o jantar está servido irá comer? –Mamãe me perguntou sorridente.

-Oh! Mas é evidente mamãe, estou com muita fome!

    Larguei o livro e fui comer algo estava estranho tenho que admitir isso, voltei a ouvir a risada de criança e olhei para o canto superior do armário e vi ali uma menininha sentada ela não tinha rosto apenas um sorriso nos lábios e brincava com uma boneca e um livro, fiquei olhando e ouvindo a risada, até que fui desperta de tudo pela a voz de meu pai me chamando perguntando se a fome tinha passado afinal eu mal tocara na comida, respondi negativamente e voltei a olhar para o armário, não havia nada nem ninguém ali.

    Após a janta tomei um delicioso banho e me deitei, terminei de ler o livro e senti uma leve brisa fria entrar pela janela, olhei e vi que ali parado estava um gato sentado ronronando e me olhando enigmático, ele tinha o sorriso mais perverso e sombrio que já vi algum dia. Com receio fui até lá e fechei a janela esperando que o gato sumisse, mas isso não aconteceu ele permaneceu ali sentado sorrindo e olhando para mim.

-Quer uma xícara de chá?

    Dei um salto olhando para trás e vi um coelho destorcido rindo e me oferecendo a xícara.

-Oh céus! Não! Obrigada...

    Em segundo vi meu quarto sendo transformado em um lugar sombrio e insano, assustada me deitei e fiquei apenas analisando aquele lugar estranho, fechei os olhos com força me obrigando a dormir, senti algo como uma faca perfurando meu coração e gritei o mais alto que pude, logo em seguida ouvi uma risada maníaca e assustadora tudo ficou escuro desde então. Quando acordei estava nos braços de meu pai com a minha mãe e minha irmã me olhando receosas.

-Alice! Está bem querida? – papai perguntou preocupado.

    Coloquei a mão no peito e olhei, não havia sangue, nem faca... Nada. Olhei para o quarto e ele estava como sempre, arrumado e bonito. Olhei para eles surpresa.

-O que aconteceu? – perguntei estupefata.

-Você estava gritando desesperada Alice! Pedindo socorro... Viemos te ver e você se debatia na cama como se estivesse sofrendo, você teve pesadelos outra vez? – Lizzie me disse com a cara surpresa.

-Evidente! Sonhei que me apunhalavam... Fora... Terrível!

-Oh... Querida!

    Senti papai e mamãe me abraçarem com força e carinho, me senti protegida e fechei os olhos, quando os minutos passaram e finalmente me senti bem os abri novamente e olhei para Lizzie que segurava Mellanie no colo, minha gata ronronava calmamente como se estivesse adormecida, ouvi mais uma vez aquela risada de criança e olhei para o canto do quarto, e ali eu vi uma menininha com um gato no colo ela me olhou e sorriu.

“Bons Sonhos Alice...”.

    Logo em seguida adormeci como se nada tivesse ocorrido, e pela primeira vez eu não tive meu sonho de sempre, aquilo me era muito estranho... O que estava acontecendo afinal de contas?