O Canto do Oceano escrita por Nina Cervantes


Capítulo 4
Um recomeço - III


Notas iniciais do capítulo

Aí vem um capítulo, também muito importante para o enredo da história. O envolvimento de John com Kevin e Matias, daí para frente, prometo que MAIS surpresas e MISTÉRIOS (como de costume aqui) virão.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/313164/chapter/4

John não pregara os olhos uma única vez, Maria, porém, dava longas piscadas e depois despertava, fazendo grande esforço para permanecer acordada. O bebê dormia todo enrolado e aquecido entre aquele monte de coberta. John estava assustado, formulava hipóteses sobre a vinda do pequeno bebê. A silhueta da mulher dentro da maré lhe vinha em mente uma vez a cada segundo… John passara a noite acordado, olhando para o pequeno ser, esperando amanhecer para levá-lo ao centro de adoção. Depois procuraria a policia. Estava cansado desse seu envolvimento com ela, queria uma vida nova, longe de grandes mistérios, o que nunca fora um privilégio dado à John.

– Desculpe, senhor. Mas não podemos simplesmente arranjar um lugar para ele aqui, sendo que sua mãe não fora ainda localizada. - disse o coordenador do orfanato da cidade sobre o bebê.

Irritado, John recorreu à policia, que fora até o orfanato, decretando que o bebê ficaria por lá até que a suposta "mulher da maré" fosse encontrada, para que pudesse deixá-lo com outro responsável que não o abandonasse numa cesta flutuando no mar, naquela noite, agitado.

Ao voltar para casa, encontrou Michael sentado no seu cercado, Maria, depois de cumprimentá-lo com algumas lambidas no tornozelo, correu para dentro, se jogando no sofá.

– Ei, amigo! - disse Michael pulando da grade. - Fiquei sabendo… Está em todos os jornais e revistas da região.

– Pois é, ando dando muitas notícias pro pessoal. - respondeu John.

– Pelo menos ficou com fama de herói sobrevivente… - riu-se Michael, mas logo cessou. - Vim aqui perguntar como está, faz tempo que não trocamos novidades.

– Estou bem, Michael, um pouco assustado. Estive pensando em me mudar, porém não sei com que dinheiro. - John deu de ombros e foi entrando na casa, Michael o seguiu.

– Bem, hoje estou de folga. Não quer sair e tomar alguma coisa? Uma cerveja…

– Não sei se estou no clima. - falou John em tom de desânimo. - Tenho que trabalhar ainda.

– Ah! Vamos, seu expediente é só as sete horas da noite!

Os dois amigos mal viram a hora passar, gargalhavam, faziam graça com os garçons e inclusive com as pessoas. John estava feliz e fazia tempo que a bebida não lhe subia a cabeça.

– John, eu cheguei a te falar da minha paciente? - disse Michael já rindo. - Ela fugiu, se jogou no mar.

– Como assim? - John se preparava para rir ainda mais.

– Estava perturbada, não tinha família… Se jogou! Poffff!

– E aí? - ria John.

– Ninguém a encontrou… Mas quer saber? Essa cidade tá parecendo piada, ninguém encontra ninguém, gente surge do nada, gente desaparece do nada. Eu acho que vou me jogar no mar também viu. Ele me parece ser muito excitante pra todo mundo surgir e se jogar nele! - gargalharam tanto que se engasgaram com a bebida e tiveram que sair do bar aos prantos, tossindo e com falta de ar.

Já eram nove da noite e John faltara ao trabalho, quando tomou consciência, era tarde. Tomou um banho e foi deitar, reclamando de uma dor na cabeça fora do comum.

Duas semanas se passaram, John ficara sabendo que o bebê havia sido adotado e que ninguém encontrara a mãe ou alguém responsável. Ficara feliz por ter cooperado com a pequena criança e se orgulhava de certa forma… John acordava, cuidava de Maria, passava horas admirando o mar em sua duna preferida e trabalhava durante a noite para ter condições. Via Michael raramente, nem ao menos nos sábados e domingos ele estava livre, sua companhia fiel, era sem dúvida Maria, já velhinha, com sete anos. Conheceu a família que adotara o bebê, era nova na cidade. Um casal, Sr. e Sra. Joell, tinham um filho pequeno de cinco anos.

– Muito prazer, sou John Gogh. - disse ele estendendo a mão.

– Lauren Joell. - disse a mulher alta de 1,78m, que possuía cabelos louros quase brancos, e olhos castanhos simpáticos.

– Bernard Joell. - disse o marido, baixinho de 1,65m, com cabelo de um tom dourado-castanho, tinha os olhos azuis e um sorriso enorme.

– Simplesmente nos apaixonados por ele. - disse Lauren acariciando o bebê que estáva dentro do carrinho. - Os olhos mais bonitos que já vi nesse mundo. Não sei como agradecer por tê-lo encontrado, faz quatro dias que estamos com ele, e já posso até…

– Qual nome deram à ele? - perguntou John, curioso, interrompendo-a.

– Kevin. - sorria Lauren. - Kevin Joell.

Foi rápida a conversa, John olhava para a criança e sentia um certo aperto no coração. Por fim, deixou todos esses acontecimentos de lado. Retornou à sua humilde casa e se acomodara novamente em sua rotina comum. As vezes, saía de casa, comparecia às festas e conhecia novas pessoas e mulheres… Estava passado, as rugas da casa dos quarenta anos chegaram, seus cabelos eram sempre desarrumados, compridos até os ombros, porém os fios negros desapareceram, se tornaram grisalhos. Pensava na vida, sentado na duna da praia, refletia em como seria se tivesse conhecido alguém, tido filhos, compartilhado uma família, construído uma história, não sozinho, não assim. Com os anos, John se ligara muito à Kevin, que desde pequenos os pais levavam ele e o irmão mais velho para passar a noite, enquanto os pais viajavam à negócios. Vendiam barcos, e não era atoa que os dois filhos eram muito ligados à John, os pais nunca paravam em casa, então ao decorrer dos anos, quando já maiores, iam por livre vontade até a praia visitar a casa de John, o qual lhe ensinava truques de pescas e curiosidades fantásticas sobre o mar.

Kevin tinha agora sete anos, enquanto Matias, o irmão mais velho, tinha doze. Eram bem diferentes um do outro. Matias, apresentava olhos incrivelmente azuis, os cabelos eram louros e muito claros, o jeito e o modo como falava lembrava muito seu pai. Mesmo que John raramente o visse por perto. Kevin, porém, tinha cabelos castanhos, seus olhos cor de âmbar hipnotizavam qualquer um que os encarassem. Era apaixonado por pranchas. "Um dia, eu vou surfar nas marés que tem durante a noite, meus pais nunca deixaram, mas um dia eu vou!" Prometia ele. "E você, John, vai assistir de camarote." Kevin se interessava muito por surf, porém era proibido de brincar no mar por seu pai, sem que ele estivesse perto, mas aí é que está o problema, seu pai nunca estava presente.

Maria não parava quieta, estava certamente ansiosa para brincar com Kevin e Matias. John já preparava as varetas para ensinar os dois irmãos a fabricar uma vara de pescar. Michael telefonara rapidamente, contando os acontecidos, disse-lhe que viajaria para a capital, estava quase conseguindo um emprego melhor na Santa Casa de lá. Mais uma vez, John se sentia sozinho, mas lembrava de Kevin e Matias e, claro, Maria, deixando-o mais feliz.

Os anos se passaram, John nunca tocara no assunto, mas tinha certeza de que Kevin tinha vontade de falar sobre seu passado. Sabia, sim, que sua suposta mãe o abandonara e que John o encontrara numa cesta, que flutuava no mar. Mesmo assim, não buscou mais respostas, tinha medo, e esse medo era claro em seus olhos.

John era uma espécie de babá para os pais dos dois irmãos, além de amigo e professor, quando relacionado aos deveres de casa. Ambos não o consideravam assim, tinham John como um segundo pai, quase sendo o primeiro, por este estar sempre muito ocupado, assim como a mãe.

– John, você não tem uma namorada? - perguntou Kevin. - Não beija ninguém?!

– É! Por que você não arranja uma? - Matias se animava.

– Quando tinha mais ou menos a sua idade Matias, uns 17 anos, eu tive uma namorada. Era da mesma escola que eu, nos víamos sempre.

– E o que aconteceu com ela? - perguntou Matias.

– Ela se mudou da cidade e sabe, ela tinha razão. Aqui não me rendeu futuro algum. Quero dizer, me formei em Engenharia Agrônoma, mas não atuei nessa área por falta de opções e pela morte do meu pai. - John fez uma pausa, mas continuou. - Porém consegui lidar com isso.

– Ela era bonita? - perguntou Kevin, curioso e atento, trocando de assunto.

– Linda… Um anjo. Se não me engano, seus cabelos eram vermelhos, longos e ondulados, seus olhos eram cor de esmeralda, sem contar sua voz. Meu Deus, acho que nunca vou me esquecer daquela voz angelical quando ela falava, e mais ainda quando cantava…. - John sentia sua cabeça arder, e escutara um agudo alto, tão fino que caíra no chão de dor, tampava os ouvidos com a tentativa de amenizar o barulho, mas seus olhos foram se fechando… Fechando… E antes de desmaiar, vira Matias e Kevin desesperados, tentando o levantar.

No dia seguinte, Kevin e Matias foram visitar John no hospital, junto com o motorista dos pais, que estava de folga, pois ambos estavam no Brasil, viajando, novamente, à negócios.

– Oi, gente. - disse John, cansado. - Acho que estou ficando muito velho e com problemas.

– Ainda é cedo para ter muitos problemas de velhice, John. - disse Matias. Kevin estava sério, olhava para baixo, aparentando tristeza em cada movimento.

– O que aconteceu, Kevin? - perguntou John, mas Kevin não respondera, Matias olhou para o motorista, que deu uns tapinhas nas costas dele, confortando-o, ao mesmo tempo assentindo com a cabeça para que Matias falasse, sem medo.

– Nossos pais, John. - balbuciava Matias, enquanto John apertava com uma das mãos, o colchão, assim que entendeu a gravidade da notícia ao escutar Matias dizer: - Eles morreram no acidente de avião, durante a madrugada.

John, juntou suas forças restantes e com dificuldade sentou-se na cama do hospital e abriu um abraço para os dois meninos, órfãos, que desabaram a chorar.

– Estamos… Sem pai… Sem mãe, John! - dizia Kevin inconformado. - Estamos desesperados! Só temos você. - Choravam os três amigos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Foi bem água com açúcar, fofo, espero que tenham gostado, e por favor, não seja um leitor fantasma, você comentando me dá MUITA inspiração para escrever! Quer mais? Comente, dê sua opinião! Embarque nessa história, que aparentemente parece ser do John, mas o nosso querido John é só uma prévia... BEIJOS!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Canto do Oceano" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.