Viagem Proibida escrita por Ramon Leônidas


Capítulo 1
Prólogo - Fire




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Não, você não vai ao show dos “Kill the rabbit”, não mesmo! Olha o nome da banda, você é satanista por acaso? Dessa casa você não vai sair pra ir pra esse show. — Disse minha mãe em um tom de deboche quando pedi para ir a um show de uma banda de heavy metal que teria em meu país. Eles nunca vieram para o meu estado e quando eles decidem vim minha mãe simplesmente não me deixa ir. Não poderia perder o show dos meus maiores ídolos. Á propósito, meu nome é Bernardo, tenho 17 anos e moro em Healdsburg, uma cidade da Califórnia. Vim para cá quando eu tinha 13 anos, eu morava no Brasil. Meu pai arranjou um emprego perfeito por aqui e decidimos nos mudar. Tenho muitas saudades do meu país de origem. Sempre nos dizem que conselho de mãe não se desperdiça, mas, era o show da minha banda preferida. Eu matava e morria por eles, não poderia deixar escapar essa oportunidade perfeita de encarar e ver de perto meus tão queridos ídolos. E não escaparia mesmo.


O show deles vai ser daqui a dez dias. Eu vou falar com meu pai e aposto como ele vai me dar grana. Daí eu chamo o Richard, Ben, Colin e o Dennis. Richard e Dennis eram irmãos. Os meus amigos com certeza irão dar uma fugidinha pra ir ao show comigo. Pronto, o plano perfeito! Eu aviso pra minha mãe que vou passar uns dias na casa do Colin e aposto como ela nem vai ligar. A minha mãe é meio medrosa quanto essa coisa de adolescentes enfrentaram a estrada sozinhos, saírem pra baladas sozinhos, saírem de noite sozinhos. Acho que ela pensa que vai chegar um assassino em série e cortar nossa garganta e rir enquanto nosso sangue espirra na cara dele. Na verdade a minha mãe é meio bizarra. Acho que ela sofreu algum trauma na adolescência e não quer me contar, porque essa corujisse dela ultrapassa todos os limites. Sempre a vejo chorar vendo as fotos das amigas dela na adolescência. Acho que é saudades, minha mãe é muito sensível. Teve uma vez que eu subi em uma árvore, cai e ela começou a chorar pelo simples fato de eu ter caído, eu ainda morava no Brasil quando isso aconteceu. O problema é que nem eu chorei quando cai da tal árvore. Era como se eu tivesse morrido, nossa foi estranho pra caramba.


Quando meu pai chegou em casa eu tive que jantar em família para poder contar para ele, a mamãe não podia saber. Não podia mesmo, de jeito nenhum. Cheguei calmamente e falei de uma vez: – Pai, preciso de dinheiro urgente, vai rolar um show dos “Kill the rabbit” e eu não poss... — logo fui interrompido por ele que revirou os olhos e disse: – O que a sua mãe falou sobre essa banda? Eles têm grandes indícios de serem satanistas, não quero ter um filho que mata gatos para tomar o sangue deles. Não mesmo. — Arregalei os olhos, abaixei minha cabeça e fui para o meu quarto. Afundei minha cabeça no travesseiro o máximo que pude e comecei a chorar como nunca havia chorado. Nunca fui fã de nenhuma banda e quando começo a gostar de umas meus pais insistem que eles são satanistas e que eu vou vender minha alma pro demônio e essas coisas de maluco. Enquanto chorava, vi que tinha alguém em pé na porta do meu quarto me observando. Não sabia quem era, a luz do corredor e o escuro do meu quarto ocultava o rosto da pessoa. Acho que era um homem pela silhueta. Ele ficou lá por um bom tempo me observando e eu o encarava. Acho que era meu pai. Acho que ele foi ver o quão triste eu estava por ter estragado todas as chances que eu tinha de ir pra um show que seria inesquecível e insubstituível pra mim. Não basta me proibir de ir aos lugares, tem que conferir se estou triste suficientemente triste. Vou pra esse show, sem o apoio do meu pai, sem o apoio da minha mãe. Só com a cara e a coragem.


Um forte vento começou a soprar dentro do meu quarto fazendo um barulho meio macabro. Então, olhei para a janela e ela estava fechada. Estranhei a situação e me levantei, caminhei em direção a janela. A medida que eu ia me aproximando da janela, olhava cada folha da árvore que tinha na frente do meu quarto. Olhava fixamente cada detalhe enquanto me aproximava, quando percebi estava, literalmente, na “boca” da janela. Abri a janela e coloquei a cabeça para fora calmamente. Então, algo preto pulou em cima de mim e me assustei dando um grito. Era apenas meu gato preto que pela noite saia por aí e sempre entrava pela janela do meu quarto. Acho que em outro susto desses eu teria um infarto. Fechei a janela e as cortinas para evitar outro susto desses. Desci para ir pegar água e vi o meu pai saindo correndo para a rua pela sala. Ele segurava um extintor de incêndio e minha mãe sentada na poltrona da sala com um terço na mão. Enquanto ele corria, eu ia atrás e perguntava: – O que aconteceu papai? O que houve? Pra onde você vai? — Meu pai segurou meus ombros firmemente, me encarou no fundo dos olhos e disse: – Fique dentro de casa com sua mãe, tranque tudo. Não olhe pela janela em hipótese alguma, entendeu? — Ouvi gritos apavorados e logicamente fiquei assustado, queria saber o que estava acontecendo lá fora. Assim que ele passou pela porta corri para a janela para ver o que estava acontecendo, na hora que estava prestes a abrir a cortina a minha mãe segurou minha mão, me olhou assustada e disse: – Não abra essa cortina meu filho, a cena que está acontecendo lá fora vai lhe marcar pro resto da sua vida! — Puxei o meu braço e abri a cortina. Assim que abri a cortina vi o pai do Ben, um dos meus melhores amigos ardendo em chamas. Ele corria pela rua e se jogava contra seu próprio carro na tentativa de apagar o fogo que corroia sua pele em todos os poros. Ele estava completamente em chamas, não havia uma parte do seu corpo que não estivesse queimando. Ele corria pela rua e meu pai corria atrás dele com um extintor de incêndio, realmente foi a pior cena que já vi. Nem nos filmes de terror mais pesados eu veria aquilo de novo. Eu só pensava em como o Ben se sentiria ao saber que seu pai foi consumido pelas chamas. A mãe dele já estava morta, ela era uma prostituta e se drogava igual uma louca. Morreu de overdose na noite de Natal, dia que também era o aniversário do Ben. Sem falar que todos os avós dele já estavam mortos. Fechei as cortinas e me joguei no sofá. Traumatizado. Olhei para minha mãe com os olhos cheios de lágrimas e disse: – Mamãe, o Ben é meu melhor amigo, eu não vou abandonar ele nesse momento. Se o pai dele não resistir, ele virá morar conosco, até que ele encontre outro lar. Entendeu? Minha mãe encostou minha cabeça no seu peito, alisou meus cabelos e disse:– Amanhã filho. Amanhã pensaremos sobre isso. Amanhã.



Continua...


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Notas finais do capítulo

Personagens na história:
Bernardo Lacerda (Protagonista)
Karen Lacerda (Mãe de Bernardo)
Bruno Lacerda (Pai de Bernardo)
Ben Alexander (Amigo órfão de Bernardo)
Richard Campbell (Melhor amigo #1 de Bernardo / Irmão de Dennis)
Dennis Campbell (Melhor amigo #2 de Bernardo / Irmão de Richard)
Colin Mason (Melhor amigo #3 de Bernardo)
Lugares:
Healdsburg (Cidade que o protagonista vive com a família)



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