À procura de Alguém escrita por NellyCake


Capítulo 47
Chuva após a neve


Notas iniciais do capítulo

Yo! Novo capítulo! Uhul!
Já resolvi o que vou fazer com a fanfic, vou apenas editar os capítulos que não estão me agradando. Peço desculpas aos leitores antigos, porque demorei muito a postar um novo capítulo, e talvez não lembram mais de algumas partes da história ;-;
Obrigada ao Henrykun, que recomendou a história s2

Boa leitura!



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— Nada com que se preocupar — esclareci, bagunçando o cabelo dela sob o capuz.

A pequena empurrou minha mão, ajeitou suas mechas e casaco meio aborrecida. Desfiz o laço do tecido que servia de curativo para poder examinar a situação do ferimento.

— É... vai ficar uma marca — Concluí, observando o tom purpúreo que havia tomado por uma grande parte. — Bem, cuido disso outra hora — ajeitei o tecido para botar novamente no lugar.

— Bem, sse vai botar isso de novo, bote direito — ela tirou o pano da minha mão. — Empresta sua espada?

Abri uma pequena parte do zíper do meu casaco, botei a mão dentro e puxei minha pequena espada de punho de couro artificial e lâmina reta de ferro arranhado. Entreguei-lhe com cuidado para ela não se machucar.

— Ssegura essse pedaço de cima com as duas mãoss — pediu.

A pequena foi cortando de cima para baixo o pano ao meio. Deu uma dorzinha no meu coração ver a manga da minha blusa ser rasgada totalmente. Eu planejava costurar ela no lugar de volta, mas aparentemente não vai dar mais.

Ela deixou uma parte do tecido sobre seu colo e a outra ela jogou no chão cheio de neve e foi fazendo um montinho dos flocos brancos sobre o item.

— Ender, você deixa sua espada dentro do casaco, né? Como não se corta com ele?

— Eu tenho uma bainha — abri totalmente o fecho éclair de meu vestuário e mostrei o equipamento de proteção. — É simples, mas funcional.

— Ah, entendi. Nossssa, Ender, você é muito magrela! — ela olhou para minha regata preta que eu sempre deixo escondida debaixo do casaco.

— Obrigada... eu acho — cerrei os olhos.

— Acho que vai doer um pouco... — Cupa pegou o tecido umedecido pela neve e o dobrou, logo depois passou em meu braço para limpar.

Ardeu um pouco, mas nada que me fizesse gritar de dor. Depois de terminar a remoção do líquido, ela pegou a outra parte que havia deixado no colo e enfaixou a área. Por fim deu um nó não tão apertado o bastante para meu braço ficar dormente, e não tão frouxo para soltar ou escorrer sangue novamente.

— Obrigada — agradeci.

A pequena me olhou com preocupação, entretanto, logo sua boca cerrada e seu cenho levantado se desmancharam para tomar conta novamente para um ar duvidoso. Seus olhos se fixaram aos meus. Um sentimento de curiosidade transbordava de suas pupilas agitadas. Sua cabeça virou igual aos lobinhos quando veem um pedaço de carne.

Ergui uma sobrancelha. Aquilo estava começando a ficar estranho. Aproximação demais me deixa desconfortável, mesmo que seja de alguém que eu goste, pois é de minha natureza me sentir assim.

— O que houve? — perguntei, estática.

— Ah, nada... — ela balançou a cabeça de um lado para o outro.

A Cupa virou-se para frente e ficou contemplando a paisagem noturna que formava à nossas vistas.

Ela pode até negar, só que eu sei que tem algo escondido nisso, porque provavelmente sua dúvida não foi saciada, continuando assim, com a incerteza refletindo em seus olhos.

— Cupa, se tiver algo te incomodando, pode falar comigo.

— Tudo bem... Acho que eu ainda esstou meio tonta pelo pesadelo que tive.

— Quer me contar mais coisas sobre ele? — perguntei, querendo tentar ajudar de alguma forma.

— Foi um sonho beeem grande, como eu já disse antes. Além das coisas que eu já te falei; em resumo, eu quase morri várias vezes.

— Hm... Talvez tenha algo em você que esteja te perturbando. Aí o motivo de você ''morrer'' no sonho.

— Como asssim?

— Não achar que você seja ''boa o suficiente'', por exemplo... não aceitar a si mesma, se forçar a encaixar em um grupo social, procurar a aceitação de alguém, não estar feliz com sua aparência, coisas do tipo... Bem, eu posso estar errada, não sou perita em sonhos.

— Acho que entendi... mass talvez eu essteja ssó passsando mal mesmo. Minha barriga esstá doendo por ter comido carne podre de zumbi antes de dormir.

— Você comeu carne de zumbi? — me espantei. Imagino a reação do Zazu em relação a isso.

— Ah... Era o que tinha para comer.

— Vocês pegaram naquelas mochilas de humanos que eu trouxe?

— ...Ssim... — a pequena respondeu com certa hesitação.

— Só vocês mesmo... — Passei a mão sobre o rosto e me calei.

Apreciando a gentil carícia da brisa harmoniosa que se formava do vasto e longínquo oceano, subi meu cachecol com as pontas de meus dedos para sentir novamente a restante sobra do perfume desconhecido que tomava conta de meu acessório. Surgindo um desejo imenso de descobrir a causa e o portador dessa fragrância, um pequeno sorriso formou em meus lábios.

Acho que até sei de onde é esse perfume, mas... é melhor não tirar conclusões imediatas.

Apenas o sonido da corrente de ar e o bater de asas das corujas em busca de alimento pode ser escutado na imensidão dessa calmaria. Vastas terras cobertas de um lençol branco de estrelas cristalizadas que contrastava com a escuridão da noite.

Aproveitando que a euforia de outrora da Cupa amenizou, contemplei o céu, tentando falhadamente encontrar alguma nuvem com um formato interessante. Percebi que os gigantes algodões celestiais andavam, de certa forma, rapidamente. Em conjunto, veio um vento selvagem por frente de vários outros iguais, dando-me vontade de ficar ali até o Sol dar as caras e aparecer os primeiros pios dos amanhecidos pássaros.

Minha visão começou a embaçar ligeiramente. Esfreguei os olhos e pisquei várias vezes para que voltasse ao normal. Devo estar ficando com pressão baixa ou algo do tipo.

Um barulho de pés arrastando o chão chamou minha atenção. A Cupa estava um pouco encolhida, com as pernas junto ao corpo e com um braço repousado na barriga.

— Está com frio? — perguntei, sentindo-me idiota.

— Não, eu esstou bem agasalhada — mostrou as luvas marrons, bocejando.

Quando começou a nevar, nenhum pensamento de que os creepers estivessem com frio passou pela minha mente! Desde que eu acolhi os dois, eu só dou-lhes proteção e alimento, mas nenhum tipo de abrigo contra agentes da natureza, diversão, ou uma moradia descente eu concedi a eles. Acho que nem os levei para tomar um bom banho! Estou tratando-os como se fossem da minha espécie, nos quais não precisam nada dessas coisas. Tenho que mudar isso!

— Vamos — decretei, guardando minha espada, fechando meu casaco, levantando-me e estendendo a mão para que ela pudesse levantar com mais facilidade.

— Por quê? — perguntou.

— Está esfriando. Não é bom que um creeper fique tomando sereno e vento gelado. Tem que manter o corpo quente.

— Eu essstou bem! Meu corpo não essfria com facilidade! — contrariou, fazendo birra igual a uma criancinha.

— É melhor ir, Cupa — tentei falar docemente.

— Mass... — cruzei o braços, pressionei os lábios e lancei um olhar bravo. — Ok, ok, desculpa... — ela bufou, e subiu com minha ajuda.

— Não precisa se desculpar — sorri. — Mas antes de voltar, vamos pegar alguns galhos para acender uma fogueira.

— Ender, você é meio bipolar ass vezess.

— Sei disso — pisquei com um ar brincalhão.

Descemos a montanha. Teletransportei-me para uma árvore, esticando os braços para arrancar alguns gravetos, com cuidado para não cair nenhuma neve em cima de mim. Não peguei os galhos que estavam no chão, já que não serviriam mais para queimar, porque estavam úmidos por conta da neve. Peguei uma quantidade para que a fogueira pudesse durar por uma boa parte da madrugada.

— Esstá bom? — perguntou a Cupa, vindo em minha direção com um punhado de madeira um pouco mais escasso do que o meu.

— Está sim. Vamos indo — abri o caminho iluminando com minhas auras.

Andávamos tranquilas, sem nenhuma pressa ou preocupação, até que um clarão surgiu e toda a terra ficou iluminada por míseros milésimos. Um tremendo barulho arrebatador veio logo em seguida.

— Vamoss rápido — gritou a Cupa, correndo e deixando vários gravetos caírem.

Acompanhei ela em sua velocidade. Eu poderia teletransportar nós duas, senão estivesse com os braços lotados. Eu poderia também materializar somente a mim, só que deixar ela abandonada não é a escolha certa a se fazer.

Barulhos de correrias eram abafados pela neve, mesmo assim, eram perceptíveis. Uma silhueta esbranquiçada se encontrava em nosso caminho. Quando nos cruzamos, espiei de soslaio a criatura, percebendo que ela fazia o mesmo. Era um ressequido esqueleto, carregando um arco de madeira carbonizado, que olhava-me atravessado.

Passamos depressa ao ser que caminhava para chegarmos logo ao abrigo protetor de chuva e trovões. Um chiado escoado surgiu com grandes gotas grossas de chuva que começaram a despencar das nuvens no momento em que nós dávamos nossos primeiros passos dentro da caverna.

— Ufa, esssa foi por pouco.

— Verdade. Não entendo essas chuvas que surgem de repente.
Adentramos para achar nosso canto em que ficamos acolhidos. Encontramos os três adormecidos em sossego com os porquinhos do lado.

— Que coisa maiss... — Cupa botou a mão na boca fazendo uma cara de riso. — ... máscula.

— ... — revirei os olhos.

— Ah, vai, essstá engraçado — riu, enquanto eu botava os braços na cintura. — Você ssó esstá com esssa cara por causa do seu namoradinho.

— Quê? Quem? — indaguei.

— O Creeper, ué.

— De onde você tirou isso? — virei o rosto.

— Nem tente essconder! — ela riu.

— N-Não ria tão alto. Vai acordar eles! — cochichei.

— Qual o problema? Têm que acordar messmo! Bando de preguiçososs! — falou, quase metendo o pé da cabeça do Zazu.

— Isso, chuta eles, Cupa.

— Aonde eu ponho esses galhos? — Cupa perguntou, segurando apenas dois gravetos em cada mão, em razão que saiu correndo e deixando todos os outros caírem pelo caminho.

— Pode deixar por aí mesmo....

Escutei barulhos de pisadas no chão e ossos trincando. Fiz um sinal de silêncio para ela. Botei rapidamente a madeira que carregava no chão, sem fazer barulho.

Abri meu casaco e saquei minha pequena espada. Deixei-a escondida por detrás da perna. Cupa também percebeu a presença de alguém ali, e correu para minhas costas. Deve ser aquele esqueleto de outrora.

O barulho agonizante cada vez um pouco mais alto ia chegando perto. Eu já estava armada e esperando qualquer inimigo. Hoje em dia nós não podemos baixar guarda, pois até monstros brigam entre si.

— O que está esperando? Corta logo o pescoço de quem quer que seja — sussurrou a Cupa.

Continuei estática, até que passou aquela mesma criatura de antes. E... não fez absolutamente nada. Estava só de passagem. Tem vezes que eu esqueço de que nós estamos morando defronte a um corredor de passagem para o fundo de uma mina não abandonada.

— Barra limpa. Não era nada — aliviei-me, guardando a arma.

— Por que não matou ele? — perguntou decepcionada.

— Não gosto de roubar vidas sem razão. Admito que faço isso, mas só quando estou nervosa... É um motivo besta e egoísta, eu sei. Enfim, vamos fazer uma fonte de calor. Pegue algumas pedras, por favor — Cochichei para não acordar os meninos.

— Ok, capitã — Cupa saiu marchando em busca de rochedos.

Botei meus dedos nas têmporas. Essa rapariga adora fazer barulho.

Até que foi bom o esqueleto ter passado. A Cupa estava me deixando envergonhada com aquele assunto...

Recolhi a lenha do chão, levei-as para mais perto dos meninos e comecei a organizá-los na diagonal em círculo para fazer uma fogueira tradicional.

Meus olhos viraram em direção aos adormecidos sem eu me dar conta.

Percebi que o Creeper estava tremendo. Tirei meu cachecol e botei por cima dele. Não que fosse fazer muita diferença, mas ajuda até eu acender a fogueira.

Hm... De onde será que a Cupa tirou aquela ideia? Ela só pode estar ficando doida... Eu e o Creeper? Isso seria impossível, ainda mais que nem somos da mesma espécie!

— Ender! — a Cupa me deu um susto.

— Você pegou as pedras rápido... — constatei.

— Bem, nóss estamoss em uma caverna, sabe... Aqui é cheio de pedrass. Hm, o que esstá fazendo?

— A-Ah, estou... — abaixei minha visão. Tudo tinha caído. Agora parecia mais um punhado de palitinhos esparramado no chão — ... caiu — disse desapontada com meu trabalho arruinado, começando a organizar tudo de novo.

— Assim essstá bom. Não precisa arrumar — ela deixou as rochas no chão. — Aqui, pega um pouco e ''yaaay'', joga em cima. Agora junto os que caíram longe e ''tcharans''. Vamos acender!

— Espera! — rodeei a fogueira improvisada com as pedras. — Pronto.
— Posso acender? — ela disse já com duas pedras nas mãos. Assenti com a cabeça.

Primeira tentativa. A Cupa bateu as pedrinhas uma contra a outra para sair alguma faísca. Conseguiu, mas acabou se assustando e largando uma das pedras no chão. Segunda tentativa. Tentou novamente pelo mesmo método, só que com os braços mais afastados do corpo, mas acabou não funcionando. Terceira tentativa...

— Ah, desisto. Que complicado — ela jogou as pedras no chão e deitou. — Vamos ficar no escuro mesmo. Apague suas auras — botei a mão na testa.

Tentei eu mesma acender. Peguei um graveto e comecei a esfregar rapidamente em outro, mas não fazia efeito, a madeira estava meio úmida. Bufei. Repeti várias vezes, mas nenhuma faísca sequer.

— Ender...

Olhei para frente. Era o Creeper, com meu cachecol por cima dos ombros. Estava tão concentrada com a fogueira que nem percebi que ele tinha acordado.

— Ah, desculpe, eu te acordei?

— Não, tudo bem, eu já dormi basstante. Quer ajuda?

— Sim, por favor — soltei ar pela boca.

Sem falar mais nada, ele ajeitou a fogueira, analisando os galhos mais molhados e tirando-os; com os secos e mais finos fez um pequeno monte. Tirou uma pederneira do bolso; raspou um pouco do mineral sobre a madeira e fez faísca com o atrito de duas peças de metal.

— Obrigada. Não sabia que você tinha uma pederneira.

— Encontrei na mochila daqueless humanos. Nóss não vimoss tudo que tinha nelass — ele começou a juntar os outros galhos para aumentar a chama.

— Ah, sim... — comecei a ajudá-lo com a fogueira.

Lembro desse dia... quase fiz coisas que não devia...

— O que houve com seu braço? — Perguntou, sem tirar os olhos da tarefa.

— Ah, eu me cortei, mas não foi nada demais.

O Creeper foi pegar o último graveto, mas eu joguei minha mão na dele de sem querer. Foi automático, vi o último e quis pegar. Tentei esconder meu rosto, mas estava sem meu cachecol. Um ronco vindo da Cupa cortou o silêncio. Essa menina dorme rápido.

Dei um riso tímido, tentado disfarçar, e deixei ele terminar o trabalho.

Fiquei olhando fixamente para a madeira queimar, como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Até que o Creeper se levantou e sentou-se do meu lado.

— Sseu cachecol — ele estendeu o acessório.

— Pode usar, não tem problema — Balancei as mãos, afastando o tecido de mim.

— É sseu. Já que tem a fogueira, não vou precisar maiss — botou no meu ombro.

— A fogueira pode apagar, fica com ele — peguei uma ponta e enrolei em seu pescoço.

— É ssério? — ele fechou o rosto.

— É... — sorri torto.

— Então nessse caso... — O Creeper ajeitou o cachecol em seu pescoço.

Estava pronta tentar dormir, quando ele botou a mão nas minhas costas, me impedindo de deitar, se aproximou mais, pegou uma ponta do cachecol e laçou na minha nuca. Ao terminar, tirou uma mecha de cabelo do meu rosto.

— Boa noite.


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Notas finais do capítulo

Para quem não sabe, pederneira é um utensílio para fazer fogo, que usa dois pedaços de metal e uma pedra :3
Só queria deixar claro que o cachecol da Ender é bem grande :v
Espero que tenham gostado! Até o próximo capítulo! :3



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