Putting my defenses up

Cause I don't wanna fall in love

If I ever did that, I think I'd have a heart attack...

(...)

P.O.V Charlie

Depois da minha conversa com Valerie, resolvi sair, pensar um pouco sobre tudo. Minha vida ultimamente está entrando em colapso. Pensei que já tinha superado isso. Quando Luke morreu, eu literalmente pirei, tinha crises de raiva constantes, não queria mais sair de casa e estava isolada de tudo e de todos. Eu não conseguia me conter.

Uma vez, depois de uma briga com meu pai eu fui até a garagem e com um martelo destrocei meu carro. Eu não sabia o que estava fazendo. Se eu fiquei mais calma? Sim, ajudou muito. Quando cai na real, sai correndo e acabei parando em uma pracinha longe de casa. Fiquei sentada em um banco, por um bom tempo.

O primeiro lugar em que pensei agora foi aqui. Sentei-me no mesmo banco e comecei a lembrar de Luke, sua presença era forte aqui. Varias crianças estavam brincando, se divertindo. Um casal de irmãos me chamou atenção, o garoto loirinho e angelical pegava os brinquedos da irmã e ela, loirinha e angelical igualzinha ao irmão ameaçava chorar. Vendo isso, ele devolveu os brinquedos e ela começou a rir. No final a mãe os chamou e eles foram embora de mãos dadas. “Que saudades” – Sussurrei para mim mesma. Observei eles indo embora até virarem a esquina.

–Sabe, se você quiser um sorvete eu te pago um.

Ergui a cabeça e fitei seus olhos. E que olhos...

P.O.V Dan

Estava em direção a minha “casa”. Fui pensando em tudo, e em todos. Procurei meu celular no bolso e comecei a escutar nossas musicas. Que saudades de tocar, cantar, fazer musica. A banda estava fazendo muito sucesso ultimamente, shows lotados, fãs histéricas e cada dia uma cidade diferente. Eu amo tudo isso, sei que sem nossas fãs não seriamos nada, mas uma hora cansa, eu sinto falta de tocar na garagem de Blake, ter um encontro de verdade, gostar de alguém de verdade e não ter que fingir por causa de um contrato.

Eu sou muito grato por tudo, mas nós trabalhamos muito pra isso. Os críticos gostam de falar que somos apenas rostinhos bonitos, mas não é bem assim. Desde pequeno gosto de musica, sempre cantava e fazia som com tudo. Meus pais sempre falaram que era perda de tempo, que era apenas um hobby e não uma profissão. Já não tinha o apoio em casa, e mais as criticas, eu ficava desnorteado.

Sou uma pessoa insegura, pareço confiante e tudo, mas eu ligo sim para o que os outros pensam de mim. Sempre procuro meu nome na internet para ver o que falam de mim. Muitas vezes chego a chorar, como as pessoas podem ser cruéis. Julgar sem conhecer não é uma coisa legal.

Ninguém lembra que começamos de baixo. Ninguém lembra que doamos quase metade do que ganhamos em shows para a caridade. Ninguém lembra que somos embaixadores de uma campanha que arrecada fundos para a África. Ninguém lembra, não é?

Terminei ”minha” playlist e já estava chegando. A porta estava aberta, como sempre. Essa família me lembra um pouco a minha. Quase sempre eles não estão em casa. Subi até o meu quarto e encontrei um bilhete.

“ Dan,

Charlie vai começar amanhã as reformas, quero você lá! Não se esqueça que você deve isso a ela. Seu “coro” está em jogo. Rsrs

Att, Delegado. ”

Pareceu uma ameaça, mas não consegui me controlar. “Coro”? Bob realmente é um cara descolado. Subi para o meu quarto e resolvi tomar um banho. Meu show estava bom, cantei Losing my religion perfeitamente. Pena que estava sozinho, ninguém me ouviu. Enrolei-me na toalha e sai do banheiro que estava cheio de fumaça. Fui em direção ao quarto.

– Você canta muito bem, já pensou em virar profissional. – Me virei e dei de cara com uma garota loira, espera aí, ela não é a aluna nova?

–Você não é a aluna nova? O que eu você ta fazendo aqui? – Ela me encarou e eu olhei para baixo, eu estava só de toalha. Corei profundamente.

– Ah, me desculpe. Eu sou Valerie a aluna nova. – E ela sorriu. Estranho, ela me lembra alguém.

–Você não respondeu a outra pergunta, o que você ta fazendo aqui?

– Ah, me desculpe – Ela sorriu de novo – Eu sou prima da Chars – Tá explicado então – E você é Daniel, meu tio me falou tudo sobre você.

– Tudo? – Fiquei estático.

–Sim, você esta tendo problemas em casa e está passando por uma situação difícil. Todos temos problemas.

– Ah, então tá. – Olhei para o chão e vi que molhei boa parte do carpete – Eu tenho que ir agora, bom te ver - Falei constrangido.

– Até breve, Daniel.

–Dan – A corrigi

– Ah, Da.n – E ela desceu as escadas.

Entrei em meu quarto e me troquei. Olhei em meu celular e vi uma mensagem de Alyssa.

“Dannnnny, me encontre na pracinha hoje : )

Fica próximo a escola xoxo

–Aly”

Droga.

P.O.V Charlie

–Não, Derek. Obrigada, mas não. – Ele estava mais bonito que o normal. Estava usando uma camiseta de uma banda que eu amo.

– Ah, qual é. Vamos Charlie, o que não te mata te transforma no homem aranha - Eu ri – Viu, bem melhor assim. Eu gosto do seu sorriso.

Senti-me corar, e olhei para baixo.

– Eu tenho que ir – Levantei, e ele segurou meu braço.

–Espera, Charlie – Olhei no fundo de seus olhos azuis – Nós precisamos conversar.

Sentei me de volta. Ele foi até o sorveteiro e trouxe dois sorvetes.

–Chocolate, seu preferido. – Ele sorriu.

– Como você sabe? – Perguntei intrigada

– Quando nós saímos com a galera, você sempre pedia de chocolate. – Sorri.

–Você acertou – Ri desconversando.

– Sabe Charlie, eu nunca tive a chance de te dizer que sinto muito por Luke. – Abaixei a cabeça – Você sabe melhor do que ninguém o quanto eu gostava dele. – Olhei para ele, ele estava triste e com os olhos marejados.

Meu irmão não foi só uma pessoa maravilhosa comigo, ele ainda era um cara legal com os outros. Sempre moramos aqui, e meu irmão tinha um melhor amigo. Esse melhor amigo tinha um irmãozinho que sempre ficava brigando comigo quando saiamos todos juntos. Ele era insuportável. Esse garoto era o Derek.

Nossos irmãos jogavam futebol, mas o irmão de Derek, Finn, foi expulso do time por questionar a autoridade, ele sempre foi rebelde. Derek sempre quis jogar no time e não tinha o apoio de Finn, a única pessoa que o apoiou era Luke. Ele transformou Derek em seu pupilo, eles treinavam todas as noites. Eu sentia muito ciúmes vendo eles juntos, mas meu irmão falava que eu era a preferida.

No final das contas Derek entrou no time, era reserva de Luke. Quando Luke morreu, Derek foi escolhido para jogar em seu lugar. Ele largou o time, falou que não iria conseguir fazer isso.

– Eu sei. – Falei sincera.

–Não é só por isso, Chars. Eu sei o quanto você sofreu pelo que Michael fez. – Não acredito. Depois de meses sem ouvir o nome desse babaca. A raiva foi subindo.

–Eu não quero falar sobre isso, Derek.

– Eu só quero que você saiba que eu o acho um idiota por ter feito isso com você. – Olhei para ele – Você é uma pessoa maravilhosa, Chars. Merece uma pessoa que goste de você, cuide e que te conheça. – Ele foi se aproximando.

Peguei meu sorvete e derrubei nele.

– Opa, desculpa.

– Sua monstra – Ele tentou se limpar

– Ah, não. Derek, você sabe que eu odeio esse apelido! – Ele pegou o sorvete dele e me sujou.

– Ah, sacanagem. Você sabe como sou mais forte que você. Sempre fui – Falei rindo.

E estávamos lá, brincando. Parece que voltamos ao que éramos.

– Parece que temos companhia. – Eu me virei e vi que perto de nós havia um casal se beijando. Era Alyssa. Reconheci pelo cabelo falso.

– Quem será o peguete da vez? – Perguntei irônica

Quando eles se desgrudaram eu o vi. Cabelos cacheados, covinhas, olhar de menino. Simplesmente o cara que eu tenho que ver todas as manhãs na minha casa. O cara que é um gato, mas é um idiota. Agora ele provou isso. Seus olhos encontraram os meus.

Porque ela, Dan?

Por quê?

P.O.V Dan

Cheguei a tal pracinha. Alyssa estava lá me esperando. Estava usando uma mini saia e uma blusa com decote. Estamos no inverno.

– Estou aqui, Aly.

–Sabe Dan, desde que você chegou, eu vi que você tinha algo de diferente.

–Diferente? Como assim? – Será que ela me reconheceu? Estava estranhando que ninguém tinha me reconhecido.

–É, você é diferente desses garotos daqui. Eles são um bando de caipiras. Agora você – Ela veio se aproximando – Você é muito melhor. – Me desvencilhei de seus braços.

– Aly, você nem me conhece.

–Quem se importa?- Ela foi chegando e eu fui desviando.

Olhei para o outro lado e vi Charlie. Ela estava sorrindo e brincando com o Derek. Esse babaca. Ela estava rindo. E comigo ela nunca é assim, o que ele tem que eu não tenho? Porque ela me despreza e me trata mal?

–Não gosta do que vê? – Alyssa perguntou.

– Do que você tá falando?

–Eu vejo o jeito que você olha pra ela. - Como não olhar? Ela é linda. – Não precisa ficar tristonho, eu sei o que vai te alegrar.

E me agarrou.

Literalmente. Ela é pior que nossas fãs histéricas. Tentei me largar dela, mas ela me prendia. Ela tinha experiência. Não posso negar que ela é bonita, mas eu só conseguia pensar em Charlie. Soltei-me dela e ela ficou sorrindo. Virei para o lado para ver o que ela encarava. Meus olhos encontraram um mar azul em tempestades.

Charlie estava furiosa.