Sentido escrita por Anafsilveira


Capítulo 2
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Ficou meio monótono, mais era necessário. Espero que gostem.



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–E então tudo ficou escuro, e ela ouviu ao longe um som assustador. Espera! Estão escutando?

–Para Lys, para! Está me assustando.

Ri docemente e passei a mão no cabelo da minha irmã mais nova, emaranhando seus fios de um bronze claro.

–Tudo bem Briana, hora de dormir. Por que pelo visto – olhei de relance para meu irmão do meio, que dormia profundamente. – Finn já se adiantou.

Briana deitou com um começar de bocejo, finalizando-o assim que seu cobertor a cobria até o pescoço. Aquela era uma noite fria, ótima noite para histórias tenebrosas, contos de que Finn mais gostava.

Ele era um bom garoto, haviam três semanas completara catorze anos. Se parecia muito comigo, seu jeito de se isolar do mundo, e de se doar em tudo que fizesse. Porém às vezes, eu via nele um pouco do meu pai, seu cabelo escuro, e sua pele branca e livre de imperfeições, seus olhos de um triste negro, que não faziam sentido quando um sorriso iluminava sua face. Seu sorriso era tão doce e gentil, era capaz de alegrar a todos ao seu redor, assim como o de Mike Blair. E também como o dele, eram raros os momentos que se poderia ver o tal sorriso.

–Lys!

–Desculpa Naná. – Já estava a caminho da porta quando Briana me chamou. – Boa noite. – sorri e dei um beijo no topo de sua cabeça.

–Não era isso. É que tenho uma pergunta. – Ela disse enquanto pegava o suposto beijo que eu havia lhe dado, e o segurava na mão. – Você está com medo? - sussurrou em seguida.

–Medo? Medo do que? – falei baixo assim como ela, sem entender bem o porquê.

–De amanhã. É o seu dia, vai embora, vai nos deixar, isso não te assusta?

–Mais que qualquer monstro da história de Finn. – A abracei. Não queria deixá-la. Briana sempre foi a mais agitada da família, a mais risonha, e talvez, a mais feliz. Quando pequena, não sabia pronunciar seu nome, se intitulava Naná , e a aborrecia quem dissesse que aquele não era seu nome. Desde então eu a chamo assim. – Não se preocupe, o treino acaba em um mês, e se tudo der “certo”, volto para buscar minhas coisas, e tenho mais uma semana com vocês.

–Mas e se não der? Você vai virar uma Aberração? Vai ... – Ela soluçou, derramando lágrimas desesperadas em meu peito. – Vai morrer? Não vai?

– Não. – a afastei segurando forte em seus ombros, e encarei seus olhos molhados. – Não eu não vou... – Limpei suas lagrimas desajeitadamente. – morrer, não agora. – me obriguei a sorrir. – O máximo que pode acontecer, é que eu vire um mostro verde e gosmento. – alarguei o sorriso, e comecei a lhe fazer cócegas. – E irei fazer questão de vir aqui e assustar você – ela já gargalhava descontroladamente em sua cama. – E Finn.

Paramos a brincadeira, quando o irmão que dormia se mexeu, nos obrigando a tapar a boca, escondendo os sorrisos traquinos.

–Boa noite Naná. – disse com a metade do corpo já fora do quarto. Consegui vê-la pegar a mão com o beijo guardado e encostar gentilmente em sua bochecha antes de fechar a porta.

Desci os dois lances de escada. A sala era apenas iluminada pela televisão, minha mãe estava coberta no sofá e assistia o noticiário local. Juntei-me a ela e o sorriso receptivo que me deu.

–Parece que metade da África abriu mão da liberdade.

–Se renderam? – Nada poderia ser mais assustador. Sem a estrutura bélica africana, teríamos que recorrer ao Extremo Capricorniano, que estavam mais próximo do abismo da rendição do que nós. – Isso quer dizer que... – me peguei chorando pela terceira vez naquela semana.

–Quer dizer que teremos que triplicar a cota de saldados dessa remeça. – Minha mãe sentou devagar. Era jovem para problemas na coluna, mas depois de servir dez anos de sua vida à guerra, tinha as vértebras fracas como as de uma anciã.

–Quando isso vai acabar? – A abracei forte, como não fazia há tempos. –Pode me contar novamente como tudo começou? – Nunca me cansava de ouvir aquela história, fazia com que crescesse dentro de mim mais ódio do que já tinha daquilo tudo.

–Claro. – Ela deitou minha cabeça em seu colo, e sorriu, seu sorriso de inicio de história, aquele alargar de lábios que transmitia paz antes de um conto turbulento. – Há mais ou menos cento e dez anos atrás, o mundo entrava em uma crise jamais vista, os países precisaram se unir, se apoiarem um nos outros. Atitude nobre, e que jamais seria vista novamente. Algumas pessoas contam que as uniões deram tão certo que foram se formando novos países . Eles tentavam se unir com países do mesmo continente, a quem diz que o Extremo Capricorniano era composto por doze países antes de virar um só. Muita coisa mudou desde então, o mundo foi unificado em uma única língua, as raças chamadas puras deixaram de existir, e quase ninguém permanecia em seu país de origem. Era a globalização mostrando sua força. As chamadas superpotências não aceitaram bem a ideia do mundo está crescendo em um só ritmo, e de seus antigos aliados, está integrando um novo grupo agora. Então o primeiro tiro foi dado. Quando um dos países orientais fechou a porta, não deixou que seus avanços tecnológicos chegassem ao mundo. Ah o egoísmo humano! Foi ai que tudo começou.

–Por que a senhora sempre para nessa parte? – perguntei sonolenta.

–Por que gosto que imagine o resto. – ela sorriu. – Na verdade, ninguém sabe como a guerra chegou a esse ponto. Conflitos antigos vieram à tona. A bola de neve do passado voltou a atormentar.

Sorri enquanto me levantava devagar. Era incrível como o mundo mudará, não conseguia imaginar como era há alguns anos, todos se importando em crescer, fazer descobertas, melhorar a vida. As pobres e curiosas crianças do passado não sabiam com o que estavam brincando.

–Eu vou me deitar. – Era o melhor a se fazer.

–Boa noite Alyssa. – minha mãe se pôs em pé, e me abraçou novamente. – Posso sentir seu medo. Não precisa tê-lo. Quando a transformação terminar se sentirá bem, confia em mim.

–Não é a transformação que me preocupa agora, e sim o que me aguarda aqui há um mês.

–Não posso lhe dizer que as melhores coisas que vi foram na guerra. Mas foi o local que mais aprendi sobre a vida.

– Como aprendeu sobre a vida, no local que exala morte? – Estava chorando novamente, já estava acostumada a sentir aquela solução fria descer pelos meus olhos, levando pouco a pouco o medo de mim.

–Como não aprender? É a morte que dita o valor da vida. – Pude sentir seu sorriso, aquele que dá quando cita meu pai.

Minha mãe sempre se mostrava uma mulher forte, foi para a guerra com quinze anos, e lá o conheceu, ele começou a servir junto com ela, aos dezoito anos. Por conta de seu resultado ser força, ele passou cerca de cinco anos na zona de treinamento. Já ela era sensitiva, conseguia receber ondas que indicava o ponto fraco do adversário, treinou apenas seis meses. Depois de passarem os dez e obrigatórios anos em campo, voltaram para Ponta Ártica, onde se casaram, e me conceberam.

Obriguei-me a sorri, e a abracei com força antes de subir para meu quarto.

No quarto a janela permanecia aberta, e a sensação de frio era terrível. Antes de fechá-la pude observar os trabalhadores, que desligavam os postes de iluminação todas as noites. Consegui enxergar uma moça que passava o segundo cadeado em sua janela, e a menininha que pulava em sua cama, enquanto sua mãe ria e tentava acalmá-la. Pouco a pouco as luzes foram se apagando, e o mar iluminado que antes deslumbrei, não passava de um breu salpicado aqui e ali com uma lâmpada falha.

Os guardas noturnos já faziam vistoria nas ruas quando consegui me deitar. Não me lembrava de ter dormido, mais havia se passado três horas quando fui acordada por um estrondo. Levantei, e com parte do cobertor ainda preso em mim fui até a janela, e toda a cidade era iluminada agora, por uma luz ardente que devia estar bem longe, mas era grandiosa, e trazia consigo nuvens extensas de fumaça.

Minha respiração perdeu o compasso, e a janela ia embaçando conforme eu suspirava.

Avançaram!



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Notas finais do capítulo

Então? Espero críticas, ajuda e etc etc... Até mês que vem, eu acho. Muhahahahah



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