Hanabi escrita por nymphL


Capítulo 1
Capítulo Único - Hanabi


Notas iniciais do capítulo

Yo, minna-san!
Akemashite Omedetou Gozaimasu!
Bem, aqui estou eu, no primeiro dia do ano, com uma oneshot comemorativa. Claro, eu não podia deixar passar em branco essa data tão especial. Por isso, segue uma fic com o meu casal favorito: ByaRuki.
Agradeço à minha beta linda e maravilhosa, Michele. Obrigada pelas correções e por todo o apoio. Amo você - só que não. kkkk
Obs: Eu não marquei como incesto, pois não considero ByaRuki como tal. Se você considera ou não gosta do casal, por favor não leia.
Já aviso que não irei tolerar comentários ofensivos. Critique a história e seu enredo, mas não a minha escolha pelo casal.
A imagem escolhida pertence à Keelerleah, uma ByaRuki fã estrangeira. Não tenho contato com ela, mas admiro as fics da mesma e o maravilhoso trabalho artístico-visual. Eu decidi não editar a capa, pois acho que ela sintetiza bem a imagem que passo na one. Se alguém descobrir porque, avise nos reviews
Me perdoe se o Byakuya parecer OOC aqui, a intenção é exatamente essa. Espero que gostem!
E eu já falei demais!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/312610/chapter/1

Hanabi1


Azul... Roxo... Vermelho... Verde... Dourado e leves tons de prata.

Essas eram as cores que, em breve, enfeitariam o céu daquela noite numa explosão magnífica de beleza e magia.

Ah, a virada de um ano para o outro. O fim de um ciclo e o início de outro... Era sempre um momento que encantava, renovava as esperanças no coração das pessoas e as fazia sonhar com uma vida melhor, repleta de paz, amor e felicidade.

Para outras, aquilo eram apenas fogos de artifício e a chegada de um novo ano. Apenas uma mudança no calendário, mais 12 meses e 365 dias pela frente.

Para ela, entretanto, era muito mais do que os dois pensamentos correntes. A virada de um ano para o outro significava pouco para quem já vivera por mais de 160 anos. Felicidade, paz e amor... Isso ela já tinha em sua família. Então o que a fazia gostar tanto dessa época?

Aquela simples explosão colorida no céu e a contagem regressiva eram mais do que especiais para a pequena shinigami. Para Rukia, aquelas simples coisas significavam o mundo. Uma virada emocionante de uma vida fria para algo... Algo realmente significativo.

Ah, a tristeza e a alegria. Dois estados da alma que parecem estar tão distantes, mas que ela descobrira que partilharam uma linha tênue e quase inexistente. Duas coisas tão heterogêneas, mas que ainda poderiam se misturar, se confundir e fundir.

Rukia soltou um pequeno suspiro ao olhar para o céu. Esperava ansiosamente pelos fogos de artifício, pela contagem regressiva e pelos braços dele ao redor dela, abraçando-a. Aproveitando aquele momento e relembrando como aquela data se tornara tão importante para eles.




10 anos antes.


Era véspera de ano novo. A Seireitei inteira estava em festa. Todos estavam felizes por poderem comemorar a chegada de um novo ano em paz. Aizen havia sido derrotado há mais de seis anos e todos podiam festejar como mandava o protocolo: muita bebida, farra e alegria.

Shinigamis iam e vinham o tempo inteiro, de um lado a outro, correndo para ter tudo organizado até o anoitecer. Ninguém queria perder a contagem regressiva ou o estouro do Nihon-shu oferecida pelo Clã Kuchiki.

― Rukia-sama, com licença ― chamou uma criada, seguindo-a pelos corredores da mansão. ― Guardanapos brancos ou creme?

― Eu optaria por uma cor mais escura ― respondeu, mas ao ver como a criada franzia o cenho, acrescentou rapidamente: ― Mas sei que essas são as cores padrões. Fico com a creme.

― Hai. Arigatou, Rukia-sama.

A pequena mulher apenas assentiu, assistindo como a criada desaparecia e outros dois se aproximavam. Com um suspiro, preparou-se para atender as próximas demandas que lhe cabiam.

“Seja paciente, Rukia... Esse é a última vez que você organiza a festa de ano novo”, pensava com tristeza.

Ela deveria estar feliz por isso, mas não estava. A verdade é que seu coração doía ao pensar que essa seria a última vez que agiria como a senhora Kuchiki.

― Rukia-sama? ― chamou um dos criados, tirando-a de seus devaneios.

― Hum?

― As mesas devem ser redondas ou quadradas?

― Mas isso já tinha sido definido. Soujirou e eu já... ― comentou, distraidamente. ― Bem, opte pelas redondas. Não importa quantas pessoas estejam numa mesa redonda, todas podem se olhar.

― Hai, Rukia-sama.

Ao ficar novamente sozinha no corredor, a morena olhou para os lados para ver se ninguém mais estava a caminho antes de soltar um longo suspiro e cobrir o rosto com as mãos.

“Não se distraia tanto, Rukia.”, repreendeu-se em pensamentos.

No entanto, isso parecia impossível. Como ela esperava manter-se atenta quando o motivo de sua distração estava sentado em seu escritório trabalhando em cima do que iria separá-los para sempre?

Ela não queria admitir, mas estava triste. Na verdade, profundamente triste. A escolha dele a machucara. E muito. Não havia palavras para descrever a dor que ela estava sentindo com aquilo.

Kuchiki Byakuya iria se casar. Se casar! Rukia quase enlouquecera quando ele lhe dera a notícia em seu tom de voz sem emoção. A noiva, já escolhida, parecia ser conhecida por todos, inclusive Soujirou e Naoko, sua criada pessoal. E aquilo a estava matando. Ela seria a última a saber quem seria a noiva de seu irmão adotivo.

Isso fora duas semanas atrás, quando eles estavam juntos em seu escritório praticando caligrafia ― atividade que ela mais que detestava. Não era particularmente agradável saber que um homem poderia ter uma letra mais elegante e bonita que a dela, uma mulher. Pessoalmente, a shinigami preferia quando eles gastavam seu tempo juntos treinando ou se dedicando a alguma atividade mais... Frutífera? Em que, ela se perguntava, por todos os infernos, caligrafia poderia ajudá-la?

Segundo ele, a prática do shodô a tornaria mais calma, paciente e atenta, podendo ajudá-la em suas batalhas. Além de auxiliar em sua coordenação motora. E tudo isso era verdade, mas era tão maçante.

Era por isso que enquanto ele se dedicava à prática do shodô, ela rabiscava em sua folha de papel, pouco se importando se seus dedos estavam sujos de tinta de suas fracassadas tentativas de realizar aquela estúpida pintura de letras, como gostava de chamar. Bom, ninguém poderia culpá-la por não tentar.

Verdade seja dita, ela só estava ali por causa dele. Porque queria passar um tempo com ele. Desde o fim da batalha de inverno e a derrota de Aizen, eles se aproximaram. Fora estranho no início, partilhar mais que as refeições e uma singela conversa que consistia apenas em saudações, mas ela estava feliz que eles conseguiram avançar em sua relação. Logo, eles treinavam juntos, praticavam caligrafia e ela até conseguira arrastá-lo para alguns dos eventos temáticos que havia na Seireitei.

Aos poucos, a máscara fria e sem emoção de Kuchiki Byakuya fora se desfazendo e Rukia pode conhecê-lo mais intimamente. Ela se sentia orgulhosa e feliz por ser a única que conhecia o outro lado dele ― onde havia um homem, e não o robô desprovido de qualquer sentimento que todos acreditavam que ele era. Seu nii-sama era só... Reservado.

Os pequenos e singelos momentos que partilharam, como as caminhadas noturnas pelo jardim da mansão, a fizeram compreendê-lo melhor. Não era preciso palavras ― mesmo que Rukia se sentisse mais confortável tagarelando, como costumava fazer ao redor de Ichigo e Renji ― para a comunicação entre eles.

Poucas vezes, ele ficaria observando-a enquanto ela falava sobre diversos assuntos, sem parar e então, quando percebesse que estava incomodando, pediria desculpas exageradamente, ao passo em que ele sorriria, sem deixá-la perceber. Vez ou outra ele iria rir, desfrutando de sua companhia e do quanto ela agia impulsivamente, fazendo-o se lembrar de si mesmo quando era mais jovem.

Quando fosse alto inverno e eles não pudessem caminhar no jardim, ambos iriam se sentar próximo à varanda da sala e beber chá antes de se retirarem para os seus próprios aposentos. Naquelas noites, se ela sentisse frio, ele iria retirar seu haori e depositar sobre seus ombros delicados, fazendo com que ela corasse fortemente diante de seu toque. O toque dele... Nos últimos tempos, ela sempre iria corar perto dele. Seu corpo reagiria de maneira estranha sempre que seus dedos se roçassem sem querer durante o café da manhã enquanto ela servia seu chá. Seus olhos se arregalariam muito quando ele a segurasse pela cintura sempre que ela, em sua distração durante o treino, ou até mesmo em outros momentos, estivesse quase caindo.

Mas nada poderia se comparar ao que a morena sentira quando ele lhe dera a permissão para se tornar a tenente da 13º Divisão. Ao invés da típica reação, agradecer e se curvar exageradamente, Rukia o abraçara fortemente, enlaçando-o pelo pescoço e enterrando o rosto em seu peito. No começo, ele estava duro e imóvel como uma estátua, mas logo seus braços se fecharam em torno de sua silhueta delicada, os dedos deslizando em seus cabelos curtos. Rukia se sentira como... Como no céu. A sensação de seu corpo contra o dele, do calor que a pele masculina emanava, era tudo tão... Surreal e, ao mesmo tempo, tão bom.

Foram esses simples acontecimentos que promoveram sua relação antes fria e distante para algo mais próximo e quente. Quando Rukia percebeu, já tinha se apaixonado. Aquele sentimento era tão doce, suave e bonito. A urgência que ela tinha de estar em sua presença, de compartilhar suas tardes e suas noites com ele. Estar longe era como uma agoniante tortura.

Rukia sorriu suavemente pensando em tudo isso enquanto desenhava coelhos Chappy em sua folha suja de tinta. Estava tão distraída que não percebeu que ele terminara sua prática e a observava. Ele a chamara suavemente uma e duas vezes, mas ela não ouvira, tão concentrada estava. Então ele se movera, inclinando-se sobre ela, suas mãos repousando sobre a mesa.

― O que está fazendo? ― perguntara, suas palavras acariciando seus ouvidos.

Rukia pulou na cadeira, seu coração batendo descompassado, tamanho era o susto que levara. Sem pensar, dobrara os papéis e o escondera atrás de si ao se levantar.

― Eu? Huh! Nada... ― resmungou, fitando o chão, sem coragem para encará-lo.

― Não minta para mim, Rukia... ― dissera ele, extremamente consciente de sua proximidade e da posição em que se encontravam, mas sem fazer qualquer movimento para se afastar.

― Hai, nii-sama... Eu... Me desculpe? ― sussurrara, ainda fitando o chão.

― Pelo quê, Rukia? ― sua voz de barítono assumindo um tom mais baixo, conforme ele aproximara seu rosto da curva de seu pescoço leitoso.

Byakuya sabia que deveria se afastar, manter uma distância razoável e respeitável entre eles durante a conversa, ainda mais após ver como ela arregalara os belos olhos violáceos e respirava descompassadamente, mas era simplesmente impossível. Ninguém poderia culpá-lo, não quando ela usava aquele perfume maravilhoso. Uma doce mistura de rosas e cássis. Não quando ela era embriagante. Ele só queria... Se afogar nela e em sua suavidade sedutora.

Sentindo-a se afastar um pouco, parecendo chocada, ele se moveu para frente, seus dedos se trancando ao redor de seu pulso, numa tentativa de impedi-la de fugir. Nesse momento, seus lábios quase se colaram à carne macia de seu pescoço, sua respiração quente tornando-os ainda mais conscientes de sua errada proximidade. Inconscientemente, Rukia soltou um abafado gemido, o que fez com que Byakuya arrastasse levemente os lábios por sua pele antes de comandar numa voz suave:

― Responda, Rukia...

― E-Eu... E-Eu deveria estar praticando caligrafia, mas ao invés disso eu...

― Você?

― Eu estava desenhando. Me desculpe, eu...

― Olhe para mim, Rukia...

Ao ouvir seu pedido, rapidamente a pequena shinigami ergueu o rosto, seus olhos ficando cativos dos dele, que brilhavam numa intensa coloração ardósia.

― Há algo que eu preciso dizer...

Seus rostos estavam tão próximos que seus lábios se tocaram levemente quando ele falou. Uma sensação agradável, enviando calafrios por toda a espinha de Rukia. Ela fechou os olhos, saboreando aquela sensação. Aquele prazer culpado.

Hum? ― murmurou, seus lábios ainda colados aos dele.

― Eu só queria dizer que vou me casar ― ele disse, sua voz voltando ao tom comumente sem emoção.

As palavras dele fizeram com que Rukia abrisse os olhos rapidamente e o encarasse, mortificada. Ao passo em que ele se afastava e guardava seus materiais de Shodô. Casar? Espere! Casar, ele dissera? Antes que percebesse, seus olhos se encheram de lágrimas e ela mordeu os lábios, numa tentativa tola de controlar suas emoções, que ameaçam transbordar.

Que maneira mais cruel de lhe dar aquela notícia!

Ela respirou profundamente, piscando algumas vezes enquanto o observava em silêncio. Ninguém ousava murmurar nada, mas Rukia sabia que ele esperava uma resposta sua. Algum comentário que ela, sem dúvida, faria em qualquer outra ocasião.

“Meus parabéns!”, era isso que deveria dizer? Que tipo de reação ele esperava dela? Já não mais suportando ficar ali, tão próxima a ele sem deixar seus sentimentos transparecerem, perguntara com a voz embargada:

― Quem é a noiva?

Byakuya se voltou para ela, seus olhos perscrutando-a com atenção. Como Rukia imaginara, esse não era o tipo de reação que ele esperava. Mas, como sempre, ele apenas acenou com a cabeça antes de responder, sua voz ainda mais fria do que antes:

― Não se preocupe, você vai conhecê-la na festa de Ano Novo.

― Hai nii-sama... ― dissera, movendo-se para a porta do quarto.

― Rukia ― ele chamara.

― Huh? ― respondeu sem se voltar para olhá-lo.

― Cuide de tudo como você faz todos os anos, sim?

― Hai nii-sama ― dissera com a cabeça baixa, antes de desaparecer do cômodo.

Parando em frente à porta do escritório dele, onde recebera aquela tortuosa notícia, Rukia ponderou se deveria ou não entrar. Deveria? Não estaria atrapalhando? Sim. Estaria. Kuchiki Byakuya detestava ter seu trabalho interrompido. E não seria ela quem faria isso.

Além do mais, o que falaria? “Não se case, nii-sama, estou apaixonada por você?”, seria risível se não fosse trágico.

Se apaixonado por seu próprio irmão! Que estúpida ela era! Que tola! Como deixara que aquele sentimento se infiltrasse em seu coração? Por que não o arrancara quando ele começara a brotar? Por que deixara que ele crescesse e se arraigasse em seu interior como uma erva daninha? Por quê? Se ela tivesse evitado não estaria com o coração doendo agora. Não se sentiria como se ele fosse rasgado em mil pedaços.

Desistindo da ideia de falar com ele, Rukia voltou para seu quarto. O relógio se aproximava das 18 horas. Ela precisava se arrumar e ir receber os convidados para a festa desse ano. Era verdade que precisavam conversar, mas isso poderia ser deixado para depois.


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx o xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Pouco a pouco os convidados começaram a chegar, sendo recebidos educadamente pela Senhora da Casa Kuchiki. Rukia suspirou com o status que Soujirou dera a ela, elogiando-a pela forma como tudo parecia estar perfeito naquela noite.

― Rukia-sama, parabéns! Com certeza a nova Senhora Kuchiki vai querer aprender com você como organizar uma festa tão bonita quanto essa ― comentara Soujirou com um sorriso no rosto.

Rukia se voltou para encarar o baixo e atarracado senhor que lhe cumprimentava.

― Tenho certeza que ela saberá fazer melhor do que eu ― comentou, mordaz.

― Rukia-sama está muito bonita hoje. Tenho certeza de que Byakuya-sama apreciará... ― comentou, mudando de assunto. ― Muito.

Rukia estreitou os olhos. A forma como velho leal a cercara durante aqueles dias, sempre comentando sobre a futura noiva de Byakuya a estava estressando.

― Tenho certeza de que ele estará muito ocupado olhando para sua noiva.

― Oh, sim ― disse, abafando uma risadinha. ― Ele, com certeza, vai reparar nela, mas não se preocupe, Rukia-sama. Tenho certeza de que Byakuya-sama não se esquecerá de você.

― Você fala como se eu estivesse desesperada pela atenção dele, Soujirou.

― E não está, Rukia-sama?

A morena mordeu o lábio inferior, reprimindo a vontade de xingar o homem velho. Com um meneio de cabeça, decidiu que era melhor ignorar as palavras de Soujirou. O homem não era exatamente conhecido por ser polido ao falar com as pessoas. Objetividade e nenhum tato eram suas duas características mais latentes ― e que Rukia costumava apreciar durante os anos em que vivera na mansão Kuchiki, mas que também estava aprendendo a odiar no decorrer daquelas duas semanas.

No fim, ele estava errado. Ela não queria a atenção de Byakuya. Ela não precisava.

― Definitivamente não.

― A quem estamos enganando, Rukia-sama? ― perguntou ele, com um sorriso insolente em seu rosto antes de desaparecer da sua frente com uma mesura exagerada.

“Velho abusado!”, gritou em pensamento, vendo como diversos convidados se aproximavam para conversar e elogiá-la pela festa.

“Arigatou Gozaimashita” eram as palavras que ela mais estava usando naquela noite, seguidamente por “Byakuya-sama chegará mais tarde”, como resposta a alguns lhe perguntavam “Onde está Byakuya?”, “Quando Byakuya chegará?”.

A verdade é que ela mesma se perguntava: quando? Quando Byakuya chegaria? A espera a estava deixando louca. Quando poderia ver sua tão comentada noiva? Ela viria?

Rukia balançou a cabeça em negação. É óbvio que ela viria. Não tinha motivos para não vir. Bebericou um pouco de saquê enquanto pensava em como lhe dar aquela notícia.

“Nii-sama, eu... Eu gostaria de me mudar para a minha divisão?”. Não. Ela não poderia usar essa desculpa para se afastar dele. Afinal, ela era um Kuchiki e um Kuchiki nunca poderia deixar a mansão para ir viver nos dormitórios de um simples esquadrão. “Nii-sama, eu compreendo que chegou a minha hora e eu devo me casar...”, sim. Essa sim era uma boa forma de comunicar sua decisão. Tinha certeza de que ele gostaria que ela fosse útil ao fazer uma aliança vantajosa para o clã.

Com um sorriso triste, entregou a taça vazia para um garçom que passava próximo a varanda isolada onde se encontrava, solicitando outra em seguida. No entanto, quando ergueu a mão para pegá-la, foi interceptada por uma voz profunda:

― Não acha que já bebeu demais?

― N-Nii-sama! ― exclamou.

― Rukia... ― disse, suavemente.

― Nii-sama, me desculpe, e-eu... Não queria envergonhá-lo ― murmurou, recuando até suas costas encontrarem o balaústre da varanda.

― Olhe para mim, Rukia... ― chamou-a, seu rosto próximo do dela.

Rukia ergueu o rosto, finalmente o encarando. Seus olhos se arregalaram levemente ao ver que ele sorria. Por que ele sorria? Antes que percebesse, sorria também. Ele sabia o quão bonito ficava quando estava sorrindo? Tinha noção de quantas mulheres suspirariam se o vissem daquela maneira? Pelo visto não, se soubesse não o faria, ainda mais sob o risco de causar milhões de infartos nas mulheres de toda a Seireitei.

Oh, céus! Ela mesma estava agindo feito uma retardada ao redor dele. Mordendo o lábio inferior, observou como ele estava bonito naquela noite. Não. Ele não estava bonito. Kuchiki Byakuya estava “malditamente-alucinante-lindo-e-sexy-de-morrer”. Ele vestia calças hakama e um kosode de um tom gris escuro e um haori preto, com bordas douradas, tecidas num fio elegante e brilhante de ouro complementava sua vestimenta. Rukia sorriu ao ver que ele usara o presente que ela lhe dera em seu aniversário e como aqueles tons escuros caiam bem nele, contrastando com sua pele cândida. Seu cabelo estava solto, sem o kenseikan ou os apliques que ele costumava usar, caindo sobre seu rosto e ombros livremente.

― Tão bonito...

― Você também está muito bonita, Rukia... ― respondera, tirando a mecha de cabelo da frente de seus olhos.

A morena corou com as palavras e gesto dele. Ainda mais porque acreditara fielmente que tinha dito aquilo em pensamento, não em voz alta. As pontas dos dedos roçaram levemente seu rosto, para depois estacionarem em seus ombros. Se fosse possível, diria que tinha corado ainda mais.

― Nii-sama está sendo gentil. E-eu... ― murmurou, abaixando os olhos.

― Não tenho motivos para ― ele a cortou. ― Obrigado por ficar bonita para mim esta noite.

Rukia pulou no mesmo lugar, incomodada com a afirmação. Ela tinha realmente se arrumado para ele? Aquilo era realmente... Verdade? Que tolice fazer algo desse tipo! Como se ele fosse reparar! Bem, até poderia, como o fizera, mas ela não teria mais essa atenção para si quando sua noiva chegasse.

Acariciou o tecido de seu quimono, sem coragem para encará-lo. Sim. Era verdade. Ela se arrumara para ele. Queria estar bonita naquela noite... Para ele. Por isso vestira seu melhor quimono, de um branco puro, com texturas de pétalas de Sakura, num reluzente tom rosa. Um obi, também rosa, circundava sua cintura, levantando seus pequenos seios, fazendo-os parecerem maiores.

Havia pouca maquiagem em seu rosto, como ela própria não gostava de exageros. Um delineador fora o suficiente para destacar seus bonitos olhos e um gloss claro para tingir seus lábios. Não havia muitos acessórios, e a única coisa que ela usava era um colar onde um singelo floco de neve descansava entrelaçado com uma pétala de sakura. O símbolo de suas Zanpakutous. Neve e Primavera. Duas estações tão distintas que pareciam se complementar perfeitamente em seu pescoço.

― Olhe para mim ― pediu novamente, erguendo seu queixo com a ponta do dedo.

Rukia arfou diante do contato. Ele estava tão perigosamente próximo. Seu rosto cada vez mais perto do dela, sua respiração quente acariciando sua pele... Por Kami! Ele iria beijá-la! Ela precisava fazer algo antes que aquilo acontecesse!

― Nii-sama ― chamou, na esperança de distraí-lo. Mas Byakuya continuou olhando para seus lábios ―, há algo que eu preciso falar.

― Sim... ― murmurou, seus lábios tocando os dela suavemente.

Rukia fechou os olhos. Aquele toque. Aquela sensação... Era como veludo. Tão suave e quente. Convidativo. Os lábios dele se moveram contra os seus, beijando-a tão lentamente quanto possível. Deslizando e acariciando com uma ternura infinita.

“Isso é errado! Ele vai se casar! Você não pode fazer isso!”, sua mente processou, seu corpo, no entanto, se recusou a obedecer, se rendendo às sensações que aquele toque tão íntimo lhe causava. Com estremecimento de prazer, Rukia enterrou os dedos nos ombros fortes, se segurando, ao passo que ele a puxava pela cintura e a persuadia a abrir os lábios. Com um gemido, cedeu, sentindo como a língua dele assaltava sua boca e acariciava a sua própria delicadamente.

Surpresa, engasgou levemente e arregalou os olhos. O que estavam fazendo? Sem que percebesse, tinha interrompido o beijo o que o fez abrir os próprios e a fitar com uma careta de interrogação. “Esse é o momento”, pensou, começando a afastá-lo, porém, antes que conseguisse, ele murmurara um “Relaxe”, e aproveitou que ela se preparava para protestar para mergulhar a língua em sua boca novamente.

Não havia o que pudesse fazer. Não quando ele a beijava daquela maneira, explorando sua boca com um cuidado único e ao mesmo tempo com uma paixão avassaladora. Era abrasante, excitante e incendiário.

Aquilo era como estar... No paraíso. Era suave e doce. Mágico. Deixou seus dedos deslizarem por entre os fios de sedosos do cabelo dele, enquanto aprofundava o beijo. Gemeu levemente quando ele mordiscou e chupou seu lábio inferior. Todavia, o barulho foi abafado pelo som dos fogos de artifício que explodiam, colorindo o céu. O relógio virara. Não era mais 31 de dezembro, mas sim 01 de janeiro. Primeiro dia do ano. Ano novo.

Mas nem mesmo o grito das pessoas que comemoravam pareceu despertar os dois amantes, que se beijavam com uma volúpia e paixão indescritíveis. Rukia não queria que aquele momento acabasse. Queria que o mundo congelasse e aquilo durasse para sempre, porque ela sabia, melhor do que ninguém, que quando seus lábios se separassem, ela sairia do paraíso e seria atirada ao inferno.

Uma lágrima escorreu por sua face delicada fazendo com que ele interrompesse o beijo e a encarasse. Antes que a lágrima escorresse por seu queixo, Byakuya a secou.

― Há algo errado? ― perguntou, sua voz soando tão suave como ela nunca tinha ouvido antes.

A shinigami abriu os olhos e o encarou. O polegar que acariciava suas bochechas ternamente deslizou até seus lábios, fazendo-a prender a respiração.

“Pare com isso...”, disse para si mesma.

― Há algo errado? ― perguntou novamente.

― SIM! HÁ ALGO TOTALMENTE ERRADO! ― gritou, se afastando de seu abraço.

― Rukia... ― murmurou ao se aproximar mais uma vez.

― Fique longe de mim!

Byakuya ignorou o pedido e a abraçou, sem lhe deixar chance para se afastar. Protestando, Rukia socou seu peito inúmeras vezes, pedindo para ser solta.

― Diga-me o que está errado...

― Você, eu... Nós ― murmurou, controlando a vontade de chorar.

― Por que é errado?

― Você tem uma noiva ― ao mencionar a palavra noiva, a realização bateu nela, deixando-a mortificada. ― Sua noiva! Por Kami! Ela viu tudo!

― Sim, ela viu... ― respondeu, com um leve sorriso.

Rukia arqueou uma sobrancelha diante daquele sorriso. Qual era o problema dele? Por que estava sorrindo? Não era como se qualquer mulher fosse ficar feliz ao ver seu noivo beijando outra!

Os dedos continuaram a carícia em sua pele, deslizando por seu pescoço e pressionando o ponto sensível lá.

― Ela viu e eu não me importo.

― Por Kami! Ela vai querer me matar por isso... M-Me desculpe, e-eu e-eu nunca deveria ter deixado isso acontecer.

― Pare de se culpar tanto, Rukia. Isso é... Entediante.

Entediante? Ele estava realmente falando sério? Rukia não sabia se deveria explodir de raiva naquele momento ou esperar mais um pouco.

― Onde está sua noiva? ― perguntou, ao invés.

― Está aqui... ― murmurou, inclinando-se para os lábios dela. ― Nos meus braços.

Byakuya capturou os lábios dela num beijo suave, mas parou ao ver que ela não correspondia. Os olhos violáceos que ele tanto amava arregalados em choque.

― Sua noiva o quê?

― Está nos meus braços ― inclinou-se para beijá-la no pescoço.

― Não brinque com algo tão sério ― pediu, suspirando com as carícias dele.

― Seja minha, Rukia.

― O quê?

― Case-se comigo ― murmurou, beijando-a nos lábios.

― Byakuya ― chamou, sua voz num sussurro. ― Isso é certo? Isso é... Nós realmente podemos fazer isso? Você realmente sente algo por mim para...

― Você fala demais ― cortou-a.

Seus braços se estreitaram ao redor dela, puxando-a para mais perto. Os lábios se esmagando contra os femininos num beijo para calar todo e qualquer protesto da parte dela. Sorrindo contra a boca dele, Rukia correspondeu ao beijo, sabendo o que aquele “você fala demais” significava uma resposta positiva à sua pergunta. E, naquele momento, com aquele beijo, ela estava dando a sua a ele.


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx o xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

O primeiro fogo de artifício surgiu no céu. Meia-noite. Virada do ano. Começo de um novo ciclo. Nesse mesmo momento, ele a abraçou, fazendo com que ela sorrisse feliz e se virasse para o costumeiro beijo partilhado entre eles durante aqueles 10 anos juntos.

Byakuya a pressionou contra si, seus dedos entrelaçados enquanto compartilhavam um beijo com a mesma paixão que da primeira vez. Seus lábios se devoravam, numa dança repleta de amor e desejo, só se separando quando a necessidade de ar os dominou.

― Por que você demorou? ― perguntou, fazendo biquinho.

― Eu estava desejando boa noite às crianças.

― Hum... Elas estão bem?

― Já estavam dormindo ― disse, depositando um suave beijo em seus dedos. ― Do mesmo modo que você as deixou.

Rukia recostou a cabeça no peito masculino e inalou seu aroma, fechando os olhos. Estar em seus braços era tão bom, ou melhor, quanto fora da primeira vez. Percebendo seu silêncio, Byakuya perguntou:

― Desde quando você está aqui?

― Há algum tempo... Relembrando como você me pediu em casamento.

― Hum... ― murmurou, beijando-a no pescoço. ― Você gostou?

― Foi diferente...

― Você esperou mesmo que eu fosse fazer igual a todo mundo? ― sussurrou, mordiscando o lóbulo de sua orelha.

― N-Não... ― conseguiu responder, sentido as pernas ficarem bambas. ― P-pare com isso...

― Fazendo charme?

― E-Eu só estou gorda, feia e desproporcional...

― Não ― interrompeu os beijos para olhá-la. ― Você está linda. A maternidade a favorece ― murmurou acariciando a pequena protuberância em sua barriga.

― Mostre-me como ― sussurrou, mordiscando-o no ponto sensível do pescoço e ganhando um rouco gemido.

― Não me provoque assim! ― sua voz saiu entrecortada quando ela desceu os beijos por seu peito, empurrando-o contra a cama.

― Mostre-me como a maternidade me favorece...

― Com prazer ― respondeu, beijando-a lascivamente. Seus dedos desnudando-a com pressa.

As carícias foram ficando mais intensas, fazendo com que ambos gemessem deliciados nos braços um do outro, atingindo o clímax numa sincronia perfeita e invejável. Rukia descansou a cabeça contra o peito dele e depois de um tempo murmurou:

― Akeomekotoyoro2, Byakuya.


― Akemashite Omedetou Gozaimasu3, Rukia.


______________________________________________________________________________

1 Hanabi – Fogos de Artifício na tradução do japonês para o português.

2 Akeomekotoyoro – “Feliz Ano Novo. Esse ano conto com você” numa abreviação e forma informal de Akemashite Omedetou Gozaimasu, Kotoshi mo Yoroshiku Onegaishimasu.

3 Akemashite Omedetou Gozaimasu – Feliz Ano Novo na forma formal.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, eu espero que tenham gostado.
Aguardo seus reviews que tanto gosto de ler. Críticas construtivas, elogios, reclamações são todas muito bem-vindas.
Me perdoem pelo tom até meio angst. Mas, eu não poderia tirar toda a intensidade que esse casal certamente tem.
Essa é a primeira das trocentas ByaRuki que tenho planejadas, em breve postarei Don't Close Your Heart.
Ja nee!