Izaya corria pelo campo da sua antiga escola Raira, enquanto tentava desviar de um poste arremessado em sua direção. Seu riso sádico e melódico chegou aos ouvidos do enfurecido loiro, que agora arrancava uma placa de trânsito para jogar nele. O moreno mais uma vez desviou de um jeito gracioso, visivelmente zombando da cara do outro. Ele atirou uma de suas lâminas na direção de Shizuo, fazendo um corte de raspão no rosto do mesmo.

- Ah, Shizu-chaan~ - Izaya pulou sobre um banco de pedra e começou a andar para trás, olhando fixamente para Shizuo com um sorriso divertido no rosto. Seus dedos já brincavam com outra lâmina. – Você nunca vai mudar esse seu jeito tão previsível.

- Cale a boca, pulga. – Ele se aproximou devagar, erguendo a placa na altura da cabeça. – Eu vou te esmagar direito, desta vez!

Shizuo desferiu o objeto com força no moreno, que impediu o golpe, contendo a placa a milímetros de si com sua lâmina. Seus braços fraquejaram por um instante, aproximando mais o frio metal de seu rosto. Não havia dúvida alguma de que o loiro era mais forte do que ele mesmo, mas não era apenas por ser baixinho e muito magro que Izaya era um fracote, assim como muitos acreditavam.

Izaya reuniu mais um pouco de força e conseguiu empurrar o objeto metálico para longe o suficiente para ele saltar do banco para o chão e começar a correr, virando vez ou outra para trás para ver a reação do loiro.

- Desista logo, sua pulga desgraçada! – Shizuo foi atrás dele, ainda com a placa empunhada em posição de ataque. – E saia de uma vez de Ikebukuro!

Shizuo golpeou o ar, tentando acertar o menor. Aquele verme já deveria ter deixado sua bela Ikebukuro em paz há muitos anos, mas ele sempre arranjava algum motivo para ficar voltando a todo o momento. Ele tinha muitos clientes naquele bairro, clientes que talvez ele nem precisasse tanto, mas serviam como a perfeita desculpa para ele criar um forte vínculo com aquele lugar.

Aquele sorriso sádico e estúpido que estava sempre decorando a face tão pálida que ele possuía, fazendo um contraste perfeito com o cabelo tão escuro quanto ébano e com seus olhos: aqueles dois orbes carmesins que observavam a todos de forma tão calculista e insana, na maior parte das vezes, e que continham um brilho peculiar, quando melhor analisados. Olhos tão intimidantes e, ao mesmo tempo, tão misteriosos, fazendo com que os poucos que se atrevessem a olhar para eles desenvolvessem uma repentina curiosidade de saber o que se passava realmente na mente daquele ser humano bizarro, que amava tanto os outros membros da sua espécie.

Mais uma vez Shizuo tentou acertar Izaya que, para a sorte do maior, afundou um pé na grama verde do campo e perdeu momentaneamente o equilíbrio, o suficiente para ser acertado em cheio no rosto e ir parar a alguns metros de distância do outro. Izaya apoiou os cotovelos no chão e limpou o sangue que agora escorria de seu nariz e do canto de sua boca com a manga do casaco. O loiro foi se aproximando dele, deixando que um sorrisinho de satisfação brotasse em seus lábios. Aquela pulga era, com certeza, muito inconveniente e demorava demais pra morrer. Ele largou a placa no chão ao lado do moreno e agarrou Izaya pela gola da camisa, levantando-o da grama e trazendo-o para bem perto de si.

- Olha aqui, pulga. – Shizuo fechou a mão com mais força na gola do moreno. – É melhor você dar o fora de Ikebukuro e nunca mais voltar, está entendendo? – Seu olhar ambarino encarava Izaya com uma fúria indescritível por detrás dos pequenos óculos azulados.

Um sorriso de escárnio se formou na face do moreno e ele riu, cuspindo um pouco de sangue no chão. Shizuo aproximou ainda mais o rosto do informante do seu, controlando-se para não acabar com ele naquele segundo.

- Eu tenho trabalhos importantes em Ikebukuro, Shizu-chan. – Ele pegou um canivete e apontou na direção do pescoço do loiro. – Então n-ã-o.~

- Caia. Fora. Daqui. Pulga. – Shizuo falou pausadamente, dando ênfase a cada palavra em especial, sua voz em um tom bastante ameaçador para qualquer um que a ouvisse.

- Nããoo~ - Izaya falou quase cantando, claramente se divertindo muito com aquela situação. Shizuo podia ser o único humano que ele odiava, mas, ao mesmo tempo, era o mais curioso e interessante para se jogar com. Aquela súbita vontade de irritá-lo que Izaya sentia toda vez que via o loiro era praticamente incontrolável.

- Vá embora desta cidade ou ent- – Ele foi cortado pelo menor.

- Ou então o quê? – Ele pôs uma das mãos no rosto do outro, traçando a nova cicatriz com o polegar e encarando-o com um olhar que poderia ser chamado de malicioso. – Sua diversão é me perseguir, Shizu-chan. O que você faria se eu simplesmente sumisse da sua vida?

Shizuo arqueou uma das sobrancelhas, mas logo sorriu de forma arrogante. – Eu com certeza iria descansar em paz por não ter que ver mais essa sua cara desprezível.

O loiro podia parecer bem confiante por fora, mas ele sentiu-se um pouco perturbado com a pergunta do outro. Ele realmente não tinha ideia do que faria se Izaya nunca mais aparecesse em Ikebukuro para irritá-lo e faze-lo correr atrás dele. Um vazio foi se instalando a medida que ele pensou sobre isso, mas ele não deu muita brecha e logo concentrou-se novamente no ser a sua frente.

- Você ficaria sem um propósito para viver, Shizu-chan. – A voz irritante do outro o fez apertar um pouco mais a gola da sua camisa. Izaya foi chegando mais perto do ouvido do loiro, sussurrando de forma divertida. – Você não é nada sem mim, Shi-zu-cha-n.~

Shizuo empurrou-o contra a grade que cercava a quadra esportiva, olhando bem para os orbes carmesins antes de investir com tudo contra a boca de Izaya. O moreno tentou sorrir, mas o beijo era voraz demais para que ele pudesse fazer qualquer coisa se não corresponder. Suas mãos logo começaram a puxar o corpo do maior para mais perto, subindo e descendo por suas costas e parando nos fios loiros, puxando-os com pouca força. Shizuo já tinha erguido o menor do chão, o que o fez enlaçar suas pernas na cintura do outro para não cair. O loiro mordeu o lábio inferior do outro, sentindo o gosto do sangue dele invadir sua boca, mas nenhum deles se preocupou com isso. Izaya queria que aquilo durasse mais, só talvez mais alguns minutos, mas ambos se separaram para respirar. Além do que, eles ainda estavam no campo da escola, em plena luz do dia, onde qualquer um poderia estar passando por perto e vê-los, mesmo que fosse domingo.

- Eu vou te matar, verme.

- Talvez depois, Shizu-chan. – Sorriu malicioso.

Ele rapidamente se desvencilhou do outro, ao mesmo tempo em que pegou sua lâmina do chão e saiu correndo da quadra. Quando já estava a uma distância quase segura ele se voltou para o loiro e acenou de forma divertida, voltando a correr.

- I-ZA-YA! – Shizuo vociferou, pegando a placa de trânsito caída e indo atrás do moreno.

Izaya gargalhou, desviando com facilidade quando a placa fora arremessada em sua direção. Ele não sairia tão cedo de Ikebukuro. Ele só teria que manter Shizuo ocupado por mais algumas horas, até anoitecer e eles poderem continuar seu jogo de “gato e rato” em um lugar mais reservado, provavelmente a casa do informante. Porque, afinal, era assim que as coisas sempre terminavam depois de um longo dia de trabalho e perseguição para os dois.