Fuga escrita por Natã Cruz


Capítulo 8
Capítulo 7 - Refugiados do Equador




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Maddie arrumava suas roupas limpas recém-chegadas da lavanderia para a gaveta. Lion acabava de entrar no quarto.

– Onde esta Cate? – perguntou Maddie.

– Na piscina.

– E deixou minha filha lá sozinha? – perguntou indignada.

– Achei que não tinha problema, ela estava com amiguinhas e...

– Lion, não se deixa uma criança numa piscina sozinha. Ainda mais na nossa situação! – ela disse grosseiramente. Era normal o estresse e o pessimismo atacar Maddie. Afinal, na situação em que estavam, com toda essa correria, com toda essa preocupação...

– Ta legal. – disse paciente.

– Leonard, precisamos conversar seriamente.

– Que foi agora? – disse se virando.

– “Que foi agora?”, “que foi agora?”, Leonard?! É dessa forma que você mostra interesse no que eu vou dizer? É dessa forma que se preocupa?

– Do que você esta falando? – disse confuso e nervoso.

– Estou falando da sua “paciência”, da sua “calma”, isso esta me irritando, me tirando do sério! Sempre esta pensativo, sempre esta desligado... Eu fico aflita enquanto nosso dinheiro esta acabando e você sempre no mundo da lua! Parece que não se preocupa!

– Me preocupo sim, ta legal?

– Ah, você se preocupa?

– Sim, Maddie, eu me preocupo. Fico pensando o quanto Cate corre risco nisso tudo, penso como vamos reabastecer o carro depois, fico pensando em como vamos viver depois disso tudo, fico pensando na minha vida!

Houve um silêncio breve.

– Sua vida? – disse Maddie sorrindo irônica e lagrimejando.

– É, minha vida, Maddie. Eu tenho me sacrificado por vocês duas, arriscado minha vida, largado tudo por vocês. Eu tenho família, sabia? Tenho amigos que precisam de mim! Eu não posso viver só pra vocês duas e ainda não ter reconhecimento disso.

– Se eu e Cate estamos sendo um fardo pra você, então desista! Não precisamos de um pessimista a mais conosco! Precisamos de ação, de uma solução, de uma casa, de um pai, de um protetor! – já dizia gritando descontrolada.

– Então por que não continuou com Bill, hein? Se você quer uma vida de princesa, uma vida perfeita, então por que não ficou com ele? Ele tem grana, casas, apartamentos, propriedades, tem tudo! Nunca irá faltar nada pra você!

– Porque eu te amo. – já dizia aos berros entre lágrimas. – porque eu te amo, seu egoísta, babaca, ordinário! Não entende que eu preciso de alguém vivo nessa situação comigo? Não entende que eu preciso de um amigo? De alguém que diga que vamos encontrar um jeito?

Lion fica sério.

– Você não entende não é mesmo?

– Não. – ele disse se retirando do quarto.

Maddie se senta chorando.

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Lorel acordou com dores de cabeça e náusea. Sua visão estava com muito pouco foco e o cheiro de madeira molhada ali era forte. Ela com a mão direita levantou-se num impulso e rodou a cabeça.

– Meu Deus. – disse com um aperto no coração, sentia medo, tremia e lagrimejava. Começou a procurar o celular no bolso, mas não encontrou. – Meu Deus. – sua visão melhorava, era possível ver que estava em uma cabana com uma cama sem colchão, um armário velho enferrujado e uma janela escancarada. Lorel ouviu um barulho de água caindo, andou tonta até a janela e reconheceu o lugar. Estava de frente para o mar. Ali estava deserto, ventava muito frio e seu corpo rejeitava aquilo, a cada brisa que sentia, seu corpo tremia por inteiro, seu estomago se revirava devagar e sua cabeça explodia de enxaqueca.

– Socorro. – sussurrava até se virar e ver uma porta aberta, sua visão ainda estava pouco visível. Ela andou até a porta com cuidado e devagar, e se ergueu para fora dela, vendo uma fogueira acesa logo ao lado com dezenas de pessoas. Ela se assustou e correu pra dentro novamente. Sua respiração era alta e ofegante, suas pernas tremiam mais de quando teve seu primeiro beijo.

Onde ela estava? Que pessoas eram aquelas?

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John já tinha procurado Lorel por todo canto, mas nada dela e nem de Mattew. E começou a pensar “baboseiras” a respeito.

Dorethe acabava de acordar.

– Mattew, Mattew! – sussurrava ainda com os olhos fechados. Sentiu a mão de John sobre a sua com um copo de água na outra.

– Tome isto, você vai melhorar.

Dorethe pegou e tomou o primeiro gole com a mão trêmula.

– Urg! Doce demais. – disse.

John sorriu aliviado.

– Eu... Mattew estava aqui? Como? Por quê?

John suspirou.

– Pelo jeito você já o conhecia e isso é um alivio pra mim, porque Mattew pra mim é um mistério, não é de hoje que ele tem feito coisas estranhas.

– Coisas estranhas? – disse Dorethe se sentando devagar e com jeito. Estava pálida.

– É, eu chego em casa e sinto cheiro de cigarros, bebidas... Um dia desses meu vaso sanitário entupiu e preservativos apareceram.

Dorethe permanecia séria e pálida. Seu coração ainda estava batendo disparado ao saber que esta tão perto da pessoa que tanto ama.

– Ta, mas... Por que aquela cadeira de rodas? – perguntou com um nó na garganta.

John suspirou alto e se ajeitou no sofá.

– Encontrei Mattew em uma cena de acidente de caminhão. Ele se feriu muito e o trouxe pra casa, o médico disse que ele ficaria por muito tempo na cadeira de rodas, coisa que não demorou muito pra ele voltar a andar.

– Como? Eu o vi ainda na cadeira de rodas! – disse sussurrando com um aperto na barriga pra dizer aquilo.

– Mattew pensa que me engana. Já tivemos momentos muito bons aqui, partidas de cartas, jogos de futebol, ligações de namoradas, ele me ajuda, sabe? Sei que não precisa mais da cadeira porque direto vejo rastros dele pela escada, vejo que meu carro que eu o emprestei, anda com menos gasolina... Mas... Ele pensa que quando ele melhorar, vou chutá-lo da minha casa. Mas não, Mattew precisa da minha ajuda, precisa lembrar do que tem feito pra fugir de casa...

– Ele fugiu?

– Sim, foi a primeira coisa que me disse quando estava machucado.

– Por que não o deixou com as autoridades?

– Porque eu pensei que daria problemas pra ele.

Dorethe sorriu.

– Você é um bom amigo, e Mattew é um bom rapaz, tem suas coisas, suas rodas, mas nunca fez mal a ninguém.

– Eu sei. – disse John com um olhar de certeza. – Bom... – exclamou ele levantando e passando a mão nos seus cabelos grisalhos. – Eu não onde ele esta, assim como sua amiga.

– O que? Lorel? Ela foi embora?

– Parece que sim.

Dorethe franziu a testa.


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Mattew se sentou em volta da fogueira com os desconhecidos. Todos eram homens, exceto por uma, ela era quieta e tinha um corpo muito bonito, mas os trapos que usava a trapalhava.

A peruca que Mattew havia colocado atrapalhava muito e o fazia suar, o óculos escuro atrapalhava sua visão e toda a roupa que tinha posto o fazia coçar um pouco. Mattew estava nervoso. Não sabia como, mas foi direto pra aquele lugar, pra aquele grupo estranho de pessoas suadas e cansadas.

Uma mão bateu no ombro de Mattew duas vezes.

Ele se virou e viu um homem muito velho que aparentava ter mais de cinquenta.

– Bem-vindo ao grupo. Eu não sei como eles te deixaram entrar, deve ser alguém bem convincente. – disse o velho.

Mattew conversou com um dos líderes depois de deixar Lorel na cabana que vinha do Canadá e precisava de refúgio. Quando ele viu o mar, aquela praia deserta e aquela ilha a muitos metros na frente, Mattew percebeu que estava no lugar que deveria estar. O grupo R.E. (Refugiados do Equador). Diziam que se chama assim, por ser um grupo oculto, escondido, que foi fundado no Equador em 1983 por prisioneiros fugitivos das pequenas prisões de cidades do interior, que viviam da maneira que quisessem, roubando mantimentos e pessoas corruptas, indo no caminho contrário da lei. Sendo então, este grupo se espalhou pelo mundo e até hoje é mantido em sigilo completo.

– Meu nome é John. – disse o velho estendendo a mão. Foi então que Mattew pensou no que ele deixou em casa, em John, no quanto ele tinha ajudado. Que se não fosse ele, estaria atrás das grades, encrencado.

– Sou Mattew, prazer, John. – disse pegando na mão dele.

– Capitão John. – corrigiu rindo. – eu era da marinha na França, nasci lá. – isso explicava o sotaque estranho. – o que acontece é que acabei perdendo o controle e matei dois funcionários meus que me ameaçavam. Assustador, não é? Mas não foi de propósito, eu não tinha a intenção, foi em um momento de raiva, ódio. – dizia com os olhos trêmulos. – Quero deixar bem claro que, não sou nenhum tipo de serial killer, sou um homem normal, um homem que...

– Tá legal, John, sem discursos. – disse Mattew sorrindo.

Ele sorriu também. O que ele queria dizer é que era um homem sem leis, sem regras e que agiu como qualquer um agiria com tanta pressão e humilhação, somos todos maus, de alguma forma temos crenças e fé, felizmente, que nos guiam e nos faz evitar tipo de coisa. O sangue frio é a coisa mais impulsiva que nos faz cometer isso, sem esse sangue frio, não somos capazes de enfrentar as regras. E era isso que o Capitão John tinha.

– Então, Mattew, você é algum tipo de assaltante ou coisa do tipo? Pode tirar esse óculos e peruca que estão ridículos. – disse rindo e logo depois tossindo.

– Não, esta bom assim. – disse sorrindo.

– O grupo é bem fechado, mas quando se convive eles te dão uma chance. – disse o Capitão.

– Não pretendo permanecer aqui agora, ainda tenho coisas pra resolver lá fora.

John ficou sério.

– Rapaz, acho difícil você voltar aqui se sair esta noite.

– E por que?

– Somos um grupo muito fechado e sigiloso, qualquer informação vazada vai nos custar o fim do grupo. Mudamos de lugar constantemente, vivemos livres.

Mattew assentiu e pensou bem sobre aquilo, sabia que estava no lugar certo, que estava bem ali e que talvez, esta tudo certo agora. Mas ainda havia um vazio muito grande em sua mente, algo a mais teria que ser feito. Lorel. Lorel ainda estava na cabana velha e ela tinha que o dar as respostas.

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Lorel sentia tonteiras seguidas ainda, mas sua visão já estava perto do normal. Foi então que ela viu dois vultos entrarem dentro da cabana.

– Quem são vocês? O que querem comigo? – disse chorando muito baixo. Seu rosto estava inchado.

– Olá, princesa. – disse uma voz rouca e grave. Não era possível ver os rostos dos dois rapazes, era possível ver que eles eram grandes e tinham tatuagens nos braços.

– Ta a fim de uma brincadeirinha? – disse o outro.

– SOCORRO! SOCORRO! – berrou desesperada correndo até a janela. Sua cabeça rodava e entrava em desespero, queria sair dali, ir embora, o pânico tomou conta de si.

Um dos grandalhões foi atrás dela e pegou por trás, e outro começava a abrir o zíper da calça.

Houve então um barulho muito alto da porta sendo quebrada.

Era Mattew com sua peruca loira e couro.

Ele pegou seu facão e arremenssou sobre o pescoço do que segurava Lorel. Ele berrou de dor.

Mattew estava enfurecido. Então ele joga o grandalhão no chão e perfura seu peito!

Lorel dá outro berro. O segundo grandalhão se assusta ao ver a cena e tenta fugir, mas Mattew em um berro o soca nas costas, o fazendo cair e depois o perfura como fez com o outro.

No rosto de Mattew havia respingos de sangue. Bufava forte.

Lorel estava em choque, colocava a mão na boca semiaberta e saiu correndo desesperada pra fora até achar algumas arvores e uma estrada.

Mattew vai atrás e a pega pelo braço.

– Me larga, me larga, me larga! – gritava desesperada.

Mattew a pega com força e a abraça.

Ela se assusta e tenta o afastar, mas aos poucos começa a aceitar e se acalmar. Aquele assassino salvou sua vida.

Mattew ficou desesperado ao ve-la ser atacada. Não sabia o que fazer. Sentiu o cheiro dos cabelos castanhos dela, sentiu o cheiro do perfume dela. Sentia o suor descer no rosto dela, sentiu vontade de chorar. Pela primeira vez depois de dez anos.

Mattew não chorava, era forte e muito fechado.

– Obrigada. – disse ela se acalmando. Mas ainda trêmula e ofegante. – não precisava daquilo. – disse.

Mattew ficou calado.


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Notas finais do capítulo

Hey, não esqueça de comentar e compartilhar o que achou. Peço a você que tenha gostado da fic, que indique a um amigo leitor e que me ajude na divulgação. "FUGA" não será uma simples produção na minha vida, ainda pretendo levá-la para as livrarias no ano que vem! Espero que tenham gostado!
Até a próxima :D