Fuga escrita por Natã Cruz
Lorel não sabia mais qual das duas pernas dobrar. Sentia calafrios e suas mãos estavam cobertar por suor.
Primeira entrevista de emprego.
Lorel olhou para suas concorrentes e viu que todas usavam saias justas e blusas com decotes discretos e bastantes sérias. Havia uma - exeto - que usava jeans preto, blusa roxa fechada e parecia bastante nervosa quanto Lorel.
Lorel tinha a pele muito branca, os cabelos num tom loiro e meio ondulado. Seu rosto, abaixo dos olhos tinam sardas, um charme. Usava um vestido preto casual com bolsos e sandálias rasteiras. Ela tinha tudo para ser a pessoa com o perfil mais único e confiável para psicóloga infantil da empresa Children's Heart World que fabricava fraldas e recentemente havia fundado vários orfanatos destinados a crianças doentes e órfãs. Marketing, claro!
Mas também um ótimo salário de psicóloga; um sonho para quem acabava de se formar na área.
– Lorel Philipens Trypuc. - disse o entrevistador lendo a fixa da candidata.
Lorel cruzou a perna direita e mudou para a esquerda rapidamente. Sorriu com força do nervosismo.
O entrevistador coçou sua barba mal feita abaixo do queixo e olhou com reprovação para Lorel.
– Então, Lorel, me diga: o que você espera nesse emprego?
Lorel demorou um pouco.
Suspirou baixinho e sorriu.
– Bom, adquirir experiência, e...
– Já basta! - ele a interrompeu. - Qualquer coisa entrarei em contato com a senhora.
Lorel se levantou com um nó na garganta e agradeceu na saída.
"Não foi segura o suficiente." apontou para si mesma. "Uma boa psicóloga precisa de postura nos olhos.".
Sentiu vontade de jogar tudo pro ar e voltar para casa dos seus pais.
"Ter me mudado foi um erro."
A entrevista de fato não havia durado nem dois minutos.
"O candidato nunca é o que não serve para a empresa, mas a empresa que não serve para o candidato, lembre-se!" - pensava enquanto se aproximava da lanchonete da esquina.
Ela sentou após pedir um suco de laranja.
Apoiou a mão na cabeça decepcionada, e, depois de um tempo...
– Decepcionada? - perguntou uma voz feminina e tão fina quanto doce.
Lorel se ergueu e viu uma figura de calça jeans preta, blusa fechada roxa, pele um pouco morena e cabelos pretos escovados perfeitamente. Tinha olhos grandes, era bonita! Era uma das candidatas para o emprego, a nervosa.
Lorel assentiu gentilmente reconhecendo-a.
– Parece que eles não estão procurando pessoas recém-formadas na área e extremamente nervosas... - disse e esperou um pouco para completar - posso me sentar com você?
– Sim. - respondeu Lorel posicionando.
– Meu nome é Dorethe, formada na universidade de Boston, moro sozinha, estou solteira e detesto a raça masculina.
Lorel sorriu.
– Meu nome é Lorel, formada na universidade federal de Seattle, moro sozinha desdo ultimo mês, estou solteira e adoro Phill Collins.
– Aquele careca das cordas vocais falidas de 2003? - disse Dore.
– Sim, "On My Way" do "Irmão Urso", a música do meu telefone. - disse Lorel.
– Nunca fui muito fã dos desenhos infantis da Disney, aquilo lá esta cheio de técnica hipnotiza.
– Acho mito! - disse Lorel largando os ombros.
– Vou pedir um sanduíche de atum e suco de frutas tropicais!
Lorel olhou para Dorethe e se remexeu de emoção ao ouvir aquilo.
– Saudade do sanduíche da mamãe! - disse.
Dorethe largou o cardápio e suspirou séria, dizendo...
– Eu também!
Houve silêncio.
– E pensar que desejamos tanto por esse momento... Primeira entrevista de emprego, primeiro lar, liberdade! - suspiraram quase juntas enquanto Dorethe dizia.
– Na verdade nada mudou, ainda sinto vontade de acordar toda manhã de sábado, pegar meu chocolate quente enrolada no meu cobertor e correr pra sala ver Bob Esponja. - disse Lorel.
As duas pareciam opostas e semelhantes ao mesmo tempo. Criadas com bolo e geleia, desenhos animados e chocolates quentes, sábados e sanduíches de atum nos finais de tarde!
Não haviam crescido o suficiente.
– O que vão querer? - disse o garçom alto, moreno e bem grande para caber naquele uniforme.
Dorethe "acordou" em um pulo e sorriu mexendo no cabelo.
– Um sanduíche de atum e suco de frutas tropicais! - ela disse rápida e atenta nos bíceps do garçom.
– E você? - perguntou para Lorel.
– Estou servida, obrigada. - disse gentilmente.
Ele virou e saiu.
– Pensando bem, "Coragem, o Cão Covarde" já teve seu tempo, né?! - disse Dorethe se curvando para Lorel que riu até seus ombros se remexerem.
– Pensei que você tinha dito que detestava os homens. - disse Lorel.
Dorethe levou a mão até a testa sorrindo sarcástica.
– Eu os odeio quanto estão presos a mim!
Lorel levantou as sobrancelhas e bebeu do seu resto de suco. Realmente eram bem diferentes.
– Vejo que você não é muito de comentar sobre garçons morenos e altos. - comentou Dorethe..
– Sempre fui muito quieta e reservada.
– Já saquei, você é crstã, não é?!
Lorel sorriu levantando bem suas bochechas.
– Sim.
Lorel foi criada, praticamente NASCEU dentro da igreja.
– Eu não tenho religião, mas, acredito em Deus. - e com a chegada do garçom, Dorethe completou - Amém?
Lorel sorriu e disse com seriedade:
– Amém!
–-----------------------------------------------------------------------
Mattew andava com dificuldade na beira do asfalto. Seu jeans havia rasgado na perna esquerda e a machucado em um grande arranhão. Seu rosto estava pálido e manchado de suor. Seu cabelo estava grande e tampava quase toda sua nuca. Ainda chovia.
A camisa de Mattew preta estava manchada de terra e seus dedos sujos.
A fuga havia sido difícil.
Ele avistou um bar onde tocava rock dos anos 80; ele mancou até lá e já sentiu o cheiro de tabaco e produtos químicos suspeitos.
Era pequeno, logo a frente tinha caminhões, motos e até bicicletas em pleno o nada!
Era o único local com luz tirando os carros e caminhões que passavam.
Mattew sentiu o machucado da sua testa arder. A chuva havia aumentado.
Ele esticou a perna esquerda e arrancou um pedaço do seu jeans. Amarrou sobre a testa e foi mancando para o tal bar.
Havia mulheres estranhas a cima do peso e horripilantes juntos com caminhoneiros e andarilhos de bonés de beisebol. Havia a clássica e clichê mesa de sinuca, mas ninguém jogava, havia um galão de cerveja e várias cinzas de cigarro espalhadas nela.
Nem notaram a chegada de Mattew.
Havia um policial com uma das horripilantes garotas. Mattew viu um boné furado no balde de lixo e o colocou para esconder um pouco o rosto.
– Atenção, pessoal! Ei, pessoal! Ei, ei, ei, ei! - gritou um velho de jeans apertado, blusa e jaqueta de supermercado e barbudo em cima da mesa de sinuca COMPLETAMENTE TONTO.
– Vai começar mais um campeonato de "Ei, beba isso, seu merda!" - disse berrando até sua voz ficar rouca e sumir.
Todos comemoraram.
Foram postas várias garrafas no balcão e um circulo se abriu.
– Hoje quem conseguir beber tudo sem vomitar, leva cem dólares e a nossa querida Julie de compania! - disse o velho mostrando uma mulher a cima do peso de cabelos presos em um coque e com dois dentes da frente tortos e sujos.
Mattew levantou o rosto.
Cem dólares cairiam bem agora!
– Quem participa? - gritou o velho.
Um homem aparentemente com 39 anos, bastante musculoso, branquelo e com tatuagens, levantou o braço junto com mais três velhotes barrigudos.
Mattew levantou o braço devagar com a cabeça baixa e foi até a roda. Todos o observavam passar com olhares curiosos.
Ele parecia assustador com aquele trapo todo.
– Temos um forasteiro, olhem só! - disse o velho rouco do jeans apertado.
Mattew permaneceu de cabeça baixa.
– E claro, nosso campeão, BIG JULLIOS! - completou o velho.
O tal Jullios levantou os braços e deu um berro.
Então, foram postos cinco copos.
O barman magrelo de sobrancelhas grossas abriu a primeira garrafa com um líquido vermelho e forte, pimenta com vodka. Depois, colocou a vodka, cerveja e limões.
– Hoje tá fácil!! - disse um dos concorrentes.
– Então, o que vocês estão esperando? BEBAM ISSO, SEUS MERDAS! - berrou o velho rouco dando já o início da disputa. Mattew pegou o copo e logo sentiu o pior gosto de sua vida. Seus olhos lagrimejaram e sua língua ardeu até a garganta.
Seus sentidos falharam. Logo, se remexeu todo.
O tal Big Jullios riu de Mattew.
– Desista, forasteiro!!! - berrou bebendo de uma vez.
Outra remeça foi dada e desta vez foi mais forte.
Dois dos concorrentes caíram já por estrem bêbados antes.
Na outra rodada foi acrescentado licor e vinho.
Big Jullios se remexeu feito um cachorro depois do banho e deu m berro após beber num gole tudo outra vez.
Mattew bebeu tranquilamente mas fervendo por dentro. Ele assustava alguns ali.
– Polícia!!!!! - gritaram cinco policias entrando no bar com cães ferozes com suas patas sujas de lama. Mattew sentiu seu corpo arrepiar e correu como todos alí no bar.
O policial que estava presente levantou em um pulo e tirou sua arma se juntando aos outros.
~~~~~~~~~~~~~~
Lorel já tirava as chaves da bolsa.
Suspirou.
- lar doce lar! - disse desanimada. O poste de luz da sua rua havia queimado outra vez. Ventava muito em Seattle naquela noite.
"Vai chover" pensou com ela mesma.
Ela rodou a chave e sentiu frio na nuca quando imaginou mais uma noite sozinha naquela casa. Abriu a porta e tirou as sandálias alí mesmo. Ligou a luz e ouviu um barulho suspeito vindo do segundo andar da casa.
Engoliu seco e pensou que não era nada.
Foi para a cozinha e tirou um prato embalado no alumínio escrito: "jantar". Ela ligou o microondas e colocou seu jantar para esquentar.
Olhou para o telefone. "0" recados na secretária eletrônica. 1000 x 0 para o desemprego.
Lorel ouviu um barulho novamente horripilante vindo do andar de cima. Engoliu seco e andou devagar até as escadas.
– Tem alguém ai? - disse alto amedrontada. Então, viu um vulto e teve a certeza que havia alguém.
Lorel se assustou e paralisada tirou o telefone do bolso de trás, discou de costas sem a visão e apertou a tecla de emergência "polícia".
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Gostou? Deixe suas críticas ;)