Fuga escrita por Natã Cruz


Capítulo 2
Capítulo 1 - Desavisados




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Lorel não sabia mais qual das duas pernas dobrar. Sentia calafrios e suas mãos estavam cobertar por suor.

Primeira entrevista de emprego.

Lorel olhou para suas concorrentes e viu que todas usavam saias justas e blusas com decotes discretos e bastantes sérias. Havia uma - exeto - que usava jeans preto, blusa roxa fechada e parecia bastante nervosa quanto Lorel.

Lorel tinha a pele muito branca, os cabelos num tom loiro e meio ondulado. Seu rosto, abaixo dos olhos tinam sardas, um charme. Usava um vestido preto casual com bolsos e sandálias rasteiras. Ela tinha tudo para ser a pessoa com o perfil mais único e confiável para psicóloga infantil da empresa Children's Heart World que fabricava fraldas e recentemente havia fundado vários orfanatos destinados a crianças doentes e órfãs. Marketing, claro!

Mas também um ótimo salário de psicóloga; um sonho para quem acabava de se formar na área.

– Lorel Philipens Trypuc. - disse o entrevistador lendo a fixa da candidata.

Lorel cruzou a perna direita e mudou para a esquerda rapidamente. Sorriu com força do nervosismo.

O entrevistador coçou sua barba mal feita abaixo do queixo e olhou com reprovação para Lorel.

– Então, Lorel, me diga: o que você espera nesse emprego?

Lorel demorou um pouco.

Suspirou baixinho e sorriu.

– Bom, adquirir experiência, e...

– Já basta! - ele a interrompeu. - Qualquer coisa entrarei em contato com a senhora.

Lorel se levantou com um nó na garganta e agradeceu na saída.

"Não foi segura o suficiente." apontou para si mesma. "Uma boa psicóloga precisa de postura nos olhos.".

Sentiu vontade de jogar tudo pro ar e voltar para casa dos seus pais.

"Ter me mudado foi um erro."

A entrevista de fato não havia durado nem dois minutos.

"O candidato nunca é o que não serve para a empresa, mas a empresa que não serve para o candidato, lembre-se!" - pensava enquanto se aproximava da lanchonete da esquina.

Ela sentou após pedir um suco de laranja.

Apoiou a mão na cabeça decepcionada, e, depois de um tempo...

– Decepcionada? - perguntou uma voz feminina e tão fina quanto doce.

Lorel se ergueu e viu uma figura de calça jeans preta, blusa fechada roxa, pele um pouco morena e cabelos pretos escovados perfeitamente. Tinha olhos grandes, era bonita! Era uma das candidatas para o emprego, a nervosa.

Lorel assentiu gentilmente reconhecendo-a.

– Parece que eles não estão procurando pessoas recém-formadas na área e extremamente nervosas... - disse e esperou um pouco para completar - posso me sentar com você?

– Sim. - respondeu Lorel posicionando.

– Meu nome é Dorethe, formada na universidade de Boston, moro sozinha, estou solteira e detesto a raça masculina.

Lorel sorriu.

– Meu nome é Lorel, formada na universidade federal de Seattle, moro sozinha desdo ultimo mês, estou solteira e adoro Phill Collins.

– Aquele careca das cordas vocais falidas de 2003? - disse Dore.

– Sim, "On My Way" do "Irmão Urso", a música do meu telefone. - disse Lorel.

– Nunca fui muito fã dos desenhos infantis da Disney, aquilo lá esta cheio de técnica hipnotiza.

– Acho mito! - disse Lorel largando os ombros.

– Vou pedir um sanduíche de atum e suco de frutas tropicais!

Lorel olhou para Dorethe e se remexeu de emoção ao ouvir aquilo.

– Saudade do sanduíche da mamãe! - disse.

Dorethe largou o cardápio e suspirou séria, dizendo...

– Eu também!

Houve silêncio.

– E pensar que desejamos tanto por esse momento... Primeira entrevista de emprego, primeiro lar, liberdade! - suspiraram quase juntas enquanto Dorethe dizia.

– Na verdade nada mudou, ainda sinto vontade de acordar toda manhã de sábado, pegar meu chocolate quente enrolada no meu cobertor e correr pra sala ver Bob Esponja. - disse Lorel.

As duas pareciam opostas e semelhantes ao mesmo tempo. Criadas com bolo e geleia, desenhos animados e chocolates quentes, sábados e sanduíches de atum nos finais de tarde!

Não haviam crescido o suficiente.

– O que vão querer? - disse o garçom alto, moreno e bem grande para caber naquele uniforme.

Dorethe "acordou" em um pulo e sorriu mexendo no cabelo.

– Um sanduíche de atum e suco de frutas tropicais! - ela disse rápida e atenta nos bíceps do garçom.

– E você? - perguntou para Lorel.

– Estou servida, obrigada. - disse gentilmente.

Ele virou e saiu.

– Pensando bem, "Coragem, o Cão Covarde" já teve seu tempo, né?! - disse Dorethe se curvando para Lorel que riu até seus ombros se remexerem.

– Pensei que você tinha dito que detestava os homens. - disse Lorel.

Dorethe levou a mão até a testa sorrindo sarcástica.

– Eu os odeio quanto estão presos a mim!

Lorel levantou as sobrancelhas e bebeu do seu resto de suco. Realmente eram bem diferentes.

– Vejo que você não é muito de comentar sobre garçons morenos e altos. - comentou Dorethe..

– Sempre fui muito quieta e reservada.

– Já saquei, você é crstã, não é?!

Lorel sorriu levantando bem suas bochechas.

– Sim.

Lorel foi criada, praticamente NASCEU dentro da igreja.

– Eu não tenho religião, mas, acredito em Deus. - e com a chegada do garçom, Dorethe completou - Amém?

Lorel sorriu e disse com seriedade:

– Amém!

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Mattew andava com dificuldade na beira do asfalto. Seu jeans havia rasgado na perna esquerda e a machucado em um grande arranhão. Seu rosto estava pálido e manchado de suor. Seu cabelo estava grande e tampava quase toda sua nuca. Ainda chovia.

A camisa de Mattew preta estava manchada de terra e seus dedos sujos.

A fuga havia sido difícil.

Ele avistou um bar onde tocava rock dos anos 80; ele mancou até lá e já sentiu o cheiro de tabaco e produtos químicos suspeitos.

Era pequeno, logo a frente tinha caminhões, motos e até bicicletas em pleno o nada!

Era o único local com luz tirando os carros e caminhões que passavam.

Mattew sentiu o machucado da sua testa arder. A chuva havia aumentado.

Ele esticou a perna esquerda e arrancou um pedaço do seu jeans. Amarrou sobre a testa e foi mancando para o tal bar.

Havia mulheres estranhas a cima do peso e horripilantes juntos com caminhoneiros e andarilhos de bonés de beisebol. Havia a clássica e clichê mesa de sinuca, mas ninguém jogava, havia um galão de cerveja e várias cinzas de cigarro espalhadas nela.

Nem notaram a chegada de Mattew.

Havia um policial com uma das horripilantes garotas. Mattew viu um boné furado no balde de lixo e o colocou para esconder um pouco o rosto.

– Atenção, pessoal! Ei, pessoal! Ei, ei, ei, ei! - gritou um velho de jeans apertado, blusa e jaqueta de supermercado e barbudo em cima da mesa de sinuca COMPLETAMENTE TONTO.

– Vai começar mais um campeonato de "Ei, beba isso, seu merda!" - disse berrando até sua voz ficar rouca e sumir.

Todos comemoraram.

Foram postas várias garrafas no balcão e um circulo se abriu.

– Hoje quem conseguir beber tudo sem vomitar, leva cem dólares e a nossa querida Julie de compania! - disse o velho mostrando uma mulher a cima do peso de cabelos presos em um coque e com dois dentes da frente tortos e sujos.

Mattew levantou o rosto.

Cem dólares cairiam bem agora!

– Quem participa? - gritou o velho.

Um homem aparentemente com 39 anos, bastante musculoso, branquelo e com tatuagens, levantou o braço junto com mais três velhotes barrigudos.

Mattew levantou o braço devagar com a cabeça baixa e foi até a roda. Todos o observavam passar com olhares curiosos.

Ele parecia assustador com aquele trapo todo.

– Temos um forasteiro, olhem só! - disse o velho rouco do jeans apertado.

Mattew permaneceu de cabeça baixa.

– E claro, nosso campeão, BIG JULLIOS! - completou o velho.

O tal Jullios levantou os braços e deu um berro.

Então, foram postos cinco copos.

O barman magrelo de sobrancelhas grossas abriu a primeira garrafa com um líquido vermelho e forte, pimenta com vodka. Depois, colocou a vodka, cerveja e limões.

– Hoje tá fácil!! - disse um dos concorrentes.

– Então, o que vocês estão esperando? BEBAM ISSO, SEUS MERDAS! - berrou o velho rouco dando já o início da disputa. Mattew pegou o copo e logo sentiu o pior gosto de sua vida. Seus olhos lagrimejaram e sua língua ardeu até a garganta.

Seus sentidos falharam. Logo, se remexeu todo.

O tal Big Jullios riu de Mattew.

– Desista, forasteiro!!! - berrou bebendo de uma vez.

Outra remeça foi dada e desta vez foi mais forte.

Dois dos concorrentes caíram já por estrem bêbados antes.

Na outra rodada foi acrescentado licor e vinho.

Big Jullios se remexeu feito um cachorro depois do banho e deu m berro após beber num gole tudo outra vez.

Mattew bebeu tranquilamente mas fervendo por dentro. Ele assustava alguns ali.

– Polícia!!!!! - gritaram cinco policias entrando no bar com cães ferozes com suas patas sujas de lama. Mattew sentiu seu corpo arrepiar e correu como todos alí no bar.

O policial que estava presente levantou em um pulo e tirou sua arma se juntando aos outros.


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Lorel já tirava as chaves da bolsa.

Suspirou.
















- lar doce lar! - disse desanimada. O poste de luz da sua rua havia queimado outra vez. Ventava muito em Seattle naquela noite.





















"Vai chover" pensou com ela mesma.

Ela rodou a chave e sentiu frio na nuca quando imaginou mais uma noite sozinha naquela casa. Abriu a porta e tirou as sandálias alí mesmo. Ligou a luz e ouviu um barulho suspeito vindo do segundo andar da casa.

Engoliu seco e pensou que não era nada.


Foi para a cozinha e tirou um prato embalado no alumínio escrito: "jantar". Ela ligou o microondas e colocou seu jantar para esquentar.

Olhou para o telefone. "0" recados na secretária eletrônica. 1000 x 0 para o desemprego.

Lorel ouviu um barulho novamente horripilante vindo do andar de cima. Engoliu seco e andou devagar até as escadas.

– Tem alguém ai? - disse alto amedrontada. Então, viu um vulto e teve a certeza que havia alguém.

Lorel se assustou e paralisada tirou o telefone do bolso de trás, discou de costas sem a visão e apertou a tecla de emergência "polícia".


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Notas finais do capítulo

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