As crônicas de Nárnia - Feiticeira verde escrita por Isa Holmes


Capítulo 16
Amigo ou inimigo?


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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~ POV Edmundo ~

Antes que eu pudesse decapitar a cabeça daquele maldito infeliz, Pedro soltou uma flecha. Ela atravessou o espaço tão rápido que só podia se notar seu vulto.

O assassino largou a espada, mas não foi acertado pela flecha.

Por que diabos Pedro não o matou?! Com certeza ele vai interrogar o imbecil!

Meu irmão ficou com o arco posicionado caso o assassino reagisse novamente. Devagar, Pedro aproximou-se dele.

Olhei para o céu. As nuvens haviam sumido. A lua estava sozinha. Isso era bom, pois assim ficaria mais claro, e então conseguiríamos ver quem era o miserável.

~ POV Pedro ~

Afastei com o pé a espada que estava jogada no chão.

A luz da lua refletia em seu rosto. Ele era apenas um garoto. Aparentava ter a minha idade. Tinha a pele morena, cabelos negros e olhos azuis.

Antes que eu pudesse me aproximar mais, ele se transformou em uma criatura enorme. Aquilo era maior que um urso!

Aquilo era um tigre com dentes de sabre.

~ POV Edmundo ~

Antes de receber votos passivos, aquele garoto trocou a pele humana por pelugem de animal. Tampouco eu esperava que ele virasse um tigre de linhagem antiga.

Pedro mirou uma flecha novamente no rapaz — ou animal. Que seja! —, mas desta vez seria para acertá-lo. Para matá-lo.

– Pedro! – ouvi uma voz – Não. Não faça isso!

Era a Lúcia. Minha irmã, graças ao bom Deus, estava viva. Porém, teimosa como sempre, se metendo em mais e mais enrascadas.

Lúcia, não! – berrei – Está louca? Saia daí! Saia daí agora!

Fez-se como se não me ouvisse e se aproximou do animal. Pedro ainda estava como arco posicionado. Todo cuidado é pouco... todo cuidado é pouco...

– Está tudo bem – ela dizia – Não vamos machucá-lo, só queremos ajudar.

Quanto mais Lúcia se aproximava dele, menos o animal reagia.

– Pedro ­– ela murmurou – Abaixa a flecha, por favor.

Meu irmão hesitou, mas logo relaxou os braços e a obedeceu.

Quando Lúcia estava perto do rapaz o suficiente para ele machucá-la, ela começou a acariciá-lo.

– Está tudo bem – ela sussurrou no ouvido dele – Quero ajudá-lo. Se você voltar a sua forma normal, podemos conversar e eu posso cuidar do seu ferimento.

"Ferimento?! Se ele tem um ferimento, por qual razão ele queria matar minha irmã?"

Eu estava tão concentrado em devaneios, tentando achar respostas para as minha pergunta, que nem havia percebido que ele voltara a sua forma normal. Era apenas um garoto com olhos azuis, pele morena, cabelos negros e magro – muito magro mesmo –, que parecia que estava sem comer há dias. Apesar da falta de massa, ele demonstrava ser forte.

Virei-me e percebi que Rilian também estava acordado. Ele estava parado enquanto via a cena. Mexi na cabeça como se sentisse dor.

Virei-me então novamente para o garoto. Logo percebi o ferimento no braço direito. Era algo grande e profundo. Parecia um arranhão recente.

Um pouco incomodado, ele nos convidou para entrar na cabana.

O rapaz acendeu uma pequena lareira – e com fogo acendeu algumas velas. Era um lugar simples. Sem luxo, sem quase nada.

~ POV Lúcia ~

Perguntei ao garoto se eu podia usar um pouco da água que ele continha em um balde de madeira para limpar o ferimento. Ele concordou, movimentado a cabeça para cima e para baixo, sempre mantendo os olhos grudados ao chão. Despejei um pouco da água no balde vazio que havia em um canto e molhei o pano que eu havia usado para ajuda Edmundo a um tempo atrás. Coloquei o balde em cima da mesa e me sentei ao lado direito dele.

–Tyler. Tyler Moore – o garoto sussurrou.

– Desculpe-me?

– Esse é o meu nome – afirmou ele – Me chamo Tyler.

– Oh – sorri, passando o pano pelo seu braço, ouvindo um resmungo de dor – Desculpe, tentarei tomar mais cuidado. Diga-me, Tyler. Como fez isso?

Incomodado, o menino demorou a responder.

– Fui pegar um pouco de água em um lago perto daqui. – começou ele, sempre com os olhos pregados ao chão – Lá havia um urso e, e e-eu estava com fome. Ataquei-o, é claro, mas ele conseguiu fugir e me deixou esse... presente.

– Estava com fome, não é? – perguntou Rilian, olhando de uma cesta de frutas ao garoto quieto – Ora. Você tem uma porção de frutas aqui.

Tyler fungou.

– As frutas não preenchem minha fome – resmungou entre destes –, eu preciso comer carne para dizer que estou saciado.

Rilian calou-se. Eu estava terminando de limpar o ferimento quando lembrei que havia esquecido de guardar meu quite de cura na bolsa, e acabei deixando-o perto do lago. Por sorte Edmundo talvez tenha o guardado na bolsa, mas, infelizmente, ele não estava com ela. Habilidosa, resolvi amarrar o pano no ferimento do braço do Tyler.

– Raramente eu acho uma presa nessa área da floresta... – Tyler riu-se.

– Faz quanto tempo que você está assim Tyler? – perguntei.

– Há alguns dias, eu acho.

~ POV Edmundo ~

Enquanto Tyler conversava com os outros, comecei a ler o livro que estava em cima de sua cama. Era um Livro de poções. Marcado em uma página específica, encontrei algo chamado como Jundlê - poção do sono.

Do garoto ao livro, do livro ao garoto. Encarei-os algumas vezes até manter-me concentrado no rapaz. Fechei o livro e me levantei, andando em direção aos demais.

– Você gosta de fazer poções Tyler? – perguntei mal me importando com minha arrogância.

– Não – respondeu ele – Por quê?

Joguei o livro a sua frente.

– Por que você tem um livro de poções, e, ironicamente, ele está marcado com uma trapaça absurda. Fala logo! Desembucha o que você está escondendo!

~ POV Lúcia ~

Tyler começou a ficar vermelho depois de ter escutado poucas e boas de Edmundo.

Ele levantou...

– Eu não sou obrigado a ouvir isso.

...Mas Edmundo o impediu. Empurrou-o de volta para a cadeira e o encarou.

– Tem alguma coisa que ainda não nos contou Tyler? – perguntou Edmundo, abrindo o livro e marcando o que havia mencionado.

Com medo o garoto desembuchou.

– Bem... Há alguns dias eu estava andando por aí, procurando alguma presa. Com sorte alguma achei apenas uma caverna. Curioso, fui explorar, sabe? – ele olhou para mim e para mais ninguém – Pela juba do grande leão... Nela mora a moça mais linda que eu já havia conhecido. Kathryn, se não me engano. Controlei-me e não a ataquei, é claro. Como uma advinha ela deduziu o meu estado, disse que eu estava passando por maus bocados e que minha barriga estava vazia. Como uma dama convidou-me para entrar. Aceitei, claro – Tyler pausou, respirou fundo e voltou a me encarar – Por pena, eu acho, ela me ofereceu vários aperitivos, mas, claro, nada me saciava. Ela, preocupada, perguntou por que eu estava daquele jeito. Expliquei então quem eu era. Kathryn disse que mexia com magia e que talvez pudesse me ajudar. Pegou então o livro de poções e me mostrou a poção do sono. Ela disse que se eu preparasse aquela poção e deixasse em um lugar que alguém se interessasse, a pessoa ou o animal acabariam dormindo e ficariam por cerca de alguns minutos no sono mais profundo de sua vida. E esse seria o tempo em que eu pudesse reagir, matar e saciar isso que chamamos de fome.

– E você despejou a poção nas flores? – perguntei.

– Não despejei em todas, despejei na rósea. Ela era a mais bonita, não acha? Pois bem. Achei que alguém pudesse ficar encantado com ela e então a pegaria. Beber essa poção não é a única forma de atingir o sono, o olfato também é útil. Legal, não acha? Eu acho.

– Por isso que quando Rilian e eu pegamos aquela flor... apagamos.

– Exatamente. – sorriu ele pela primeira vez – Kathryn disse que eu estava com sorte porque tinham humanos vagando na floresta. Se eu soube-se que você eram tão legais – ele viajou os olhos em todos nós e hesitou quando encarou Edmundo –, ou pelo menos apenas você, eu não faria isso.

– Acho que está tudo bem, Tyler.

Ouvi um fungado.

– Você que pensa... – debochou Edmundo.

Encarei meu irmão.

– Edmundo, por fa...

– Lúcia – interrompeu Rillian – É melhor voltarmos. Não acha que Aslam deve estar preocupado?

– Aslam? – Tyler, surpreso, com olhos saltados e músculos contraídos, encarou a mim e a Rilian. – Estão zombando? Aslam existe?

– Sim. Por que a surpresa?

– Meus pais... eles contavam histórias do grande felino para mim. Achei que ele fosse um mito. Desculpe a sinceridade, mas não posso provar que algo é real se nunca o vi.

– Onde estão seus pais? – perguntou Pedro.

– Me perdi deles com quatorze anos, eu acho. Quatorze ou treze? Não me lembro, desculpe. Eu era jovem, tenho apenas isso a dizer.

– Se você vier conosco, talvez Aslam possa ajudar.

– Sério? – Tyler sorriu – Depois de tudo o que aconteceu, vocês querem ser meus... amigos?

– Claro Ty. Você não fez nada por mal. Talvez possamos até achar alguma coisa para você comer.

Todos, menos Edmundo, é claro, aceitaram, indiferentes, sobre Tyler viajar conosco ou não. O garoto não quis levar nada, a não ser um livro com título Lendas.


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