Soltei o rosto de Nessie. Eu sentia meu corpo flutuar de prazer. Tinha sido o melhor beijo da minha vida.
Ela me encarava com os olhos arregalados e a boca aberta num O perfeito. Eu via a fumaça sair de sua boca enquanto ela tentava controlar o fôlego. Passaram-se segundos e ela não disse nada, ainda me encarava com a mesma boca aberta. Eu estava agoniado. Será que eu tinha feito merda? Será que eu tinha estragado o único resquício do que restava da nossa amizade decadente, que antes era perfeita?
Ela ainda não havia falado nada.
Comecei a ficar nervoso. Ela tinha fechado a boca, mas seus lindos olhos cor de chocolate ainda me encaravam, arregalados e perplexos demais. Eu perdi as estribeiras.
– Fale alguma coisa! Você está me matando! Renesmee! – Sacudi os ombros dela.
Ela reagiu rápida e inesperadamente: em um momento estava sendo sacudida por mim, no outro puxava meu rosto para mais um beijo. Ela me beijava com energia, prendendo meu rosto ao dela. Porém eu era muito alto, então puxei sua perna para cima e a encaixei no meu quadril.
Quando Renesmee soltou meu rosto, ela me encarou. Seus olhos ardiam.
– Porque você nunca fez isso antes?
Eu fiquei sem resposta. Ela também queria? E esse tempo todo... Nós...
– Não sei – consegui dizer.
– Você é um idiota – ela sussurrou por trás de um sorriso.
– Eu sei. – Voltei a colocar sua boca na minha.
Parecia um sonho. Eu devia estar sonhando. Provavelmente desmaiara na neve e agora a temperatura estava fazendo brincadeiras com meu cérebro. Era surreal. Ter a garota que eu mais desejava na vida, em meus braços. Beijando-me. Dizendo que ela me queria tanto quanto eu a queria. Eu não me cabia de felicidade.
Desci Nessie do meu colo com delicadeza, ela me abraçou.
– Que pena que você já tem par pro baile... – Ela resmungou.
Eu ri. Tudo aquilo do baile tinha sido inventado, era tudo para ela sentir ciúmes, o que na época, ela não pareceu sentir. Tinha me deixado realmente bravo. Mas Nessie era tão esperta, será que ela achou mesmo que um dia eu fosse sair com alguma daquelas patricinhas da sua antiga escola?
Passei a mão pelos cabelos dela.
– É, eu vou, com a minha namorada. – Eu disse.
Ela olhou para cima, os olhos se arregalando de novo.
– E quem seria? Aquela menina que...
– Você.
Renesmee parou de falar, sua boca ficou escancarada. Ela piscava rapidamente, como se tentasse processar as coisas que eu dizia. Será que eu tinha ido rápido demais? É que eu queria tanto aquilo, há tanto tempo...
– Mas eu não tenho roupa! – Ela falou.
Eu ri. De todas as formas de negação que ela poderia expressar, ela dizia que não tinha roupa.
– Vai nua, vai ficar mais perfeita ainda – Eu disse.
Renesmee deu um beliscão na minha barriga.
– Pare de ser leso. Eu estou falando sério. Não posso ser vista feia ao seu lado. – Ela franziu a testa. – Imagina só: a namorada feia e o namorado lindo. Nós não podemos ser assim.
Nós. Namorada. Namorado. Só de ouvir aquilo minha vontade era de sair dando estrelinhas pela neve.
– É mais fácil ser o contrário. – Falei.
Renesmee bufou e começou a me puxar para a garagem.
– Vou agora ao centro, ainda dá tempo de comprar alguma coisa.
– E o seu trabalho? – Perguntei. Não queria que ela fosse embora.
– Não dá nem mais tempo mesmo. Esquece essa porcaria. – Eu a puxei para a parede. – Jacob...
Puxei-a de novo para o meu colo e voltei a beijá-la. Renesmee riu.
– Convite tentador, mas eu preciso muito mesmo ir. Baile amanhã! – Ela riu e me beijou mais uma vez. Depois escapou de mim e correu para o carro.
– Amanhã, as sete. – Gritou. Observei-a tirar o carro e disparar na direção de Forks.
Eu me joguei na neve, mexendo os braços como se fosse fazer um anjo. Por mais fria que estivesse a neve, a temperatura não me abatia. Eu não sentia minhas roupas ficando cada vez mais molhadas. Eu olhava para o céu nublado e sorria, como se estivesse fazendo um dia ensolarado e perfeito.
– Deve estar muito feliz mesmo.
Levantei da neve em um pulo.
– Quil... você... viu... ahn...?
Quil juntou um pouco de neve com as mãos.
– Eu vi sim, Jacob.
Meu coração pareceu parar por um segundo. Eu não sabia se Quil ainda sentia algo por Renesmee. Ele não quisera ir a fundo com seu relacionamento com Margaret, mas desde então tinha tido vários rolos com diferentes meninas, algumas até da escola particular. Eu tinha medo acontecesse agora a mesma coisa que tinha acontecido no passado.
– Bem... Quil...
Quil começou a jogar a bola de neve entre as mãos.
– Tudo bem, Jacob. Eu não sinto mais nada por ela... E cara, eu já sabia que isso ia acontecer.
– Desde quando?
– Desde que ela veio falar a primeira vez com você.
Fiquei me perguntando como Quil conseguira racionar isso. Na época, eu tinha namorada e Renesmee era só uma novata vinda do território dos “caras-pálidas” para o território dos índios.
– Então está, tudo bem mesmo?
Quil sorriu.
– Jacob, aquela garota te ama. Vai por mim. Não dê bobeira, você nunca vai encontrar alguém como ela. – Ele atirou a bola de neve em mim. – Tenho que ir. Eu só a vi a cena toda porque estava pegando um atalho para a casa de Emily.
– Porque você não foi para a escola hoje? – Perguntei, jogando outra bola de neve nele.
– Não quis. Uma garota foi lá em casa e... – Ele parou e sorriu. – Enfim, quero comer os bolinhos de Emily. Tchau.
– Espero que sejam só os bolinhos dela – gritei. Quil estirou o dedo para mim.
O resto da tarde e da noite foram agonizantes. Eu queria estar com Renesmee, agora que eu sabia que podia ficar com ela do jeito que eu desejava. Mas Renesmee não voltou, apenas mandou um SMS durante a noite, dizendo que tinha achado o vestido perfeito, e que amanhã seria maravilhoso. Porém ela iria me encontrar na escola, então eu não devia ir buscá-la em casa.
No dia seguinte eu acordei animado. O dia continuava escuro e cinzento, e lá fora tinham montes de neve de três metros de altura para tirar do caminho, mas mesmo assim eu ainda achava tudo perfeito. Nessie não me ligou ou mandou mensagem durante o dia todo. Eu já estava quase indo até a casa dela. Já tinha ligado 35 vezes e nada de resposta. Quando eu estava procurando a chave do meu carro, ela mandou um sms:
Jacob, pare de me ligar! Vc sabe que estou me arrumando! Fique calmo. Bj.
O.k, não era a melhor resposta que ela poderia me dar, mas pelo menos me fez guardar as chaves.
Quando o relógio bateu seis e cinquenta eu saí de casa. Não era nem um quilômetro de distância até a escola, mas eu não queria me atrasar em nada.
A escola ainda estava um pouco vazia. Eles tinham aberto um caminho pro entre a neve e colocado arbustos de flores falsas para impedir que ela avançasse de novo. O caminho ia da frente da escola, depois passava pela lateral para chegar aos fundos, no ginásio. Eles também tinham coberto as flores com luzes vermelhas e azuis e pendurado viscos. Algo bem natalino e romântico ao mesmo tempo. Até o estacionamento estava enfeitado com vários símbolos de natal e luzes gigantes. Alguém tinha feito um belo boneco de neve, porém algum aluno tirou o nariz de cenoura e o colocou mais embaixo, fazendo com que a escultura de gelo tivesse um pênis laranja.
Vários casais passavam por mim, outros alunos vinham em grupos e tinham os corajosos que vinham sozinhos. Até que as meninas estavam bastante bonitas. O que a puberdade não fazia. Eu ainda me lembrava de três anos atrás, quando a maioria das garotas eram feias e as poucas bonitas não davam trela pra nós. Eu era um dos poucos sortudos que tinham porte para pegar algumas delas, até algumas mais velhas.
Escutei de longe a música Welcome to the Jungle, a preferida de Renesmee, e cinco segundos depois ela entrou a toda velocidade no estacionamento, seu carro chamando mais atenção do que o dos outros. O teto do conversível estava levantado, então eu não conseguia ver como ela estava.
As luzes piscavam ritmadamente, em diferentes sequências. Quando Renesmee saiu do carro, elas apagaram, deixando tudo praticamente no escuro. Quando a luzes acenderam, Nessie estava parada na minha frente. Ela estava tão perfeita quando em seu aniversário.
A diferença agora era que ela era minha.