Wills House escrita por BoseBlut


Capítulo 3
Capítulo 3 - William Wilson Parte 1




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– TOM! TOM! – Andy gritava batendo na porta, mas não ouvia nada do lado de dentro. – Está me ouvindo? Diga alguma coisa!

 Ele caminhou na direção de uma das janelas para tentar olhar o lado de dentro da casa, mas foi arremessado novamente na grama pela mesma força invisível.

Neo estava inconsciente no chão. Zack observou de olhos arregalados quando Andy havia sido arremessado de volta na grama.

– O que fazemos agora? – Zack perguntou, sem retirar os olhos da casa.

– Eu não sei. Talvez devêssemos tentar entender o que há de errado com essa casa antes de  entrar novamente para resgatar o Tom. Peguei este caderno enquanto estávamos lá dentro no sótão. – Puxou um caderno com espirais de dentro do casaco e se agachou na grama, tateando pelos óculos perdidos. – É o diário do tal Will.

– E Neo?

– Amarramos ele na cama do hotel. Não quero deixar o Tom para trás, mas não parece que vamos conseguir entrar nessa casa de novo, por hora. Aqui , Zack, me ajude a carregá-lo.

Os dois desceram a colina, arrastando o corpo pesado de Neo apoiado nos ombros, e regrassaram para o hotel. O velho de branco estava sentado na mesma cadeira na porta do hotel e acenou amigavelmente ao ver os três se aproximando.

– Hum. Pelo visto conseguiram o amigo de volta. Mas parece estar faltando alguém nesse grupo...

– Não temos tempo pra isso agora. – Andy respondeu carrancudo. Estava suando devido ao peso do corpo inerte que carregava e aquele velho já o estava irritando. Parecia que esperava o regresso deles todos os dias só para provocá-los com algum comentário maldoso.

– Outros sairiam correndo depois do primeiro desaparecimento. Ou tentariam chamar a policia. Mas vocês ainda estão aqui. – O velho acenava a cabeça, em tom de aprovação e deboche ao mesmo tempo. – Vocês são um grupo estranho, sabiam?

 Os dois bufaram e passaram pelo velho que os observava com um ar divertido.

– Achei essas cordas num almoxarifado do hotel. Vamos amarrar Neo com elas. – Andy disse, minutos depois de terem entrado no quarto e se livrado do peso do corpo de Neo.

– Andy, isso é estranho. Ele está suando e desde que chegamos, não para de se debater na cama. Talvez devêssemos chamar um médico...

– Você viu os olhos dele? Não dá pra chamar um médico aqui. Isso é loucura. Não sei como fazer Neo voltar a si, mas talvez a resposta esteja nesse diário ou na história daquela casa. Estou exausto. Ele parece leve, mas não é fácil descer uma colina carregando um corpo inerte. Vamos até a polícia amanhã e ver o que conseguimos fazer. E até a biblioteca também, procurar algumas respostas. Enquanto amarro Neo na cama, peça alguma coisa pra gente comer, antes que Neo acorde e nos faça de jantar.

Andy estava nervoso e com fome. As duas coisas juntas sempre o faziam falar demais. Sem Neo ou Tom para interrompê-lo as palavras escapavam facilmente da sua boca.

Neo teve os pés e as mãos amarrados á cama. Andy teve o cuidado de cobri-lo com um cobertor, já que estava sem camisa. Ele não ousaria mexer nas roupas do amigo, sabia como ele odiava que fizessem isso. Tudo deveria estar no lugar que ele havia colocado antes.

Antes de se deitar, Andy pegou o pequeno caderninho que havia encontrado na casa e começou a ler. As páginas estavam um pouco amareladas e começavam a se soltar, sendo preciso manuseá-las com cuidado. A primeira página estava em branco, e a segunda, trazia a data no topo e uma anotação escrita á mão, numa letra perfeitamente legível. As páginas seguiam, cada qual com a sua data e seu curto comentário.

21/12/1949

Já é quase natal. A mulher que se julga minha mãe ainda não voltou de viagem. Acho que não vai voltar mais. Desde que se encontrou com aquele homem, nem sequer lembra que eu existo. Ninguém deve gostar de ter um filho deformado como eu. Estou bem enquanto não tiver que sair dessa casa. Odeio essa cidade.

14/03/1950

É meu aniversário de 17 anos. Minha mãe não voltou. Fui perseguido por alguns idiotas da escola quando voltava para casa. Gritavam aberração enquanto corriam atrás de mim, armados de pedaços de paus e pedras. Mas ninguém gosta da casa que eu moro por pensarem que é assombrada. Ninguém descobriu ainda que sou eu quem a assombra graças ao meu achado. Encontrei um livro interessante. Estou protegido enquanto estiver com ele.

19/03/1950

Houve um incêndio na mata da colina. Deus, como eu odeio fogo. Se não fosse pelo meu livro sabe-se lá até onde o fogo teria chegado...

04/08/1950

 Não sei o que fazer. Não tenho energia suficiente para manter essa coisa. Odeio essa cidade. Todos me encaram aonde quer que eu vá. Alguém sumiu enquanto caminhava na floresta e eles acham que fui eu.

 Nas páginas seguintes havia vários rabiscos e desenhos de símbolos que Andy não conhecia, até voltar ao relato escrito de William. Andy achou melhor dormir e continuar a leitura no dia seguinte, aproveitando para tentar encontrar o significado daqueles símbolos quando fosse á biblioteca.

–Andy! Andy! – Zack o segurava pelos ombros – Neo está acordando. O que a gente faz?

Andy piscou, tentando clarear a visão. Como assim o que a gente faz?

– Zack, Andy, me soltem! O que está acontecendo?

 Neo gritava, intercalando entre uma espécie de rugido gutural e um gemido baixinho de sofrimento. Andy se aproximou, observando os olhos do amigo. Ia de transparente ao castanho escuro, alternando enquanto Neo gritava. As presas pontiagudas ainda estavam evidentes.

– Feche as cortinas. – Andy ordenou, vendo que o sol que entrava pela janela estava causando queimaduras nos lugares em que atingia a pele de Neo.

– Andy, o que está acontecendo comigo? – Neo gemia e se debatia na cama.

– É o que eu vou descobrir, Neo. – Andy falou mais para si mesmo do que para o amigo, que provavelmente não ouviria nada entre os gritos que soltava. Pegando o caderno de William, se virou para Zachary – Cuide dele enquanto eu vou descobrir que porra está acontecendo aqui.

 Andy saiu do hotel e andou até encontrar a delegacia de polícia. Lá, havia um único guarda fardado sentado com as pernas em cima da mesa enquanto assistia á um filme qualquer na TV.

– Com licença – Pigarreou, tentando fazer o policial desviar a atenção da tela. –, eu preciso de ajuda.

– Deixe me adivinhar. – Ele levantou o olhar e examinou o garoto loiro por um instante. – Você não é daqui. Provavelmente veio com amigos e ficou preso na cidade por causa da ponte quebrada. Alguém teve a idéia de caminhar pela colina e encontraram uma casa até que alguém se perdeu naquele lugar. Me corrija se errei alguma coisa até aqui.

– Mas é que...

– Escuta, garoto, ninguém aqui vai te ajudar. Ninguém aqui quer saber de nada que aconteça naquela casa ou naquelas redondezas. A única ajuda que eu posso te dar é dizer para ir embora antes que algo pior aconteça.

 O guarda voltou sua atenção para a TV e Andy ficou calado, sem saber o que dizer. Antes de sair, reparou que não havia ninguém na delegacia além daquele guarda. Até mesmo as celas estavam vazias.

 Bom, procurar ajuda da polícia aparentemente havia sido perda de tempo, pensou consigo. Teria que procurar outro meio de tirar Tom de dentro daquela casa sem que mais ninguém ficasse preso por lá. Talvez tivesse mais sorte na biblioteca.

 A biblioteca municipal não ficava muito distante da delegacia, afinal, era uma cidade pequena. Andy pretendia procurar por qualquer notícia sobre a casa e seus moradores, e também tentar encontrar o significado dos símbolos que ele vira desenhado no diário.

Não era uma construção enorme e rebuscada, mas era um prédio bonito, construído em  estilo vitoriano e com um único andar. Na verdade, Andy notou ao entrar, era apenas um enorme salão lotado de prateleiras de livros que preenchiam as paredes até o teto.

 Havia uma garota, com pouco mais de 20 anos, sentada em uma enorme mesa de madeira logo depois da entrada. Tinha brilhantes cabelos cacheados e loiros e o rosto parcialmente coberto por óculos enormes que exageravam o tamanho dos seus olhos. Ao ver Andy entrando, abriu um singelo sorriso de boas vindas.

– Posso ajudar?

– O que sabe sobre a Will’s House? – Andy foi direto, não queria perder mais tempo. Se nada ali pudesse ajudar, ainda tinha o restante do diário para ler.

– Ah, nem me pergunte isso. – Ela respondeu, ainda sorrindo, porém visivelmente desconfortável.

 Andy abaixou a cabeça e suspirou, colocando as mãos sobre a cintura.

– Por que você iria querer saber sobre aquele lugar? Não me diga que... Ah, você deve ter ido...

– Eu... – Andy  interrompeu. –Nós fomos. E eu preciso de ajuda.

– Olhe, – Ela falou sussurrando, fazendo sinal para que ele chegasse mais perto. – talvez encontre algumas notícias em um dos jornais mais antigos daqui. Talvez isso te ajude. Por que não dá uma olhada naquela prateleira, lá no fundo? – Ela apontou para o outro canto do salão.

– Obrigado. – Andy disse, sentindo uma pontada de esperança crescer no peito.

– Pelo o quê? Eu não disse nada.  – Ela balançou os ombros, fazendo Andy imaginar que haviam acabado de compartilhar um segredo.

 Ele então caminhou desajeitado até o lugar que ela havia apontado, onde encontrou pilhas de jornais organizadas de acordo com o ano de impressão e começou a vasculhar, procurando por qualquer coisa que remetesse a Will’s House.

 E por mais que procurasse, não encontrava nada. Quando já estava perdendo as esperanças, encontrou uma única matéria em um jornal embolorado, datando de 1933.

Moradora coloca fogo em sua própria casa

Anita Wilson, 42, foi encontrada carbonizada em sua casa na colina Benson. A filha e o neto recém-nascido escaparam de um incêndio provocado por Anita nesta madrugada. A filha alega que a mãe a muito não estava sã e teria incendiado a casa em um de seus ataques de loucura.

 Andy decidiu procurar notícias sobre alguém desaparecendo na colina, já que isso havia sido mencionado no diário de Will. Não se surpreendeu ao descobrir que após o primeiro desaparecimento na colina em 1950, outros mais vieram a aparecer. Eram dois ou três sumiços por ano, apenas uma pequena nota de desaparecimento em um canto do jornal, mas Andy conseguiu encontrá-las. Após certo tempo, as notícias dos desaparecimentos desapareceram por completo dos jornais seguintes.

 Não encontraram quem estava fazendo as pessoas sumirem, pensou, então desistiram até mesmo de procurar.

Como os jornais não estavam publicando mais sobre os desaparecimentos, Andy pensou em procurar na internet então foi até a recepção.

 – Hum, com licença, er, senhorita...

– Amanda. – Ela levantou os olhos do enorme livro que estava aberto sobre a mesa. – Me chamo Amanda.

– Certo, Amanda. Tem algum computador por aqui?

– Tem, aquele ali. É meio antigo, mas tem internet.

– Ótimo, vai servir.

Andy correu impaciente até a mesa do computador e começou a pesquisa.

Como ele suspeitava, os desaparecimentos continuaram ano após ano, mas com um detalhe a mais. Coincidentemente ou não, a ponte que impediu que ele e o restante da banda partissem para o seu destino sempre se encontrava danificada na véspera de um desaparecimento. Andy começava a enxergar uma teia envolvendo todos os acontecimentos. Mas ainda faltava algo. Por que as pessoas sumiam e com que essas pessoas eram sequestradas?

 E ainda tinha os símbolos desenhados no diário. Precisava pesquisar sobre aquilo.

 Não encontrou muita coisa que ajudasse a esclarecer os fatos. Havia o que ele descobriu ser uma cruz de Ansata desenhada em uma das páginas, que poderia simbolizar a vida física eterna e também seria um talismã contra forças ruins. O outro símbolo ele reconheceu facilmente, um pentáculo. O restante ele não conseguiu reunir muita informação, mas todos levavam a crer que se tratava de proteção e vida eterna.

– Não pode ser coincidência. – Pensou em voz alta.

– Disse alguma coisa? – Amanda perguntou, trazendo uma xícara de café.

– Não, nada. Apenas pensei em voz alta. Obrigado pelo café.

– De nada. Mas desculpe, eu preciso fechar a biblioteca.

– Ah, certo. Tudo bem, eu já terminei o que eu precisava fazer. – Andy se levantou, fechando o diário e guardando no bolso interno da jaqueta.

– Você... descobriu alguma coisa? – Ela murmurou.

– Acho que sim.

– S-se você conseguir sair dessa cidade pode me fazer um-m favor?

 Ela estava nervosa com alguma coisa, mas Andy não sabia se devia perguntar.

– Claro.

 Amanda estendeu as mãos que tremiam, e entregou um envelope para ele.

– Pode entregar isso para minha mãe? Ela mora nesse endereço atrás da carta, não é uma cidade muito longe daqui. Eu... Eu não posso ir. Por favor, só gostaria que ela soubesse... – Andy acenou com a cabeça e pegou a carta, guardando junto do diário.

– Você tem de ir embora. – Ela disse, puxando-o pelo braço quando ele fez menção de se virar para a porta – Não só da biblioteca, como dessa cidade. Qual o seu nome?

– A-Andy. – Ele gaguejou, sem saber se era pela situação ou se a gagueira repentina de Amanda era contagiosa.

– Você tem que ir, Andy, antes que seja tarde. Por favor, não se esqueça da minha carta. – Ela disse, empurrando-o para fora da biblioteca e trancando a porta imediatamente antes mesmo que ele pudesse se despedir.


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