Wills House escrita por BoseBlut


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Vampiro


Notas iniciais do capítulo

Olááá se alguém estiver lendo espero que esteja gostando da história, logo vou postar outro capítulo. Boa leitura!!



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Eles correram sem olhar para trás, enquanto a chuva caia sobre o solo escorregadio. Ninguém falou nada quando Tom escancarou apressadamente a porta do quarto em que ele estava hospedado com Neo, mas, quando não o encontraram lá dentro, a tensão se tornou perceptível. Tudo estava exatamente como eles haviam deixado.

Tom imediatamente marchou a passos largos até a recepção e perguntou ao sujeito arrogante que se sentava atrás do balcão se ele havia visto Neo nos últimos minutos e, quando o recepcionista deu de ombros, foi preciso que Zack e Andy segurassem Tom para que ele não agarrasse o recepcionista pelo colarinho e o espancasse até demonstrar algum interesse no assunto.

Andy manteve a calma o tempo todo, e foi o primeiro a sugerir que eles saíssem para procurar Neo, ainda que estivesse chovendo. Eles se recusavam a crer que algo sobrenatural pudesse ter pego Neo enquanto estavam na casa. Era possível que ele tivesse ido embora sem que ninguém percebesse. Se não o encontrassem na cidade, então, só poderia ter ficado preso na mata que cobria a colina.

Eles andaram por todos os lugares que já haviam conhecido durante o dia, mas não encontraram nenhuma pista de onde Neo poderia estar. Tom mantinha as mãos cerradas, aflito. Nunca pensara que poderia algum dia perder o irmão, ainda mais por uma bobeira causada por ele próprio. Tudo o que ele queria era bater em alguma coisa naquele momento, mas não gostaria de quebrar os dedos socando um muro qualquer.

As ruas estavam vazias e todos os estabelecimentos fechados. Já se passava da meia-noite quando eles decidiram voltar ao hotel e continuar a busca no dia seguinte. Estavam ensopados de água, cansados e tremendo de frio.

– Dia ruim? – O velho do dia anterior perguntou sentado na mesma cadeira na calçada do hotel. – Pensei que á esta hora já estariam em outro lugar.

– Você, seu maluco. Por sua causa eu fui até aquela maldita casa. Onde está o meu irmão? – Tom acusou, como se o desaparecimento de Neo tivesse sido causado por aquele senhor idoso.

– Falando assim, até parece que os forcei a ir até lá. – Ele sorriu astuto, seus assombrosos dentes amarelados pelo tempo e suas rugas transformando aquele rosto em uma caricatura – Como eu poderia saber onde ele está? Além disso, eu avisei que quem ia até lá não voltava. Se vocês não acreditaram o que eu poder...

– Desgraçado... – Tom avançou, se lembrando claramente do velho apontando a bengala para a colina. Era óbvio que o havia incitado a ir até lá. Ele não ligaria para uma maldita colina com uma casa velha se não fosse por causa daquele velho.

– Tom! –Zack o segurou por trás antes que ele avançasse no idoso. Zack era o mais forte dos quatro, com seus ombros largos e braços malhados poderia segurar qualquer um deles, só encontrando dificuldade em Tom, que era mais alto e quase tão forte. – Fique calmo, nós vamos encontrá-lo.

– Se o perderam lá em cima talvez devessem voltar lá e procurá-lo... – O velho arqueando as sobrancelhas e lhes dando um sorriso zombeteiro.

– Eu vou quebrar a cara desse velho. – Tom continuou, se desvencilhando de Zack.

– Tom, nós somos uma banda mundialmente conhecida. Ou quase. Nós não batemos em velhinhos. – Zack tentou contê-lo.

O homem se levantou da cadeira e cordialmente tirou o chapéu branco para eles, colocando de volta ao virar as costas e caminhar para longe, enquanto Zack puxava Tom para dentro do hotel.

– Só um soco, Zack, ninguém vai ficaria sabendo.

Zack encarou Andy. Sempre alguém ficava sabendo, não importava o que eles fizessem para tentar encobrir. Certa vez, Andy fora agredido em um bar e Tom imediatamente o defendeu. Andy era baixinho, mas não muito. Ao contrário dos outros, possuía uma certa carga de gordura ao invés de músculos mais desenvolvidos e por isso, não podia se defender de um cara com o dobro do seu tamanho e que provavelmente morava em uma academia. Foi preciso que Tom usasse habilmente os punhos para que o sujeito se desse por vencido, mas o resultado disso foi pelo menos um mês aguentando fotos e jornais de fofocas estampando orgulhosamente o sujeito com a cara quebrada.

Se dependesse de Tom, eles teriam voltado à colina ainda naquele dia, mas seria mais fácil procurar alguém durante o dia. Tom se dirigiu abatido até o próprio quarto, mas não conseguiu dormir. Quando fechava os olhos, imaginava ainda estar na casa da colina. Imaginava as paredes de madeira exatamente como as havia visto durante a tarde, mas o chão estava repleto de milhares de esqueletos humanos e ele podia ouvir a voz do seu irmão gritando, implorando. Era impossível dormir sozinho naquele quarto, encarando o leito vazio que o irmão deveria ocupar. Ele se levantou e puxou o colchão para fora da cama e o arrastou até a porta do outro lado do corredor.

Zachary abriu a porta sem precisar falar nada, Tom colocou o colchão no canto do quarto e se deitou.


O dia amanheceu escuro devido ao mal tempo que persistia. Ninguém queria realmente voltar até aquela casa, mas era o único lugar que eles pensavam que Neo poderia estar. Começariam procurando no meio das árvores e por fim iriam até a casa.

Atravessaram as ruas estreitas de calçamento de pedra até a trilha de terra que subia a colina. As árvores altas impediam que a maior parte da radiação solar chegasse ao solo, ainda que seus galhos mais baixos estivessem secos e sem vida, o que tornava o cenário ainda mais atemorizante. A idéia de se dividir para procurar o amigo nem mesmo passou pela cabeça do trio. Não poderiam arriscar que mais alguém se perdesse.

Se desviando da trilha pela esquerda, eles vagaram sem rumo pela mata, gritando e procurando em cada canto que estava á vista. O cheiro de terra molhada pairava no ar junto do barulho insistente do farfalhar de folhas e o canto dos grilos. Por fim, desistiram de procurar naquela área e concordaram em descer de volta á cidade e almoçar, para então, averiguar o lado direito da colina.

Não estavam famintos, mas almoçaram num pequeno restaurante na pracinha onde a trilha para a Will’s house começava. Estava vazio como a maioria dos estabelecimentos da cidade e ninguém ali parecia se importar se havia clientes ou não. Os poucos funcionários lançavam olhares maldosos para os três de tempo em tempo, como se a presença deles fosse incomoda.

Ao final, perguntaram ao pequeno homem carrancudo que os serviu como estava o conserto da ponte e descobriram que ela já estava quase pronta. Poderiam partir no dia seguinte se quisessem.

Mas teriam que achar Neo primeiro e, portanto, voltaram até a colina depois de um breve descanso, retomando a busca pelo lado da trilha que ainda não tinham procurado.

– Isso é bobagem. Sabemos que ele sumiu dentro da casa. Temos que ir lá enquanto ainda é dia.

–Andy tem razão, Tom, a essa hora Neo já teria nos ouvido chamar.

Tom não respondeu. Algo nele também dizia que deveriam ir até a casa, mas também dizia que não era algo que devia ser feito. Talvez estivesse com medo do que encontraria lá. Tentava não pensar na idéia de encontrar o irmão morto em uma poça de sangue no meio da casa.

– Vamos até lá. – Disse por fim, suspirando.

As portas duplas da casa permaneciam convidativamente abertas, rangendo sob a ação do vento. Os três entraram devagar, tomados pela súbita lembrança da ventania do dia anterior.

– Alguém reparou em algo estranho? – Andy perguntou.

– O quê há de errado? A casa está exatamente igual ontem. – Zack disse, olhando ao redor.

– Exatamente. Houve uma ventania aqui. Não tem nada quebrado ou caído. Nem mesmo as folhas que passaram pela porta estão aqui.

– Andy, olhe em volta. Essa casa é uma bagunça. Talvez as folhas tenham sido carregadas para outro lugar e como vamos saber o que caiu ou não depois daquele vento? Metade das coisas aqui dentro já foi vandalizada mesmo. Vamos, temos que procurar o Neo. Talvez esteja lá em cima.

Tom se adiantou na direção da escada que ficava na lateral do grande salão que compunha o térreo. Os outros dois o seguiram devagar. Tentavam distinguir qualquer som que lembrasse a voz de Neo, mas tudo que ouviam era o ranger das escadas e o grasnar dos pássaros que sobrevoavam a casa.

Um a um, eles olharam os quartos do corredor procurando qualquer sinal na poeira que indicasse que alguém tivesse estado por ali recentemente. Tudo sugeria que não. Ninguém passou por ali pelas últimas décadas. Cada móvel nos quartos estava no seu devido lugar desde que havia sido posto ali.

– Isso é assustador. Ninguém veio aqui nem mesmo para roubar.

– Shh, Zack, está ouvindo isso? – Andy colocou uma mão em forma de concha na orelha.

E subitamente os outros dois também começaram a prestar atenção e ouvir. Caminharam até o fim do corredor ouvindo aquilo que parecia ser o barulho de ferro batendo em ferro seguido de algo raspando no chão de madeira.

– De onde diabos isso está vindo? – Tom girava nos calcanhares olhando para os quartos vazios do fim do corredor. Assim que falou, os barulhos pararam.

– Shh Tom, faz silêncio. – Andy apontava o indicador para cima, para uma corda que caia presa em um quadrado esculpido no teto de madeira – Vem do sótão.

Tom, o mais alto dos três, pulou e puxou a corda para baixo, trazendo com ela uma escada que entrava no teto. O cheiro de mofo e poeira acumulada os atingiu assim que a entrada se abriu.

Zack foi o último, e com a ajuda dos dois amigos, foi puxado para cima. O sótão estava vazio, exceto pela respiração pesada vinda de algum lugar atrás dos três garotos.

Eles se viraram e congelaram na mesma posição em que estavam.

A luz solar vinda de uma janela circular numa parede próxima iluminava fracamente o ambiente, mas era possível distinguir o corpo de Neo acorrentado á parede. Ele estava sentado em uma das pernas, com a outra esticada para frente enquanto sua cabeça permanecia caída no peito nu. Ainda usava as calças apertadas de couro do dia anterior.

– Neo? – Tom chamou, caminhando devagar. Ele podia perceber a respiração do irmão. Estava vivo, graças aos céus. Mas por que não se mexia? – Vão ficar aí parados? Me ajudem a desacorrentá-lo! – Tom grunhiu.

Os outros dois se mexeram receosos em ir ajudar. Cada um tateou por algo pontiagudo para tentar romper as correntes que prendiam Neo a parede. Exceto pelo barulho do ferro, tudo o que ouviam era a estranha respiração ofegante vinda do gêmeo. Tom examinava o irmão buscando qualquer coisa que estivesse fora do normal e tentava se comunicar, mas todo o tempo Neo permanecia com o rosto caído.

Assim que teve seus braços soltos graças a Zack e Andy, Neo caiu no peito do irmão que começou a murmurar que estava tudo bem, passando a mão sobre a cabeça do outro. Tudo ia ficar bem. Eles estavam juntos, e, se estivessem juntos, nada ruim voltaria a acontecer á eles. Nada.

Andy se afastou, de onde estava, podia ver as costas de Tom e da cabeça de Neo pendendo no ombro do irmão. Subitamente, os olhos de Neo se abriram e Andy foi tomado por uma dose de pânico e adrenalina. Seus olhos não tinham cor, não tinham brilho, nem sequer pareciam humanos. Quando as enormes presas pontiagudas saltaram para fora dos lábios de Neo, Andy se forçou a se mover e ir em direção aos dois. Empurrou Neo para trás com as duas mãos e conseguiu afastar Tom do perigo.

– O que está fazendo Andy? – Tom perguntou indignado ao ver o irmão ser atirado contra o chão.

– Olhe pra ele Tom! Não é o Neo!

– Que quer dizer com isso de não é Neo, ficou maluco? É claro que é o... – Tom olhou e viu o próprio irmão tomado pela sede se levantar do chão, saltando para cima dele.

Neo e Tom rolavam pelo chão. Tom tentava segurar os braços do irmão, mas ele era forte demais. Se aproveitando de um deslize, o vampiro aproximou o pulso de Tom até seus lábios e abriu uma ferida com a ajuda de seus caninos desenvolvidos, sugando o sangue que era expelido enquanto Tom era tomado por um espasmo de dor.

Zack e Andy agiram para separar Neo de Tom. Foi preciso que os dois puxassem Neo para que ele soltasse o pulso do irmão, ao mesmo tempo em que Tom se debatia e tentava se livrar da mordida sem ferir o seu gêmeo. Nenhum deles conseguia controlar a criatura que se debatia violentamente, olhando o tempo todo para o sangue que escorria na ferida do pulso de Tom.

– Neo, eu sinto muito. – Zack falou, dando um soco em Neo, forte o suficiente para que ele desmaiasse.

– O que fazemos agora? – Andy perguntou. Ele e Zack arrastavam o copo de Neo pelas escadas enquanto Tom os acompanhava logo atrás, segurando o pulso machucado. – Tom?

– Vamos embora.

– Mas o Neo... A gente não pode sair com ele assim...

– Melhor do que sair sem ele. – Tom respondeu quase num sussuro.

Já havia escurecido. Trazendo Neo consigo, eles se preparavam para sair pela porta quando uma força invisível empurrou Zack, Andy e Neo para frente enquanto Tom fora puxado para o interior da casa. Os três caíram sob os degraus de entrada e se esparramaram rolando pela grama.

A ventania recomeçava. As portas duplas se fecharam violentamente. Tom estava preso dentro da casa.



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