Wills House escrita por BoseBlut


Capítulo 1
Capítulo 1 - Neo desaparece




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Tom, você sabe como eu não gosto de cidades pequenas. Por que tinha que parar justo nessa?

– Se quiser chegar a tempo para o próximo show, essa é parada mais próxima Neo, pare de reclamar.

Tom, Neo, Zachary e Andy eram os integrantes de uma banda recém-formada de hard rock. A banda havia sido criação de Andy, que conhecia os gêmeos idênticos Tom e Neo Zmey. Logo Zachary, ou Zack, entrou na bateria e alguns anos depois eles alcançaram a fama com o lançamento do primeiro CD.

Os quatro tinham acabado de iniciar sua nova tour pela Europa. O próximo destino era Lisboa, porém, o mal tempo os obrigou a abandonar o aeroporto em uma cidade próxima e retomar o caminho de carro.

– Não vou dirigir de madrugada, Neo. Eu quero dormir.

– Vocês dois, parem de discutir. É só pra gente ficar aqui esta noite Neo. – Andy disse do banco traseiro. – Olha ali, vamos ficar naquele hotel.

Andy apontava para um pequeno hotel de três andares. A fachada na cor verde já estava descascando, mas parecia o melhor que encontrariam por ali, já que não tinham muitas outras opções de escolha.

O carro alugado parou no meio fio e os quatro desceram e atravessaram a rua deserta.

– É impressão minha ou essa cidade é meio parada? – Zachary perguntou.

– Se vieram atrás de diversão, estão no lugar errado. – Um velho sentado em uma cadeira na porta do hotel falou em tom descontente. Usava um chapéu coco branco em conjunto com um terno também da mesma cor e uma gravata cinza. – Desde o desaparecimento de William Wilson esta cidade não vê diversão.

– William Wilson? –Neo logo perguntou. Dos quatro, era sempre o mais curioso e interessado em mistérios, de preferência, sobrenaturais. Sempre havia demonstrado interesse em vampiros, desde que assistira “Entrevista com o Vampiro” quando criança. Mas no fundo, era medroso como qualquer um e não gostava de enfrentar o perigo cara a cara.

– O homem que morava no topo da colina Benson. – O velho apontou para trás dos garotos, que se viraram, vendo apenas o borrão preto da colina e a silhueta da casa. – Ninguém mais vai lá, e quem foi, não voltou. Mas lá em cima pode ser um bom lugar para se divertirem, se não acreditam em mim ou em histórias de fantasmas.

– Ah tá legal, velhote. Só vamos passar a noite aqui. – Tom respondeu secamente, empurrando os outros três para dentro do prédio. Brigar com Neo sempre o deixava irritado. Os dois eram como dois lados da mesma moeda. Não podiam ficar longe um do outro e, quando brigavam, os dois ficavam de mau humor.

Neo lançava um último olhar para a colina, sentindo um arrepio de excitação passar por sua coluna, enquanto seu irmão se encarregava de se registrar no hotel. Os gêmeos ficaram em um quarto enquanto Zack e Andy ficaram em outro logo em frente ao quarto deles.

Não encontraram ninguém no caminho para os aposentos, exceto as aranhas e suas velhas teias nas paredes.

– Acha que tem alguma coisa naquela casa? – Tom disse, se esparramando em uma das camas e ligando a televisão.

– Não sei, e se tiver, eu não estou realmente a fim de saber.

– Está com medo de uma casa velha, Neo?

– Se você acreditasse mesmo que fosse apenas uma casa velha, não teria me perguntado se eu acho que tem algo lá. Além disso, não temos tempo para ir lá.

Tom deu de ombros. Havia ficado curioso sobre a casa e seu morador desaparecido. Ele sempre quisera se encontrar com algo sobrenatural e, diferente do seu irmão, não tinha medo de encarar o perigo. Mas tudo aquilo poderia ser apenas uma invenção daquele velho para assustar forasteiros.

Durante a noite, o mal tempo parecia ter piorado. A chuva forte batia incomodamente nas janelas só parando pouco antes do amanhecer.

Os garotos se levantaram e tomaram café, prontos para partir e continuar a viagem. Porém, assim que saíram do hotel, descobriram que a ponte na saída da cidade havia caído durante o temporal e teriam que esperar o conserto para seguir viagem. Não era um pedaço muito difícil de ser consertado, mas demoraria um ou dois dias até que alguma coisa pudesse trafegar pela ponte.

– Essa ponte é a única saída da cidade? – Neo perguntou ao recepcionista do hotel.

– A menos que queira ir nadando pelo rio... – O pequeno homem de aparência arrogante respondeu não se incomodando em retirar os pés de cima do balcão quando eles se aproximaram para perguntar.

Neo suspirou. Nunca chegariam a tempo para o próximo show. Era preciso avisar sobre o atraso.

– Neo, não tem sinal aqui. –Zachary avisou mostrando a tela do telefone.

– Que ótimo, estamos presos nessa cidade.

Sem nada mais para fazer, eles decidiram andar pelas ruas da cidade, procurando qualquer coisa interessante. Não havia nada que valesse a pena olhar, tudo era antiquado e sem graça. A cidade parecia estar parada no tempo. As pessoas lançavam olhares hostis e preferiam se manter em casa, pouco receptivas a qualquer investida dos garotos, tão diferentes do “normal” daquele lugar.

– Ah, me sinto como se estivesse de volta a Dortmund. É como se a qualquer momento eu fosse ter que correr de alguém com um bastão de basebol na mão de novo. – Neo resmungou enquanto eles se sentavam no banco de uma pequena pracinha circular no meio da cidade. Quando crianças, ele e Tom sempre foram alvos de olhares tortos e adolescentes idiotas. Sempre gostaram de se vestir como pequenos rockeiros, com suas botas e calças pretas. Não era algo bem visto.

– Neo você é sempre tão dramático. É só uma cidade velha. – Tom respondeu revirando os olhos enquanto Neo lhe dava um soco no ombro.

Foi então que Tom reparou no velho de chapéu branco do outro lado da praça, escorado no tronco de uma árvore. Nenhum dos outros garotos viu o velho, mas Tom percebeu que ele o olhava diretamente, sorrindo dentes amarelos. O velho levantou a bengala que trazia na mão como apoio e apontou para frente.

Seguindo a direção da bengala, Tom se virou e logo atrás deles estava a colina Benson com sua malfadada casa resplandecendo contra o sol fraco de fim de tarde. A idéia passou por sua cabeça antes mesmo que ele percebesse o que estava falando.

– Por que não vamos até aquela casa assombrada?

– Ah, Tom, ainda com isso?

– Vamos lá, não tem nada melhor pra fazer agora. Podemos voltar até o hotel e ver televisão até enjoar, e eu acho que aqui não vai ter algo muito interessante para assistir, ou poderíamos ir até lá em cima e apreciar a vista. E quem sabe achar algo sobrenatural, um fantasma, zumbi, ou o amor da sua vida, Neo. Aposto que o último seria o mais assustador. – Neo deu uma cotovelada no irmão. – Olhe, você vai adorar a vista da cidade lá de cima, Neo. Não vai ter ninguém nos olhando torto e quando chegarmos lá em cima, o sol vai estar se pondo. É perfeito.

Neo se virou para Zack e Andy procurando auxílio, mas Zack deu de ombros e Andy nem mesmo estava neste mundo e, assim, guiados por Tom, os três se viram obrigados a levantar e iniciar a ida a subida até a colina.

Não era um lugar muito distante. A cidade havia se erguido bem ao pé da colina e o caminho até ela era visível. Uma pequena estradinha de terra, partindo ali mesmo da praça, se erguia até o alto, sendo transformada em uma escada improvisada com pedras e cascalho. As árvores enormes enfeitavam o caminho com seus galhos anormalmente secos para a época.

Neo ainda não havia se decidido se odiava mais os habitantes hostis da cidade ou aquela floresta e o que quer que os esperava lá em cima, mas se sentia seguro, pois estava junto com seus melhores amigos e seu irmão e sabia que com eles, nada poderia dar errado.

E Tom estava certo, ele teve que admitir. A vista lá de cima era perfeita. Podia ver toda a cidade e dali de cima ela já nem parecia tão assustadora. Reparou especialmente na ponte sendo consertada por pouco mais de oito homens e o rio que corria por baixo dela, rodeando a colina em que estavam e seguindo seu caminho até sabe-se lá onde. O sol, apesar de ainda não ter se posto, mal iluminava o lugar em que eles estavam. As nuvens lá em cima indicavam que o temporal iria continuar durante a noite, preocupando Neo sobre o estado da ponte. Ele não queria permanecer naquela cidade por mais um dia. Tom poderia ficar entediado, o que sempre trazia problemas para eles.

A casa se encontrava a poucos passos do penhasco onde eles se sentaram para descansar. Tom já havia se levantado e chamava pelos amigos na direção dela.

– Não podemos ir embora, Tom? É só uma casa velha, já está tarde. Como vamos achar o caminho de volta depois que escurecer?

– Subiu até aqui para ficar com medo,Neo? – Tom já estava andando até a casa. –Vamos até lá. Parece aquelas casas de filmes de terror, olha só.

Os três se encararam ao levantar. Típico de Tom.

Os corvos lá no alto sobrevoavam a casa de dois andares que se erguia, dominada pela mata. A porta dupla de madeira estava meio aberta e as janelas de vidro, presentes nos dois lados da porta, estavam quebradas. Eles subiram os três degraus que havia antes da entrada, deixando pegadas na poeira. Tom ia à frente, disposto a desbravar a casa.

Se por fora a casa já parecia abandonada, por dentro a situação não era diferente. Os móveis antigos estavam em perfeito estado, porém cobertos por uma extensa camada de poeira. Andy achou estranho, mas não comentou o fato de não haverem teias de aranha em lugar algum, diferente daquele hotel velho em que eles se hospedaram que mesmo sendo habitado por outras pessoas, possuía uma quantidade razoável de aranhas.

Era uma sala ampla. A luz escassa quase não permitia que eles reparassem em muitos detalhes e não havia eletricidade, apesar das tomadas antiquadas e do Tom se adiantou, se preparando para subir ao segundo andar, mas foi detido por Zachary que apontava para o outro lado da sala.

– O que foi? – Tom segurava um abajur e soprava a poeira, sorrindo.

– Eu podia jurar que vi alguma coisa se movendo ali.

– Ótimo, então vamos até lá.

Andy também o segurou.

– Tom, vamos embora.

– O que é que há com vocês? Aposto que até o Neo está gostando, ele adora essas coisas antiquadas, não é Neo? – Tom se virou, ao mesmo tempo em que os outros dois, mas Neo não estava lá. – Ele deve ter ficado lá fora. Ah, esse meu irmão covarde.

– Ele entrou com a gente, Tom. Estava bem aqui um minuto atrás, logo antes de eu apontar para aquilo. – Zach respondeu, seu longo cabelo castanho balançando quando se virou para falar.

– Tem alguma coisa muito errada com essa casa. Não deveríamos ter vindo aqui. –Andy pensou alto, enquanto Tom começava a procurar ao redor, chamando pelo irmão.

Foi quando a ventania começou. Entrava pelas portas e janelas abertas, derrubando objetos nas mesas e levantando a poeira. As tábuas no chão rangiam e as folhas começaram a adentrar a casa.

– Tom! – Zack e Andy falaram juntos, impacientes para sair daquele lugar.

Tom olhava em volta sem saber o que fazer. Os dois o puxaram para fora da casa, protegendo os olhos contra o vento forte do exterior.

– Temos que procurar o Neo. – Tom disse imediatamente.

– Procurar onde, Tom? Já escureceu, ele pode ter ido embora para o hotel. Duvido que esteja enfiado no meio daquela casa. –Andy retaliou. – Até você deve ter se sentido estranho quando entrou naquele lugar.

– Ele não iria para o hotel sem a gente, Andy, sei que não. – Respondeu Tom, ignorando o comentário sobre a casa. –Não posso deixá-lo aqui, me ajudem a procurar. Zack, onde você o viu por último?

– Tom, se ele sumiu a culpa é sua por trazê-lo aqui. Vamos voltar aqui amanhã e com a ajuda da luz do dia nós vamos encontrá-lo. Ele deve estar com o celular, quando as nuvens sumirem, com certeza aqui em cima vai ter sinal. – Andy continuou, tentando convencer o amigo.

Alguma coisa fez as tábuas no interior da casa ranger logo atrás deles. Os três se viraram ao mesmo tempo e, embora olhassem em volta confusos, ninguém conseguiu enxergar nada no interior da casa, completamente às escuras devido ao surgimento repentino das nuvens, tampado os pouca luz que ainda havia depois do pôr do sol.

O vento continuava soprando no interior da casa. A névoa começava a cair, dificultando a visão. Sons de vidro se quebrando partiam de dentro da casa e nem mesmo Tom teve vontade de voltar lá para dentro.

Se convencendo de que Neo devia ter voltado, eles então correram o mais rápido que conseguiram colina abaixo, sem ter nenhuma alternativa melhor. A estranha ventania parecia estar apenas no cume da Colina, soprando furiosamente sobre as árvores e sobre a casa.

Os quatro desceram de volta à cidade, distraídos pela possibilidade de Neo não estar no hotel. Mas, se tivessem continuado onde estavam, com um pouco mais de atenção poderiam ter ouvido os passos de alguém que os observava do interior da casa.



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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?



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