Uma Luz Em Meio As Trevas escrita por Manuela Besaury


Capítulo 1
Capítulo Único




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                Voldemort estava assumindo lentamente o controle do mundo bruxo. Alvo Dumbledore estava morto e as pessoas estavam perdendo a fé e confiança no Menino-Que-Sobreviveu. No entanto, longe da névoa de terror que sobrevoava as cabeças não somente dos opositores do Lorde das Trevas, mas também de todo nascido trouxa, encontrava-se sentada em uma poltrona em frente a lareira uma mulher com um sorriso indescritível no rosto. Olhava para a velha senhora que balançava-se ao seu lado em uma cadeira feita de madeira, caindo aos pedaços. O fogo refletia nas vestes verdes incandescentes de Rita Skeeter, que segurava firmemente uma carta destinada a um dos maiores bruxos das trevas: Grindelwald. Em baixo, a assinatura de Alvo Dumbledore, seguida por um olho triangular: O símbolo das Relíquias da Morte.

                - Acho que foi a morte da pobrezinha da Ariana que provocou a separação – falou a senhora ao lado de Skeeter. A pena de repetição rápida, logo se levantou do colo da jornalista e anotou em um pedaço de pergaminho amarelado o que acabara de escutar.

                Batilda Bagshot mantinha seu olhar em um ponto fixo da lareira, parecia não enxergar nada. O movimento da cadeira era tudo que identificava que a historiadora estava presente, além das poucas vezes que falava e contava os acontecimentos da família Dumbledore.

                Entretanto, quando Skeeter voltou a citar o nome de Gerardo Grindelwald e a carta que segurava nas mãos, Batilda virou o pescoço repentinamente, o vai e vem da cadeira parou no mesmo instante. Sua expressão se tornou gélida e sua boca abria e fechava, como se as palavras estivessem presas em sua garganta.              

                - Lembro-me do dia em que Alvo enviou esta carta ao Gerardo. Junto dela havia um pequeno bilhete – disse Batilda, olhando atentamente para Skeeter, que não desviava o olhar da historiadora. Um momento de tensão criou-se entre as duas. Tudo o que se podia ouvir era o ranger da pena no pergaminho. – Ele desceu as escadas, furioso com Alvo e rasgou o bilhete em pedacinhos, jogando-o logo em seguida na lareira. Ficaram alguns dias sem se falar, coisa boba. Até que Alvo bateu em minha porta, estava abatido, com muitas olheiras. Eu não sabia o que estava acontecendo entre os dois, sempre se deram tão bem – comentou, dando um leve suspiro. – Então deixei Alvo entrar e, no quarto de Gerardo, eles discutiram. Não ouvia-se muita coisa, se não gritos desesperados de ambos os rapazes.

                - A senhora sabe o que tinha no bilhete? – Interrompeu Skeeter.

                - Ah, não... Não. Gerardo nunca quis me contar. – Substituído por frustração, o sorriso no rosto de Skeeter se desfez.

                Depois de extrair todas as informações possíveis de Batilda, Skeeter desaparatou. Juntou todas as informações e anotações que tinha sobre o antigo diretor de Hogwarts, porém não estava satisfeita, sua curiosidade não estava saciada. Precisava de mais – muito mais – para poder compor seu livro “A vida e as mentiras de Alvo Dumbledore”. Queria saber o que tinha no tal bilhete e, estava determinada a descobrir. Decidiu que havia muito mais a descobrir, mas quem poderia lhe fornecer informações? Já tentara falar com Aberforth, porém o irmão mais novo de Alvo acabou por bater a porta no nariz de Skeeter. E então, a brilhante ideia surgiu: Nurmengard!

                               Para qualquer um que soubesse da ideia de Skeeter de “visitar” Grindelwald em sua prisão, soaria como loucura. Mas ela pensou:

                - O que um bruxo velho e sem varinha poderia fazer contra mim? – E no fundo, ela tinha certa intuição de que não corria perigo. Desaparatou. O ar foi tomado de seus pulmões e seus pés saíram do chão. Segundos depois sentiu-se firme e em terra novamente. Sentiu uma brisa gelada tocar seu rosto e espalhar seus cabelos loiros e cacheados, olhou para cima e teve uma visão das palavras “PELO BEM MAIOR”, esculpidas na grande torre da prisão que o próprio Grindelwald construíra para aprisionar seus oponentes. Sinistra, assustadora, indiscutivelmente maligna... Foi como descrevera Skeeter a construção a sua frente. Transfigurou-se em besouro e voou até a minúscula janela da cela de Grindelwald, passou pelas barras de ferro e pousou ao lado do bruxo adormecido no meio de trapos velhos.

                Transfigurou-se novamente, e cutucou com a ponta de sua varinha Gerardo, que nem parecia o bruxo que vira na foto, na casa de Batilda. Ele abriu os olhos lentamente e, com um movimento repentino levantou-se, agarrando Skeeter pelo pescoço.

                - Calma, calma! – Skeeter tentou falar, um arrepio percorreu toda a sua espinha, quando seus olhos encontraram o de Grindelwald. Olhos profundos e... Vazios. Perturbadores. Eram como um mar negro, e Skeeter estava prestes a se perder neles.

                Percebendo como a jornalista o olhava, Grindelwald soltou Skeeter, e voltou a sentar-se a um canto da cela. Não se questionou – como era o esperado – quem era aquela mulher com vestes escandalosas que acabara de invadir a sua cela. Skeeter se endireitou, passando a mão levemente pela garganta, onde o bruxo a apertara. Pigarreou e se apresentou como se fosse algo normal para Grindelwald receber visitas. Sentou-se em um pedregulho que havia em um dos cantos, e tirou a pena de repetição da bolsa.

                Passaram alguns minutos, e Skeeter tentou apenas conversar com Grindelwald. E, não saberia dizer se foi pelos anos que Grindelwald passara trancado naquela cela, ou o fantástico carisma que Rita Skeeter possuía, que conseguiu com que Gerardo demonstrasse certa confiança pela jornalista. Porém, quando ela citou o nome de Alvo Dumbledore, todos os músculos do corpo de Grindelwald enrijeceram, e sua expressão calma se tornou indecifrável.

                - Acho que você já deveria ir. – Ele enrolou-se nos trapos velhos, jogados no chão.

                - Sr. Grindelwald, o senhor pode, ao menos, me responder o que havia no bilhete que Dumbledore lhe enviou, junto com uma carta? Batilda me disse que você ficou muito furioso. – Ela perguntou, esperançosa. Gerardo ficou em silencio, até que pediu para Skeeter sua varinha.

                Relutante, ela a entregou – Incrível o que a curiosidade pode fazer a uma pessoa, não? Qualquer sinal de perigo, ela se transfiguraria e voaria para fora. Mas ele nada fez além de levar a varinha até a têmpora e tirar uma de suas lembranças, entregando-as a Skeeter. Mais uma vez sua expressão mudou e a jornalista pode ver claramente os sentimentos de Gerardo, dentro de seus olhos havia um brilho diferente, estranho, porém era algo bom, como se fosse uma luz em meio às trevas.

                - Às vezes, penso que deveria ter contado ao Dumbledore. – Ele disse, com a voz fraca, referindo-se as lembranças. – Não volte. – avisou.

                Skeeter sorriu, radiante com as lembranças que conseguira de Gerardo. Estava louca para vê-las, guardou-as em um fraquinho que levou consigo, fez um sinal com a cabeça para Grindelwald e desaparatou.

                Pisando novamente em solo firme, olhou em volta e viu que se encontrava em sua casa. Andou pelos cômodos até chegar a uma espécie de escritório. Acendeu as velas sobre sua cabeça. A sala era pequena, continha uma mesa encostada na parede e em cima uma luminária velha. Muitos papéis espalhados por todo o lugar. Abaixou-se quando passou por um varal pendurando várias anotações e, abrindo uma porta que era quase invisível, tirou de lá uma penseira. O objeto que emanava uma luz prateada e com símbolos gravados em sua borda, fora muito difícil para Skeeter conseguir, sendo um artefato mágico muito raro. Jogou as lembranças de Grindelwald e mergulhou.

                “Parada em frente ao túmulo de Ignoto Peverell, Rita Skeeter observava um Grindelwald muito mais jovem e bonito do que vira na cela em Nurmengard. Seus olhos vidrados no símbolo das Relíquias da Morte, um sorriso torto despontando de seus lábios. Um pouco mais a frente, vinha um Dumbledore apressado, com as mãos dentro do bolso de seu casaco trouxa. Nos olhos podia ver claramente a satisfação que tinha de ver Grindelwald.

                Parou ao lado do menino. Não trocaram nenhuma palavra, era visível o desejo que os dois tinham em possuir as Relíquias, desvendar os mistérios da família Peverell.  E aparentemente, só eram amigos por essa obsessão em comum. Ficaram os dois parados, observando o túmulo, enquanto o vento do outono insistia em derrubar algumas folhas secas sobre o símbolo ali desenhado. Grindelwald se virou e abriu a boca, suspirando, como se fosse dizer algo, mas continuou calado. Alvo o olhou, e sorriu.

                - Eu queria poder...

                - Eu sei. – Interrompeu Grindelwald. – Eu sei.

                Os dois andaram juntos alguns minutos, enquanto Skeeter os seguia. Vendo-os ali, juntos, nunca imaginaria que Grindelwald tinha algo ruim dentro de si. Parecia apenas um jovem rapaz que acreditava em um conto para crianças e colocava as mesmas ideias birutas na cabeça de seu amigo. Entraram na casa de Batilda – Onde algumas horas antes Skeeter estava. – As coisas estavam arrumadas, mais jovens do que vira, assim como Batilda também. Sentada de bruços sobre um jornal, lia interessada. Quando os meninos entraram, ela desviou o olhar e sorriu para ambos. Eles continuaram andando pelos cômodos e subiram as escadas até o quarto de Grindelwald, que entrou e deu espaço para Alvo passar.

                - Eu estava pensando... – Começou Grindelwald. Parecia nervoso sem saber direito o que falar ou por onde começar a contar sua ideia a Dumbledore – Em visitar Gregorovitch. -Alvo não demonstrou nenhuma reação, olhou para Grindelwald como se esperasse que ele continuasse a falar. - Você sabe... Nossas pesquisas, teorias, ideias, sempre terminam nele. Deve estar com ele.

                - Sim, sim... Provavelmente está. – Ele respondeu. – Você sabe que não posso lhe acompanhar. – Abaixou a cabeça, deu alguns passos pelo quarto. – Tenho que cuidar de Ariana, e Aberforth... Ele... Ele não entenderia.

                - Eu sei, Alvo, mas... Você sabe que eu não vou ficar, não é?

                Silêncio, Skeeter ajeitou os óculos sobre o rosto, enquanto sua expressão se tornava pavorosa quando ela viu algo nos olhos de Dumbledore, estariam marejados?

                - Eu entendo. – Alvo disse, virando de costas para Grindelwald. – Me dê alguns dias, sim?

                Gerardo assentiu com a cabeça, sinal que Alvo não viu.

                A lembrança se desmanchou, tornando-se uma fumaça escura, até tomar forma novamente e Skeeter ainda se encontrar no quarto de Gerardo deitado sobre a cama, com os olhos fixos no teto. Parecia tentar dormir, mas estava impaciente. Abriu a janela e pensou em ir até a casa de Alvo. Ele não negaria recebê-lo, mesmo de madrugada. Desceu as escadas, cauteloso para não acordar Batilda. E andou pelas ruas geladas de Grodric’s Hollow até a casa de Alvo. Jogou umas pedrinhas na janela do quarto que sabia que era de Dumbledore, aguardando ansiosamente que o garoto saísse.

                Alguns minutos depois ele viu o reflexo de Alvo na janela, ele fez um sinal, indicando que já desceria e Grindelwald esperou até o garoto abrir a porta. Dumbledore já estava trocado com suas roupas trouxas e não o pijama que estava quando apareceu na janela, saiu e fechou a porta, com uma interrogação no rosto:

                - Vamos dar uma volta, Alvo?

                Alvo concordou e eles andaram lentamente pelas ruas desertas da aldeia bruxa. Subiram um morro e, só quando estavam chegando ao topo que Skeeter percebeu: Os garotos estavam de mãos dadas. Ela se sentiu o ser mais estranho do mundo naquele momento... Uma mistura de não se sabe bem com algo que ela não sabia o que. Os dois sentaram-se em uma pedra e ficaram em silêncio, apenas aproveitando o momento de estarem juntos e, Skeeter não entendera porque Gerardo se sentiu confiante em revelar-lhe estas lembranças.

                Provavelmente os garotos estavam esperando o nascer do sol, que não veio. Não para Skeeter pelo menos. Tudo o que conseguira ver foi o movimento que Gerardo fez: Colou seus lábios nos de Alvo.  Se sentiu estranha, vazia. Uma invasora e, imediatamente saiu da penseira. Caindo em seu escritório, com a boca aberta. Aproximou-se do objeto que continha as lembranças de um dos maiores bruxos das trevas, e olhou abobada para o brilho perolado.

                - Provavelmente era algo relacionado a isso que tinha no bilhete que Alvo mandara. – pensou.

                Mergulhou novamente e desta vez estava parada no meio de Alvo, Gerardo e Aberforth, que discutiam algo que ela não conseguia entender. Foi quando Ariana apareceu gritando desesperada. Foi uma coisa rápida quando o lampejo verde saiu da varinha de Grindelwald, seguido da maldição:

                - Avada Kedavra!

                Alvo olhou de Aberforth para Grindelwald tentando entender. Pensara que o bruxo tivesse acertado seu irmão, mas ele continuava ali de pé, vivo. Enquanto um pouco mais atrás estava a menina.

                Skeeter saiu da penseira novamente, chocada.

                Desesperada, ela colocou a penseira dentro do lugar onde estava e, impaciente, andava de um lado para outro, tentando entender.  Não se atreveria a xeretar nas lembranças de Grindelwald novamente. Estava com medo, apreensiva, sem saber por quê. Queria voltar a Nurmengard, mas essa ideia a apavorava, e se Gerardo tentasse fazer algo contra ela? Ele a avisara para não retornar.

                Alguns dias se passaram... Atormentados pelas lembranças do bruxo. Enquanto todo o dia, saía no profeta diário uma reportagem sobre seu livro. Estava decidida: voltaria a Nurmengard. E foi o que fez, desaparatou. A construção temerosa não causou o mesmo impacto de horror que causara na primeira vez que a viu. Entrou na cela de Grindelwald como entrara da primeira vez e o bruxo estava acordado.

                Nada disse, era como se esperasse que ela retornasse.

                - Eu não entendo, o que... O que aconteceu? – Ela perguntou, apreensiva. Grindelwald sorriu, um sorriso estranho. – Você o amava, não amava?

                - Talvez. Porém, as Relíquias sempre foram mais importantes. – Ele respondeu.

                - E... E... – gaguejou Skeeter – Porque a matou?

                - Porque ela o empatava. Tirava todo o brilho que Alvo tinha. – Pela primeira vez Skeeter viu o mal em seus olhos. – Ele precisava ficar cuidando dela e isso me tomava tempo. Eu teria que ir sem ele! – O bruxo se levantou furioso. – Eu não queria ir sem ele! – O grito ecoou pela cela, fazendo Skeeter estremecer. – Ele queria muito ir comigo... Mas foi quando me mandou aquele maldito bilhete que decidiu o que faria.

                - O que... O que tinha no tal bilhete?

                Grindelwald não falou, voltou a sentar e o mal que Skeeter viu em seus olhos desapareceu.

                - Eu não queria matá-la, mas... Sabemos que estamos fazendo a coisa errada e mesmo assim nem tentamos evitar. Magoei Alvo quando a matei, eu sabia que ele ainda me amava, mas não me perdoaria. 

                Skeeter encarou Grindelwald que derramou lágrimas que há anos prendia. Se recusava a aceitar que ainda o amava. E que, por um ato de compaixão, redenção, deixou que Dumbledore o derrotasse. Então, a jornalista tornou a perguntar:

                - Mas o que tinha no bilhete? O que Alvo lhe escreveu?

                - “Eu te observava enquanto dormia. Para mim era maravilhoso amanhecer com seus olhos iluminando o mundo. Hoje sei que os pássaros não podem ser enjaulados, porque eles são do céu, eles são do ar. E por isso eu te deixo voar, enquanto meus olhos choram, prendendo-me em você.”

                Naquele momento, aquele vazio que havia em Skeeter – vazio este que instigava toda sua curiosidade e intromissão desmedidas – foi preenchido pelo amor que existia entre Gerardo e Alvo que, por escolhas erradas e sonhos impossíveis não se concretizou. Tomada por aquele sentimento até então desconhecido ela soube: Não revelaria ao mundo esta história... Simplesmente porque eles não entenderiam. Não precisava de muitos motivos, estava subentendido.


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