Half-blood Princess escrita por Clara de Col


Capítulo 25
Um Natal de bolas, fugas e o que todos amam: comida pt.3


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas bonitas! Tenho coisas importantes para ressaltar hoje, yay.
Eu sei que minhas notas são inúteis, invejo as escritoras que escrevem um texto nas notas, mas ok.
Conversei com uma escritora ai que é leitora minha e ela sugeriu que eu movesse a fic pelas reviews. Ok, estou pensando seriamente nisso. Tenho mais leitores do que esperava, e pouquíssimos de vocês deixam reviews, haha. (De maneira alguma desmerecendo as reviews que vocês deixam, por favor. Amo vocês) Mas enfim, vou pensar.

Espero que gostem do cap, é o ultimo de Natal HAHAHA (sério?)
Nos próximos caps, a Lucy já volta para Hogwarts (YAAY!)
Antes de começarem, queria avisar que esse cap ficou... Um pouco forte sei lá, (ou eu estou brisando muito) mas eu gosto de deixar as coisas intensas as vezes. Me digam se gostaram disso ou não ok?



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O carro voou por um tempo dentre as nuvens nubladas que cuspiam neve. Lucy conseguia sentir a ponta dos dedos congelando. Fred e Jorge passaram a viajem estranhamente calados, mas Lucy queria gritar. Talvez por finalmente ter saído da Mansão, ou por simplesmente estar indo para um lugar... Quente. E não só quente em termos de temperatura, mas sim um lugar com calor humano.

— Estamos quase chegando Snapezinha, aguenta ai. — Fred sorriu para ela, parecendo ansioso.

Lucy assentiu, aliviada, tentando observar alguma coisa da sua janela. O cinza e branco das nuvens derramando neve fechava a passagem de boa parte da luz da lua, mas Jorge estava dirigindo (ou voando?) para baixo. Lucy não esquecera que Fred a chamar de Lucy. Simplesmente era... Incomum. E bom ao mesmo tempo, e ela não sabia o que aquilo significava. Estava contente por ter agora essa confiança com Fred, mas duvidava que faria cena como aquela novamente. Ela mordeu a boca, envergonhada. Tinha feito um mini poça de lágrimas no suéter de Fred, e provavelmente seu nariz escorrera também.

Seus lindos pensamentos sobre catarro e lágrimas foram interrompidos pela luz da Lua, penetrando as nuvens quando Jorge finalmente alcançou um lugar em que ela podia admirar toda a paisagem. Uma bela pradaria se arrastava pelos vales, e no centro uma casa. Não, aquilo não era uma casa qualquer. Era a Toca. E era estranhamente lindo visto de longe. Como casas empilhadas, que juntas tinham harmonia perfeita. Ela sorriu automaticamente. Jorge se aproximava cada vez mais rápido do solo, e de repente ela se sentiu nervosa.

Iria finalmente conhecer oficialmente a família dos Gêmeos. A família dos seus melhores amigos. Suas mão começaram a ficar pegajosas. Ela se remexeu nervosa, tirando o cachecol verde e prateado no mesmo momento que Jorge pousou o carro com um baque. Não seria uma visão agradável se ela entrasse com o cachecol da sonserina numa casa cheia de... Ela se repreendeu por pensar tal besteira. É claro que não ligariam. Aquelas pessoas não eram como Snape, ou como Georgie. Não eram como ela. Mesmo assim, ela não se sentiria confortável. O enfiou dentro de sua mochila e saiu do carro, inspirando profundamente o ar.

— O que achou Lucy? — perguntou Jorge, tirando suas malas do porta malas, quando ela sentiu Emm se remexer na mochila. Ela colocou a gata no chão e ela automaticamente correu para Jorge.

— Uma beleza. — ela suspirou e um silêncio pairou. Eles começaram a rir feito loucos, e ela franziu a testa — O que foi?

— Espere só até ver por dentro. — Fred piscou. Ela deu de ombros, seguindo-os para a porta da frente.

POV. Lynn

Lynn estava com as costas retas demais sob o encosto da cadeira. Ela mal tocava na comida, apesar das instruções de sua Senhora Lucy. Todos conversavam, e o Sr. Malfoy não parava de encará-la com a testa franzida. Como se algo... Estivesse errado. Ela se esforçou para relaxar e enfiou uma garfada de comida na boca.

Senhorita Lucy a alertara muito bem sobre Sr. Malfoy. Que ele era inconveniente, falava como uma cobra sibilava e era muito safado e aproveitador. E até já tentara a beijar, ora essa! Que falta de cavalheirismo.

— E então Lucy... — Narcisa Malfoy a chamou atenção — Como tem sido seu primeiro ano em Hogwarts?

Ela limpou a boca com o guardanapo e sorriu, lembrando-se das instruções de Senhorita Lucy.

— Tem sido realmente ótimo, hm... — ela mordeu a língua — Narcisa.

Narcisa Malfoy abriu um sorriso amarelo. Pelo visto, como Senhorita Lucy dissera, a bruxa iria gostar de ser chamada pelo primeiro nome.

— Eu gosto muito das acomodações, é um lugar magnífico. — disse ela, sentindo o estômago revirar. Daqui a pouco teria que beber mais da poção. — Além disso, me dei muito bem nas matérias.

— Aposto que tem um talento em especial com Poções. — ela comentou e olhou de soslaio para Snape. Ela inclinou a cabeça e olhou diretamente para Snape, como Senhorita Lucy faria.

— De fato. — disse ela confiante e reparou Sr. Malfoy a encarando novamente. — Se me dão licença, preciso ir ao banheiro.

Ela afastou a cadeira com cuidado e caminhou até o Hall rapidamente, escutou um elogio de Narcisa Malfoy e subiu as escadas. Correu até o quarto de Senhorita Lucy e bebeu mais da poção, sentindo os nervos baixarem. Ela arrumou o cabelo e quando se virou, Sr. Malfoy estava na porta, a observando curioso.

Lynn deu um pulo, e colocou as duas mãos no peito. Depois repensou e as retirou imediatamente, não era o que Senhorita Lucy fazia. Lembrou-se de uma frase dela: “Sempre, Lynn. Sempre se sinta desinibida para falar qualquer coisa. Assim, estará preparada para tudo”.

— Interessante. — ele passou os olhos pelo quarto, depois os colocou em Lynn novamente. — Achava que você tinha pintado as paredes de preto e pendurado uma cruz de ponta cabeça ali.

Lynn tremeu. Que comentário desagradável. Bom, se ele fosse desagradável, ela teria que ser também.

— E no seu quarto, pendura o que? — ela perguntou, deixando uma mão cair ao lado do corpo e agarrando a barra da cômoda com a outra. — Espelhos? Para poder ficar se engomando o dia inteiro?

Ele deu de ombros, se aproximando. Ela agarrou a cômoda com mais força.

— Sabe Lucy, — ele disse, frente a frente com ela. — Você não é tão indelicada assim, como dizem.

Lynn sentiu vontade de bater em seu rosto risonho. Como ele se atrevia? Ela mal sabia como lidar com tamanho desrespeito. Apenas ficou calada, como Senhorita Lucy instruíra. Ele esticou a mão e por um segundo, Lynn imaginou o que ele faria. Até ele agarrar sua nuca e puxá-la para perto, colando seus lábios.

Ela queria gritar, queria chutá-lo como deveria. Sentiu uma raiva estrondosa correr por suas veias e ah Merlin como queria arranhá-lo. Podia fazer isso, estava no corpo de Senhorita Lucy. Não era uma criada, podia fazer o que quisesse.

Lynn nunca havia sido beijada. E duvidava que algum elfo doméstico que conhecia também. Era algo impróprio, e incomum para ela. Mas a sensação de lábios acariciando os dela era... diferente. Era agradável. Por um instante, todos os seus pensamentos sumiram e ela assistiu a si mesma, de alguma forma improvável, retribuindo.

Sr. Malfoy sentiu sua brecha, e com isso envolveu a cintura dela com um braço, agarrando seus cabelos com a mão livre. Lynn não sabia ao certo como estava fazendo aquilo, mas sua língua explorava a boca dele com facilidade e quase que espontaneamente. Queria parar, queria parar. Mas não conseguia. A medida que os segundos passaram, um calor cresceu no seu peito. Ele separou os lábios e ela retirou a mão de seu pescoço com as bochechas roxas.

— Ah, Lucy... — ele sussurrou, tirando a mão de seus cabelos e afastando uma mecha negra de seu rosto. Ela olhou bem fundo em seus olhos e depois... Deferiu-lhe um tapa no rosto que fez seus dedos doerem.

Ele largou sua cintura no mesmo tempo. Por nada além do puro instinto, ela alcançou a porta e correu pelo corredor. Ele rodopiava. Ela encontrou uma porta e se jogou contra ela, girando a tranca logo em seguida. Apoiou-se nas paredes até sua vista voltar. Estava em um lavabo. Procurou o espelho. Viu o rosto pálido de Senhorita Lucy ruborizado como nunca imaginava que poderia o ver um dia. Ela jogou os cabelos para frente e jogou água na nuca e no rosto, pegou a toalha branca e pressionou-a contra o rosto quente.

Por Merlin, Senhorita Lucy nunca, NUNCA a perdoaria. Como ela fora tão estúpida? Ela sentiu as lágrimas se misturarem com outra coisa em sua garganta, e despejarem na toalha. Lynn colocou a toalha na pia e observou os cabelos emaranhados. Sentiu uma contração na garganta e correu até o vaso sanitário. Abriu a tampa e vomitou todo o jantar de Natal na cerâmica branca.

POV. Lucy

— Por que ainda está ai parada, Snapezinha? — perguntou-lhe Fred, parado na porta. Jorge já entrara e Lucy podia escutar as exclamações. De surpresa, alivio, reconhecimento e depois raiva. Molly realmente não sabia do carro.

— Eu... Não consigo. — ela fez a coisa mais estúpida do mundo e correu sem direção para vai saber onde. Ela não conhecia o lugar, e tinha que encarar os fatos: Estava com vergonha.

Era mais que uma vergonha por conhecer os pais de seus amigos. Era vergonha por sem quem era. Vergonha, ela reconheceu sentindo as pernas ficarem bambas, por ser filha de Snape.

Ela sentiu alguém a agarrando por trás, enquanto ela tremia. Era Fred. Ele prendeu os braços em torno de Lucy e ela fechou os olhos, com medo.

— Tá tudo bem. — ele a soltou e ela se virou para ele, com o rosto vermelho. — Não precisa ter vergonha.

Ela balançou a cabeça, feito uma criança, mordendo a boca para não chorar. Não ia mais chorar, não ia mais chorar, não ia mais chorar, não ia...

— Não é vergonha disso Fred! — ela exclamou, sentindo a barriga doer de fome. — É vergonha de...

Ele levantou as sobrancelhas, aparentemente esperando uma resposta. Lucy começou a enrolar os dedos em seu suéter. Que coisa tosca, aquela não era ela.

— É vergonha de ser...

Ele abriu a boca, em compreensão. Ela não seria obrigada a terminar.

— Ok. — ele disse, e depois estendeu a mão — Ninguém vai te julgar, eu prometo.

Ela olhou para a mão dele e pensou em como teria uma vida normal. Como teria uma vida normal depois de todo mundo saber quem era. Ela soltou um pouco do ar dos pulmões, e pensou que não precisava se importar com aquilo. Sou Lucy Snape, não sou só a filha do Snape que foi encontrada e é rabugenta. E que se dane o resto. Bom, pelo menos por essa noite.

— Tudo bem. — ela pegou a mão dele.

Ele a abraçou de lado, e bagunçou seus cabelos.

— Até parece... Sabe quem acolhemos em casa praticamente todas as férias de Natal?

Ela negou, já se sentindo melhor.

— Harry Potter. — ele disse, e ela riu. — Então, não se sinta a única celebridade mal julgada nessa Toca.

Ela parou um instante na porta e ele a olhou com expectativa. Ela respirou fundo, bem fundo e sentiu o cheiro da comida. Sua boca se encheu de água. Ela deu um passo para dentro, e foi atingida por alguma coisa.

— Querida Lucy, querida Lucy! — ah. Era Molly Weasley. Ela a soltou — Bem vinda a nossa humilde Toca, querida!

Ela olhou incrédula para Molly Weasley, seu vestido amassado e seu avental. Os cabelos ruivos presos, com um sorriso amarelo colado no rosto. Ela sorriu, dessa vez, verdadeiramente.

— Obrigada, eu... — ela mal teve tempo de olhar a volta.

Era um lugar cheio de todas as coisas possíveis penduradas, empilhadas, no chão... Estava no que parecia ser a sala e pessoas que ela reconhecia e não reconhecia se acomodavam nos sofás e também estavam em pé.

— Ah, Deus. Não acredito que eles lhe trouxeram aqui naquela geringonça. — ela balançou a cabeça, em desaprovação. Lucy soltou uma risada.

— Foi divertido!

O homem que Lucy imaginava ser Arthur Weasley a cumprimentou.

— Eu imaginava que iria gostar. — ele disse, meio que... Orgulhoso? Lucy colocou uma mecha de cabelo para trás, de repente se sentindo meio sem graça.

— Gostei muito. — ela afirmou, olhando para Fred.

Escutou uma risada vinda do sofá. Por Merlin, pessoas ruivas surgiam de todos os lugares.

— Claro que gostou, — ela observou, era um Weasley mais velho... Gui, ela confirmou isso quando ele se levantou e a saudou — Deve ser tão louca quanto eles.

Vou me lembrar de considerar isso como um elogio, ela anotou mentalmente. Então, seu estômago provocou um ruído que ela imaginou ter vindo dos infernos, que possivelmente metade da sala escutara.

— Por Merlin, a garota deve estar morrendo de fome! — Molly sorriu e a arrastou para a cozinha. Ela sentiu as próprias bochechas ficarem cor-de-rosa.

Depois de um tempo, ela já conhecia todos da casa. Até Harry Potter a cumprimentara, um pouco receoso, mas gentil. Pelo que ouvira, ele não tinha um relacionamento saudável com Snape. Mas ela tentava, o máximo que podia, fingir que ninguém ali (além do Gêmeos, e talvez Molly) a comparasse com Snape. Era difícil, mas por alguns momentos ela esquecia. Ela se sentara entre Fred e Jorge na mesa, e Molly enchia seu prato com comida.

Todos lhe faziam perguntas, e depois de alguns momentos acabou se sentindo a vontade. Algo que só se sentira em Hogwarts na sua cama, ou na Biblioteca e debaixo do Carvalho.

— Então Lucy, como é que é ser filha do Snape? — Ronald Weasley perguntou e Lucy quase engasgou com o suco. Todos ficaram am absoluto silêncio.

— RONALD! Como tem ousadia de... — Molly começou a gritar com ele. Jorge cobriu a cara. Lucy não podia deixar aquilo assim. Ela pigarreou.

— É muito monótono. — disse ela, colocando o copo de volta a mesa. Ela imaginou, que uma hora ou outra teria que receber esse tipo de pergunta. Estava bem. Estava bem. — É bem raro quando nos falamos. Ele prefere se enfiar pelos lugares da casa.

Todos a olhavam agora, e ela sentiu sua bochecha ficar vermelha. Não queria ser conhecida como filha do Snape. Queria que as pessoas gostassem dela por ela ser... Ela.

— Vocês não se falam muito, então? — Agora Potter foi quem perguntou. Molly lançou um olhar fatal para ele.

— Quase nunca, na verdade. — disse ela. — Ele não me trata diferente do que trata... Todo mundo.

O silêncio cortou a cozinha. Para ela, falar aquilo era algo normal. Mas para aquelas pessoas, que era tão ligadas a família e se felicitavam praticamente toda hora, bem...

— Então com quem fala lá? — perguntou Ronald, e Molly já desistira de repreendê-lo. Era óbvio que ele e Potter tinham alguma peculiaridade em relação a Snape.

— Com minha amiga Lynn. — disse ela, com a maior naturalidade. — Minha elfo doméstica.

Ronald Weasley olhou para baixo, Potter coçou a cabeça. Ela passou os olhos para a mesa, alguns conversavam, outros comiam, mas evitavam olhar para ela. Então algo a atravessou. Estavam com... Pena. Estavam com pena dela. Claro. A garota, filha de Snape, que conversava com a elfo doméstica para não conversar com absolutamente ninguém.

— Ela é uma ótima companhia, bem melhor que os Malfoy. — comentou Lucy, e a atenção se voltara para ela. — Eles estão lá na Mansão essa semana. Digamos que eu não tive muita sorte.

Alguns riram. Ela voltou a comer, e depois disso, ninguém a perguntou mais nada sobre o assunto. Ela comeu até não poder mais, e aquela mesa parecia estranhamente mais cheia que a da Mansão. Ela só não sabia se era o calor humano ali presente, ou a quantidade absurda de comida e guloseimas.

— Como, exatamente, você conheceu Fred e Jorge? — Carlinhos Weasley a perguntou. Ela levantou os olhos e sorriu, sem poder evitar.

— Essa, na verdade, é uma história muito curiosa. — ela olhou para Fred, e ele abaixava a cabeça, sorrindo. — Depois de alguns meses em Hogwarts, comecei a receber bilhetes muito suspeitos.

Carlinhos riu. Gina Weasley agora prestava atenção nela também. A garota chamou sua atenção, pela primeira vez. Era a mais nova, e a única mulher dos irmãos Weasley. Lucy sentiu por ela por um momento.

— Bilhetes? — riu Carlinhos — De admiradores secretos?

Jorge tossiu, rindo. Lucy não conseguiu evitar também.

— Não! — ela riu — Bilhetes de um perseguidor, na verdade.

Molly arregalou os olhos para ela, e ela cai na risada.

— Assinavam como um “M”, e eu demorei um tempo para matar a charada, mas depois disso... — ela olhou para eles e revirou os olhos — Acabou acontecendo.

A noite foi caindo cada vez mais, e todos se retiravam da mesa desejando-a boa noite. Ela sorria e tentava ser gentil. Até só sobrar ela, os Gêmeos, Ronald e Potter. Conversavam alguma coisa sobre Quadribol, enquanto ela atacava um pires cheio de sorvete com calda.

— Eu gostaria muito de aprender a jogar. — ela comentou como quem não quer nada. Ele a olharam e Fred pareceu surpreso.

— Mesmo? — ele levantou as sobrancelhas — Quase enfartou quando voou conosco na vassoura!

Ela deu de ombros.

— Até arrisquei voar um pouco no campo de Quadribol da Mansão, mas Malfoy afastou meu pensamento rapidamente. — disse ela e Potter franziu as sobrancelhas.

— Malfoy? — ele sorriu, parecendo divertido.

Ela assentiu.

— Uma pedra no meu sapato. — ela tomou o resto de calda e limpou a boca com um guardanapo. — Snape só tinha uma vassoura. Mas, para todos os efeitos, ele não largou do meu pé até eu ser obrigada a passar o tempo todo no quarto trancada.

Ele riram. Potter a encarava de maneira estranha, e ela olhou para os lados, disfarçando. Silêncio.

— Me desculpe, é só que... — ele começou.

Ela inclinou a cabeça.

— Eu sei. — ela colocou as pernas no colo de Jorge. — É estranho por que eu sou filha do Snape, eu sei.

Ele ficou em silêncio.

— Por favor, não me diga que sou muito parecida com ele. — ela disse e ele riu, balançando a cabeça — Isso seria desagradável.

— Enfim, se quer aprender a jogar Quadribol Snapezinha, pode contar conosco. — disse Fred. — Eu sou o melhor daqui, mas você terá dizer em que se interessa.

Ronald revirou os olhos. Ela olhou para Potter, sabia que ele entrara como apanhador no primeiro ano. Era bem impressionante.

— Eu nem sei para falar a verdade. — ela confessou, mordendo a boca. — Snape me disse uma vez que ela gostava e eu... Me interessei.

— Ela? — Ronald ergueu uma sobrancelha. Lucy sentiu a comida revirar na barriga. Jorge fuzilou-o com os olhos.

— É, Ronald, minha mãe. — disse ela, com um aperto no peito.

Silêncio. Ronald abriu a boca, e a fechou. Fred bufou, incomodado.

— Ah, foi mal. — ele se desculpou. — E, pode me chamar de Rony.

OK, OK. Isso foi meio estranho, mas foi legal. Eu acho.

Ela sorriu meio forçada, mas conseguiu um bom resultado. Pelo menos, estava de barriga cheia. Estava praticamente em êxtase.

— Beleza, estamos indo. — Potter e Rony (?) se levantaram e deram boa noite, indo para as escadas que pelo que Lucy percebera, eram o teto.

Ela olhou para os Gêmeos.

— E então, o que faremos agora parceiros? — ela perguntou, tirando as pernas no colo de Jorge. Eles se entreolharam e riram.

— Acho que mamãe colocou muito licor nessa calda de sorvete. — disse Fred, e Lucy deu um tapa em sua cabeça ruiva.

— Eu não estou alcoolizada, eu sou uma boa garota. — disse Lucy, um pouco tonta, se levantando da cadeira e sentando-se na mesa, em frente a eles. — Eu sou uma ótima filha!

Eles riram para valer. E ela também.

— Eu nunca tive um Natal desse sabe. — ela comentou, olhando para a toalha da mesa e se sentindo do nada, profundamente vazia.

Era raro momentos como aquele. Ela se lembrava dos Natais com Georgie e seu peito só se enchia de uma sensação esmagadora e triste. Ela cobriu a boca com as mãos, olhando fixamente para a parede. Não vou chorar, não vou chorar, não vou, não vou. NÃO VOU.

— Calma, Lucy. — era Fred, ele estava frente a frente com ela. Ele colocou seu cabelo atrás da orelha. — Vamos subir, você deve estar morrendo.

Ela tirou a mão da boca e assentiu, respirando fundo. Ela desceu da mesa e os seguiu, subindo as escadas. Jorge já tinha levado sua mochila para cima, e lá estavam todas as roupas dela. Como um bom feitiço de espaço poderia ser útil.

Eles subiram as escadas cada vez mais, até pararem subitamente em um corredor.

— É aqui. — disse Jorge, parando em frente a porta. Lucy riu.

— É aqui, a Ponte para Terabítia. Diga a senha, acredite e poderá atravessar. — ela brincou e eles não entenderam nada. Ela riu. — É um filme trouxa.

Fred revirou os olhos.

— Ninguém entra no nosso quarto Snapezinha. — disse ele. Ela assentiu, fazendo careta.

— É tão sujo assim ai dentro?

Jorge riu e abriu a porta. Ela entrou depois dele e Fred fechou a porta. Lucy tapou a boca.

Estava no quarto mais bagunçado que já vira, possivelmente. Mas, não. Não era desorganizado, era só muita poluição visual. As paredes, eram cobertas por pôsteres e desenhos de mecanismos. Tinha uma porta que levava para uma pequena varanda, com uma cortina azul. Duas camas de cada lado, ambas desarrumadas e em cima de cada uma bugigangas diferentes. Frente a cada cama, um baú. Assim como uma mesa na outra parede, com anotações e bugigangas de todo o tipo.

No meio das duas camas tinha um colchão com roupa de cama cor de rosa, e sua mochila. Ela riu feito louca. Cor de rosa? Sério?

— É da Gina. — disse Jorge, indo para sua cama. Algo se mexeu no cobertor e saiu direto para seu colo. Emm. A gata se empoleirou no colo dele.

— Mamãe perguntou se você não queria dormir no quarto de Gina com ela, mas... Chegamos a conclusão que... — começou Jorge.

— Seria melhor você dormir aqui. — terminou Fred.

Lucy assentiu, indo para seu colchão e abrindo a mochila, pegando seu pijama.

— Tudo ótimo, eu me troco em baixo do cobertor. — disse ela, e eles pareceram aliviados. Provavelmente aquele era um dilema com o qual estavam lidando nas ultimas duas horas. — Assim como vocês, imagino.

Eles pararam por um tempo, sem jeito, depois assentiram juntos. Oh céus.

Lucy se trocou rapidamente em baixo do cobertor e quando saiu para a “superfície”, eles já estavam trocados também. Fred olhava fixamente para sua colcha e Jorge acariciava Emm (que pelo visto, dormiria na cama dele).

— Será que Lynn está se dando bem? — ela se pegou pensando na elfo, que estava se passando por ela.

— Deve estar. — disse Fred. — É uma criatura esperta e passou muito tempo com você.

Lucy considerou. Tinha dado instruções muito fixas e claras para Lynn, e esperava que ela estivesse mesmo se dando bem mas...

— Não é ela que me preocupa. — Lucy soltou o cabelo comprido do coque e ele caiu nas suas costas. Fred acenou, em concordância.

— Malfoy.

Ela assentiu, pegando o cabelo nas mãos e fazendo nós. Fred pulou para o seu colchão.

— Esse cabelo é muito grande. — disse ele.

— Ok. — disse ela, continuando a mexer no cabelo.

— Muito mesmo. — ele continuou. Ela olhou para ele, e ele sorria. Um sorriso que ela muitas vezes consideraria perigoso. Olhou para a cama, Jorge estava com a boca aberta e Emm se acomodava nos seus braços.

— Eu sei. — ela respondeu, jogando o cabelo para o outro lado, como se pudesse o proteger.

— Nunca pensou em...

— NÃO. E não.

Ele ergueu os braços, em sinal de rendição.

— Beleza, então. — ele pegou um pouco do cabelo dela na mão e ficou olhando para os fios negros — Só pensei em como você deve se estressar com esse tamanho de cabelo...

Ele a encarou, e tudo ficou em silêncio por um segundo.

— Muito engraçado. — ela puxou o cabelo das mãos dele, e o segurando contra o peito. Ele revirou os olhos.

— Pare de fazer isso. — ela empurrou ele. — Irrita.

Ele anuiu.

— Seu cabelo me irrita.

Ela abriu a boca e fingiu estar profundamente magoada. Colocou as costas da mão na testa e a outra no coração, endireitando a postura. Ele a empurrou e ela caiu no colchão.

— Ali fora é legal. — disse ele, apontando com a cabeça para a varanda. Ela se levantou e sentou-se lá fora com ele.

O céu estava com algumas nuvens, mas em alguns pontos era possível ver estrelas. A luz da luz cobria os prados, e uma brisa gelada batia ali.

— Nunca quis mexer no meu cabelo, para não... Esquecer-me de quem eu era. — ela disse, surpreendendo a si mesma. Não costumava falar muito assim, mas estava virando um costume com Fred. Quando o fazia, sempre parecia um robô. Fred ficou calado.

— Mas, depois de um tempo, — ela riu, amarga — Percebi que nem sei quem é essa.

Por um momento, o único som que Lucy escutou foi a respiração dela e de Fred. Depois ele se virou para ela e a encarou, sério.

— Você pode não saber quem você é, mas eu sei. — disse ele, Lucy prendeu a respiração. — Você é Lucy Walker Snape, não é só a filha do Snape que foi encontrada e é mal-humorada. É uma bruxa maravilhosa, talentosa e divertida. Aguenta muito mais que poucos homens fortes aguentariam e é incrivelmente sábia, apesar de tudo. Você é incrível Lucy. Nunca vi uma pessoa tratar um elfo doméstico tão bem. É talentosa, bondosa e única. E ninguém nunca vai poder tirar isso de você.

Ela soltou o ar, e mal tivera tempo de insistir para as lágrimas ficarem presas. Estavam livres agora, rolando pela sua pele fria. Ninguém nunca a dissera algo tão bonito, e ela nunca pensara desse jeito nela mesma. Nunca. Desde pequena, era apenas uma criança perdida olhando para um teto cinza sujo. Georgie entrou em sua vida, quando ela mesma já desistira de si mesma. É tarde demais, ela dizia quando Georgie tentava se aproximar dela. Era extremamente fria e dura e nunca deixava ninguém se aproximar e tinha convicção disso. Faria o que fosse possível para essa sempre ser a realidade. Até descobrir Snape. Jane. Uma brecha que nunca existira se abrira no seu coração congelado, e sem ela menos perceber, deixara que os Gêmeos aproveitassem dessa brecha e agora estava ali. Numa varanda apertada, olhando para Fred com o rosto marcado por lágrimas. Nunca, em seus sonhos mais iludidos, pensara que poderia se sentir daquela forma. Sentir que tinha alguma coisa real, sentir que tinha pessoas.

Ela limpou uma lágrima quente que escorria. Fred a olhava, sem saber o que fazer. Ele não tinha jeito, como já a dissera.

— Por favor, eu não sei o que fazer quando garotas choram. — disse ele, e ela riu e se aproximou dele.

— Também não sei o que fazer quando choro, por que eu... — ela hesitou — Eu não choro.

Ele riu e passou os braços ao seu redor. Ela apoiou a cabeça no ombro dele e assim ficaram por um tempo. Até Lucy parar de contar os segundos, e seus olhos cederem à escuridão.


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Notas finais do capítulo

E então?
Me respondam a perguntinha, ok babies?
beijos

Clara