Palavras Escurecidas escrita por Nymeria


Capítulo 4
Nua no paraíso de sua memória.


Notas iniciais do capítulo

Olá olá, demorei, mas tô aqui.
E ah, deixe um review. (;
P.S.: Sou PÉSSIMA pra responder reviews, então se não respondi "à altura" desculpe-me, de verdade. Não é por que eu quis, mas por não conseguir. ;-;



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Eu realmente acho que, depois da sessão “terapia” iria ficar conformada que tudo tem seu rumo, que nem todos querem apenas trepar comigo. Aquele homem me interessou. Por que diabos de motivo ele falaria, tão abertamente, com uma prostituta?


Eu tenho um gato. Tenho livros. Sou uma pessoa normal como qualquer outra. Tenho várias pilhas de livros, e em uma delas, estava meu gato. Meu gato encarando-me com aqueles olhos enormes, oblíquos e pidões de cima da pilha. Minha pilha de livros me encara de cima das bancadas, do meio da minha desordem. Meus olhos não focalizam nada do mundo turvo que me envolve, mas com certeza procuram algo ou alguém, mesmo sem minha permissão. Te procuram.


Eu ainda tenho seu cartão.


Não rabisquei teu nome na parede, nem atrevi a falá-lo. Teu nome que talvez seja um afago, dentro dessa solidão consentida que durante tanto tempo foi minha companhia. Meu desejo é chorar por ti com os olhos empoçados, os olhos em que algum momento de meus sonhos você dissera que são felinos.


Eu tenho teu endereço.


Meus dedos se escarranchando, protelando te escrever no verbo passado, no passado mais-que-perfeito... E acabado. Meus dedos te escrevendo como finito no meu caminho, meu peito silenciando. Meus dedos que andaram tanto tempo frios, meus lábios que floriram sorrisos ao pensar que eu poderia ser feliz. Palavra simples para grandes emoções. Escarnações de âmagos antigos que se enrolam no fio da vida, minha vida.


Eu sei teu nome.


Mas desconheço teus sentimentos.


Ele tem a boca pequena, mas grossa. Pelos ralos nas bochechas com traços definidos de um homem. Um devido homem que em minha sessão “terapia” eu observara cada movimento de seu maxilar enquanto dirigia palavras a mim. Em que nossa sessão, eu sentira o seu perfume.


Eu necessito decidir minha opinião em relação à minha medíocre vida.


Talvez vá encontrá-lo, talvez. Ele me trocou o fôlego, enterrou os meus âmagos mortos, me arrancou do chão. O tempo está voando, e o fim está sem resposta. Com o corpo doendo pela escassez de palavras até os ossos, e só sussurros do vento podem cantar minha lembrança e proclamar meu amor.



Me deixei ficar largada pelo resto do dia naquela ausência de mundo, não era nada além de pó e cansaço, as pessoas com más notícias brindariam as tolices dos seus descompassos que irrompem do peito rouco, num gesto de felicidade trágica, como se alguma divindade tivesse lhe posto como atuante daquele teatro de marionetes que encenava sua comédia funesta. Mortes são normais, é o que eu falaria, e não apareceria no enterro. Não apareceria mais em sua vida ou em sua mente.

A voz que ecoava em meu ouvido enquanto eu estava repousada na cama com o mínimo senso de paz era machucada, mas matizada de preocupação, uma vez aberto os olhos, não se podia estropiar a paisagem focalizada. Nada no mundo podia remediar o modo com que meus pensamentos me atravessavam, nada abaixo do céu podia recompor o que tinha perdido o modo de se regenerar de atrações por estranhos, a minha vontade de ser vontade, de continuar habitando.


Um estranho uma vez disse que eu deveria deixa essa vida, mas disse com arrogância. E tem sempre aquele clichê. Ninguém paga minha conta no bar, e ninguém tapa a festa. Aquilo é um traço de mel deixado numa gamela arranhada. Às vezes era difícil saber o porquê de me encararem, nem todos sabiam o que eu faço.


A madrugada brinca em esconder a luz, sonhei acordada, dormi despida de sonhos. Pintei a parede, não consegui esconder o buraco que nela estava. Foi consequência de trazer alguém pra cá, e o motivo foi o decote que se insinuava a olhos famintos àquela boca que salivava, mas não me consumiam. Os mesmos medos que abafei durante a noite viriam me visitar com o sol, sei disso.


Meu orgulho estava ferido naquela noite, e o motivo era ele. Tinha calado e os espaços entre os dedos ficariam vazios, o tecido grosso de meu lençol não era bom de ter sobre a pele. Não havia desforra, o orgulho ferido esmagava o ego humilhado, mil perguntas continuavam sem resposta alguma, meus pés gélidos afastavam os pensamentos bons, se é que havia algum deles ainda. Andar era uma desculpa quando se não podia fugir de si mesma. Eu andava, e andava e andava dentro do apartamento. Aquele abrigo familiar tinha os dias contados, a minha língua desejou o calor do álcool, algo resistia, a tamanha ironia do mundo torturava. Longe, longe, longe o mundo paralelo tinha esvaziado, o frio não tinha cedido nenhum grau, nenhum pensamento ousaria falar de amor. Ninguém poderia prever o triste fim do meu eu em mim. É o risco que se corre quando ignora as placas e se vai até o fim da estrada, se deixar ser curado dá a alguém o poder de espatifar seus ossos. Destruir-se a si mesmo.


Voltei aos bagaços, varrendo pra debaixo do tapete a poeira que sobrou, coube a mim ter de ouvir a voz de zombaria sussurrada ao pé de ouvido, com um sorriso, que sorrindo, não tinha nada além de vácuo para espelhar.


Acordei. E minha mente que ficava imaginando estranhos que nem sei se existe, também.


Seu nome é Tyler.



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Notas finais do capítulo

Gente, eu me desculpo, mais uma vez, pela falta de palavras, mas eu escrevi até o máximo que pude, mas mesmo assim não cheguei nem a mil palavras ;-; Comecei com o primeiro capítulo com quase 4 mil e agora tá nessa decadência. Mas, é a vida.