Uma Nova Perspectiva escrita por SatineHarmony


Capítulo 1
Capítulo Único




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— Muito obrigada por ter vindo me procurar. — sussurrou Haruhi, finalmente tomando coragem para dizer aquilo. Ela corou diante de sua confissão, e por um instante arrependeu-se por estar vendada, não podendo, assim, ver a reação do gêmeo ruivo.

— Não foi nada. — disse entredentes, e Haruhi captou algo em sua voz. Culpa, talvez? — Obrigado por ter corrido atrás de mim. — admitiu num sussurro quase inaudível.

Dessa vez a garota tirou o pano da frente de um dos seus olhos, espiando o rosto de Hikaru. Suas sobrancelhas laranjas estavam fortemente franzidas, sua fisionomia contorcida em pesar.

— O que foi, Hikaru? — perguntou, preocupada. Então um trovão soou do lado de fora da capela, fazendo com que a menina procurasse abrigo junto ao corpo do ruivo.

— Haruhi... — ele olhou para as suas mãos, que estavam apoiadas sobre os seus joelhos, dobrados contra o seu peito.

Ele pressentia que em pouco tempo começaria a suar frio, e ele simplesmente não conseguia impedir o seu corpo de corresponder de tal forma — o jeito suave e delicado de Haruhi de dizer o seu nome, o seu corpo trêmulo tocando o seu próprio causava tudo isso.

— Sim? — a garota encorajou-o a continuar falando.

— Tamaki-senpai ligou para mim. Ele que me disse para ir procurá-la. — gêmeo sentiu as maçãs do rosto corarem de vergonha diante do próprio egoísmo. — Ele também me contou que você tem medo de trovões.

Notando que Hikaru estava culpando-se por tudo o que acontecera, Haruhi decidiu relaxá-lo:

— Eu não me importo com a razão pela qual você veio. — disse, sua voz macia quase acariciando as palavras. — Você está aqui, e isso é o que conta para mim.

A garota se sentiu agraciada ao ver os cantos da boca de Hikaru curvarem-se levemente para cima num meio-sorriso.

Então eles caíram no silêncio. Talvez tudo que tinham para ser dito, tinha sido, afinal, dito.

Com a frequência dos trovões diminuindo e escutando somente o ritmo da respiração do ruivo ao seu lado, Haruhi começou a prestar atenção na música que tocava no headphone que Hikaru coloca nos seus ouvidos.

Ela estava simplesmente adorando a paz que havia naquele silêncio entre eles dois, mas a curiosidade falou mais alto e a morena decidiu saciá-la:

— Hikaru... — pela brecha que ela fizera no pano, ela pôde ver o ruivo virando-se em direção ao seu chamado. — Você gosta de música clássica? — perguntou, hesitante.

Em resposta, o garoto deu uma risada despreocupada enquanto passava uma das mãos no cabelo molhado. Ao escutá-lo rir verdadeiramente pela primeira vez, a tensão nos ombros de Haruhi diminuiu.

— Tamaki-senpai costumava tocar o piano da sala do host club. No final das contas ele meio que influenciou o meu estilo musical. — explicou, observando os pingos de chuva que escorriam pelo vitral à frente deles.

A garota assentiu brevemente com isso. Para ela já era estranho imaginar Tamaki, espontâneo e dramático como era, sendo um admirador de Mozart, Beethoven e outros artistas clássicos. A ideia de Hikaru apreciá-los era estranha. Era, no mínimo, inusitada.

— É tão esquisito assim pensar em mim como uma pessoa culta? — perguntou retoricamente num tom de mágoa dissimulada.

É como se ele lesse a minha mente, percebeu.

— Não... — mentiu — Isso só é um pouco inesperado. — pareceu procurar palavras.

O sorriso de Hikaru logo deu lugar a uma expressão pensativa. Ele formulou sua pergunta com cuidado:

— Por acaso você é cristã?

Ele observou a sua reação de modo atencioso, vendo-a descobrir o seu rosto por completo, seus olhos perdendo o seu foco enquanto refletia numa resposta.

— Na verdade eu entrei nessa capela porque era o abrigo mais próximo quando começou a chover. — admitiu — Eu sou indiferente à religião, nenhuma Igreja parece aprovar o que eu e o meu pai fazemos. — sua voz baixou alguns decibéis.

Hikaru não disse nada em troca, ocupando-se em dobrar a borda do pano que instantes antes protegia Haruhi.

— Os trovões estão parando. — observou a garota, querendo distrair-se.

Atingindo a realização, o ruivo ignorou rudemente o que a morena disse:

— Foi tudo armado.

— Hm? — ela ergueu os seus olhos, observando o seu rosto.

— Kaoru pede para sair contigo, mas no dia ele fica doente e me manda no seu lugar. — pensou em voz alta.

— Só agora que você percebeu? — Haruhi ergueu uma sobrancelha, cética.

— Por que você não me contou antes? — reclamou. Ele se lembrava muito bem de como a morena detestava participar dos planos criados pelos membros do host club.

— Porque nós estávamos nos divertindo. — deu de ombros — E parecia que você tinha relaxado um pouco.

Uma expressão de surpresa apareceu no rosto do gêmeo, seus olhos arregalando-se com o comentário.

— Haruhi! — exclamou à meia-voz.

— Kaoru e Hikaru brigaram por minha causa — continuou, como se não tivesse escutado o ruivo — Eu não posso deixar isso acontecer.

— Por favor, Haruhi, não diga que você é a culpada por tudo o que aconteceu. — suspirou, virando-se para ver o rosto da garota. Seus grandes olhos o observavam atentamente. — Foi tudo eu, eu que causei toda aquela confusão desnecessária. — confessou num murmúrio.

— De fato foi uma grande confusão — a morena fez um movimento positivo com a cabeça -, mas será que foi realmente desnecessária? — questionou.

Hikaru engoliu em seco, refletindo. Haruhi não o pressionou, decidindo observar a chuva, feliz pelas trovoadas terem dado uma trégua.

— Eu... — o ruivo hesitou por um momento — Eu vou pedir desculpas para o seu amigo depois. Eu agi de forma errada. — baixou a cabeça. A garota estendeu o braço, acariciando a nuca do gêmeo com a ponta dos dedos.

— Obrigada, Hika-chan. — ela abriu um sorriso de orelha a orelha.

— Haruhi... — ele piscou, incrédulo com a forma que ela o chamara.

— Os trovões pararam. — mudou de assunto —, porém não acho que a chuva terminará tão cedo. Vamos embora debaixo d’água mesmo, já está muito tarde. — observou, levantando-se. — Aqui, pegue. — entregou o headphone. Hikaru assentiu e, deixando de lado o pano branco com o qual cobrira Haruhi, ficou em pé.

— Você parece estar bastante ansiosa para sair. — notou, erguendo uma sobrancelha.

A garota baixou os olhos antes de responder:

— Eu estou... — franziu os lábios, hesitante — franziu os lábios, hesitante — Eu estou um pouco desconfortável aqui. — o ruivo a viu olhar de relance para a cruz presa na parede.

Sem contestá-lo outra vez, saíram da capela num acordo silencioso, mergulhando na chuva que os aguardava.

Ambos arquejaram de surpresa ao ficarem ensopados quase instantaneamente. Nesse tipo de situação, qualquer garoto tiraria proveito para observar o corpo de Haruhi, as roupas encharcadas coladas na sua pele. Mas Hikaru não era assim. Invés disso, o que o fizera ficar de queixo caído foi ver o seu penteado cacheado sendo desfeito pela água, dando lugar ao seu cabelo curto e escorrido, com um leve toque masculino.

Enquanto Haruhi ensaiava uma corrida para eles atravessarem a estrada para chegarem rapidamente ao centro da cidade, a mão direita de Hikaru pareceu desenvolver vontade própria, tocando um dos ombros molhados da morena de forma que ela ficasse de frente para ele.

— O que houve, Hikaru? — perguntou, seu olhar castanho-escuro transbordando confusão.

— Você fica mais bonita assim. — sussurrou sob a chuva. Então se curvou em sua direção.

Haruhi logo compreendeu as suas intenções, mas não desviou o rosto, invés disso seus olhos fecharam-se em pura expectativa, sua cabeça hesitantemente avançando.

Antes mesmo de seus lábios se tocarem, Haruhi já sabia que seria uma experiência incomparável. Afinal, ela havia sido beijada antes — por uma garota —, mas uma vez somente.

Hikaru foi delicado, não tentando controlar o beijo. O ritmo era lento, paciente e cuidadoso. Haruhi sentiu a ponta da língua do ruivo tocar os seus lábios fechados num gesto gentil, e um calafrio percorreu a sua espinha enquanto ela abria a boca lentamente.

Aquilo era indescritível, a morena não conseguia encontrar palavras para a sensação combinada da chuva cobrindo-lhe com gotas d’água fria e a língua de Haruhi invadindo-a, um gosto doce dominando a sua boca.

Era como se ela simplesmente não conseguisse saciar-se. Seus braços podiam estar envolvendo o pescoço de Hikaru, seu corpo podia estar contra o dele, suas línguas podiam se tocar o quanto quisessem, mas ela sempre iria querer mais e mais.

Quando Haruhi afastou-se, ela controlou a vontade de gemer em desaprovação, e tirou suas mãos do pescoço dele. Haruhi observou as bochechas coradas do garoto combinarem com o seu cabelo ruivo. Talvez a chuva pudesse até evaporar ao entrar em contato com a pele deles, de tão quente que estavam.

E, enquanto voltavam para a prisão, Haruhi já conseguia imaginar a reação do host club com a chegada deles. Kyouya entenderia na hora o que acontecera, só de ver os dois juntos. Mori suspeitaria de algo, mas não chegaria à realização completa por prestar atenção à Honey-senpai. Com uma troca de sorrisos, Kaoru descobriria tudo.

Já Tamaki... Ele ficaria num canto deprimido até aceitar o fato de que agora a sua filha namorava um dos seus melhores amigos.


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