Vou voltando à consciência à medida que Maria cutuca meu braço. O avião está se preparando para pousar em Portugal e pela janela do avião, percebo que o dia está ensolarado. Decido tirar o casaco, mas então lembro que estamos em Portugal, independente do Sol, o clima estará frio.

Endireito a poltrona e espero pacientemente chegar em terra firme. Porque estou tão cansada? Pego minhas malas e eu, Maria, Tomás e Pedro começamos a caminhar nas ruas agitadas de Lisboa. Enquanto caminhava, entreouvi conversas de portugueses e observei suas expressões. Todos aqui falam extremamente rápido, usam a concordância correta do verbo e têm uma pele pálida demais.

Para onde estamos indo? “Onde a neve começa a cair...”  dissera mamãe. Há a Serra da Estrela, o lugar onde sempre neva. Permiti-me pesquisar sobre o assunto e descobri que os romanos chamavam a Serra de “Montes de Hermes”. Hermes... Conheço esse nome. Se não me engano, o Vicente deve ter mencionado algo sobre ele nas aulas de literatura.

Ah, sim. Hermes é um deus grego, também conhecido como Mercúrio para os romanos. É o deus ladrão, dos viajantes, das pegadinhas... Faz sentido irmos a um lugar que antigamente era conhecido como Montes de Hermes. Ou não.

- Alice – Maria me chama e todos nós nos viramos para encará-la. – Desculpa. Por tudo.

Penso em dizer que a culpa não é dela, mas sim, é dela. Tudo começou exclusivamente por causa dela. Se ela não tivesse beijado o Pedro, eu continuaria vivendo minha vida normalmente. E também não teria conhecido meu Tomás. Penso então em responder que tudo bem, já que achei meu amor, mas Pedro está aqui. Não acho legal abrir a boca pra falar sobre outro em sua frente quando sei que ele ainda me ama.

- Você está aqui se redimindo, Maria. Está me ajudando. Já basta. – digo por fim.

- Gente, acho melhor traçarmos um plano – diz Tomás. – Quer dizer... Olhem, tem um café ali, porque não nos sentamos e trocamos ideias?

- Admita, Tomás, você só está pensando na comida – digo.

- Talvez. Vamos logo!

Arrastamos nossas malas até o tal café e nos sentamos na mesa. O lugar é aconchegante. Uma música local toca nos alto-falantes e a decoração me lembra muito os anos 60. Gostei. E o cheiro de comida me dá água na boca.

- Acho melhor acharmos um hotel – diz Maria. – Vamos sair andando por aí cheios de malas?

- Você tá certa! – digo. – Assim que sairmos daqui, podemos ir deixar as malas em algum lugar.

- Eu estou sem malas. Viajei de última hora, esqueceram? – ela diz.

- Temos problemas maiores, Maria.

- Todos de acordo que temos que começar na Serra da Estrela? – pergunta Pedro.

- Ou Montes de Hermes – digo e conto tudo que sei a respeito.

- Legal essa coisa de deuses... – diz Tomás.

- Foco, Tomás, por favor! – peço. – Não sei onde devemos ir! A Serra é enorme!

- Que tal começar pelo ponto mais elevado de Portugal continental? – sugere Pedro. – A estância de esqui Vodafone.

- É um começo...

Depois de comer, pegamos um táxi até a Serra da Estrela e achamos um hotel ali perto. Tomamos banho e trocamos a roupa, para depois partir em nossa busca. E então acontece rápido demais. Numa hora estamos andando e procurando por algo que não fazemos ideia do que seja. Na outra, eu estou escorregando na neve e ficando presa no subterrâneo. Ok...