Já estive aqui antes... Como ou quando eu não posso dizer...

Aquele pequeno corpo que rodopiava e bailava sob os flocos de neve que caiam sobre sua pele que era tão pálida quanto eles...

– Estou com medo...

Aquela quietude branca, tingida de vermelho escarlate... Estava acontecendo de novo.

– Vampiros vão me devorar...

O corpo magro caíra sobre a neve fofa, ela, ela que os temia, e que também tinha profunda admiração por aqueles seres da noite...Agora ela era um deles.

Você foi o meu antes... Como há muito eu não sabia...

Os dedos enluvados estenderam-se para aquela paisagem branca... Buscando por alguém que não estava realmente ali... Mesmo que não precisasse realmente de luvas, ela as usava, porque precisava desesperadamente sentir-se humana...
Ah, isso era tão irônico... Sempre quisera ser algo mais, sempre buscou por algo além do que aquela vida que levava...Cheia de mentiras e lembranças confusas; Mas ali estava ela, pateticamente lutando para ter de volta aquela vida de antes.

– “Como posso ficar bem...Sendo que a garota mais importante para mim foi mordida por outro?”

Ah... Ela lamentava-se amargamente por ter acreditado naquelas doces palavras.
Os dedos longos tocaram de maneira suave sobre a lateral do pescoço, onde um dia estiveram as marcas que o rapaz de cabelos alvos deixara.

– “Se é mesmo uma deles...Me prove, prove que não é mais humana, e me morda.”

Aquele pedido desesperado... Aquela expressão de angustia estampada a face daquele que sempre estivera a seu lado.

As luvas aos poucos foram sendo retiradas, para então poder sentir a neve sob os dedos gélidos, ah, era realmente bom poder encontrar algo que fosse tão ou mais gélido que sua pele pálida, a verdade era que estava morta... Não fisicamente, mas em seu interior, algo havia se quebrado, aquele frágil e efêmero coração que antes pulsava, agora estava estilhaçado.
Ah, ela sabia, sabia que precisava dele, ela precisava que aquela sensação de vazio acabasse.

O vento soprava forte, anunciando por algo que ela há muito já sabia... O cachecol soltara-se de seu pescoço, e infantilmente, ela levantara-se, correndo para ele e ao alcança-lo, ela vira ao longe aquele que tanto esperava... Seria hoje que a promessa que ele lhe fizera seria cumprida certo?

– Por que tudo isso... É apenas minha culpa.

E com um sorriso fraco, ela abrira os braços para aquele que a livraria de toda aquela amargura.

Os olhos lilás que a fitavam ao longe, o brilho prateado vindo da espada pertencente aquele que um dia a amou... Não, ele ainda a amava, e Yuuki sabia disso, no fundo, ela sabia.

Com a espada empunhada, ele caminhou a ela, os passos mais pesados que Yuuki já o virá dar, sabia que ele não queria fazer aquilo, mas também sabia que ele a amava demais para não liberta-la.

Já estive aqui antes... Como ou quando eu não posso dizer...

Os flocos que caiam com abundancia sobre eles, o vento que soprara novamente o cachecol branco para longe... E aquele abraço tão inesperado. Zero havia a abraçado, um abraço tremulo porem firme.

– Esse é o fim...Certo?

A espada empunhada pelo caçador, as lagrimas que escorriam pelo rosto da jovem vampira. E aquela dor aguda que atravessava os corpos de ambos... Com o abraço, Zero atravessava a espada pelas costas de Yuuki, e também seu próprio peito. Não existiria vida sem ela. A vida daquela princesa que acabava ali...A vida do cavalheiro que se ia junto.

Você foi o meu antes... Como há muito eu não sabia...

Aquele cenário branco fora tingido de vermelho escarlate, e sobre a neve pálida... Tudo que restara eram as roupas e o sangue daqueles dois amantes... Pois suas cinzas já haviam se misturado com a neve gélida.