Depois de alguns curtos minutos nos braços de Victoria o sinal do fim do recreio se bate e o que era alegria se torna um breve momento de tristeza, mesmo sabendo que no fim da aula novamente iríamos ficar juntos. Voltamos pra sala de aula, pacata e entediante como sempre. Não aguento permanecer em lugares monótonos, não nasci pra isso.

Deixo Victoria em seu lugar, que não é tão distante do meu, a beijo e volto para o meu lugar. André ainda não tinha chegado do recreio e muito menos a professora. Não sei como alguém ainda consegue chegar atrasado na sala de aula, a professora demora tanto que daria pra ir no Japão e voltar, duas vezes. Acho que é falta de responsabilidade mesmo.

                “- Por que não me contou?” Disse André atrapalhando meus pensamentos.

                “- Contar o que?” Juro que não me fiz de bobo, só não tinha entendido o ímpeto da pergunta.

                “- Não se faça de bobo não é mesmo John.” Ele me olhou e eu desejei que ele lesse meu pensamento naquele momento. ( Eu não me fiz de bobo caramba. ) “- Por que não tinha me dito que estava com a Victoria.” Ele me perguntava cada vez mais alterando o tom de voz.

                “- Calma André, aconteceu de repente. Não foi minha culpa.” Ou será que foi minha culpa?  “- Ai André. Eu só sei que aconteceu.” Eu olhei e sorri.

                “- Mas por que por ela?” Ele me disse um pouco irritado.

                “- Não sei, mas meu coração quando estou perto dela acelera e não consigo parar de pensar em seu rosto, de pensar de quão bela é sua voz e como ela me faz bem.” Eu concluí meu pensamento e levei um empurrão de leve.   

                “- Idiota, não me conta nada mais não é? Fica aí, omitindo as coisas pra mim. Nem parece mais que eu sou seu melhor amigo.” André disse com lágrimas nos olhos.
Acho que o fato de eu estar namorando o chateou mais do que o fato de eu não ter contado que estava namorando. Podia ver isso claramente em seus olhos. Não queria acreditar, mas era isso mesmo que estava acontecendo. André estava com ciúmes de Victoria e eu. Não pode ser, meu melhor amigo com ciúmes de mim. Não acredito, não, não. Espero que eu não tenha beijado a menina que ele gosta. Por um certo momento André abaixou a cabeça ali sentado em sua cadeira. Eu o cutuquei, quando ele se levantou eu o abracei e disse.

                “- Vai ficar assim agora? Eu te amo cara, você é meu melhor amigo.” Disse limpando um pouco das lágrimas de seus olhos.

                “- Eu sei cara.” Ele estava trocando poucas palavras comigo.

                “- Mas o que eu fiz.” Ainda estava um pouco desorientado sem saber o que tinha feito.

                “- Nada caramba.” Ele me disse com um tom de voz superior ao que ele usa normalmente.    

                “- Vai me tratar assim cara?” Eu disse sem entender o que estava acontecendo. “- Por que tem que me tratar desse jeito?.” Eu ainda estava meio desnorteado nesse assunto.

                “- Desculpa cara é que...” Ele não concluiu o que iria dizer.

                “- É que?” Eu tentei descobrir o que ele iria acabar de falar.

                “- É que... é que... estou com medo que você me esqueça.” Eu sabia que não era isso que ele tinha pra me dizer.

                “- Eu te esquecer cara? Está dizendo isso mesmo? Acha mesmo que eu vou te esquecer?” Eu disse tentando passar confiança pra ele.

                “- Espero mesmo que não.” Ele me olha e me beija o rosto.

André e suas manias. Mas fazer o que, é o meu melhor amigo. E não posso negar que amo todas as manias dele, mesmo as que me irritam profundamente, mesmo as que me fazem ficar pensando o porquê ele é meu melhor amigo mesmo. Os motivos pra ele ser meu melhor amigo sempre foram claros. Ele sempre esteve do meu lado, me ajudando, me apoiando e isso é muito bom.

                “- Mas John, por que a Vic?” Ele me perguntou novamente.

                “- Que saco André, é a terceira ou quarta vez que atrapalha meu pensamento hoje em.” Acho que ele ficou meio sem entender o que eu disse, mas tudo bem. Ele não precisava mesmo entender.

                “- Ai John, que saco.” Ele me olhou e completou “- Que vocês sejam muito felizes juntos.” Ele me abraçou e sorriu.

Abraçar pessoas sentado é muito ruim, a coluna dói. ( E sim, vou fugir do assunto sempre que achar algo interessante para dizer. ) Acho que minha coluna está doendo por causa disso. Por causa do chato do André.