Sakura caminhava pela ruazinha que ficava perto da Academia, a qual possuia algumas cerejeiras pela calçada, juntamente com aqueles banquinhos que davam um ar reconfortante ao lugar. Era uma manhã um tanto fria e Sakura já estava de férias, sempre mantendo sua postura quanto às notas do colégio, mas Kakashi não daria folga a eles nem mesmo nas férias, pois havia marcado um treino com a equipe no mesmo dia. Logo sentou-se num dos bancos que estavam ali por perto, aconchegando-se. Colocou a gola do moletom acima de seu nariz, a fim de esquentar-se. Olhou para um lado; depois para o outro. “Nem sinal dele.”

Sakura – quase – sempre se metia a inteligente, sabe-tudo, que nunca deixava nada tirar-lhe a concentração e toda aquela baboseira de intelectual, mostrando a todos ser forte também, A-Que-Aguentava-Qualquer-Coisa; mas bastava ela ouvir o nome de um certo alguém que perdia o total controle sobre si. Suas mãos tremiam, um arrepio percorria sua espinha, as palmas de suas mãos tornavam-se pegajosas por conta do suor que as umedecia constantemente. Aliás, ela sabia que ele não iria aparecer por ali. “Mas ora, estranho, ele sempre está andando por aqui sozinho...”, Sakura pensou. Uma pequena flor de cerejeira, a qual deu origem ao seu nome, caiu aos seus pés. Ela a pegou com cuidado e colocou-a em sua orelha direita, enquanto observava um pássaro pousar ao seu lado no banco, que cantava suave e adoravelmente.

“Ah, Sakura, ele já vai aparecer, não se preocupa”, tentou ela ser otimista, abrindo um sorriso no rosto, mas que logo deu lugar à cara tristonha e cabisbaixa de antes, dando novamente lugar aos pensamentos pessimistas que ocupavam sua mente desde a hora que sentou-se naquele banco. “MAS EU NÃO ESTOU ESPERANDO ELE!... Estou?! Óbvio que não. Eu já nem gosto mais dele...” Sakura sabia que por mais que pensasse desse jeito, nunca deixaria de amá-lo. Sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos e resolveu abrir o livro que trouxera consigo e lê-lo, já que não havia nada a se fazer. Encolheu-se no banco, tentando concentrar-se na leitura.

“Agora Kaori corria pelas ruas do pequeno vilarejo, escurecidas pela noite; não via a hora de chegar em casa para desfazer o nó que se encontrava em sua garganta. “Por que ele tem que ser tão arrogante comigo?”, ela se perguntava. “Eu não fiz nada demais. Eu estava apenas... tentando ajudar”, continuou. Parou de correr por um minuto e ficou de pé, parada ali mesmo, no meio da rua. Enterrou o rosto nas mãos e chorou. Às vezes, pensava ela, é difícil se mostrar forte para os outros quando não é forte nem para si mesma.

Kaori começara a caminhar novamente, quando ouviu um barulho, um pequeno “tum” atrás de si, alguns metros longe, mas suficientemente perto para ouvir. Alguns segundos após o barulho sentiu uma mão puxá-la pelo braço. Os cabelos levemente rosados de Kaori esvoaçaram com o vento, cobrindo seu rosto momentaneamente, mas nem por isso moveu-se para ajeitá-los.

– Kaori... – ouviu murmurar em seu ouvido. Sim, era ele.

Ela logo virou-se e seus amendoados olhos verde-água encontraram os olhos ônix de Mitsuo. – Kaori. – ele repetiu, não deixando de largar o braço da rosada. Ele se aproximou – Me desculpa. Eu não queria ter dito aquilo para você, e acho que se pudesse voltar no tempo, com toda certeza eu teria feito diferente e...

Kaori respondeu: – É melhor ter mais cuidado com o q-que fala, Mitsuo. Você me magoou demais durante o período em que estivemos a nos conhecer. E isso é extremamente imperdoável, por-

Não houve tempo para Kaori, pois Mitsuo logo a puxou para si e a calou com um beijo caloroso...”

– Ei, Sakura. – ela levantou a cabeça com tal rapidez que, achava ela, chegou até a soar desesperado de sua parte, mas fora porque reconhecia o dono da voz.

– Ah, olá Sasuke. – cumprimentou-o ela, sentindo um arrepio na espinha e suas mão suarem frio.

Well I didn't tell anyone but

A bird flew by, and saw what I'd done

It set up a nest outside

And he sang about what I'd become

– O que faz aqui? – perguntou ele, logo atirando-se ao lado dela no banco e colocando os braços atrás da cabeça, em atitude de despreocupação.

– E o que eu faço ou deixo de fazer é da sua conta, Uchiha? – devolveu ela, tentando imitar (em vão) o tom superior que Sasuke usava quando queria demonstrar que Sakura o estava irritando.

Sasuke arqueou uma das sobrancelhas e deu um sorriso de canto quase imperceptível, divertido.

He sang so loud

He sang so clear

– Brincadeiras à parte, achei que estaria por aqui mesmo. – disse Sasuke, que encarava a cerejeira à frente do banquinho. Sakura olhou pra baixo e soltou uma risadinha, suas bochechas corando. – O que está lendo? – continuou ele, curvando-se sobre o livro para lê-lo; Sakura agora olhava para a cerejeira da mesma maneira que o moreno.

– Ah, não é nada. – Sakura disse, logo fechando e escondendo o livro antes que Sasuke pudesse ler o que continha no mesmo. No máximo ele leu dois trechinhos, pensou ela. Ela olhou pra baixo e examinou as mãos que antes estavam quentes pelos bolsos do moletom, mas agora estavam úmidas e frias. Seu coração disparava a cada palavra que o Uchiha pronunciava e cada vez que isso acontecia, cada vez mais ela repetia em sua mente que não mais poderia levar o sentimento que tinha por ele adiante. Era difícil, era “pesado”. Seu coração repetia, sua mente repetia, mas seu corpo recusava-se a obedecê-los. Seus pensamentos eram tão claros e tão “altos” que ela tinha medo que o próprio Sasuke a ouvisse.

I was afraid all the neighbors would hear

So I invited him in, just to reason with him

I promised I wouldn't do it again...

– É claro que é alguma coisa. Não sabia que você gostava de ler esses romances de autores desconhecidos, mas gosto é gosto. – quebrou ele o silêncio. – Sakura. – ele se virou para ela – Aconteceu alguma coisa?

– Não.

– Então por que só fica de cabeça baixa? Você nunca baixou a cabeça perto de mim. – continuou ele.

– É que eu... Sei lá. Só estou um pouco triste. Nada demais.

(silêncio)

– Mas vem cá: desde quando se importa comigo? – indagou ela ao moreno, agora virando-se pra ele também, mas não tendo coragem para encarar os olhos negros do garoto.

– Desde nunca, tá doida?! – ele sacudiu levemente a cabeça, literalmente se fazendo de louco. Sim, ele se importava. E gostava disso, até.

– Então por quê pergunta?

Sasuke apenas bufou e cruzou os braços no banco.

But he sang louder and louder inside the house

And now I couldn't get him out

So I trapped him under a cardboard box

And stood on it to make him stop

E ela incrivelmente adorava quando ele fazia isso. Não, Sakura! Não adorava, não! Ou sim... talvez sim... é claro que sim... NÃO! SAKURA, NÃO!

Seu coração agora retumbava em seu peito. É, ela não conseguiria mesmo parar de gostar do Uchiha. Mas ela havia de reprimir isso de alguma forma. Se ela quisesse mesmo, ela conseguiria, porém não havia tanta certeza disso. Não tinha certeza se queria mesmo. O que ela queria mesmo era abraça-lo, beijá-lo, tê-lo apenas pra ela. Queria que ele a amasse.

Dificilmente conseguiria. Admirar-se-ia se conseguisse.

– Sasuke... Eu preciso te contar uma coisa.

– Que você gosta de mim? – indagou ele, que olhou indiferente para a Haruno.

A rosada arregalou seus olhos; não era nem um pouco difícil de perceber, então logo seu semblante voltou ao normal.

I picked up the bird and above the dim I said

"That's the last song you'll ever sing"

Held him down, broke his neck

Taught him a lesson he wouldn't forget

Com o olhar do menino, Sakura estava com vontade de aniquilar tudo o que sentia por ele ali e naquele exato momento. Era incrível como Sasuke conseguia dizer muita coisa em apenas uma olhadela.

Seus olhos encheram-se d’água por um momento, mas logo engoliu o choro pois não poderia dar esse gostinho para o Uchiha. Em seguida, ela olhou de rabo de olho Sasuke aproximar-se dela, ela fechou os olhos e cerrou o punho.

Sasuke puxou o queixo da rosada levemente, e a garota correspondeu inclinando-se de encontro a ele e segurando seu rosto com as duas mãos. Ele não sabia o que estava fazendo, o que queria fazer, e nem ao menos ela. Não, espera. Ele sabia sim. E muito bem.

[…]

I opened my mouth to scream and shout

I waved my arms and flapped about

But I couldn't scream, I couldn't shout

The song was coming from my mouth

Seus lábios se tocaram suavemente. Sakura sentiu um arrepio percorrer não só sua espinha, mas seu corpo inteiro. Sasuke levou suas mãos à fina cintura de Sakura, puxando-a para si, e Sakura continuou com as mãos no rosto do moreno. Sasuke logo colocou uma mão nas costas de Sakura e, como se tivesse recebido um choque, subitamente se afastou da rosada.

From my mouth,

From my mouth...

“Sakura, eu…”, ele tentava arrumar uma explicação, coçando a cabeça e corando. Essa foi apenas uma das vezes em que ela viu o Uchiha “perder o rebolado”.

“E-eu preciso ir, eu... Nós... A gente... (ela olhou o relógio de pulso) Vamos chegar... atrasados para o treinamento, eu... Eu vou indo, se- se quiser ir comigo”, ela estava atrapalhada, a voz dela falhando. O que acabara de acontecer ali? Ó meu Deus, Haruno. O que diabos você fez? O que diabos vocês fizeram?

– O que aconteceu aqui? – ele indagou, colocando a mão na testa, incrédulo. Ela logo jogou-se ao seu lado, mas não ousou olhar para ele.

– Vamos esquecer, certo?! Combinado?! – respondeu ela com outra pergunta. Ele assentiu e ela também, olhando o relógio novamente. Deu graças a Deus que ainda estava em tempo de comparecerem ao treino, mas iriam atrasar-se de qualquer jeito.

Levantaram-se e seguiram caminho até o local do treino, e quando chegaram, encontraram Naruto e Kakashi plantados no lugar.

“ATRASADOS!”, exclamaram Kakashi e Naruto ao vê-los.

– Pelo visto a manhã de vocês foi bem interessante, não é, Uchiha e Haruno? – Naruto olhou para os dois com uma expressão de dúvida em seu rosto. Kakashi arqueou uma sobrancelha a Sakura em busca de respostas e ela o encarou sem responder; em seguida Kakashi dirigiu seu olhar a Sasuke, mas a única coisa que ele e Sakura fizeram foi se entreolhar. Logo Sakura deu de ombros e Sasuke fez o mesmo. Kakashi abanou a mão e fez muxoxo, logo explicando o que havia para se fazer no treinamento.

Sakura não conseguiu se concentrar muito bem durante o dia, pois a cena do beijo e as sensações que este trouxera a ela não deixariam sua mente com facilidade.

A verdade era que tanto Sakura quanto Sasuke não tiravam aquela manhã um tanto calorosa de suas cabeças.

Algumas semanas se passaram e, sabe aquele “combinado” que eles fizeram sobre esquecer de tudo e blá, blá, blá? A única coisa que posso mencionar aqui sobre isso é que o tal combinado não foi, nem de longe, cumprido. Porque Sasuke propôs namoro a Sakura. No final, toda a sua espera valeu à pena. Mas o resto eu não preciso nem contar, né?