Alvorecer escrita por Kaoru Urameshi


Capítulo 5
Prisão


Notas iniciais do capítulo

Ufa, demorou! Mas saiu!!
Desculpa meninas pela demora!
Tentarei postar mais vezes!!!



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Capítulo 5 –Prisão.

Um senhor feudal impaciente esperava no cômodo os dois únicos seres que faltavam para começarem com a reunião.

Kenji estava sentado ao chão com as costas recostadas na parede, fitava uma vela acesa, parecia perdido em seus pensamentos.

Yashamaru estava de pé encostado na porta que dava acesso a varanda. Ficou de costas para os outros enquanto olhava o céu negro dominado por diversas estrelas.

Enquanto a Sesshoumaru, encarava com os olhos frios e secos a porta por onde Satsu e Watanuki deveriam entrar. Aquela demora o deixava irritado.

Foi então que a porta deslizou chamando a atenção de todos.

Satsu entrou primeiro com passos rápidos e Watanuki veio logo atrás com os olhos ainda esquisitos e abarrotados de confusão.

-Finalmente! –Sesshoumaru falou incrédulo. –Eu sei o quanto esse castelo é grande, mas será possível que se perderam no caminho?

-Desculpe, meu senhor. –Satsu falou rápido para evitar que Watanuki respondesse, mas a sua tentativa acabou sendo em vão.

-Quem é aquela mulher? –Watanuki fitou o senhor feudal com olhos determinados, ele não o deixaria de fitar até ter a resposta que queria.

Satsu rosnou irritada pela postura de Watanuki. Ela o tinha avisado tantas vezes, mas ele, como sempre, não a ouviu. Kenji sorriu sarcástico enquanto Yashamaru franzia o cenho confuso.

Sesshoumaru não recuou e não se mostrou em nenhum momento surpreso com aquela indagação, ainda mais vindo de quem. Ele sabia que Watanuki seria o único a lhe perguntar, olhando nos olhos, sem medo, qualquer coisa que quisesse saber.

O senhor feudal apreciava aquela coragem, mas devia confessar que em certos momentos preferia a postura acuada e respeitosa dos outros. Watanuki era um grande problema, mas também um dos yokais que mais lhe servia nas lutas. Era bom no que fazia.

-Ela o incomodou tanto assim? –Sesshoumaru riu irônico. –Eu já esperava que fosse você que viesse me fazer essa pergunta.

-Do que estão falando? –Yashamaru indagou sem entender.

-Da humana. –Kenji respondeu sem pestanejar.

-De Rin. –Sesshoumaru o corrigiu incomodado com a forma que Kenji falara da menina.

-Humana? –Yashamaru surpreendeu-se. –Então não foi impressão minha. Eu realmente senti a presença humana aqui. Achei que tivesse ficado louco.

-O que tanto querem saber? –Satsu irritou-se de vez e acabou explodindo com toda sua autoridade. –Eu avisei que esse assunto seria conversado mais tarde, mas parece que ninguém sabe obedecer as minhas ordens! –fitou Watanuki com raiva e se pudesse o fuzilar com os olhos certamente ele teria caído ao chão morto. –Já chega! É uma ordem.

-Satsu... –ele balançou a cabeça negativamente, a General o irritava. –Sabe muito bem que não dou a mínima para seus ataques histéricos. O único a qual me dirijo é ao senhor Sesshoumaru. Eu não devo nada a você, não sei porque se acha tão líder. Você pode ser General, ou como quer que nós a chamemos, mas pra mim, –a fitou irritado –pra mim, Satsu, você não é nada!

Satsu puxou a corrente com as duas foices que ficavam presas em suas costas, e numa velocidade impressionante enrolou o objeto envolta do corpo de Watanuki que se viu imobilizado e pasmo por receber aquele ataque surpresa.

Ela puxou com força a outra ponta da corrente, queria esmagar seus ossos. Fazer com que ele grunhisse de dor, mas acabou o lançando contra a parede de forma bruta.

Watanuki puxou seu bastão que logo transformou-se numa espada de gelo pontiaguda. Assim que ele a atacaria, Satsu correu em sua direção, desviou dos seus golpes facilmente e o agarrou pelo pescoço.

O pegou tão forte que chegou a levantá-lo vários centímetros do chão. Bateu com a cabeça do yokai duas vezes contra a parede e o fitou com toda sua ira, com os olhos ardendo em ódio.

-Isso é pra você calar essa sua boca. Eu não sou nada, não é? Então diz isso agora! Diz, Watanuki!

Kenji riu daquela cena enquanto Yashamaru balançava a cabeça negativamente. Aquilo sempre acontecia. Os dois sempre brigavam e Satsu sempre ganhava. Só teve uma vez que Watanuki chegara perto de vencer... Sorte de amador. Dizia Satsu toda vez que era lembrada do evento.

Satsu era impressionante, uma das yokais mais fortes que já tinham visto –fora Sesshoumaru é claro. Watanuki não era fraco, ao contrário, muitos tremiam só com um grito seu, com uma simples olhadela, mas Satsu era muito melhor... Muito melhor do que os três Comandantes.

Sesshoumaru colocou a mão direita no ombro de Satsu que ainda bufava de raiva. Ela não o tolerava. Odiava aquela rebeldia e falta de educação. Mas assim que sentiu o toque do senhor feudal, respeitou a sua ordem. Soltou o pescoço de Watanuki –que ela quase quebrara.

Ele caiu ao chão buscando o ar com urgência. Sua espada de gelo tinha se transformado no bastão singelo de antes. Estava sem forças, ela ganhara dele mais uma vez e isso o irritou profundamente. Satsu era sua principal rival, competia com ela em tudo, não admitia que ela fosse a General.

Assim que Watanuki a fitou com os olhos cheios de ira, Sesshoumaru se interveio antes que mais uma discussão desnecessária acontecesse.

-O que você e Yashamaru precisam saber, Watanuki, é que Rin vai morar aqui e que não quero que nenhum de vocês cause algum mal a ela. Isso é o bastante. Fui claro?

-Como? –Watanuki ergueu-se do chão com a mão direita encima do pescoço dolorido.

-Acho que me ouviu perfeitamente. –Sesshoumaru falou sem paciência.

-Se é assim que o senhor deseja, não há objeções de minha parte para com a nossa nova hóspede. –Yashamaru assentiu sincero. –O senhor tem a minha palavra de que nada irá a acontecer.

-Excelente. Esperava isso de você. –Sesshoumaru o fitou satisfeito.

-Perdoe-me, meu senhor, mas poderíamos falar logo o que interessa? –Kenji interveio levantando-se do chão e pondo-se ao lado de Yashamaru.

-Todos já devem saber qual é o assunto, acredito que Satsu já os tenha deixado cientes. –Sesshoumaru fitou a todos. –Por causa de alguns acontecimentos recentes há a suspeita de que há um traidor entre nós.

-Fui avisado. –Yashamaru assentiu. –Mas posso lhe assegurar, meu senhor, de que na minha tropa não há qualquer possibilidade da existência de um traidor.

-Ora, e por que não? –Kenji zombou. –Você é absorto, Yashamaru, por que quer se passar de correto o tempo todo?

-Porque eu sei do que falo! –ele rebateu irritado com a provocação. –Se digo que nas minhas tropas não há suspeitos de corrupção é porque tenho certeza disso!

-Besteira! –Watanuki se interveio. –Como pode dar essa certeza, Yashamaru? Não pode julgar seus subordinados a sua essência. Você não é o todo. Você é apenas uma parte.

-Está errado! –ele rebateu nervoso, aumentando o nível da voz. –Nós somos sim um todo! Se há um doente, todos nós também estamos.

-Concordo. –Sesshoumaru assentiu. –E para não continuarmos doentes precisamos acabar com o foco.

-E o que o senhor sugere? –Satsu indagou seriamente.

-Preciso que fiquem atentos a seus seguidores. –Sesshoumaru os fitou. –Qualquer um que pareça suspeito quero que seja trazido até a mim. Independente do número quero todos os suspeitos aqui.

-De acordo. –Watanuki assentiu.

-Há algum nome, algum suspeito que aparece em suas mentes quando se fala em traidor?

Todos se mantiveram em silêncio para decepção de Sesshoumaru. Fosse quem fosse aquele traidor, ele era bom no que fazia e isso no mínimo era preocupante. Ter um intruso entranhado em seus domínios realmente não era algo que o agradava.

O senhor feudal respirou fundo completamente aborrecido e logo os dispensou.

Curvaram-se solenemente e foram embora aos poucos.

-Satsu! –Sesshoumaru a interceptou.

-Senhor? –voltou-se para ele já na porta.

-Você fica. Preciso de um plano.

...

Rin estava deitada em seu Futon, as luzes devidamente apagadas e um yokai sapo já dormia silenciosamente no outro canto.

Ela tinha ficado com medo de dormir, não só pelos pesadelos que poderia ter aquela noite, mas também por aqueles olhos que a sugaram algum tempo antes de deitar-se. Watanuki havia a incomodado mais do que Satsu ou Kenji ou qualquer outro dali. Queria ter tido coragem de pedir a Akane para dormir ali naquela noite.

Rin tentou lutar contra o sono, mas já não tinha dormido na noite passada e o dia acabara sendo bastante agitado. Deixou-se levar pelo cansaço, tentou esquecer o medo. A inconsciência já a dominava pouco a pouco. Os ruídos do lado de fora pareciam fazer parte de um sonho.

Uma sombra surgiu em seu quarto sem que percebesse. Um contorno com ideias malignas a seu respeito. Ele não fez nenhum barulho na hora de entrar e tampouco fazia ao se locomover lentamente pelo chão de madeira que sempre rangia quando alguém passava. Era uma sombra silenciosa e muito cautelosa que não queria ser pega.

Ele aproximou-se dela com cuidado. Sentiu-se extasiado, completamente atraído por aquele perfume natural e pelos contornos que eram desenhados detalhadamente pelo lençol fino que a cobria. Teve vontade de arrancar todos aqueles panos com voracidade e fazer o que queria desde o momento em que havia posto os olhos por cima daquela silhueta.

Calma. Ainda não. A sombra pensou consigo.

Ele sorriu no meio do breu. Ninguém viu.

Ele agachou ao seu lado e penetrou com a sua mão direita por baixo do lençol.

Assim que encostou na pele quente e macia da menina sentiu o corpo queimar por dentro. Um desejo delirante.

Rin se retesou com aquele toque frio na pele o que deixou louco de vontade de agarrar-lhe ali mesmo. Não queria mais esperar.

Subiu com a mão gelada por suas pernas, mas acabou parando na metade da coxa quando percebeu que a morena se agitava, como se estivesse acordando.

Rin abriu os olhos monotonamente e sentou confusa por ter acordado de repente no meio da noite. Olhou para os lados e não viu ninguém, só Jaken que roncava baixo. Achou aquilo esquisito. Levantou-se do Futon e foi até a janela em busca de algo mais convincente do que um vazio no seu quarto.

Não há nada...

E foi então que convenceu-se e voltou a dormir.

...

Havia borboletas das mais variadas cores por todos os lados.

Uma floresta densa e bem verde.

Uma terra úmida e cheirosa embaixo de seus pés.

Pássaros e cigarras cantavam.

O sol era intenso.

Sentiu o suor se amontoar na testa enquanto colhia algumas flores.

Foi então que olhou para trás e viu aquele yokai gosmento e fétido novamente.

O mesmo que a fez cair no buraco e perder a estabilidade no tornozelo.

Sentiu um pavor imenso.

Não estava armada e mal conseguia correr e desviar-se de seus ataques brutos e constantes..

Acabou tropeçando num galho de uma árvore caindo ao chão violentamente.

Quando levantou-se para correr novamente, ele já estava bem na sua frente com os dentes afiados cintilando no sol.

E foi então que ele a atacou.

-Não, por favor! –Rin acordou gritando com o pulso acelerado.

Mas era só mais uma noite perdida.

Mais um pesadelo.

E mais uma vez um coração acelerado e uma respiração ofegante.

E mais uma vez Jaken pulara do Futon para ver uma mulher com olhos horrorizados e com o corpo trêmulo.

...

O sol estava a pino. Um calor agradável invadia o feudo.

Era um dia lindo do lado de fora que Rin não perderia por nada.

Dessa vez não esperou por Akane e nem por Jaken.

Vestiu um kimono qualquer, um que não era digno de uma princesa, mas que também não era de fato horrendo.

Colocou um kimono amarelo bem claro estampado com pétalas da cor rosa. O obi era azul marinho e não formava nenhum laço nas costas.

Calçou um chinelo comum e saiu sem fazer penteado no cabelo. O deixou solto, pendendo pelos ombros.

Saiu porta a fora, como se nunca tivesse visto o jardim do castelo.

Viu Arurun descansando embaixo de uma das árvores verdes e bem vivas. Ele parecia dormir tranquilamente, coisa que ela sentia falta. Resolveu não importunar o yokai de duas cabeças.

Decidiu então passear pelo jardim, mas assim que deu os primeiros passos, sentiu uma mão a segurar pelo braço.

Ela virou-se rapidamente, tinha levado um susto, quase saltou. Mas ao olhar aquele semblante conhecido relaxou completamente.

-O senhor me assustou.

-Rin, o que eu falei sobre andar sozinha pelo castelo? –Sesshoumaru a fitou seriamente.

-Eu sei, mas já estou cansada. Não quero me sentir prisioneira. Não quero que eles pensem que estou mal e acuada, isso só irá piorar as coisas. Eu saindo sozinha ou não, não vai fazer com que meus pesadelos parem ou com que não me ataquem. Se quiserem fazer isso, vão fazer.

-Eu sei. –ele suspirou. –Só acho que estaria mais segura com Akane ou com Jaken.

-Eu vou ficar bem.

-Teve outro pesadelo?

-Tive. –assenti. –Sonhei com o yokai que me atacou. Com o que me fez cair no buraco.

-Pelo jeito esse yokai não vai parar até te enlouquecer... Eu vou descobrir quem ele é.

-Seria ótimo se o senhor descobrisse. –ela admitiu sorrindo.

-Jaken veio falar comigo sobre o que aconteceu ontem à noite. Sobre Watanuki.

-Ah... Aquele yokai. –ela encolheu os ombros ao lembrar. Sentia um frio na espinha toda vez que lembrava daquele olhar.

-Não chegue perto dele. Watanuki não é como os outros.

-Eu notei...

-Satsu não tem nenhum controle sobre ele. Eu estou de olho em Watanuki, assim como os outros.

-Não confia nele? –franziu o cenho.

-Não. –respondeu rápido, sem pestanejar. –Não com você.

-Por que o senhor diz isso? –ela indagou curiosa.

-Só faça o que eu falei, pelo menos dessa vez.

-Claro. –assentiu.

-Vai ficar tudo bem, Rin. Eu farei o possível para que nada te aconteça.

Rin sorriu com aquela frase e sem pensar duas vezes abraçou o senhor feudal.

Do segundo andar, um par de olhos acompanhava toda aquela cena. Na verdade, ele fitava apenas ela. Sentiu-se incomodado em vê-la abraçando Sesshoumaru, foi dominado por um sentimento ruim que o fez franzir o cenho.

-No que está pensando, Watanuki? –uma voz masculina o tirou do transe.

-O que você quer, Yashamaru? –ele indagou impaciente.

-Eu conheço você. Sei que está pensando em alguma coisa... Cuidado com seus planos.

-Do que está falando? –indagou de forma ríspida.

-Watanuki, deixe-a em paz.

-Não sei do que está falando. –ele virou-se de costas. Não queria mais ouvir.

-Claro que sabe. Sei o que pretende.

-Você não sabe de nada, Yashamaru. Vá cuidar de si mesmo que eu cuidarei de mim.

...

Um mês.

Um mês se passou.

E parecia que nada havia mudado.

O traidor não havia sido descoberto.

Rin continuava tendo pesadelos.

Jaken não queria mais dormir no quarto de Rin.

Akane ainda ajudava Rin a se arrumar todos os dias.

Os yokais ainda não admitiam a presença de uma humana no castelo.

E Sesshoumaru já não sabia mais o que fazer para consertar tudo.

Já era noite. O Lord já se preparava para dormir, usava um kimono leve, todo branco. Havia só uma vela acesa em seu imenso quarto no último andar. Fazia tempo que não dormia, mas já estava preparado para acordar no meio da noite com os gritos de Rin.

O castelo estava silencioso. Não se ouvia nenhum ruído. Assim que apagaria a vela escutou o grito de Rin cortando o vazio. Ele rosnou alto, já estava farto daquilo. Até quando teria de ouvi-la gritar em agonia?

Mas aquela noite só estava começando...

Ele ouviu passos descompassados e uma respiração ofegante ecoando pelos corredores. Sabia muito bem que era ela que vinha. Só não entendeu o porque.

E antes mesmo de sair de seu quarto e ir atrás da menina, a sua porta deslizou brutalmente e sem hesitação.

Rin estava com os olhos abarrotados de lágrimas e com o corpo tremendo. Sesshoumaru arregalou os olhos ao presenciar aquela cena.

Ela não conseguia nem mesmo falar, parecia em choque.

E como se quisesse comprovar alguma coisa, ela correu em disparada e o abraçou fortemente. O abraçou como se fosse a última vez que faria.

Suas lágrimas desciam como numa cascata.

Uma cascata enlouquecida.

-Faça-os parar! –sua voz saiu alta e desesperada. –Tire-os da minha mente!

-Rin...

-Eu não aguento mais... –ela continuou entre soluços. –Eles estão me matando.

-Do que...

-Os pesadelos... –ela afundou o rosto no peito do yokai. –Eu não aguento mais. Por favor, me deixe ficar aqui com o senhor.

Sesshoumaru não conseguiu responder de primeira. Ainda estava confuso sobre o que deveria fazer. Ele queria deixá-la ficar, autorizar aquela sandice, mas também não sabia se devia. Ela já não era menina, não tinha mais sete anos. E ele... Bem, naturalmente, tinha instintos. Desejos como qualquer outro.

Não sabia se iria aguentar sentir seu perfume adocicado em seus aposentos sem fazer nada. Dormir com ela em seu Futon... Aquilo era um pedido forte de mais. Um pedido que fez esquentar o corpo e abarrotar a mente.

Sesshoumaru a tirou de perto de si por um instante. Fitou seus olhos úmidos enlouquecidos por bastante tempo. Sentiu-se por um momento acuado e aquele sentimento o pegou desprevenido.

Ele a queria. Queria de verdade.

E sentir aquilo era no mínimo esquisito e delicioso.

Rin estava nas suas mãos, literalmente, em todos os sentidos. E aquela vulnerabilidade e dependência que ela tinha com ele o deixava fascinado.

-Rin...

-Por favor... –ela insistiu como se soubesse a resposta que ele daria.

-Tem certeza de que quer ficar aqui comigo? –ele a fitou com profundidade.

-Por que eu não teria essa certeza? Ficar perto do senhor é o que eu mais quero nessa vida.

-Então você não iria me negar uma coisa.

-O quê?

Ele afastou alguns fios de cabelo, úmidos pelas lágrimas, os colocando atrás da orelha de Rin. Seu rosto simetricamente perfeito e belo estava molhado e algumas lágrimas ainda teimavam em descer dos olhos marrom-terra.

Sesshoumaru a fitou de forma diferente, como se buscasse resposta, como se ainda quisesse encontrar em seus olhos uma menina que há quinze anos deixara pra trás.

Em vão.

Aquela menina tinha desaparecido. Mesmo que alguns traços tivessem sobrevivido em seu semblante maduro, certamente não era mais a mesma. E ver aquilo, presenciar por si mesmo aquele crescimento repentino e de certa forma selvagem o deixou abismado.

Tão abismado como na primeira vez que se viram.

-Por que a sua existência é tão violenta? –ele indagou para si mesmo. Não queria resposta.

Rin tentou recuar, sentia agora as maçãs do rosto arderem. Teve medo de parecer infantil com suas bochechas rosadas e com os olhos cheios de promessas e aspirações.

Ele a fez encarar de novo, pegou em seu queixo gentilmente a trazendo mais para si.

Rin sentiu o pulso acelerar e uma vontade louca de baixar os olhos, mas ele não iria permitir.

E como num sonho, ele a puxou para si. Seus rostos estavam próximos, tão próximos que dava para sentir a respiração acariciando as bochechas rosadas da menina-mulher. As lágrimas haviam cessado, mas a respiração ofegante continuava. Mas daquela vez era uma respiração que remetia a expectativa e não a medo como anteriormente.

E num deleite, ele colou seus lábios com os dela. Primeiro de forma afável, com cuidado. Não queria assustá-la, embora isso fosse impossível de não acontecer.

Uma explosão de sensações invadiu o corpo de ambos.

Pra ela, um sonho que se realizava, o que sempre quis.

Pra ele, um desejo ardente que queimava, que o estava consumindo.

Ela entregou-se ao beijo inesperado. Entregou-se com ardor ainda sentindo o corpo tremer e o rosto arder. Quis saber o que fazer, mas logo percebeu que não era necessário saber de nada. Ele a conduziria como numa dança, como na vida, como sempre fizera.

Sesshoumaru de uma certa forma sempre a conduziu. Tudo que fez na vida foi por ele ou pensando nele. E graças a isso, ela estava lá. Onde queria estar. Onde sempre quis estar.

Ele a deitou no chão ainda com os lábios colados. Era a vez dele estar com o coração acelerado e brigando consigo mesmo. Dizendo para si que aquilo era errado. Tão errado... Mas tão inevitável e saboroso. E mesmo que se arrependesse depois, mesmo que arranhasse e definhasse por dentro, ele sabia que não conseguiria parar se não fosse da vontade dela. E como ela também o queria, como também o desejava, não tinha porque acabar.

Percorrer seus contornos oblíquos e bem desenhados era algo espetacular. A pele macia e lisa era convidativa ao toque e aos beijos ardentes e açucarados que a fazia se retesar, a deixar a respiração escapar pela boca e tremeluzir o corpo.

Ela não conseguia evitar. Não iria brigar consigo mesmo. Queria e pronto. Aquilo bastava. Se não fosse com ele não seria com mais ninguém. Já tinha dito isso a Jin. Seu coração já tinha sido aprisionado, logo seu corpo também. Só o senhor feudal de frio semblante tinha a chave...

E lá estavam os dois em silêncio, deitados num Futon bagunçado fitando o teto de madeira. Um lençol fino os cobria.

O evento anterior ainda lhes era inacreditável. Principalmente para Rin que não sabia que reação ter, o que dizer ou o que fazer.

Aquele silêncio a matou. Estava em pânico, com o coração acelerado.

E assim que ele virou-se para ela, assim que se deparou com aqueles olhos âmbar, não conseguiu segurar as palavras.

-Eu amo o senhor. Amo de verdade.

-Rin...

-Não precisa me dizer nada. –ela o interceptou com um sorriso. –Eu só queria que soubesse. Eu sempre quis que soubesse.

-O amor é uma prisão imensa.

Rin riu ao ouvir Sesshoumaru dizer aquilo, mas logo assentiu. Era mesmo verdade. Foi por amor que se permitiu isolar-se naquele enorme castelo cheio de olhos cruéis que não a queriam ali.

-Até quando irá aguentar, Rin?

E foi então que deu de ombros.

-O que o senhor acha? Sabe, minha vida toda, eu quis estar aqui, ao lado do senhor. Não importa, senhor Sesshoumaru. Não me importam os pesadelos, os olhares, as maldições... Eu não me importo com isso. Se o senhor estiver ao meu lado em todos esses momentos, eu não irei sair daqui. Eu quero estar aqui... E enquanto o senhor quiser, eu estarei ao seu lado. Mesmo que dormir faça parte do meu passado, mesmo que tenha que enfrentar todos os dias esses yokais...

Sesshoumaru sorriu de leve, como se fosse de seu feitio.

Não disse mais nada depois. Só a fitou e passou a mão pelos seus cabelos.

Para ela aquilo tinha sido o suficiente.

Rin deitou sua cabeça no peito do senhor feudal e pôs-se a cerrar os olhos sem medo.

Ali ela tinha a certeza absoluta de que dormiria tranquila.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

;) espero que tenham gostado!
Ainda tem muito mais pela frente!
Beijos!