Os olhos azuis observavam o jardim que um dia fora bonito. Adentrou a casa suspirando, estava exatamente tudo igual.

Olhou o quarto pela porta aberta, o lençol de seda rubra e a própria cama, ele as escolhera.

Sentiu os olhos arderem, mas limpou as lágrimas antes que elas escorressem pelo rosto. Não posso chorar, não por ele, pensou. Resolveu ligar o rádio.

Chorei

Ao ver as fotos ao lado da cama

Ao ver as cinzas do que era chama

Ao ver as rosas pisadas na grama.

Riu um pouco de sua desgraça, até a estação de rádio entendia que aquele não era um bom momento. Como a vida era irônica, sempre sarcástica com ela. Pensou em desligar o som, mas desistiu. Aumentou o volume e cantou junto o refrão melancólico.

- Mas eu vou apagar, vou tentar não lembrar. Dos dias que passei ao lado teu, achando que seu coração era meu, chamando de eterno o finito enganado pela luz do seu sorriso – deixou as lágrimas rolarem, não queria mais lutar. – Mas eu vou tentar caminhar, vou tentar disfarçar, vou tentar ser natural, dar um “oi”, “tchau”, como se teu amor não fosse meu mal. Vou tentar esquecer o quanto eu amo você.

A música continuou, mas a garota estava apática, ainda pensando no seu amado que fugira com a amiga traíra a deixando sozinha no meio de uma viagem romântica pela Itália.

- Chega, Thalia Grace! Você já chorou demais – gritou para si mesma.

Ela levantou de súbito e começou a tirar tudo o que o lembrava, inclusive a foto onde os três pareciam juntos. Colocou tudo em sacos e levou pra fora.

A casa estava uma bagunça e não sobrara muita coisa, mas ela sorriu satisfeita. Livrar-se de tudo que lembrava ele era o primeiro passo, era daquele jeito antes dele e agora voltaria a ser. Pegou os óculos de sol e saiu de moto, fazia muito tempo desde a última vez que saíra de moto sozinha, sem um destino previsto. Ele não gostava e ela acabava se inibindo por isso. Acabou se lembrando de alguém que costumava acompanhá-la, sorriu de lado rumando para a casa do amigo em alta velocidade.

Logo que chegou, tocou a campainha eufórica. Nunca imaginou que sentiria tanto sua falta.

O amigo abriu a porta com a mão livre, a outra segurava uma garrafa de cerveja. Seus olhos negros pareciam sem vida e ele estava com enormes olheiras, os cabelos totalmente despenteados e sem camisa, alguém pronto para ficar em casa e não receber visitas. Mas ainda era o mesmo garoto sem noção que Thalia abraçara no aeroporto há seis meses.

- Grace? – ele parecia assustado com a presença dela, corou por um momento, mas sorriu ao ver o sorriso de lado dela. Um brilho perverso tomou conta de seu olhar, então ele estendeu a garrafa a ela e lhe deu passagem.

- Você acha que uma noite de diversão pode me fazer esquecer o Castellan, di Angelo? – ela questionou já no meio da sala. – Pelo menos agora você não é de menor.

Ele estava feliz pela presença dela, soube do problema com o noivo, mas a deixou em paz. Ela o rejeitara tantas vezes que ele nem queria tentar mais, era bom vê-la brincando de novo, como se nada tivesse mudado.

- A noite até pode ser boa, Thalia, mas só se você fizer o “esquenta” comigo – Nico declarou indo para a cozinha buscar uma cerveja para a convidada, imaginou que iria ser xingado pelas próximas trinta gerações, quase sempre era assim que ela reagia.

Estranhou quando não ouviu nenhuma resposta. Franziu o cenho, pegou a garrafa e foi à sala procurá-la. No sofá onde ela estava, encontrou a blusa que vestia, logo à frente o par de botas, perto da porta de seu quarto, o sutiã. 

- Puta merda! – exclamou corado.

- Nico, agora eu estou esperando o “esquenta” – a voz sensual seguida da gargalhada gostosa fizeram despertar os desejos mais sórdidos do garoto. Ele seguiu a trilha de roupas excitado e feliz, nunca acreditou que tinha chances com ela, e agora era realidade. Beliscou o braço pra ter certeza. Sorriu.

- Vou te fazer esquecer o idiota do Luke.