O Último Pendragon escrita por JojoKaestle


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

ehuehfhueufhfe, enjoy!



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- Eu falei com Jay. – anunciou Morgan enquanto tomava lugar ao meu lado sem muito entusiasmo – E ele disse que teoricamente senhor homicida não cometeu falta alguma. No máximo uma pitadinha de foul play.

- Isso é desanimador – murmurou Dianne tomando um grande gole de seu milkshake, o que a deixou com um bigode rosa – Parece que vai caber a você dar o troco Avina.

Convencer Morgan que eu estava bem o suficiente para competir no evento da tarde levou o almoço inteiro, mandando para o espaço qualquer plano de ser adorável e contida para dar uma boa impressão a Gwynn e sua família. Não que estivessem prestando muita atenção de qualquer forma. Seus irmãos mais novos estavam sentados com Marian enquanto ela tentava controlar os garotos que pareciam feitos de pura energia. Gwynn se oferecera mais de uma vez para mudar de mesa e ajudar, mas sua mãe assegurava com um sorriso que estava tudo bem. Era bastante claro de quem ele havia herdado a paciência. Ellie deveria ter saído mais ao pai porque não parava de reclamar como Merlin não a deixara montar em Smoca. Haviam nos encontrado nas longas mesas diante das barracas de comida e meu feiticeiro favorito (o que não era muito difícil) parecia levemente estressado.

- Ele não me deixou galopar. – cumprimentara Ellie com voz indignada – E não acreditou quando contei que aprendi a montar em Morris.

- Senhor Morris era um pônei perto da aposentadoria. – devolvera Gwynn e sorriu para Merlin – Obrigado por não deixa-la quebrar o pescoço.

Merlin anuíra levemente, depois deu meia volta e se afastou em meio à multidão. O observei por um instante, sem saber se deveria ir atrás e chamá-lo para almoçar conosco ou não. Depois decidi que Dianne, Ellie e Morgan juntos poderiam ser demais para seu espirito milenar aguentar de uma vez.

Entre as discussões triviais de Dianne e Leon (alguma coisa sobre os cavaleiros de Coração Valente não terem escudos de aço) e as reclamações de Morgan que estava lívido por não conseguir o nome de sir Lancelot, tive muito pouco tempo para conversar com Gwynn. Ele parecia extremamente entretido, adicionando suas opiniões as conversas quando um dos meus amigos pausava para respirar. Ellie estava sentada ao meu lado e tão ocupada com suas batatas fritas com um monte Everest de ketchup que parecia completamente alheia ao que se passava.

- Bem – anunciou Dianne quando chegou ao fundo do seu copo – O que importa no fim das contas é que Avina vai dar uma boa surra nesse tal de sir Lancelot. – virou-se para Leon e acrescentou – E em você também.

- Nós estamos em grupos diferentes. – explicou Leon pela segunda vez e limpou o bigode de morango de Dianne com um guardanapo – Aqui. É difícil te levar a sério com esse bigode.

- É melhor que você me leve muito a sério. – ela murmurou de volta e enlaçou seu braço, pousando sua cabeça no ombro do meu amigo que parecia próximo a entrar em combustão.

Não tinha muita ideia a quantas o relacionamento deles andava, mas estava bastante claro que ia bem. Bastava parar e observá-los por cinco segundos. Olhei para Gwynn que estava diretamente na minha frente de braços cruzados sobre a mesa, parecendo perdido em seus próprios pensamentos. E me peguei imaginando se eu estava neles também. Talvez só um pouquinho, bem pouco já seria suficiente.

- Eu vou procurar Mo. – disse Morgan, levantando-se com seu prato de papelão vazio – E você tome cuidado para não ser encurralada em algum lugar deserto.

- Olhe ao redor Morgan. Não há lugar deserto aqui.

Meu irmão soprou um beijo para Dianne e plantou um segundo na minha cabeça.

- Agora, não vamos ficar azedas. – riu e antes que eu pudesse dar uma resposta sobre quem estava azedo o dia inteiro havia ido embora.

- Então, Mo eh. – comentou Dianne com um sorriso sorrateiro no rosto.

- Dianne.

Minha amiga levantou os braços em rendição.

- Okay, okay. Você não gosta dele, eu entendo. Parece muito arrogante, tudo isso de “sou melhor que vocês” exalando por todos os poros.

- Ele apenas quis comer comida de verdade. – defendeu Leon, que tinha tendência a defender quem quer que fosse, mesmo não gostando da pessoa. Era esse o caso com Mordred também, como havia me contado em uma das vezes em que desabafei com ele sobre como tinha sentimentos não muito nobres em relação ao rapaz.

- Comida de verdade em um restaurante cinco estrelas a uma hora daqui. Com “sou melhor que vocês” como prato principal.

- E “olhem meus sapatos custaram mais que seu carro” como sobremesa.

Dianne gargalhou e bateu na mão estendida de Ellie.

- Por mais que a conversa me interesse – comentei com sinceridade – Preciso dar uma olhada em Smoca.

- Eu posso ir com você! – determinou Ellie e já se levantava quando sua mãe interveio da mesa ao lado.

- Você vai levar seus irmãos no campo de arco e flecha depois do almoço, querida. Tinha se esquecido?

A garota parecia estar diante da maior escolha de sua vida. Mordeu os lábios, olhou para Gwynn, depois para os irmãos que jogavam os restos de batata frita um no outro.

- Okay. – murmurou, abaixando os ombros – Mas eu posso vê-lo mais tarde.

- Claro que pode. – concordei, mesmo não se tratando de uma pergunta. Dei um último sorriso para meus amigos e me pus a caminho de encontrar Merlin.

Ele estava, como esperado, dando uma cenoura para Smoca enquanto acariciava o pescoço do garanhão preto como carvão. Pareceu surpreso ao se deparar comigo e mais confuso ainda ao olhar para o que trazia nas mãos.

- O que é isso? – quis saber depois de me cumprimentar com um balançar de cabeça.

- Isso, Merlin, é a maravilha do nosso tempo.

O feiticeiro pareceu incerto sobre se estava brincando ou não.

- Parece pouco importante. – comentou e se aproximou – E está derretendo.

Enfiei uma das casquinhas de sorvete em sua mão.

- Tome. Prove antes que derreta totalmente nesse calor. – lambi um bom pedaço do meu – Nunca provou sorvete durante todo esse tempo?

- Sorvete. – Merlin repetiu numa performance digna de Tarzan – Não tive ocasiões para isso.

- Mas o bom de sorvete é justamente isso. Você não precisa de uma ocasião especial.

- E por que o seu é verde?

- Pistache. – respondi – Quer um pouco? Eu não tinha certeza de qual você preferiria, por isso fui no de chocolate. Espero que goste.

- Você espera que eu goste? – observou a bola marrom que lentamente se dissolvia e arqueou a sobrancelha – Tem veneno aqui dentro?

- Merlin você me ofende. Vamos, por mais que te ame, Smoca, um estabulo não é um bom lugar para se tomar sorvete.

Smoca parecia não poder se importar menos com meu comentário e assim deixamos o estabulo improvisado com Merlin comentando como o sorvete era agradável. Agradável. Quem fala assim?

- Os duelos em meu tempo eram bem diferentes, não tão orientados para as crianças. – Merlin comentou quando passamos por um garoto segurando um balão e com pintura facial de bobo da corte.

- É apenas uma grande brincadeira no fim das contas. Você tem chocolate no nariz. – acrescentei rindo e tentei limpar.

- E você tem a delicadeza de um lutador de apostas. – observou o feiticeiro segurando o nariz – Arrancaria metade dele fora.

- Você esta tão chato hoje que talvez seria a melhor solução mesmo.

- Desculpe, quem salvou sua vida?

Seus olhos brilhavam tanto quando sorria que era impossível ficar indiferente.

- Você. – bufei.

- Ah, era isso mesmo. – e voltou a olhar para frente – Já tinha quase esquecido.

O intervalo de almoço fazia as barracas de atrações ficarem quase que completamente vazias. Apenas um pequeno grupo aprendia a escrever com pena e tinteiro, enquanto duas amigas terminavam de trançar suas coroas de flores. De alguma maneira nos encontramos diante da cabana de adivinhação, como se as estrelas que cobriam o tecido azul escuro tivessem nos guiado de alguma forma. Certo, talvez aquilo era uma forma romântica de dizê-lo. O cheiro de incenso que vinha de dentro já era sufocante a dois passos da entrada, o que fez Merlin parar.

- Vamos dar uma olhada. – convidei, talvez ela me contasse que Gwynn e eu éramos feitos um para o outro. Não que eu acreditasse em adivinhas, mas ter o apoio do destino para algo bom seria uma novidade bem-vinda.

- Há uma bruxa lá dentro.

- O quê? Merlin, é só uma brincadeira. Não é uma bruxa, é uma vidente.

- Há uma bruxa lá dentro e mesmo tendo encontrado algumas boas não estou disposto a testar de novo.

Apoiei as minhas mãos na cintura.

- E o que você acha que ela vai fazer? Nos transformar em vassouras? Esse é um evento familiar Merlin, ela não poderá fazer nada. – me dei conta do absurdo que falara assim que fechei a boca.

- Eu não teria tanta certeza assim. – devolveu Merlin com expressão séria.

Segurei sua mão para ter certeza de que não escapasse.

- Vamos, vai ser divertido.

- Se eu te contasse quantas vezes ouvi essa frase antes de algo não divertido acontecer estaríamos aqui até amanhã.

- Então não conte, tenho um torneio para vencer daqui a pouco. – quando resistiu a minha puxada tive que voltar e encará-lo com minha expressão mais suave e calma – Merlin. Por favor. Apenas finja que não é um ser magico imortal que tudo deve ficar bem.

Merlin suspirou, derrotado.

- Cinco minutos.

Quando empurrei o tecido para o lado uma lufada de vento trouxe o cheiro de incenso, almíscar e nozes. Por dentro a cabana era menos misteriosa que dava a entender quando se via apenas o exterior. Era pequena, talvez para um máximo de quatro pessoas e na mesa em seu centro estava uma bola de vidro que deveria imitar uma de cristal. Ela estava sobre um tecido ricamente decorado e quando cheguei mais perto vi que tinha detalhes em sua costura que imitavam o enrolar de vinhas de ouro. Merlin não prestava atenção alguma aos detalhes de decoração e apertou minha mão mais forte, me alertando para a presença da nossa bruxa.

Chamar aquela mulher de bruxa seria um grande desrespeito. Era rechonchuda e jovem, com uma expressão tão bondosa no rosto que a fazia parecer uma fada madrinha que tinha se perdido. Sua roupa era tão bonita quanto seu rosto e se constituía em um vestido purpura com detalhes prateados. O tecido que usava ao redor do busto também era prateado, quando pôs as mãos dobradas em cima da mesinha pude ver que suas unhas tinham a mesma cor. Olhei para Merlin com uma expressão de que ele estava louco. Aquela mulher antes ia nos conceder três desejos a brandir sua magia e realizar alguma maldição. Merlin não parecia ter tanta certeza, porque senti seus ombros enrijecerem quando nos convidou a sentar nos dois banquinhos diante de si.

- Olá queridos, em busca de algum conselho? Ou querem dar uma olhadinha no futuro? – ela piscou e deu um sorriso convidativo – Ou determinar se são mesmo feitos um para o outro? Eu posso olhar em suas mãos. O que vocês precisarem, Madame Jimena pode realizar.

Não havia soltado a mão de Merlin até então com medo de que fizesse alguma coisa fora do normal. As palavras da vidente bruxa fizeram com que nos soltássemos como se tivéssemos levado um choque tremendo.

- Ah, na verdade não estamos juntos. – eu murmurei, dando uma olhadela para Merlin e constatando que estava ficando vermelho como um tomate. Bom. Se estivesse envergonhado demais não poderia se jogar sobre a madame adivinhadora.

- Não? – a mulher olhou para Merlin pela primeira vez e seus longos cílios piscaram algumas vezes – Achei que estivessem.

Resisti a vontade de tossir diante do incenso sufocante e me endireitei no banco.

- Não, não estamos. Agora – estendi a minha mão para ela – Se quiser pode começar.

Seu toque era suave, ainda que desse para ver os calos que tomavam conta de suas mãos. Madame Jimena olhou uma última vez para Merlin e então voltou sua atenção total para a previsão que teria que inventar.

Franziu a testa teatralmente e soltou a minha mão como se a tivesse queimado.

- Não! – exclamou e virei para Merlin que parecia estar esperando que desse algum sinal de que deixaria seu disfarce de lado.

- O que aconteceu? – quis saber.

- Há tanta dor no seu futuro criança. – seus olhos cinzentos se pregaram em Merlin e pela primeira vez perdeu parte de sua aura suave – Tanta dor infligida para favorecer outros.

Aquilo teve minha atenção completa. Parte de mim achava aquilo tudo divertido, a outra tentava não dar ouvidos para as preocupações de Merlin.

- Bem, talvez foi um erro. – sugeri, estendendo minha mão novamente – Talvez se olhar melhor veja outras coisas. Coisas boas. – como Gwynn se declarando para mim.

Madame Jimena hesitou por um instante, depois se aproximou e abriu meus dedos para poder ver melhor. Acompanhou cada linha em minha pele com o indicador, o que fazia cocegas. Não queria arruinar a atmosfera misteriosa, por isso me esforcei para não rir.

- Há coisas grandes reservadas para você. – ela começou, fechando os olhos – E decisões difíceis que arrancarão um pedaço do seu coração... Há dor e tristeza, mas também há espaço para alegria e amor. Amor não te faltará nessa vida.

Opa.

- Ele também será sua ruina. – acrescentou com voz severa.

Não tão opa.

- Minha ruina? – perguntei – Em que sentido?

- Morte.

- Ah.

Madame Jimena parecia ter se cansado de falar. Sentiu a minha mão, a apertou algumas vezes e acompanhou todos os traços que a compunham pelo que parecia ter sido uma eternidade. Me parecia pouco educado pedir para que se apressasse e talvez se fosse mais direta ela se lembrasse que era uma bruxa que poderia nos transformar em sapos.

Quando finalmente soltou a minha mão todo o seu ar misterioso fora substituído por uma linguagem clara e objetiva.

- Isso não é bom criança. Seu futuro é marcado pelo amor que sente por outras pessoas e o amor que elas sentem por você. Mas nunca se esqueça que há duas maneiras de amar: uma delas é altruísta e visa apenas o bem da outra pessoa, a outra é egoísta e mergulhado no bem estar de si próprio. Saiba diferencia-los em si mesma e nos outros. – deu uma olhadela em Merlin que parecia um cão de guarda esperando o comando de pegar – E tome cuidado com suas companhias. Você é mais que o meio para um fim.

- E no final eu morro. – concordei tentando não dar dicas de que aquilo fora a maior baboseira que tinha escutado na minha vida.

A bruxa voltou seus olhos claros para mim e por um segundo o ar parecia pesado. Não de incenso ou perfume, algo diferente.

- Não é esse o destino de todos nós?

Não tinha uma resposta para aquilo. Na verdade tinha, mas não seria nem um pouco misteriosa. Por isso permaneci em silencio.

- E você? Não quer olhar no seu futuro?

Minha cabeça estava tão pesada que não percebi que falava com Merlin até ele recusar pela primeira vez.

- Parece justo depois de ouvir o meu futuro. – propus – Duvido que seja muito pior.

- Não é hora para brincadeiras, Avina. Vamos ou perderá o torneio. – disse se levantando.

O segui com pouca animação, seria divertido saber o que ela tinha reservado para ele. Poderíamos comparar nossos destinos e quem teria o pior venceria. Algo me dizia que eu venceria com honras.

Quando estava passando pela aba da tenda a vidente resolveu que ainda não havia terminado.

- Cuidado com seus jogos, Emrys, porque eles falharão.

Merlin puxou o tecido de volta no lugar com tanta força que tive medo que derrubasse a tenda inteira.

Quando estávamos a cem metros de distância achei seguro perguntar.

- Então, você tem um nome artístico? Ou é um nome de guerra?

Merlin olhou para mim de uma maneira que dava dicas de que não era hora para quebrar o gelo.

- Okay, fique sem responder. É meu destino que vai ser uma droga de qualquer forma.

Merlin parou e me segurou pelos ombros.

- Como você pode estar tão calma em relação a isso? Depois de ouvir tudo o que aquela mulher falou?

Me desvencilhei suavemente e continuei a andar.

- Eu tenho o maior feiticeiro do mundo ao meu lado, segurando as pontas. – falei por cima do ombro despertando o olhar curioso de algumas pessoas – Não poderia me importar menos com o que uma bruxa diz ou deixa de dizer sobre meu futuro.


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Notas finais do capítulo

Oh little Avina, mas voce devia...

Para alegria de todos e felicidade geral da nacao, o proximo capitulo esta pronto para ser postado. Entao eh so questao de receber os comentarios para postar novamente, entao bring itt!
No proximo capitulo: Avina tem que enfrentar sir Lancelot e Merlin tem uma crise pessoal. bjsbjsbjs!



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