Antes Que Você Vá escrita por Isabela


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Gente, nessa fic os capítulos não têm nome, mas acho que isso não é importante hahaha muitos livros são assim, então não acho que faça muita diferença.
Como prometido, aqui está mais um capítulo. Desculpem-me por demorar a postar, é que eu estava dando uma "incrementada" nele hahahaha. Olha, vou avisar que achei o final desse capítulo bem sem-graça, mas com ele vocês vão conhecer novos personagens!
Então, boa leitura!



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Capítulo Um


Desabei na cama depois de tomar um banho relaxante e demorado. Eram nove da manhã quando o delegado me liberou, logo após minha mãe ter ido à delegacia me salvar.


Eu não estava com sono – já tinha me acostumado a dormir na cadeia – mas não ia fazer mal tirar um cochilo. Lena e Victoria ainda não tinham ficado sabendo de minha mais recente captura, mas provavelmente elas só ririam.

Fiquei olhando ao longo de meu corpo coberto apenas pela calcinha e pelo sutiã que eu estava usando, pensando em que lugar ficaria legal desenhar aquele símbolo maneiro dos Mercenários. Na nuca eu tinha o tradicional símbolo do infinito – bem clichê, coisa de gente que faz primeira tatuagem na vida. No pulso direito, em letras até muito delicadinhas, estavam escritas as palavras “I’m not a princess”, e elas faziam bastante sentido, porque eu realmente não era uma princesa. Esta foi a segunda, da época em que comecei a realmente me rebelar, e era a minha preferida. A terceira tatuagem ficava do lado direito de meu tronco, um pouco abaixo da linha da calcinha, e era uma guitarra quebrada, da época em que minha banda não deu muito certo. Não que hoje ela tivesse melhorado muito consideravelmente. E a quarta e última (até agora), um dos únicos arrependimentos que eu tinha na vida; um coração rachado, lembrança do meu primeiro namorado, o que primeiro me deu um toco. Por quê? , eu me perguntava. Por que fiz uma tatuagem por causa desse idiota? Fazia já um bom tempo que eu tinha feito esta última, tipo uns sete meses. Já estava na hora de dar uma atualizada nas coisas.

Ao lado de minhas quatro tatuagens, meu piercing, aquela pequenina pedrinha de strass cravada em meu nariz não era nada, chegava a ser infantil, inocente. Assim, compensei um pouco deixando meu cabelo bem preto com mechas roxas, e olhos carregados de lápis de olho escuro.

Eu era uma garota bem diferente, mas não me achava feia. E nem sempre fora assim.

Em um passado não muito distante – cerca de dois ou três anos antes – eu era um exemplo de menina se comparado ao que era agora. Minhas notas não eram as melhores, mas não eram as piores também, e eu era quieta e não muito sociável. Mas depois que vi como o mundo era de verdade – cruel, nojento, perigoso e podre –, vi que não muito ia adiantar ficar isolada em minha bolha. Daí por diante, não sei exatamente por que, só me lembro de ter tido essa percepção, me tornei o que era. Muita gente saiu sussurrando dizendo que eu tinha me tornado parte da podridão do mundo, que tinha “virado a casaca”, mas eu estava longe de pensar assim. Eu não me considerava uma pessoa cruel, muito menos perigosa, pois não fazia mal a ninguém, e meus supostos “crimes” não passavam de pichar muros. E ficaria muito brava se alguém dissesse que eu era podre ou nojenta, porque minha aparência era apenas incomum (e não tão incomum assim). Minhas tatuagens e piercing e meu cabelo diferente não atingiam ninguém, e eu não tinha vergonha de dizer que não estudava para as provas e não trabalhava. Minhas opções, minhas conseqüências. Se eu não estava matando, roubando nem me prostituindo, era bom que todos calassem a boca e me deixassem viver minha vida.

Por causa de mais uma detenção, acabei perdendo o dia de aula, e a diretora ia ficar realmente brava com isso. Mas eu não ligava nem um pouco para o que ela pensava, nem para nenhum daqueles professores idiotas que estavam lá apenas porque não tinham tido chance de realizar seus sonhos reais, e acabaram na encruzilhada de ser um professor porcaria num colégio qualquer.

Um futuro que eu não queria para mim. Oh, não. Eu seria qualquer cosia menos uma decepcionada perdida.

Vesti-me com minhas roupas normais – calça rasgada, regata preta, meus All Star customizados – e coloquei meu anel de caveira e minha bolsa de couro. Deixei meu quarto completamente zoneado para trás e desci as escadas que me levariam diretamente à sala de estar da minha casa. Era uma casa bonita, localizada em um bom bairro do Rio, com um jardinzinho bem-feito na frente, além dos portões. Meus pais trabalhavam fora; meu pai, na prefeitura, minha mãe, como enfermeira em um hospital, e a empregada da casa, Jana, era a figura mais presente de autoridade que eu tinha quando estava entre aquelas paredes. Não que alguém fosse realmente uma autoridade para mim.

Esse pensamento quase me fez rir quando subi em minha Honda vermelha, brilhante e potente. Ah, eu adorava ser livre, não estar sob nenhuma autoridade. Eu nascera para ser como um animal indomado em um mundo indomável.

Acelerei pela rua, sem me importar em colocar o capacete. Se houvesse polícia em algum lugar eu estaria pega de novo, só que isso não era algo que realmente me preocupava.

Dirigi até a escola, e parei na esquina de cima, debaixo da árvore imensa que sombreava metade da rua. Lena e Victoria sempre sabiam que, quando eu faltava à aula, estaria esperando por elas exatamente ali ao final do período.

Coloquei a chave da moto na bolsa e peguei de dentro dela meus óculos escuros. Sol desgraçado esse do Rio. Estávamos em outubro, bem na primavera, com os turistas chegando de todas as partes do mundo e o calor derretendo cada transeunte infeliz no meio da rua. Sentei-me no meio fio, vendo o movimento dos carros, olhando os pedestres, e pensando.

Minha vida era tão boa, mas eu precisava de um incentivo para não cair na mesmice. Não sei, talvez algo mais radical do que violar o patrimônio público e ir parar na cadeia. Pular de grandes alturas, viajar para algum lugar longínquo e solitário onde eu pudesse desafiar minha coragem… essa última opção era hilária até para mim. Eu precisava de fortes emoções, mas que me movessem de um jeito diferente.

Fiquei viajando em pensamentos, sonhando acordada e ao mesmo tempo esboçando uma nova idéia que ficaria ótima pichada em algum muro, até que ouvi o sinal da saída soar. Joguei meus cabelos para trás e me levantei, ficando de braços cruzados esperando Lena e Victoria.

As duas logo despontaram pela rua, rindo alto e conversando, e eu acenei. Elas me olharam e sorriram, acenando de volta.

– Aí, nossa amiga louca está viva! – riu Lena, naquele tom de voz de roqueira que ela tinha.

Lena era a mais linda de nós três, com certeza. Seus cabelos loiros e longos, com apenas algumas mechas coloridas eram perfeitamente lisos por natureza. Ela tinha perfeitos olhos cinza tempestuosos, e lábios cheios combinando com a pele clara. Nunca me mostrou uma foto de como era antes de acrescentar ao cabelo as mechas, nem aos olhos a maquiagem e à pele, as tatuagens, mas imaginava que fosse uma garota lindíssima. Victoria era praticamente o inverso de Lena. Sua pele era escura, mas igualmente lisa, e seus olhos tinham um surpreendente tom negro, que quase confundia íris e pupilas. Seus cabelos eram negros e cacheados, e ela era a única que não tinha química neles. Suas orelhas tinham vários furos, e alargadores, mas de nós três Victoria também era a mais normal. Excedendo seu incrível talento para tocar guitarra.

– Conseguiu terminar ontem? – perguntou Victoria, sempre rindo.

– Arrã – confirmei, subindo na moto, já dando partida enquanto as outras duas se apertavam na garupa. Mais uma quebra de regras. Ah, como eu amava isso! – Claro que a polícia teve de aparecer. Mas me poupou de duas aulas extraordinariamente chatas de química.

– “Extraordinariamente” é pouco – disse Lena. – Mas agora estamos livres! – gritou, e eu acelerei ainda mais.

Era fácil e divertido costurar em meio aos carros no trânsito. Eu gostava da sensação de deixá-los todos para trás enquanto esperavam o semáforo abrir para passarem.

– O que vamos fazer hoje? – gritei para que Lena e Victoria me ouvissem. O vento cortava toda a minha voz, mas me tirava o calor.

– À noite vamos pichar em qualquer lugar – Victoria disse. – Mas podemos ir à praia agora, o que acham?

– Acho perfeito! – concordou Lena.

Praia. Era um programa tão normal se não adicionasse algo como voar de asa-delta ou mergulhar! Mas eu tinha certeza absoluta de que com minhas amigas eu faria algo emocionante.



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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Quero opiniões, críticas, toda a sinceridade de vocês! A quem já está lendo, muitíssimo obrigada, de coração. Prometo que o próximo capítulo será bem mais empolgante, e que vou postar logo. Beijooos!