O sol é escaldante... Uma gota insistente de suor escorre por minha testa, não importa quantas vezes eu volte a secá-la, ela simplesmente retorna. Meu corpo precisa de uma única coisa: água. Apoio as mãos em cima dos olhos procurando por algo, porém nada vejo além de areia vermelha e fina.

Estamos à mais ou menos um dia andando, acontece que após aquela floresta linda e encantadora se encontra uma armadilha. Um deserto. Não existe outra explicação. Nós caímos numa armadilha bem planejada e eu sei quem fez parte disso junto com o governo da capital... Meu queridíssimo amigo Chippy. Como eu pude ser tão ingênua? Os guardas nunca deixariam alguém tão inexperiente tomar conta de pessoas tão importantes. Nunca deixariam tudo tão obvio. Mas a questão é: para que essa armadilha? E o que virá depois?

Snow jogou conosco desde o inicio... Ele já tinha tudo exatamente planejado e agora que caímos feito bobos em sua armadilha, ele nos deixara agonizar até a morte. Toda aquela história de casamento era uma pura mentira, apenas para me deixar com raiva e fugir dali. E os mapas que Luke nos deu? Bom, todos levavam as devidas armadilha... Todo o treinamento de Ethan foi feito por Luke então Snow já sabia os planos de Ethan desde o inicio. Esse plano dele vem de tantos anos atrás e eu não sei como ele conseguiu tudo isso.

Agora eu consigo enxergar todo o plano dele... Desde o começo. Só não tenho certeza do que virá depois.

- Por que temos que continuar andando? – Quendy falou – Já sabemos que é uma caminhada sem fim, porque não podemos apenas sentar aqui e esperar?

- Precisamos de água – eu disse – E não vamos desistir.

Sinceramente, eu ainda tenho um pé atrás com Quendy. Ela é irmã de Martyn, e foi ele quem nos traiu. Talvez ela seja mais uma peça nos jogos do Presidente, mas talvez seja apenas uma menina abandonada pelo irmão e tentando encontrar paz.

Então escutei um barulho alto. Logo levei a mão na arma – a que pegamos do pacificador – e me virei, Ethan fez o mesmo. Mas não era um pacificador, muito menos um aerodeslizador. Era Ross com a mão na barriga e uma cara estranha.

- E comida... – ele disse – Minha barriga esta roncando há dias!

Eu não pude deixar de rir, o que foi completamente desconfortável, pois minhas bocas estavam completamente secas e rachadas.

Tínhamos basicamente duas armas, uma tesoura e as roupas do corpo.Isso no meio desse deserto? Quais são nossas chances?

Olhei novamente ao redor. Além da imensidão do deserto, tinha a floresta atrás e lá tinha água , plantas e .... Ah frutas e pequenos animais.

- Podemos conversar um pouco? – eu pedi.

Todos pararam e nos sentamos na areia, que estava quente demais, por isso tivemos que levantar e conversar em pé mesmo.

Tinha vento, mas era um vento seco e quente e machucava meu rosto com toda a areia que trazia.

Ethan parou do meu lado e segurou minha mão. Eu olhei para ele e sorri.

- O que houve? – ele perguntou.

- Estou pensando se não seria melhor voltarmos para a floresta – eu disse e olhei para eles com esperança – Voltarmos enquanto ainda podemos vê-la.

Ross me encarou como se eu fosse louca.

- Alana, você esqueceu? – ele chegou mais perto de mim – Os pacificadores estão nos caçando.

- Na verdade... – eu disse – Eles não estão nos caçando.

Quendy me olhou, Ethan e Ross fizeram o mesmo. Acho que o tom em minha voz denunciou tudo que sei... Ou ao menos tudo que desconfio.

- O que esta querendo dizer com isso? – Ross falou.

Engoli em seco. Eles são meus amigos, bem a não ser Quendy; eu não sei quase nada sobre ela. E se ela for um tipo de espiã? Se eu falar, todos irão saber que eu sei... Todos inclusive o Presidente Snow.

Respirei fundo.

- Nada. – disse rapidamente e desviei o olhar de todos – Só são meus instintos.

Ross me olhou de cima em baixo e deu uma piscada. Ele havia entendido. Eu sabia que ele também não confiava tanto em Quendy. Mas Ethan nunca disse nada, nem demonstrou. Por isso temo perguntar.

- E acha que devemos simplesmente seguir seus instintos? – Quendy perguntou equivocada.

- Calma – eu disse – Eu só estou sentindo isso.

Ela balançou a cabeça e olhou para Ethan, depois para Ross.

- Vocês dois concordam com isso?

Olhei hesitante para ambos. Eu sabia que Ross havia entendido o que eu queria, mas e Ethan? Ele tinha entendido?

- Eu concordo. – Ross disse e sorriu.

Sorri. Um verdadeiro sorriso de solidariedade. Corri e abracei ele. Ele segurou minhas costas, me levantou do chão e sussurrou no meu ouvido:

- Precisamos conversar!

Assenti. Ele me colocou no chão e eu voltei para o lado de Ethan.

- E você? – Quendy perguntou olhando para Ethan.

Ele semicerrou os olhos e me encarou.

- Eu estou com a Alana...

Sorri de novo, mas dessa vez me inclinei e beijei ele na boca.

Não nos beijávamos desde aquele dia no precipício. E eu senti como se todas as minhas energias se renovassem... Apesar das bocas secas e cortadas e do gosto de sangue, foi o beijo do ano.

Mas eu me senti mal. Eu sempre me sentia mal por Homes quando estava perto de Ethan... Eu queria tanto saber como ele esta! Se esta vivo, se não esta, se esta machucado ou se virou um carreirista... Quero saber dele. Quero ganhar ou perder de vez as esperanças.

Separei nossos lábios e voltei à atenção para a conversa.

- Então Quendy... –eu disse

Ela revirou os olhos.

- De jeito nenhum vou ficar sozinha... Eu vou com vocês seus cabeças duras!

Ela riu, e eu lembrei da menina doce que ela no fundo sempre foi. Abracei ela e beijei sua bochecha. Ela segurou minha mão e sussurrou em meu ouvido.

- Se eu morrer, eu te mato!

Eu ri, mas estava mais nervosa do que nunca.

Depois de algumas horas de descanso partimos para nossa longa caminhada de volta. Conversei em particular com Ethan e Ross enquanto Quendy dormia, e eles realmente não confiavam nela – assim como eu – e acharam melhor esconder minhas suspeitas dela.

Chegamos novamente na floresta, simplesmente exaustos, precisávamos de descanso.

Ethan me ajudou a fazer uma cama de grama para nós dois deitarmos, Quendy e Ross fizeram o mesmo porém em camas separadas.

Pegamos água, eu fiz armadilhas, Ross matou um pássaro... Tivemos uma verdadeira refeição.

A noite enquanto sentávamos ao redor da fogueira descansando tivemos uma verdadeira surpresa.

Um balão estava descendo do céu... Mas não era como um balão exatamente. Parecia um para quedas com algo agarrado nele.

- Olhe Ethan! – eu disse e apontei para o céu.

- Uma bomba? – Ross perguntou.

- Pode ser... – Quendy analisou.

Então todos nos protegemos. Ethan insistiu em me abraçar “para me proteger” e eu – apesar de não demonstrar – achei a coisa mais fofa do mundo.

Porém quando o tal para quedas aterrissou não fez nenhum barulho. Não explodiu e muito menos nos transformou em picadinho... Só ficou lá. Parado, esperando para ser aberto.

Cutucamos com um graveto para ver se a bomba não era acionada pelo toque, mas de novo, nada.

- Eu abro. – eu disse – Aposto que nada de ruim vai acontecer.

Ethan segurou meu braço, tentando me impedir de fazer isso, mas eu já estava decidida.

Segurei o rosto dele com as duas mãos afofando suas maçãs do rosto. Beijei sua testa e me virei.

Segurei com cuidado o para quedas e o soltei devagar da enorme cesta metálica. Tinha um pequeno botão em cima dela e quando apertei ela se abriu.

E lá dentro tinha comida de verdade. Uma refeição completa para quatro pessoas, água e sacos de dormir. Bem no fundo tinha também uma pequena tela negra junto com uma rosa. Todos olharam apreensivos enquanto eu apertava o pequeno botão vermelho.

De inicio a tela ficou branca e depois um pontinho negro foi chegando mais e mais perto, até que eu o reconhecesse.

- Snow... – eu rugi com a raiva me contorcendo por dentro.

- Olá – a voz dele surgiu do nada – Alana querida, Ethan, Ross e Quendy.

Segurei firme a mão de Ethan.

- Vocês devem estar pensando, o que diabos é isso? Bom, primeiro eu gostaria de desejar a vocês uma ótima refeição, mas economizem, pois enviaremos uma dessas apenas por semana. – ele sorriu confiante – Em segundo lugar, quero falar que tenho um plano traçado para vocês.

Apertei a mão de Ethan com força. O suor frio escorreu por minha testa e minhas pernas começaram e tremer.

- Vocês já estão numa prisão, não sei se ainda perceberam, mas tem câmeras para todos os lados. Uma prisão boa, sem teto... – ele riu – ou quase isso. Acontece que os jogos desse ano estão uma verdadeira chatice. Acreditam que em tantas semanas de jogos quase ninguém morreu ainda? – ele fez um som de desaprovação – E é tudo culpa sua Alana! Você fugiu e comprometeu a integridade de todo uma nação. Agora todos eles pensam ser amiguinhos... Todos pensam que podem fugir como você. MAS ELES NÃO PODEM. – ele ajeitou o terno negro – E adivinha quem vai pagar por isso? Justamente você e seus amigos. Eu apresento a vocês um novo jeito de celebrar meu poder e o poder dos Jogos. O Quarter Quell. Onde vocês serão “escolhidos” pela população... E lutaram até a morte, se não quiserem viver o resto de suas vidas sendo torturados! E a maior surpresa será quem vai participar desse divino espetáculo!

E então a tela ficou preta novamente.