Before Sundown escrita por Anny Fernandes


Capítulo 1
PARTE I – A fuga


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem pandas!



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As pessoas querem saber o que esta acontecendo. Estico a cabeça para fora da pequena janela de metal da loja onde trabalho.

A neve cai sobre meu cabelo castanho claro deixando pequenos pontos brancos e gelados sobre minha testa.

No meio da rua consigo ver o que esta acontecendo.

Alguém esta passando mal... Acho

Volto para o quente dos meus cobertores próximos ao forno.

Esta nevando parcialmente. O mar deve estar frio e quase congelado.

Pisco os olhos algumas vezes antes de conseguir ajustar minha visão.

O forno esta ligado, mas não vou poder ficar aqui por muito tempo.

Assim que termino de pensar isso meu melhor amigo Homes chega. Ele se enrola no meio das cobertas comigo e diz bem baixo:

– O Sr. Waters vai ficar chateado de ver que você não esta trabalhando!

– Eu não me importo Homes... – falo categoricamente. – Você devia estar trabalhando também, mas considerando a neve no seu cabelo você estava vendo o que estava acontecendo não é mesmo?

Afago seus cabelos ligeiramente pretos com a ponta dos dedos. Estão gelados.

– Eu fiquei curioso! – ele diz segurando minha mão – Você não ficou?

– Não. – digo de uma vez e solto as nossas mãos que antes estiveram entrelaçadas.

– Desculpe! – ele fala coçando sua bochecha – Esqueci que você não tem sentimentos!

Suspiro bem fundo.

– Você sabe muito bem por que eu fiquei assim...

– Não precisa falar nada! – Homes diz encostando a cabeça no vidro encardido da janela. Faço o mesmo que ele. Ficamos lá o pouco de tempo que nos resta, afinal assim que o Sr. Waters chegar teremos que começar a trabalhar. Fecho os olhos por um segundo e um turbilhão de imagens preenchem minha pálpebras fechadas. Minha mãe ou como eu me lembro dela. Só lembro do rosto embaçado, as feições suaves e preocupadas e depois disso nada mais. Eu era muito pequena quando ela morreu. Tinha 3 anos e ate hoje ainda sinto saudades dela. Meu pai morreu afogada antes mesmo de eu nascer e minha mãe foi eletrocutada. Eu fui trazida para essa padaria onde minha avó trabalhava, mas ela também faleceu e o Sr. Wars, que era o marido dela ficou no comando. Desde então ele nos trata como escravos. Tendo que fazer tudo o que ele quer.

– Alana! – Homes chama baixinho – Acho melhor a gente voltar lá para frente. Acho que esta havendo alguma confusão.

– Ta legal! – falo e começo a me apoiar para sair daquela posição. Homes é mais rápido e oferece sua mão como apoio.

– Obrigado! – digo passando o braço direito por sua cintura e me prendendo a ele. Caminhamos ate a frente da padaria onde é possível ver quase toda a rua pela vitrine. Levo um susto quando na neve branca vejo o liquido vermelho escuro.

– Aquilo é sangue Homes? – pergunto com um sussurro

– Não sei! – ele responde e então começa a andar em direção da porta.

– Onde você vai? – pergunto prendendo ele contra meu corpo.

– Ver o que esta acontecendo! – ele diz e se solta com um puxão.

– Homes! – eu chamo, mas ele não responde.

Corro atrás dele com o estalar das minhas botas no chão de madeira.

– Espera! – digo e seguro suas mãos – E se acontecer alguma coisa?

– Não vai acontecer nada Lana! – ele diz me chamando por meu apelido.

– Só... – hesito – Toma cuidado.

Ele assente e sai pela porta. Ele olha para o liquido vermelho e depois fala algo com uma mulher grisalha. Depois de uns poucos segundos o medo toma conta do seu rosto.

Ele corre de volta para a padaria e tranca a porta.

– O que esta acontecendo Homes? – pergunto rapidamente com a voz abafada por um grito que vem logo em seguida.

Homes se joga em cima de mim e rola com meu corpo para o lado.

Depois disso eu só escuto o barulho. Minha cabeça bate em algo bem duro e eu desmaio.

Acordo deitada sobre algo bem macio. Minha visão demora um pouco para se ajustar, mas eu finalmente sei onde estou. Deitada em uma cama quente com alguém me abraçando.

Tento virar a cabeça para ver quem esta ao meu lado e vejo Homes envolto por uma camada fina de poeira e dormindo. Me mexo um pouco e ele acorda.

– Finalmente você acordou Lana! – ele diz enquanto me observa aflito.

– Onde estamos? – pergunto – O que aconteceu?

– Um explosão... – ele fala com os olhos piscando –

Nada muito grave, só mais um daqueles protestantes. Por sorte a bomba era caseira, por tanto não muito forte.

– Quantas mortes? – pergunto. A voz rouca.

– Poucas! – ele responde se ajeitando do meu lado.

– Onde estamos? – pergunto ainda curiosa

– Na casa do Sr. Waters. – ele diz pensativo – Ele comprou depois da morte de sua avó. Nunca nos disse nada, mas era para cá que ele vinha depois do trabalho.

Suspiro. Nós tínhamos que dar um jeito de ficar por nossa conta. Homes sempre ficava comigo já que era um órfão adotado por minha avó.

– É bem grande e espaçosa! – Homes continua sorrindo – Ele disse que podemos ficar ate a colheita daqui a duas semanas! Não é ótimo?

– A colheita já é daqui a duas semanas? – pergunto surpresa.

– Sim! – ele diz infeliz – Meu nome estará lá quarenta vezes...

– E o meu estará quarenta e cinco. – o horror na minha voz é bem difícil de disfarçar.

Estou apavorada. Não posso ser escolhida. Não quero ser só mais um fantoche nas mãos da capital.



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