Christmas Always escrita por NothinBetter


Capítulo 1
Merry Christmas, Darling.


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal! Eu sei que o Natal foi ontem (ou anteontem, porque é mais de meia-noite e tecnicamente é dia 27, então...), mas como eu não consegui terminar no dia 25, estou postando hoje. Mas... é fim de ano, então acho que ainda está valendo, certo? Certo? Espero que tenham tido um natal maravilhoso e ganhado muitos presentes. A menos que vocês foram malvados, daí tem que ganhar carvão (sabe que se eu ganhasse carvão eu desenharia com ele mas enfim). Ah, e se quiserem ouvir a música que é mencionada no começo da história, seria legal. É uma das minhas favoritas de Natal.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/310243/chapter/1

Quinn estava sentada no tapete felpudo da sala de estar, o fogo da lareira aquecendo seu corpo e iluminando o cômodo. Estava realmente frio naquela véspera de Natal. Ela deveria estar preparando a sala de jantar, mas pensou que ainda teria um tempinho para meditar antes de todos os convidados chegarem.

Seria o primeiro Natal sem sua esposa. Rachel estava em cartaz na Inglaterra – ironicamente com um musical natalino – e ligara na noite anterior avisando que não conseguira embarcar mais cedo e, como os aeroportos estavam muito congestionados nessa época do ano, não conseguiria voltar para casa a tempo.

Quinn entendia. De verdade. Ela só estava triste porque, em quinze anos juntas, essa seria a primeira festa que elas comemorariam separadas.

Todo ano elas abriam a casa para celebrar o Natal com os amigos e alguns parentes. Este ano teria um enorme espaço vazio no coração de Quinn. De Quinn e de todos. Rachel era a alma de qualquer evento.

A loira se levantou, alisou o vestido retrô verde escuro e andou até o gramofone – presente de Hiram e Leroy em seu último aniversário. Escolheu um disco de músicas natalinas, porém calmas, e colocou para tocar. Todo Natal, depois de todos os convidados já terem ido embora, Quinn colocava o mesmo vinil, ela e Rachel dançavam pela sala – lareira acesa e taças de vinho em mãos – e então trocavam seus presentes. Mesmo Rachel sendo judia, o final de ano era sua época favorita e, já que Quinn não compartilhava da mesma fé, ela preferia seguir as tradições populares (mesmo que elas deixassem um presentinho escondido para a outra durante os oito dias do Hanukkah).

Olhando para a sala vazia, Quinn se sentiu mais sozinha ainda sem seu amor. E quando You’re My Christmas Present começou a tocar, ela não se conteve e envolveu o corpo com os próprios braços, dançando lentamente pelo cômodo. Quinn nem sentiu quando uma lágrima saiu de seu olho e foi escorrendo por seu rosto até deixar uma marca pequena e escura no tecido de seu vestido. A mesma música estava tocando na noite de Natal em que Quinn percebeu amar Rachel e saiu correndo do campus da universidade para chegar à porta do quarto da morena – a duas horas de distância – e presenteá-la com um colar dourado em forma de uma nota musical. Naquela noite, assim que Rachel abriu a porta e congelou ao encontrar Quinn ali, parada, ela percebeu que a loira estava em pé embaixo de um visco que havia sido pendurado mais cedo. Dando uma desculpa mental de que não se podia quebrar uma tradição de mais de séculos, a morena recebeu o presente e beijou Quinn.

O primeiro Natal juntas.

O primeiro de muitos.

E agora ela ficaria sem sua Rachel no dia 24 e no dia 25. Isso se não demorasse mais para a morena embarcar em um avião e vir correndo – ou melhor, voando – para os braços de Quinn.

Passos correndo na escada chamaram a atenção de Quinn, que virou a cabeça a tempo de ver uma de suas filhas quase caindo nos degraus.

- Emmeline! – a loira chamou. – Quantas vezes eu já falei para você não correr na escada? Depois cai e chora!

A menina de cabelo negro e olhos puxados veio correndo na direção da mãe e abraçou sua cintura. Quinn acariciou suas mechas macias. Não tinha como ela ficar brava com a criança. Talvez até ficasse no momento, porém quando Emmeline dava um de seus abraços apertados, a raiva se dissipava no ar.

- Desculpa, mãe – a menina falou olhando para o chão. Em seguida, ela ergueu o rosto e abriu um sorriso enorme. – Mas eu não vou chorar se eu cair, mãe. Eu já tenho oito anos, não sou um bebê como a Holly.

- Não fale assim da sua irmã, Emme. Ela é só um pouco mais nova do que você. Aliás, vá ver se ela está pronta. É quase hora de todo mundo chegar – Quinn arrumou a presilha azul que estava caindo do cabelo liso da filha. O adereço combinava com seu vestido de manga comprida de veludo azul marinho.

Como se estivesse esperando o momento certo, Holly desceu a escada pulando de degrau em degrau, até chegar ao último e se desequilibrar, recuperando o equilíbrio pouco antes de cair no chão. Seu vestido lilás de tule e seu cabelo ruivo se moviam de um lado para o outro. Quinn sorriu e balançou a cabeça. Sua caçula era incorrigível.

- Sim, mãe – Emmeline falou enquanto andava até o aparelho de som da sala –, ela está pronta.

Quinn cerrou os olhos. Aquela menina tinha um senso de humor peculiar para alguém de sua idade. Rachel e Quinn resolveram, treze anos atrás, que iriam adotar uma criança se em algum momento elas quisessem filhos. O momento chegou alguns anos depois, quando Quinn estava tirando algumas fotografias para o programa de adoção de Nova York. Naquele instante, um menino que acabara de nascer entrou no instituto, pois a mãe o abandonara antes de sequer ter alta do hospital. Quando a moça da adoção passou segurando no colo o menino que não parava de resmungar, algo despertou na loira. Imediatamente, ela falou com Rachel pelo celular e disse que chegara sua hora de ser mãe. A morena ficara um pouco hesitante. Sua carreira estava começando a decolar e um bebê poderia atrapalhar as coisas. O trabalho de Quinn podia ser flexível, como ela possuía o próprio estúdio fotográfico, mas ainda assim seria um grande passo. Rachel disse para sua esposa vir para casa e elas conversariam sobre isso. Demorou quase um mês para Quinn convencer Rachel de que elas poderiam dar conta de uma criança. “Uma criança talvez, mas não um bebê, Lucy!” a judia dissera e Quinn sabia que não iria conseguir nada dali; Rachel a chamara pelo seu primeiro nome. Porém, com o poder de persuasão enorme que a loira tinha, em menos de dois meses elas estavam entrando na fila de adoção. Um ano depois, Emmeline saía do abrigo para órfãos e entrava para a família Berry-Fabray. Ela chegara com três anos e seus traços asiáticos logo encantaram o casal. Enquanto Quinn olhava para a menina, ela pensou que nem parecia que isso acontecera há seis anos.

- Mãe! – Holly gritou e veio correndo para os braços de Quinn, que a pegou no colo e a girou no ar. – Quando todo mundo chega?

- Daqui a pouco, meu amor – ela colocou a menina no chão. – Agora porque você não fica com sua irmã aqui na sala enquanto eu vou dar uma olhada no jantar e no seu irmão?

- Mãe – Emmeline choramingou, como todo irmão mais velho que tinha de cuidar do irmão mais novo. – Por que ela não fica com o Andy?

- Emme, ele tem oito meses – Quinn explicou e disse para a garota morena cuidar de sua irmã. Depois ela se virou e subiu para o andar de cima, entrando no primeiro quarto à esquerda e se deparando com seu bebê em pé no berço, querendo sair. Ela pegou o filho e o vestiu para o jantar, descendo com ele em seguida.

O bebê fazia pequenos sons de alegria quando Quinn o colocava no alto, colocando um sorriso enorme no rosto da loira. Andrew e Holly eram irmãos. Primeiramente, a mãe biológica não quis Holly – a mulher tinha quinze anos quando teve a menina, o que Quinn ficou muito feliz em saber, pois poderia cuidar bem dela, como Shelby fez com Beth. Cinco anos depois de Rachel e Quinn adotarem Holly, o pessoal da adoção ligou para elas e disseram que havia o irmão recém nascido de Holly, que a mãe o tinha abandonado novamente. Elas ficaram inconformadas. Como uma pessoa podia fazer isso com os próprios filhos? Quinn e Rachel pensaram bem no assunto, mas, no fim, não queria separar os irmãos – é claro que se aquela mulher tivesse mais filhos, era outra história. As crianças eram bastante diferentes. Holly era ruiva, com sardas nas maçãs do rosto e olhos de um verde estonteante, enquanto que Andrew tinha a pele mais morena, o cabelo castanho e os olhos estavam ficando acastanhados. Porém, para quem convivia com os dois, era impossível não perceber a semelhança em suas feições. O nariz com a mesma proporção, a alta sobrancelha e o rosto arredondado.

- Mãe! – Quinn ouviu a voz de Emmeline vindo da cozinha e andou até o cômodo, encontrando as duas meninas com a garrafa de leite nas mãos. Ela não podia deixá-las sozinha por um minuto sem que as crianças fizessem alguma bagunça. Felizmente, a loira já estava acostumada com isso. – Mãe, você não acha que o Papai Noel gosta mais de leite de chocolate?

- Não! – Holly interferiu, batendo o pé no chão e cruzando s braços na frente do peito. Ela aprendera aquilo com Rachel, com certeza. – O Papai Noel prefere leite cor-de-rosa! Emme, por que você não me deixa fazer nada sozinha?!

Problema de irmãos mais velhos. Eles sempre acham que sabem mais e, consequentemente, fazem todas as escolhas da vida dos irmãos mais novos. Quinn sabia bem disso. Frannie pensava que mandava nela, dizendo o que ela podia fazer ou não. E isso a irritava profundamente, mas ela sabia que era sempre assim, e com suas filhas não seria diferente.

- Emme, Holly – ela chamou a atenção das duas e tirou o leite da mão delas, vendo que o líquido branco acabaria todo esparramado pelo chão. – Porque vocês não colocam os dois sabores? Assim o Papai Noel pode escolher qual ele quer. Não é melhor assim?

As duas concordaram e saíram correndo até a sala. Quinn foi atrás com Andrew ainda no colo.

- Você vai ver, ele vai escolher o meu! – Emme falou para a irmã, que negou com a cabeça e colocou o copo com o leite rosa em cima da mesinha ao lado da árvore de natal que elas tinham enfeitado duas semanas antes. Rachel não estava presente no momento que Holly e Emmeline colocaram a estrela na ponta. Quinn voltou a pensar na morena.

- Não! Vai ser o meu! – Holly puxou o vestido da mãe, fazendo Quinn acordar de seus pensamentos e olhar para baixo, para os olhos verdes hipnotizantes. – Mãe, a gente pode ficar acordada até tarde para ver o papai Noel?

A loira riu, se sentindo culpada depois por ter rido da filha, mas era algo muito engraçado a pergunta da ruivinha. Todo Natal elas perguntavam a mesma coisa e, todo Natal, não conseguiam agüentar até onze horas da noite sem dormir no sofá e Quinn e Rachel tinham de carregar as duas para seus quartos. Quem sabe dessa vez elas não conseguiriam ficar acordadas para ver o Papai Noel?

- Claro, amor meu, pode ficar acordada – Quinn respondeu e bagunçou os fios avermelhados da filha.

Emmeline se virou para o rádio na sala e colocou um CD para tocar. Logo a casa toda se encheu com todas as versões possíveis de Last Christmas. Quinn odiava essas músicas de Natal. Por fim, teve de desligar seu gramofone, pois se as músicas do CD já eram horríveis por si só, misturadas com as do gramofone elas ficavam piores ainda.

A campainha da entrada tocou e Holly saiu correndo para abrir a porta antes mesmo que Quinn mexesse um músculo para sair do lugar. Atrás da madeira branca estava uma garotinha loira da mesma idade de Holly, que a pegou pela mão e elas subiram as escadas direto para algum dos quartos.

- Eu espero ganhar bastantes presentes. Mas não do Papai Noel. Aquele velho me dá arrepios, e não do jeito bom, desde aquela vez que eu sentei no colo dele e-

- Santana! – Quinn gritou indo ao encontro da latina que passava pela porta com o filho de dois anos no colo, dormindo. A loira passou a mão pelo cabelo negro do menino e cumprimentou a melhor amiga. – Feliz Natal para você também.

- E aí, Quinnie. A Berry não pôde vir mesmo? – ela perguntou indo direto para a sala de estar e sentando no sofá para seu filho ficar mais confortável enquanto dormia. Quinn a acompanhou, balançando a cabeça. – Tudo bem, eu fico no lugar dela. Faço uma imitação ótima. Só não faço nada no andar de cima. Quer dizer, se você abrir aquele bar e a B deixar, eu até posso ficar no lugar da Rachel inteiramente. – Ela deu aquele sorrisinho provocador.

- Cale a boca, S. Aliás, onde está a Britt? – Quinn perguntou enquanto sentava ao lado de Santana.

- Ela foi ajudar o Kurt a tirar o carrinho da Lizzie do carro – a latina respondeu e arrumou os cabelos mais curtos do que sempre fora. Ela esperava que Brittany viesse logo para acordar Christopher. Seu filho dormira no meio do caminho até aqui e somente a loira sabia acordá-lo sem que ele chorasse.

No mesmo instante, Kurt e Brittany entraram na sala, seguidos de Blaine, que trazia o carrinho lilás atrás de si. Nos braços do homem de olhos azuis, havia um bebê com grandes olhos castanhos e cabelo claro olhando tudo ao seu redor.

- Não chame a Elizabeth assim – ele disse assim que colocou o pé na madeira escura do assoalho e olhou para Santana de um jeito intimidador, o que nem sequer fez cócegas na latina. – Não quero que se lembrem da Hilary Duff ou daquela assassina.

- Sem discussões, pessoal. É véspera de Natal – Quinn interferiu enquanto abraçava os amigos e ganhava um abraço de urso especial de Brittany.

- Mas então... A comida já está pronta? – Santana perguntou assim que sua esposa acordou Christopher, que por sinal ganhara o nome de Christopher Robin, do Ursinho Pooh.

- Vou chamar Holly e Claire. – Quinn se levantou e deu Andrew para Blaine segurá-lo. – Alguém viu a Emme?

De repente a menina de olhos puxados entrou correndo, sendo perseguida por um garoto um pouco mais alto do que ela, o cabelo castanho dele esvoaçando com o movimento.

- Jared! – Puck entrou correndo atrás do menino, tentando segurar várias caixas de presente ao mesmo tempo, o que parecia ser impossível e estava obstruindo seu campo de visão. – Não corre aqui dentro! Se você quebrar alguma coisa, a Q vai ficar brava comigo, não com você!

- Com certeza. – Quinn entrou no hall de entrada e ajudou o homem com os presentes. – Você que o educou, ele sabe fazer todas essas coisas por culpa sua. – Ela cutucou o peito de Puck com o indicador, dando um beijo em seu rosto.

- Foi a mãe dele que o educou. Ainda bem, porque eu acho que ele não seria tão bonzinho se ele tivesse crescido comigo. – Noah coçou a cabeça, pensativo. – Mas pelo menos ele passa todas as datas comemorativas com o paizão dele aqui.

Quinn jogou a cabeça para trás e gargalhou, puxando Puck pelo braço até a sala de estar e colocando os presentes atrás do sofá, onde todos os outros presentes estavam escondidos para que depois o Papai Noel os entregasse.

Depois de andar a casa inteira à procura das crianças – porque aparentemente eles estavam brincando de esconde-esconde, com Holly batendo cara e Emmeline e Jared eram muito bons em ficar invisíveis –, Quinn reuniu os pequenos na sala de jantar. Ao mesmo tempo, Hiram e Leroy entravam pelo portal e cumprimentavam todos. Mesmo com Rachel fora do país, o casal passaria o natal na casa dos Berry-Fabray.

- Estamos todos aqui? – Puck perguntou. Nunca se sabe se estavam esquecendo alguém. Com a indagação, Quinn sorriu tristemente e apertou as próprias mãos por baixo da mesa. Não, ela queria gritar, não estamos todos aqui, há uma parte de mim faltando, a maior parte de mim, talvez!, a loira pensou. Rachel fazia muita falta.

A ceia se seguiu como Quinn planejava. Todos conversavam entre si e comiam ao mesmo tempo. Ela estava em uma das pontas da mesa. Quando ela e Rachel construíram a casa, as duas fizeram questão de o maior cômodo da casa ser a sala de jantar. Em dias como este, Quinn se lembrava do por que. Após acabar de comer e estar mais do que satisfeita – era uma coisa do Natal comer mais do que se podia –, a loira encostou-se a sua cadeira e observou sua família e amigos interagindo. Era um de seus passatempos favoritos, e somente Rachel sabia: ela adorava ficar olhando as pessoas enquanto elas faziam as coisas mais banais do mundo. Com todos ao redor da mesa, Quinn se sentia completa, como se sua vida não pudesse melhorar em absolutamente nada. Ela sorriu e continuou fitando descaradamente. Puck atacava uma das coxas do frango, enquanto Jared, ao lado dele, fazia o mesmo com a outra coxa. Holly e Claire estavam enojadas com a atitude do menino, fazendo caretas, depois deixando isso para lá e brincando de qualquer coisa. Emmeline conversava com Brittany ao mesmo tempo em que cuidavam de Christopher, fazendo-o comer. Blaine segurava Elizabeth para Kurt poder atacar o peru que ele tanto cobiçava desde que Quinn o colocou em sua frente – em época de Natal não se pode fazer dieta, o Papai Noel não deixa, Kurt dizia. Leroy e Hiram tiraram Andrew de sua cadeirinha para niná-lo, como há muito passara de sua hora de dormir. E, finalmente, tinha Santana, ao lado de Quinn, gemendo. A loira revirou os olhos e riu.

- Quem mandou você comer como um porco? – Quinn comentou com um sorriso no rosto. Santana sempre seria Santana. A véspera de Natal e dia seguinte eram os únicos dias em que elas não discutiam. Quinn sempre ficava muito emocionada para sequer cogitar a ideia. Reunindo todos que ela amava e ficar longe de qualquer briga valia muito mais do que irritar a latina. Quer dizer, reunir todos menos seus mais e sua irmã, mas ela os veria na véspera do Ano Novo, pois assim era combinado. A menos que Rachel não pudesse estar aqui nos próximos dias, então ela ficaria em casa com seus filhos; Andrew era muito pequeno para Quinn encarar dez horas de viagem sozinha com ele, Holly e Emmeline.

- Eu daria um bacon muito gostoso – Santana começou a pensar em como seria, mas parou sua linha de pensamento assim que imaginou alguém a comendo (e não no bom sentido), o que logo passou para ela imaginando tribos canibais. Ela fez uma careta. – Talvez não. Prefiro ficar do jeito que estou, gostosa por natureza.

- Cala a boca, Lopez – Quinn disse rindo. Ela se levantou e pegou Andy dos braços dos avôs e levou-o para cima, já adormecido. Era agradeceu os sogros por isso. Geralmente Andrew era um bebê muito bonzinho, mas ele tendia a ficar bastante agitado em dias de festa como hoje.

Assim que Quinn voltou à sala de jantar, ela notou que as crianças não estavam mais lá. Com certeza elas estavam brincando em algum outro cômodo da casa. A loira se sentou em seu lugar e suspirou.

- Cansada? – Hiram perguntou colocando uma mão em seu ombro e oferecendo um sorriso simpático. Quinn sentia que Hiram e Leroy eram mais sua família do que Judy, Russell e Frannie jamais foram.

- Um pouco. Mas não de um jeito ruim – a loira respondeu com um sorriso pequeno no rosto. – Sem a Rach aqui, tenho que cuidar das crianças sozinha.

- Devia ter chamado, querida! – Leroy interferiu. – Nós viríamos antes se você quisesse.

- Não queria incomodar – ela murmurou.

- E você acha que nos incomodamos de cuidar dos nossos netos? Não seja boba, Quinn – Hiram disse. – Agora, acho que vou subir por um instante antes de bater meia noite. A viagem até aqui é cansativa. Vem comigo, Lee?

Leroy assentiu e os dois deram um beijo na bochecha de Quinn antes de subirem a escada para o quarto de hóspedes. Pouco depois, todos começaram a se retirar para a sala de estar. Quinn ia se levantar quando Puck a segurou pelo braço e arrastou-a até um canto da sala de jantar, que agora estava vazia.

- Eu tenho mesmo que fazer isso? – o homem perguntou.

- Se você não quer estragar a infância das crianças, sim, Puck, você tem de fazer isso.

- Mas eu sou judeu! – ele protestou, querendo se livrar da incumbência que lhe foi dada. Se ele não desempenhasse seu papel direito, ele estaria acabando com os sonhos das crianças ali presentes, incluindo os de seu próprio filho.

- A Rach também é e ela se fantasia de Papai Noel todo ano desde que a Emme chegou em casa. – Quinn revirou os olhos esverdeados e bufou. – Puck, é só esse ano. Pelo menos eu espero que seja.

- Por que você ou qualquer outra pessoa não se veste? – Puck indagou.

- Boa pergunta, Puck. Vou ter de ficar te devendo essa. Talvez seja porque você tem mais cara do velhinho do que o resto – ela disse, rindo.

Puck olhou para Quinn com uma expressão que fez a loira rir ainda mais. Ela esticou o braço e deu um tapinha na barriga do rapaz. Não que sua barriga estivesse saliente, mas ela queria fazer mais uma piada com ele. Por fim, Puck acompanhou Quinn na risada e subiu até o quarto da loira a fim de trocar de roupa.

Chegando à sala de estar, Quinn percebeu que todos estavam conversando baixo, nada comparado ao falatório que estava na outra sala, minutos atrás. Quando passou os olhos no cômodo todo, a loira percebeu o motivo. No sofá mais afastado, Jared dormia com a cabeça jogada para trás, apoiada no encosto e Emmeline tinha a cabeça encostada no ombro do menino, também dormindo. Na poltrona ao lado, Claire e Holly dividiam o espaço, adormecidas uma ao lado da outra. Quinn deu uma risadinha e balançou a cabeça. Ela sabia que as crianças não durariam até o fim da festa.

Quinn chamou Santana com um gesto de mão enquanto pegava Emme no colo e ia para o andar de cima. A latina fez o mesmo com Claire, levando a filha para um dos quartos. Ela e Holly eram melhores amigas e sempre que podiam, uma dormia na casa da outra. Assim que Quinn voltou, ela pensou em acordar Jared e levá-lo até o quarto de Emmeline – o garoto já tinha doze anos e, embora não fosse tão grande para sua idade, ainda assim Quinn não sabia se conseguiria carregá-lo –, mas ela ficou com dó quando viu o rosto pacífico do garoto e fez um esforço enorme para levá-lo para cima. Santana levou Holly.

- Eu disse que eles não agüentariam – Quinn comentou quando encontrou Santana no corredor. – Todo ano é a mesma coisa!

- Emme ainda acredita em Papai Noel? – a outra mulher perguntou enquanto descia os degraus. – Quantos anos ela tem? Dez?

- Nove. San, ela vai acreditar até quantos anos ela quiser. E você que não conte nada a ela. Aliás, que mal tem em acreditar? A Britt acreditava até sei lá quantos anos.

- Ela ainda acredita – Santana murmurou.

Quinn ergueu uma sobrancelha e olhou a garota loira e alta através do portal da sala. Ela tinha Christopher nos braços e beijava seu rosto todo enquanto o menino dormia. Como ela podia acreditar em Papai Noel, Quinn se perguntava. Porém, ela pensou que havia tantas pessoas que acreditavam em tantas coisas nesse mundo, então por que não acreditar em algo tão bonito quanto a magia do Natal?

- Ho, ho, ho, quem pediu um Papai Noel no capricho? – Puck surge no topo da escada e chama a atenção de todos para si. Brittany levanta do sofá quase pulando. Christopher se mexe em seu colo e então ela se lembra de que o menino está dormindo e ele demora a pegar no sono, sendo melhor não incomodá-lo no momento.

O homem com a falsa barba branca vai até a sala e tira os presentes detrás do sofá para colocá-los embaixo da árvore. Como combinou com Quinn, antes de sair do aposento, ele come alguns dos biscoitos e bebe um pouco dos dois copos de leite de cores diferentes que havia em cima da mesinha.

Brittany bloqueou o caminho de Puck e seus olhos brilharam ao ver a figura vermelha e branca diante de si.

Puck tira um saquinho do bolso da fantasia e o segura no ar, balançando-o pela cordinha.

- Você foi uma boa menina este ano, Brittany? – ele diz com a voz grossa e a loira balança a cabeça veemente, quase derrubando seu filho no chão. Santana fica ao seu lado e pega o menino no colo. Assim que se vê com as mãos livres, Brittany bate palmas, ansiosa.

- Sim, Senhor Noel, eu fui muito boa!

- Então você merece seu presente. – Ele entregou o saquinho nas mãos da loira. Santana havia dado o presente para Puck dá-lo à Brittany. Era um colar de ouro com um pingente de unicórnio, que ela mandou fazer especialmente para a esposa.

- É lindo, Papai Noel! – ela exclama e abraça Puck, quase o jogando no chão; ou pior, quase fazendo sua barba e seu gorro caírem.

- Agora eu tenho que ir. Há muitas crianças no mundo para um velho só como eu. Feliz Natal! Ho, ho, ho!

Ele saiu pela porta da frente e minutos depois, Puck entrou com suas roupas normais.

- Era o Noel aquele que passou lá fora? – ele perguntou fingindo surpresa. Quinn sorriu. Puck era mesmo Puck.

Quando o relógio deu meia-noite, todos se abraçaram e se desejaram um feliz Natal. A casa inteira se encheu de alegria com as exclamações dos amigos e familiares. Quinn percebeu que Leroy e Hiram não voltaram, mas pensou que seria melhor deixá-los descansando.

Um tempo depois, todos começaram a ir embora. Blaine e Kurt estavam muito ocupados com Elizabeth para continuar a festejar. Brittany e Santana aproveitariam que Claire não estava em casa e Chris já estava dormindo. Puck tinha outra festa para ir. Por fim, Quinn se encontrou sozinha em sua sala. Ela se levantou e desligou o rádio.

- Se eu ouvir mais uma versão de Jingle Bells, eu juro que vou me matar – ela murmurou para si mesma. Ao invés de limpar a bagunça que estava na cada toda, ela resolveu que deixaria para o outro dia, quando não estaria não cansada como estava agora.

Sendo assim, Quinn ligou seu gramofone com as mesmas músicas de antes e suspirou com o som agradável que saiu dele. Depois ela subiu a escada para ver como as crianças estavam. Na hora de descer, ela percebeu que a luz do hall e da sala de estar estavam diminuídas e, por mais que tentasse, não conseguia se lembrar de tê-las diminuído. Com os sentidos aguçados, ela desceu os degraus devagar e tentou não pisar nos pedaços de madeira que rangiam. Chegando à sala, não encontrou nada fora do normal, a única coisa diferente era a música, que agora era You're My Christmas Present - obviamente era o mais comum e normal de acontecer -, o que a fez se lembrar de Rachel. Mas talvez ela tivesse realmente diminuído as luzes sem perceber.

A lareira estava acesa, causando sombras compridas por todo o cômodo. Quinn se sentia hipnotizada pelas chamas e se aproximou, estendendo as mãos para aquecê-las.

- Vai se queimar – uma voz surgiu atrás de Quinn e a loira se virou abruptamente com um porta-retrato na mão, que ela pegou de cima da lareira para se defender do intruso. – Quinn! Você ia jogar a foto do nosso casamento em mim?!

- Rach – Quinn suspirou, deixando o porta-retrato cair enquanto ela corria para abraçar a esposa. – Eu senti tanto a sua falta. Você não imagina como.

- Eu também – Rachel respondeu contra o pescoço da loira, afundando o rosto na pele macia em seguida. Vários minutos depois de as duas ficarem abraçadas, a morena se separou, deu um passo para trás e colocou a mão na cintura. – Agora você me explica por que jogou nossa foto no chão.

- Rachel! E-eu não- não joguei no chão! Caiu! – Quinn arregalou os olhos e voltou para pegar o objeto que, por sorte, caiu no tapete felpudo e não quebrou e o colocou de volta no lugar. – Desculpe.

Rachel balançou a cabeça e sinalizou para a loira se aproximar. Por um momento, Quinn não conseguiu se mexer. Ela ficou ali, parada no meio da sala, observando a esposa. Rachel ainda estava com o casaco pesado e uma boina vermelha pendia de sua cabeça. Flocos de neve se acumulavam em seu ombro e no chapéu. Com a luz da lareira, ela conseguia ver o pingente de ouro em forma de nota musical reluzir no peito da morena. Deus permita que Quinn não tenha de passar mais tanto tempo longe da amada. Ela queria fazer tantas coisas no momento que nem sabia por onde começar. Por causa disso, a loira ficou em pé parada até Rachel colocar as mãos em sua cintura e a puxar para um beijo.

Paz. Foi isso o que Quinn sentiu quando seus lábios tocaram os de Rachel. Ela dissera que sentia falta da morena, porém ela não tinha percebido o quanto realmente sentira a falta dela até tê-la em seus braços novamente. Agora tudo estava bem. Rachel estava ali, sã e salva, e Quinn tinha quase certeza de que não estava sonhando.

- Tenho que escrever uma carta ao Papai Noel depois – a loira disse depois de ter beijado Rachel mais algumas vezes. – Agradecendo. Esse ano meu presente foi muito melhor do que qualquer ano anterior.

- Eu amo você, sabia? – Rachel disse fitando os olhos mais bonitos que ela já vira na vida.

- É, eu faço ideia. Acho que já ouvir você dizendo isso alguma vez – Quinn brincou.

Rachel tirou o casaco, derrubando a neve no tapete – ela sabia que Quinn ficaria muito brava com isso, mas não se importava com nada no momento –, tirando a boina em seguida e acompanhando Quinn até o quarto. Antes de ir direto à porta no final do corredor, ela parou nos quartos dos filhos e abriu uma fresta para espiar dentro de cada um.

- Mamãe? – a voz fina e sonolenta de Holly soou pelo quarto quando Rachel abriu sua porta. A morena andou até a cama da menina que dormia abraçada com Claire.

- Sim, bebê. – Ela deu um beijo na cabeça das duas crianças. – Volte a dormir.

- Feliz Natal, mamãe – a ruivinha adormeceu antes mesmo de terminar de falar.

Seguindo para seu quarto, Rachel não podia ficar mais feliz por seu colega de trabalho ter se acidentado no palco. Não que ela desejasse o mal alheio, mas o acontecimento deu a ela a oportunidade de passar o Natal em casa. No dia passado, ela avisara Quinn que não poderia voltar a tempo. Assim que desligou o telefone, o homem cuja perna fora quebrada ofereceu sua passagem para Nova York, como não poderia viajar no estado em que se encontrava e sua família voaria para a Inglaterra. Ao invés de ligar e contra a ótima noticia à Quinn, ela preferiu não dizer nada e fazer uma surpresa.

- Rach – a loira chamou do seu lugar na cama. Ela já estava com o pijama e a morena só conseguia ver sua cabeça para fora do edredom. Rachel foi até o closet e colocou sua camisola, deitando-se com Quinn em seguida. – Eu amo muito você.

- Eu também te amo, Quinn. – Ela sorriu e beijou a esposa de novo. E de novo. E de novo.

Quinn puxou Rachel para si e envolveu o corpo pequeno em seus braços, sentindo o aroma da morena invadir seu nariz. Ela estava em casa.

- Aliás – a loira sussurrou no ouvido de Rachel assim que ela escondeu a cabeça no pescoço de Quinn –, feliz Natal.

Rachel ficou um tempo sem responder, apenas sentindo mais do que ouvindo a respiração de Quinn em sua orelha. Ela nunca mais queria deixar sua casa, sua esposa e seus filhos. Ficar na Inglaterra foi bom e tudo mais, mas na próxima vez ela levaria sua família junto.

- Quinn – ela finalmente respondeu. – Eu sou judia.

Quinn não respondeu de imediato. Depois de alguns minutos calada, ela soltou uma risada que fez o corpo inteiro de Rachel sacudir e a morena sorriu também. Ela beijou o topo da cabeça da morena e suspirou contente. A loira ouviu Rachel bocejar e apertou a mulher ainda mais contra seu corpo. Com o calor familiar que elas compartilhavam, logo Rachel e Quinn adormeceram nos braços uma da outra. Afinal, as duas precisavam descansar bastante se quisessem enfrentar o dia seguinte, com todas aquelas crianças gritando às seis da manhã, descobrindo que mais uma vez elas pegaram no sono e o Papai Noel havia passado e deixado presentes para cada uma.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Feliz Natal de novo e espero que tenham gostado. Ou que eu não tenha postado muito tarde e vocês não consigam ver que a história foi postada. Enfim. Deixem reviews se gostaram. Se quiserem. Ou não, também. Não quero forçar ninguém a fazer nada.