Demigoddess escrita por Pacheca


Capítulo 72
Ray Of Light


Notas iniciais do capítulo

Primeiro de tudo, desculpem mais uma vez a demora, mesmo de férias a inspiração estava faltando.
Segundo, meio que veio na surpresa, mas o final já está batendo na porta. Na verdade, a gente já abriu a porta, ele só não botou o pé pra dentro ainda. O próximo no entanto é algo bem curtinho para encerrar a história.
E terceiro, mas não menos importante, POV Elgin como de costume ♥
Aproveitem ^~^



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É difícil colocar tudo que me passou em palavras, mas eu posso tentar. Ainda assim imagino que vai faltar muito. Depois que aquela foice infeliz me furou, eu sabia que eu já era. E eu sabia que estava certa quando vi Caronte na sua adorada recepção. Fiquei de pé, sentindo a corrente de ar me atravessar e caminhei até a recepção.

─ Olha só, a filha do chefe...Espera, o que está fazendo aqui?

─ Você não tem uma lista de entrada?

─ Geralmente sim, mas fiquei sabendo da confusão que arrumaram lá em cima. Não se deu bem, hein?

─ A gente pode ir?

─ Eu prefiro esperar mais alguns. Levar só uma pessoa é uma viagem mal aproveitada. ─ Ele voltou a ler suas revistas de moda italiana. Resmunguei, olhando ao redor. Todas aquelas pessoas, perdidas, esperando o dia em que poderiam pagar pela travessia. Nunca.

─ Caronte, eu te pago em dobro, só me leva. Eu não quero esbarrar em ninguém por aqui.

─ Apressada, hein? Eu não sei o motivo. Hades teve que sair de toda forma, então a fila vai estar abarrotada. Ainda quer…

─ É, quero. Vamos. ─ Ele soltou a revista, muito a contragosto, e fomos na direção da barca. Olhei para mim mesma enquanto ele esperava eu me sentar na outra ponta. ─ Esse lugar continua…

─ O mesmo, eu sei. Estou a séculos por aqui.

Não me ocupei em confirmar. Olhei para o alto, aquele teto rochoso que me lembrava da cidade que existia logo acima. E que eu nunca mais veria. Era estranho o tanto de memórias que eu tinha, mas não pareciam importantes. E talvez eu perdesse todos esses pequenos pedaços de mim. É, parecia justo. Eu não tinha nada grandioso a perder.

E Trianna estaria lá. Tudo bem, eu não a conheceria e nem o oposto, mas pelos menos estaríamos juntas novamente. Parece meio cruel do destino, mas é o máximo que eu podia esperar.

A embarcação corria sobre o rio escuro. Apoiei meu queixo na mão e acabei a minha travessia, pronta para me despedir da minha vida. Dos meus amigos, dos meus amores, dos meus pequenos momentos de glória.

De Dante.

Depois de toda essa tristeza e saudosismo, dá pra imaginar a minha cara quando eu, parada na fila imensa, recebi a visita de Hades, em seu manto escuro e os olhos quase brilhantes.

─ Vamos, temos que nos apressar.

─ O que?

─ Podemos deixar os pedidos de desculpas para o Olimpo? Temos que ir.

Ele estendeu a mão e eu não entendi mais nada. Bem, não que algo estivesse fazendo sentido. Ainda assim, por mais que ele tivesse me tratado feito sua empregada e me deixado em segundo plano, continuava sendo meu pai. E o único laço familiar que eu poderia ter. Tomei a mão ossuda e senti uma fisgada firme bem no peito.

E então o escuro de novo. Assim como no momento entre a foice e a sala de Caronte, um escuro denso seguido por sons longínquos. Mas não vozes, como em filmes de hospitais e acidentes. Um som constante e surdo, ritmado.

Meu coração.

Abri os olhos, finalmente vencendo a escuridão, vendo novamente os olhos cheios de um brilho particular. Aceitei o pequeno pedaço de ambrósia, ainda meio aturdida. O homem me deixou com o par de olhos chorosos e o sorriso cegante. Olhei ao redor.

─ Dante, o que…

─ Shh, só come. A gente explica depois.

E foi assim que eu voltei a vida. Dante parecia extasiado, mas eu ainda tentava digerir tudo aquilo. Tinha algo de errado. Bom, não necessariamente errado, mas diferente. Meu corpo estava mais quente que fora antes, sem as pontas dos dedos sempre frias. Eu continuava escutando meu coração, e agora o de Dante depois que ele me abraçou firme.

─ Dante.

─ Sim?

─ Posso ter um minuto com Hades? ─ Pedi, finalmente ficando de pé, as pernas firmes. O deus me fitava, esperando que Dante saísse para assumir seu posto ao meu lado. Sem hesitar, Dante me deixou.

─ Elgin…

─ Não sabia que sua consciência podia pesar tanto.

─ É uma guerra, eu temia perder entes queridos, mas não dessa forma. E como eu disse, eu lhe devia por tudo que me fez.

─ Obrigada, mesmo assim.

─ De nada. Mas espero que possa aceitar meu humilde pedido de desculpas.

─ Tudo bem. Vocês deuses não interferem na nossa vida, eu devia entender isso e seguir em frente. ─ Um minuto de silêncio estranho, até eu tomar a coragem de perguntar. ─ Qual o preço?

─ Como?

─ O preço disso. Não se volta a vida sem dar algo em troca. Pelo menos, seria bem idiota se funcionasse assim.

─ Não funciona, Elgin. Deveras, apenas um deus pode retornar do mundo dos mortos dessa maneira. Sua travessia se deu por mim, mas sua estada dependerá do que você é agora.

─ E o que sou eu agora?

─ Não exatamente uma deusa, mas algo próximo disso. A sua imortalidade não é mais uma alternativa. Apenas a forma como irá aproveitá-la.

─ Sou imortal agora?

─ Quase totalmente. De toda forma, use sua vida como bem entender. Sua aura agora será ainda mais forte se quiser se manter na Névoa, talvez não seja a melhor das ideais...Mas o Olimpo ainda precisará de um tempo antes de aceitar novos…

─ Funcionários.

─ Por assim dizer.

Aquilo foi gravado no livro da minha vida como o dia em que fiz o deus do Mundo Inferior rir. Era um pequeno orgulho a mais na minha existência.

─ Será bem vinda quando vier. Será nossa função recebê-la, mas a sua tomar conta do que lhe couber. Enquanto isso, tome sua decisão em paz e sabendo nos ganhos. E sabendo do meu mais profundo afeto.

─ Obrigada, Hades. Pai.

E assim se encerrou minha primeira vida e se iniciou a segunda. Dante me botou a par de tudo. A guerra ainda se estendeu por mais algumas horas, até a profecia se cumprir. A lâmina maldita e todo aquele papo não eram sobre Percy. Era Luke. Foi ele quem se sacrificou para salvar todos nós.

Comemorações e danos tomados em conta, cada um tivera sua exigência. Chalés para todos os filhos de deuses, honrarias aos caídos em combate e reconhecimentos. Annabeth seria a responsável pela reconstrução do Olimpo. E eu…

─ Como assim, imortal? ─ Chad estava pasmo, braços cruzados e o rosto cansado e riscado pelas lágrimas. Dei de ombros.

─ Agora sim eu tenho bastante tempo, hein?

─ Elgin, ele tem razão. O que vai fazer?

─ Eu não sei direito. Eu quero retribuir, mas não quero deixá-los. Meu plano é auxiliar os deuses ao redor do mundo. Digo, se tiverem passaporte, claro.

Eles sorriram, me apertando num abraço já tão familiar. Japa apareceu no meu campo de visão, limpando a garganta. Sorri, vendo que ele já estava a par da situação.

─ E então, Japa? Qual vai ser a sua?

─ Vou dar uma volta por ai. O acampamento não vai precisar de muita ajuda por agora, mas pretendo voltar.

─ Para onde vai?

─ Longe, provavelmente. Eu fiquei sabendo que você...Virou deusa ou algo assim.

─ Tecnicamente eu só preciso trabalhar para eles o resto da eternidade. Ou algo assim.

─ Bom, eu prefiro ir embora mesmo. A gente se vê de novo um dia desses, não é?

─ Você podia pelo menos dar uma fungada e um abraço, não acha? ─ Chad resmungou, abrindo os braços para ele. O asiático foi forçado a sorrir e retribuir o gesto, agradecendo nossa companhia.

─ A gente te deve muito, Japa.

─ Eu te devo quem eu sou, El. Sinceramente, eu provavelmente estaria sendo expulso de mais alguma escola ou surtando e assaltando velhinhas. Obrigado, minha heroína.

─ Até mais, garoto. ─ Dei um soquinho nele e lá se foi. No meio das ruas enfumaçadas e de todo o tumulto, o nosso grande amigo tomava seu rumo, distinto dos nossos futuros. Eu tinha a certeza de nos reencontrarmos um dia, afinal eu teria todo o tempo do mundo.

─ A gente deveria ir. Você precisa de um trato, querida. ─ Dante resmungou, o sorriso torto e o olhar discarado sobre mim. Olhei para meu tronco, a marca imensa do que um dia fora uma ferida imensa aberta, agora não passava de um risco branco enorme. ─ A gente pode dar um jeito nisso depois, existe tudo quanto é produto hoje em dia.

─ Eu quero ficar com isso. Quero me lembrar do dia em que meu namorado fez Hades me ressucitar.

─ Você vai acabar inflando meu ego.

Sorri dentro daquele abraço. Chad tinha feito o favor de nos dar uma licencinha, de bobo que ele era. Ainda assim, aproveitei o contato humano. Podia ser uma decisão muito importante para se tomar por uma jovem da minha idade, mas eu já tinha noção do que fazer.

─ Quer ouvir meu plano?

─ Já tem um?

─ Se eles concordarem. ─ Ele anuiu, o carinho visível no seu olhar. ─ Eu quero ajudar por perto, por agora. Pela cidade e no acampamento. Algo como Quíron faz. E eu quero ser a pessoa mais feliz com você do meu lado. E depois disso tudo, quando você tiver que ir…

─ Aí você pensa de novo. A gente vai ter muito tempo, ok? Relaxa.

─ A gente pode aproveitar daqui uns anos e tornar meu trabalho em algo mais internacional, o que acha?

─ Vamos à Berlim?

─ Onde você quiser.

Foi ali que nosso futuro começou. Eu e Dante teríamos muito tempo. Chad estaria ao redor, sendo o idiota carinhoso que ele era. Pedi para voltar ao Olimpo e comunicar minhas decisões, e eles me deixaram ir sozinha.

A ideia era boa, foi bem aceita. Eu ajudaria a recrutar e acomodar os novos campistas, depois de me certificar que todos os deuses tinham uma cabana, por menor que fosse. Depois disso, eu poderia passar a trabalhar como vigilante da paz, me certificando que o mundo continuasse a girar sem maiores intervenções. E agora eu tinha acesso direto ao Mundo Inferior, quando e de onde quisesse.

Chad, Dante e eu estávamos, então, sentados num banco de parque, os três assistindo ao por do sol, planejando os próximos meses de nossas vidas. Ia ficar tudo bem. Eu tinha meus dois companheiros de sempre e as memórias dos melhores anos de minha vida. Não tinha porque algo dar errado.


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