Demigoddess escrita por Pacheca


Capítulo 45
Running Away Again


Notas iniciais do capítulo

Então gente, dps de muito tempo, estou de volta :3 Memórias para vocês :* Boa leitura :3



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– Quanto acha que ainda vamos demorar? – Ele perguntou, agarrado ao volante. Havia mais de 12 horas que eu não o via sorrir.

– Devemos chegar amanhã. – Dei de ombros. – Ao menos é o que eu espero.

– Ok. – Ele sacudiu a cabeça, esfregando os olhos. – Ok.

– Podemos parar quando quiser. – Apoiei o cotovelo na janela, colocando a mão sob o queixo. – Não vai virar a noite dirigindo.

– Não está com pressa?

– Não está com medo de cochilar e morrer? – Retruquei. – Estamos em uma interestadual, é perigoso.

– Tudo bem. – Ele levantou os dedos sobre o volante, ainda segurando-o. – Na primeira pousada, nós paramos.

– Ótimo. – Estendi a mão e desliguei o rádio. Ele me olhou pelo retrovisor.

– Cansada? – Concordei com a cabeça. – Conversa comigo, senão eu durmo.

– Ok. Quando começou a roubar as coisas?

– Não tinha assunto mais agradável? – Deu uma risada seca. – Eu tinha uns 8 ou 9 anos. Na época, acharam que era só coisa de criança. Eu estava brincando com um coleguinha de sala, peguei o carrinho dele.

– Você tem mãe? – Franziu o cenho, hesitante.

– Tenho. – Achei que ele não ia dizer mais nada, mas ele continuou. – Mas ela é doente. Não se lembra de mim.

– Achei que ela tinha te largado...

– No Acampamento. – Concordou. – Foi. Mas um dia eu a achei, caminhando com um cara.

– Ficou com raiva? – Coloquei as pernas sobre o painel do carro, esticando-as.

– Raiva foi pouco. Que tipo de mulher larga o filho de 12 anos pra ir traçar um cara rico de 60 e alguma coisa? Eu te respondo. Minha mãe.

– E a doença começou...?

– Depois que eu a encontrei, ela meio que me recebeu de volta. Não sei direito. Eu ficava o dia todo no quarto, geralmente de castigo.

– Bad boy? – Ri. Ele deu de ombros.

– Se você considerar jogar uma menina na piscina da escola e alguns meses depois explodir uma das privadas...

– É, acho que posso considerar.

– Bem, o que importa é que ela sempre parecia meio distante. Como se ela não conseguisse travar a mente dela junto ao corpo. – Deu um bocejo. – Quando percebi, o velho tinha largado a gente. E ela ficou louca de vez.

– Sinto muito.

– Já tive a esperança de que ela voltaria ao normal. Não me engano mais. – Fungou. Pensei se ele estava segurando o choro. – Sua mãe?

– Acho que ela morreu. Ao menos, é o que meus sonhos me mostram. – Dei de ombros, me virando para a janela. – Nunca nos demos muito bem.

– Ela te contou? Ou você...

– Ele veio atrás de mim. Me disse que não podia me reclamar, por causa dos irmãos. – Silêncio. Ele encostou perto de um hotel de beira de estrada.

– Topa dividir um quarto? – Deu aquele sorriso torto dele. Revirei os olhos.

– É bom você ficar quieto, ou então te mando pro julgamento do meu pai.

– Pode ficar tranquila, gata. Não vou fazer nada que você não queira. – Riu e desceu do carro. Fui atrás dele.

Por mais que ele tivesse brincado, não me importei de dividir a cama de casal com ele. Assim que se deitou, ele dormiu. Me deitei também e fiquei pensando.

“Ou Chad está carregando o céu, ou já morreu. O outro sumiu do radar depois de pular de um precipício. Deuses, estou muito confusa.” Depois de meia hora revirando aqueles pensamentos, acabei pegando no sono também.

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– Mãe! – Chamei-a mais uma vez, mas ela parecia não me ouvir. O céu continuava escurecendo, enquanto a maré subia rapidamente. E ela continuava a caminhar para perto da água. – Mãe!

Não me ouviu mais uma vez. Eu parecia presa ao chão, no alto de um rochedo onde a água não ma alcançaria. Acima de nós, uma águia sobrevoava a praia.

Por que infernos ela não me ouvia? A águia pousou não muito longe de mim, me encarando com os olhos cinzentos. Parei de gritar. Do que adiantava? Ela continuava a caminhar até o mar, como se estivesse um transe.

Tinha que confessar que o mar parecia convidativo. Com as ondas azuis quebrando-se contra as rochas afiadas, com a espuma branca ao redor. E o brilho particular.

– Não é culpa dela, te largar. – Encarei a águia, ouvindo o homem atrás de mim, sem saber quem era. – É deles. Destruíram-na.

– Então eu ainda posso salvá-la? – Antes de ouvir a resposta, comecei a descer do rochedo. O homem me chamava, mas continuei até a beira da praia.

A mulher que eu chamava de mãe já tinha sumido. O mar parecia pronto para me devorar. Fechei os olhos. A onda gigante passou por cima de mim. Meus sentidos se embaralharam, me deixando tonta.

– Elgin. Elgin! – Abri os olhos, arquejando.

– Japa. – Pisquei, esperando ver outra pessoa. Ver os olhos cinzentos da águia. Nada, só os olhos de Yamamoto. – Ai.

– O que foi? Você parecia a ponto de dar um troço. – Ele se sentou na beira da cama, franzindo o cenho.

– Pesadelo. – Engoli em seco, processando o que eu tinha sonhado.

– Jura? – Ele revirou os olhos. – Alguma coisa sobre nossos garotos?

– Minha mãe, eu acho. – Estava sentada na cama também,colocando o cabelo atrás da orelha. – Sua morte.

– A minha?

– A dela. – Suspirei. – Esquece. Volta a dormir.

– Vai ficar bem? - Concordei com a cabeça. – Certeza?

– Tenho. Anda logo, ainda temos 4 horas de sono. – Peguei meu travesseiro e o acertei nas costas dele. – Rala daí.

– Já to indo. – Ele se levantou, voltando para seu lado da cama. Me deitei de costas pra ele.

– Ei, Elgin. – Murmurei em resposta, esperando ele continuar. – O que você sonhou sobre ela?

– Ainda não entendi direito. – Fugi do assunto. – Volta a dormir.

Ele não respondeu. Voltei a pensar naquilo tudo. A águia era Zeus. O mar Poseidon. Será que o homem era Hades? E do que ele queria me convencer? Que meus tios me odeiam, que minha mãe não teve nada a ver?

Não adiantava. Mesmo assim, eu ainda tinha certa resistência com minha mãe. Ela me abandonou. Me deixou sem saber nada sobre monstros que tentariam me matar e coisas do gênero. E só me procurou uma vez no Brooklyn.

Me lembrava bem daquele dia. Eu estava trabalhando há pouco mais de um mês. Estava saindo pelas portas dos fundos, quando ela me chamou.

– Elgin. – Me virei, estranhando. A mulher estava lá, com um sobre tudo preto e saltos altos que quase a deixavam do meu tamanho. Quase. Ela ainda era pouco menor que eu.

– Posso...ajudar? – Fiquei tentando reconhecer aquele rosto. Mesmo num dia nublado, ela usava óculos escuros.

– Você cresceu. Anda bonita. – Ainda estava tentando reconhecê-la, quando ela tirou os óculos. – Trabalha ali?

Olhei aqueles olhos, querendo que estivesse errada. O que ela queria ali? Ainda mais daquele jeito. Ela mais parecia uma madame, casada com algum empresário.

– É, trabalho. – Respondi, encarando seus olhos. – O que faz aqui?

– Queria te dizer algo. – Deu uma risadinha fraca. – Assumo que me surpreendi, saber que você ainda se lembra de mim.

– Seus olhos. Não mudaram nada. – Consegui responder. – O que é que você queria falar?

– Direto ao ponto então. Ok. – Deu um suspiro. – Me perdoe.

– Por me abandonar?

– Pela segunda vez. Mil desculpas.

– Vai logo. Assim dá pra fingir que só me abandonou uma vez. – E então dei as costas para ela e nunca mais a vi.

Dormi com aquilo na minha cabeça. Talvez o segundo abandono fosse seu suicídio. Se é que ela tinha se matado.

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– Acorda. – Peguei meu travesseiro e o coloquei na cara do japonês adormecido.

– Me larga. – Ele começou a se contorcer debaixo do travesseiro, tentando me empurrar.

– Bom dia. – Joguei o travesseiro de volta no lugar onde dormi. – A gente ainda tem muito estrada pela frente.

– Sabe que provavelmente chegaremos amanhã, certo?

– Sabe que temos dois imbecis pra salvar? Ótimo. Vamos. – Saí da cama, pegando minha mochila.

– Eu posso acordar antes? – Ele se sentou, esfregando os olhos.

– Vou comprar alguma coisa na recepção. Tem dez minutos pra descer com a chave. – Ele só fez um gesto de desdém com a mão. Saí do quarto, descendo as escadas.

Ele gastou sete minutos. Me entregou a chave do quarto, esperando eu fechar a conta da noite do lado de fora. Quando a recepcionista, a mesma da noite, me entregou meu troco, meu anel esquentou.

Olhei para trás. Yamamoto também estava alerta, procurando alguma coisa. Agradeci a moça e parei ao lado do meu companheiro.

– Sentiu alguma coisa?

– Quem sente as coisas é você com esse anel seu. – Ele respondeu, olhando pro alto. – Vi alguma coisa passando muito rápido. Demais.

– Fúrias, de novo?

– De novo? – Ele me olhou, esperando uma explicação. Antes que eu respondesse, no entanto, ele falou. – Como as derrubou?

– Uma arma. – Ele franziu o cenho. – É, uma daquelas que dão tiros de bala.

– Seu anel faz isso? – Concordei com a cabeça.

– Quer esperar pra ver, ou correr?

– Correr me parece bom. Vem. – Fomos para a caminhonete. Ele deu a partida, me deixando olhando o céu. Procurei no chão também, mas não achei nada.

Continuamos nosso caminho, alertas.


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Notas finais do capítulo

Enferrujei dps de tanto tempo? Conte-me o que achou :3 Bjs :*



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