Entrevista Com Um Assassino escrita por Anastácia


Capítulo 2
Delírio


Notas iniciais do capítulo

Continuação, pra vocês. Espero que gostem :)



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P.O.V.

Sharon Grass

Naquela noite, após sair da gravação com o assassino metido a filósofo, Iscar La Lume, me senti realmente cansada. Cada passo que eu dava em direção a minha casa, fazia a distância parecer mais longa. Depois de 30 passos, eu já estava à beira de andar feito um peso morto. Cada centímetro, uma tonelada. Era como se eu tivesse o peso do mundo em minhas costas. Mas, o que se podia fazer? Sendo promotora, eu nunca parava em um mesmo lugar por muito tempo e, portanto, não tinha muito tempo para descansar. Era o que eles chamavam de “ossos do ofício”. E eu, sendo a mais velha da família, tinha a obrigação de exercer exemplo para meus irmãos. Pelo menos, era o que meu pai dizia. Mas além disso, quando se é promotora, é requerido um grande “suporte mental”. Nesse ramo, somos obrigados a ver as mais bizarras coisas diariamente, e eu não estou falando de fotos de supostos fantasmas ou seres não identificados. Porque pior do que isso, é ter de ver, todos os dias, corpos mortos e estraçalhados, decepados, esquartejados e usados das mais absurdas formas. Requer uma preparação psicológica. Dessa forma que falo, pode parecer até que ver um fantasma bem na sua frente - uma idéia um tanto quanto absurda – seria pior do ver um corpo sem vida e destruído. Mas parece isso mesmo, não é?

- Socorro! Pelo amor de Deus, alguém me ajude!!

- Cala essa boca, vadia, se não eu corto essa sua merda de língua!!

Ouvia-se apenas um gemido desesperado abafado por uma mão. Eu acelerei o passo e o peso em minha costas ia desaparecendo. No fundo de um beco, eu vi um homem montado em cima de uma mulher, imobilizando-a.

-Fica quietinha...

 Foi a primeira vez que vira um estupro de verdade. Corri o mais rápido que pude, meio desconfortável por causa do salto. Por volta de 400m à frente, havia outro beco a minha direita. O mesmo beco. O mesmo homem e a mesma mulher. Na mesma posição. Mas agora tinha algo de diferente. Em vez de um estupro, eu vi mutilação. As tripas foram arrancadas violentamente com o auxílio de uma faca, enquanto a mulher golfava no próprio sangue. Corri mais uma vez, o mais rápido que pude. Mais a frente outro beco. Esquartejamento. E outro. Decepamento. E os becos passavam a minha direita sem parar, cada um com um cena brutal diferente, porém sempre o mesmo beco, o mesmo homem e a mesma mulher. E eu continuava correndo o mais rápido possível. Mais a frente, avistei uma luz no fim da rua sem fim e respirei aliviada. Luz era a melhor coisa para se encontrar em um momento como aquele. Banhei-me de luz e entrei onde quer que fosse. Lá, em uma cadeira, estava um homem sentado. Ao virar sua face em minha direção, o grande salão na qual entrei enegreceu até virar um breu. Foi só quando uma lanterna se acendeu nas mãos do homem que pude ver, claramente, o rosto sombrio de Iscar La Lume sorrindo, em malícia, para mim. A Lanterna iluminou o fundo do salão e logo atrás, contemplei os 47 corpos pendurados como carne de açougue, despidos e derramando sangue.  Mudei de idéia. Gritei e comecei a recuar até esbarrar em um homem e dobrar a consciência.

- Meu Deus, a senhora está bem?!

Eu firmei os olhos até poder ver claramente. Era só um homem. E nada daquilo tinha acontecido.  


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