Harry Potter Por Olhos Negros escrita por CY


Capítulo 53
Os Olhos Negros


Notas iniciais do capítulo

Um extra pra quem sempre acompanhou a Fic :)

Aqui eu me despeço de vocês. Talvez eu adivinhe o que muitos irão pedir depois desse capítulo, mas ainda vou pensar. Antes de tudo, é melhor começar de uma vez.



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O sul da Inglaterra. Um lugar banhado pelas praias um tanto frias e raras de se aproveitar. Mais ao leste, está Brighton, a cidade famosa por seu turismo. Todo fim de tarde daquele lugar era único. Naquele em específico, o céu se esvaziava do rosa e já começava a se tornar um roxo escuro, onde poucas estrelas começavam a surgir. A paisagem era dividida pela avenida que tinha de um lado, os famosos prédios germinados ingleses, com moradias nos andares superiores e no térreo, sempre havia uma loja ou restaurante, do outro lado da avenida, estava o cais. O belo mar já com a maré subindo, tinha suas ondas batendo forte nas plataformas de madeira e refletia o roxo do céu. Um vento nem tão gelado batia nos rostos das famílias e grupos de amigos que iam de lá para cá no calçado ao lado do cais. Algumas luzes dos apartamentos começavam a se acender e as lojas abaixavam suas portas encerrando o horário comercial. Mas nem tudo se fechava. A cidade, famosa por seus turistas, havia de ter as melhores noites do sul da Inglaterra. Os pubs e restaurantes abriam as portas para receber o público mais jovem com as mesas para fora da calçada com vista ao cais. Romântico e divertido.

Não tão longe dali, indo em direção a esses restaurantes, estava um grupo pequeno de três amigos. Caminhando juntos, Lilian vinha de braços dados com Thiago, e Sirius ia ao lado do amigo conversando. As vestes eram leves, mas havia um casaco em cada um que protegia da noite um pouco mais fria. Descendo uma das vielas, que ligavam a casa da tia de Lilian até o cais, os três iam dando uma risada a cada passo.

– Acha que ela vai se importar se chegarmos tarde? – Thiago fitou a bela ruiva ao seu lado.

– Não... – Lilian deu um sorriso – Minha tia é diferente... Ela entende que queremos sair enquanto estivermos aqui.

– E vamos sair todas as noites! – Sirius enfatizou mais animado.

– Temos que tirar o atraso de tantos anos em Hogwarts... – Thiago ajudou, mesmo que Lilian revirasse os olhos. Ele reparou. – Não se preocupe Lili... Você continua única pra mim! – Thiago a beijou na testa com carinho.

– Graças a Merlin.... – Sirius respirou aliviado e já quase chegavam na avenida – Não sabia mais se conseguiria me formar...

– Agradeça às colas que Remo te deu em Arte das Trevas. – Thiago deu um risada.

– Aquele idiota vai acabar virando professor se continuar daquele jeito... – Sirius deu um sorriso ao lembrar do velho amigo estudioso apesar de bagunceiro.

– Porque ele não pode vir? – Lilian se apertou no casaco.

– Lua cheia... – Thiago desfez o sorriso e olhou para frente.

– Desculpe... – Lilian tentou disfarçar.

– Tudo bem... – Sirius a aliviou – Remo já se acostumou...É parte dele já.

– E Pedro? - Lilian tentou mudar de rumo - Ele disse que talvez viria.

– Aquele gordinho sem vergonha? - Sirius riu-se - Ele não fala direito com a gente faz um tempo já...

– Acho que ele está meio perdido ultimamente... -Thiago suspirou ao acelerar o passo.

Os três viraram a esquina que dava na avenida. Muitos pubs já estavam abertos e recebiam jovens agitados que conversavam com a voz mais elevada, superando as músicas dos anos 80 que tocavam ao fundo. Um rock clássico, mas leve, fez o grupo bem jovem escolher um barzinho em específico. Talvez não tivesse cerveja amanteigada, mas o lugar cheio de trouxas parecia convidativo. A decoração rústica e moderna, com paredes vermelhas e um bar lotado de bebidas fez com que os três escolhessem uma mesa naquele pub simpático. Lilian juntou a cadeira a Thiago e Sirius fitou os dois se sentando depois.

– Vocês deviam se casar. – Sirius sorriu e Lilian arregalou os olhos.

– Sirius! - Thiago o fitou corando.

– Qual é! Faz dois anos que saímos de Hogwarts...

– Por isso mesmo! – Lilian amava o namorado, mas como ele, sabia que eram jovens ainda.

– Nunca se sabe o dia de amanhã... – Sirius deu de ombro e seus olhos repassaram o salão a busca de mulheres. Ele voltou para a mesa. – Por isso...que eu não perco tempo.

– Onde vai? – Lilian viu Sirius levantando. Alto e bonito como sempre, com seus cabelos escuros e olhos pequenos e claros, algumas mulheres da outra mesa cochicharam.

– Deixar você a sós um pouco...

– Mas acabamos de chegar... Não ligamos pra isso, pode ficar... – Mas Sirius já estava de pé.

– Deixe Lili, - Thiago a parou sorrindo para o amigo – Ele vai caçar...

– Caçar? Caçar o que? – Lilian franziu e Thiago riu-se quando viu Sirius revirando os olhos para ela.

– O que mais o garanhão iria caçar? – Thiago respondeu: Sirius ia atrás de mulheres como sempre.

– Peçam algo para eu beber... – Sirius sorriu charmoso – Aliás, peça duas bebidas...Não voltarei sozinho...

– Como tem certeza, Black? – Lilian o encarou de um jeito sabe-tudo.

– Já viu alguma mulher resistir a um cachorrinho inocente? – Sirius fez olhos pedintes.

– Vai namorá-las como cachorro agora? – Lilian o provocou mais uma vez.

– Não. – Sirius se afastou – Só amolecer seus corações...depois que o cão fugir...O verdadeiro Sirius triste por perder seu melhor amigo de companhia pede consolo...

– Isso é golpe baixo! – Lilian se irritou como Hermione faria dali a alguns anos.

– Mas funciona! – Sirius abriu os braços vitorioso e deu um riso. Ele desceu as escadas do pub dando um último olhar para o casal.

– Do que você está rindo? – Lilian viu Thiago olhando longe.

– Nada, só é uma pena ser um cervo. Mulheres tem medo de cervos... – Lilian o socou de leve – Ai! Lili!

– Eu vou mostrar do que mulheres tem medo!

– Você fica linda brava, sabia? – Thiago a beijou na bochecha com o vermelho de ciúmes combinando com o vermelho dos cabelos dela. Ela sorriu com a piada finalmente.

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Do outro lado do bar, um outro grupo que estava em uma mesa mais próxima do balcão de bebidas conversava sobre os assuntos frequentes.

– Carl, você viu o documentário que passou ontem? – Mellanie, uma moça loira dos olhos verdes, mas não muito bonita, se dirigia a seu amigo Carl, um rapaz alto e dos cabelos castanhos.

– Amiga... você acha que com tantos homens bonitos naquele seriado eu ia mesmo ver documentários? – Carl revirou os olhos. Ser gay era uma de suas qualidades. Ele não era espalhafatoso, mas não tinha como esconder esse fato.

– Você só pensa nisso! – Mellanie sorriu e tomou um gole de cereja.

– Você devia pensar em namorar também Mel... – Carl mirou a segunda amiga a sua frente – Aliás, vocês duas! – Ele ergueu a voz – Ouviu Camille?

– O que? – Camille olhava para a porta do pub com os olhos distantes.

– Viu assombração foi? – Mel largou a cerveja.

– Não...eu só...

A moça de cabelos e olhos negros, alta e sedutora parecia mais do que perdida. Ela voltou o cérebro para a mesa com seus dois amigos e tentou responder mais rápido.

– Eu só estava olhando aquele casal... – Ela olhou para frente indicando o tal.

– Quem? A ruiva com o cara de óculos? – Carl viu Lilian e Thiago flertando um com o outro.

– Ah! Que lindo...! – Mellanie deu um gritinho – Eu quero namorar!

– Aposto que a ruiva ali não vê documentários sexta à noite!

– Cala a boca, Carl! – Mellanie riu com o amigo lhe provocando.

– Camille? – Carl tirou os olhares da amiga de novo – Você está bem?

– Estou...só estou um pouco cansada... – Camille bocejou – Acho que nem deveria ter vindo hoje.

– Ah não! – Mel gritou – Você sabe que tem que ficar aqui! Eu já disse que aquela pesquisa mostra que amigas acompanhadas arranjam caras mais fácil! – Camille riu-se e Carl revirou os olhos.

– Desculpe Mel... - Camille matou a cerveja de seu copo - Mas acho que vou acabar dormindo aqui se ficar...

– Você está muito chata sabia... – Carl sorriu para Camille assentindo que ela fosse pra casa descansar.

– Mas não me ligue amanhã! – Mel apontou o dedo para a amiga – Eu posso estar acordando nos braços de um loiro, alto e rico e não quero ser incomodada! – Mellanie riu e Camille se levantou da cadeira rindo também.

– Pode deixar... – Camille empurrou a cadeira e pegou sua bolsa – Ligo pra vocês mais tarde...

– Quer carona? – Carl ofereceu enquanto Camille lhe dava um beijo de despedida.

– Não... – Camille deu adeus em Mellanie também – Não precisa...

– Se cuida, linda. – Carl acenou no meio do pub agitado enquanto Camille dava um adeus rápido para os dois amigos.

Camille ainda ouviu Carl tirar sarro de Mellanie por causa do loiro imaginário, mas se apertando no casaco, ela se dirigiu a saída. Perto da porta ela viu alguns rapazes da mesa da direita lhe fitarem e alguns a convidaram para sentar, mas era tímida demais para responder algo. Ela apertou o passo corando, e já na porta do pub, ela ouviu alguém lhe chamar.

– Moça! – Thiago se levantou – Sua chave...

– Ah... – Camille olhou para trás – Obrigada – Ela pegou a chave da mão de Thiago que sorriu.

– Tome cuidado. - Lilian fitou a morena também sorrindo

– Vou sim... Boa noite...– Ela sorriu, mas não queria atrapalhar nada. Desceu os degraus da saída do pub deixando o casal simpático para trás.


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O céu já estava mais que preto. Aberto e sem nuvens, a noite deixava as estrelas serem refletidas no mar, mas eram escutadas as onda do outro lado do prédio batendo no cais. Camille saiu do pub, passou por mais restaurantes lotados e virou uma esquina de rua íngreme que a levaria para casa. Alguns grupos de jovens passavam com cervejas na mão e dando risada, mas eram poucos. A maioria já estava estabelecida em algum bar. Ela se apertou mais uma vez no casaco que a protegia do vento gelado e olhou para os lado a procura de um taxi, mas não viu nenhum passar. Se sentindo segura e vendo a noite bonita que fazia, resolveu andar até sua casa. Quem sabe achasse um taxi pelo caminho.

A morena colocou as mãos eu seu casaco a fim de esquentá-las e olhou para os lados. Mais um grupo de amigos passou, mas esse era o último. Ela virou uma esquina se afastando da avenida principal e deixando o som do mar ficar mais baixo. Ela passou por uma loja de antiguidades que já estava fechada e ouviu um barulho a suas costas. Sozinha na rua, um gelo desceu por dentro de seu corpo. Ela reconheceu o barulho de um passo e acelerou o seu. Tentou não olhar pra trás, mas sutilmente, deixou o olho de lado e viu uma figura escura atrás dela. Um homem mais alto e sombrio estava a suas costas, mas se vendo sem escapatória, ela quis ser mais corajosa. Algo que passaria pra seus filhos um dia.

– Deseja algo? – Camille fitou os olhos castanho do homem meio loiro, mas muito feio e mal cuidado.

– Que tal sua bolsa, gracinha? – O homem tinha a voz ríspida e nojenta.

– Que tal não? – Camille revirou os olhos dando pouca importância ao que parecia um mendigo atravessado. Só então ele respondeu a ela com um só ato. Colocando a mão no bolso, Camille o viu tirar um canivete.

– Que tal agora... – O homem deu dois passos e Camille pensou em gritar, mas ele fora mais rápido pondo a mão em sua boca. – Calma... eu só quero uma recompensa dessa sua rebeldinha...

Me solta... – A voz de Camille abafou atrás da mão suja do homem.

– Acho que não quero somente a bolsa... Pensando bem doçura...acho que quero mais... – O homem arregalou os olhos e gritou de repente – Ahhhhhhhhhhhhh! O que foi isso !?

Camille se soltou das mãos sujas e viu o que fizera o homem gritar. Na perna alta do mendigo um cachorro grande e preto mordia o calcanhar dele.

– Me solta! Vira-lata estúpido! – O cachorro rosnou mais e rasgou a calça do homem – Seu desgraçado!

Camille se afastou, mas achou arriscado fugir e o cachorro não conseguir segurá-lo por muito tempo. Ela grudou a bolsa em seu corpo e assistiu a cena, um tanto engraçada e perigosa.

– Eu vou te matar! – O homem puxou o canivete e agachou tentando acertar o cão, mas o Irish Wolfhound conseguiu desviar da lamina e saltou no braço do homem, mordendo seu braço – Ahhhhhhh! – O canivete caiu da mão do homem – Esse cachorro enlouqueceu? – O homem franziu e começou a se assustar quando viu o cão largar o braço e espumar pela boca. – Você tem raiva !? – O homem arregalou os olhos e assustado com a mordida de seu braço ter lhe infectado, ele esqueceu completamente de Camille correndo para a farmácia mais próxima.

Camille afobou e o cão se recompunha da posição de ataque também respirando forte. De repente a espuma da boca do cão sumira. Ela o fitou assustada pela reação nervosa, mas conhecia animais e sabia que os olhos do cachorro demonstravam outra coisa. Ela se aproximou cautelosa.

– Você está bem? – Ela conversou com o cão com voz de criança – Ah...Obrigada... – Ela fitou o cão e ele correspondeu abanando um pouco o rabo. Assim ela percebeu que ele se acalmara – Você não deveria estar aqui... você é de raça... – Ela reparou no pelo preto bonito e bem cuidado. – Venha... - Ela o chamou com a mão - Eu só vou agradecer gracinha... – Ela estendeu a mão para um carinho na orelha e o cão deu um passo pra frente pra receber. Mas ele mancou. – O que foi? Está machucado? – Camille viu a pata traseira que mancara descendo gotas de sangue. Talvez o canivete pegara raspando. – Tadinho... – Ela deixou o olhar triste – Vamos... vou cuidar de você...

Sem escolha, Camille fez um gesto para o cão segui-la e ele o fez fielmente. Abanando o rabo e mancando, o Sirius disfarçado seguiu a moça bonita.


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O consultório de Camille ficava não muito distante dali. Na avenida principal de volta, a clínica veterinária ficava mais próxima dos bares do que a própria casa da bela jovem. O cão foi lhe seguindo como se ela fosse sua dona. Ainda mancando, de vez em quando Sirius sentia a mão dela lhe fazer um carinho na cabeça incentivando o a continuar andando. Em frente ao imóvel, Camille abrira a bolsa pra pegar a chave da porta de vidro, e quando a abriu, viu o cão rondar a cabeça pelo local.

– Entre... – Camille o incentivou sorrindo.

Sirius sentiu suas patas encostarem em um piso frio e diferente. Os azulejos estavam gelados, mas a loja estava quente. Havia prateleiras nas paredes onde ficavam artigos e brinquedos para cães e gatos. O cão olhou para frente e viu uma mesa de recepção, mas Camille o chamou.

– Vamos? – Camille vestia o jaleco branco enquanto chamava o cão para segui-la mais uma vez – A enfermaria fica lá trás...Aqui é só a loja, peludo... – Camille o viu parado com medo e tentou acalma-lo mais uma vez – Venha...

Inibido, Sirius estranhava aquele lugar com tantas coisas diferentes para ele. Um mundo trouxa totalmente desconhecido. Aceitara o convite de Lilian para passar aquelas férias na casa de sua tia trouxa, e só concordara porque a namorada de seu melhor amigo dissera que o sul era infestado de belas moças, mas mesmo assim, os hábitos trouxas ainda eram assustadores de certa forma. Camille entrou em um corredor não muito largo e virou a esquerda. Sirius virou o fucinho para a direita e viu uma maca para tosa, xampus e um secador, mas não fazia ideia para que aquilo servia. Ele resolveu entrar na mesma sala da moça, a esquerda.

– Consegue subir aqui? – Camille sorriu para ele apontando uma outra maca. A sala toda branca, com objetos mais estranhos ainda o assustou. – Suba...só vou cuidar da sua pata... – Camille bateu as palmas como quem fala com uma criança, e Sirius riu-se por dentro.

O cão subiu em dois pulos na maca, e Camille arregalou os olhos.

– Nossa...você deve mesmo ser treinado. Geralmente tenho que usar a coleira... – Ela o viu ser o cão mais educado – E não me julgue peludo... - Ela sorriu meio séria - Gosto de falar com meus pacientes...

Camille começava aquele velho habito de que ama animais, de conversar com eles como se pudessem entender.

– Deixe eu ver... – Camille se aproximou da pata machucada, e sem que quisesse, Sirius abanou o rabo enorme – É... está bem machucado... Aquele moço malvado conseguiu algo, mas eu vou cuidar de você bonitão! – Ela passou a mão na cabeça do cão e Sirius sorriu com o bonitão, mesmo que fosse para seu ser de pelos. – Bom, vou pegar algo pra não infeccionar e depois cobrir, ok? – O cão ficara parado e parecia concordar – Sabia que você aceitaria bem! – Camille riu-se.

Camille virou para um armário, onde Sirius deduzira estar algumas poções poderosas, ou para Lilian, simples remédios. Camille ficou de costas e o cão deu mais uma rondada na sala branca. A luz forte do teto o cegou e ele voltou para ela. Camille se virou com uma gase molhada e se aproximou dele novamente.

– Você foi muito corajoso, sabia? Mas tem que ser agora também... – Ela sorriu e bem próximo à pata traseira, Sirius conseguiu sentir o perfume dela. O coração dele disparou. O cão deu uma cheirada no ar e Camille entendeu errado – O que foi, bonitão? Eu sei... esse remédio não tem um cheiro muito bom... – Mas o cão queria sentir outra coisa. Sirius olhou para trás e sem perceber, Camille já estava encostando a gase no machucado ao poucos. Uma mão leve e delicada segurando sua perna. Sem arder, o sangue seco foi retirado e deixou um corte que parecia bem melhor aparecer. Apenas um arranhão do canivete – Viu? Ficou bem melhor... - Camille sorriu para o focinho - Vou enfaixar pra você... – Ela sorriu e se afastou para o armário novamente. O cheiro dela passou com o vento e Sirius o cheirou no ar.

Camille abriu uma gaveta e vários rolinhos de faixas foram vistos. Sirius pensou como os trouxas eram interessantes. Bastaria conjurar uma faixa, e com Ditamno, o machucado já teria ido embora. Mas as mãos dela davam outro toque. Outra mágica. Ele podia fugir e aparatar longe dali, mas algo o segurou. Algo o fez resolver ficar até o fim. Sirius a viu escolher uma faixa maior, apta para a pata de um cão de uma raça tão grande. Ele viu os cabelos negros dela balançarem enquanto desenrolava a faixa. Como o cão que segue a bolinha de tênis, ele seguiu o balanço do cabelos, da raiz até o fim das costas...Chegou ao quadril. Mas antes que se despedaçasse com as belas formas de Camille, Sirius sentiu a pata arder. De repente, ardeu mais, e mais, e mais...cada vez que ardia parecia ter havido um segundo machucado. O remédio fazia efeito. O cão gemeu de dor sem querer e Camille se virou.

– Calma...calma... – Ela fez um carinho na cabeça dele – Vai passar...ele está agindo...calma...Você é corajoso, não é?

Mas o cão começou a tremer. Sirius não estava acostumado com aquela dor. Aquilo mexeu com ele. Algo dentro do cão o fez arregalar os olhos.

– O que foi? – Camille franziu.

O cão deixou o corpo tremer mais, mas em seus anos de veterinária, Camille nunca vira algo assim. O cão se retorcia, e cada vez mais ela ficava preocupada. Desconcentrado por causa da dor intensa, Sirius sabia o que estava acontecendo e tentou se segurar ao máximo, mas ficava impossível.

– Calma...eu vou chamar uma ambulância... – Camille se desesperou para o telefone ao lado do armário.

Sirius sentiu o rabo ir desaparecendo. Onde tinha se metido?

– Alô? – Camille deu as costas e colocou o telefone colado ao rosto – Oi Van, é a Camille. Eu estou com um cachorro comigo... É eu sei, já está tarde...Não, não...Escuta...Ele está tremendo... eu preciso de uma ambulan... – Camille ouviu um barulho da maca e olhou para trás.

Camille? – O telefone soava alto – Camille, que cachorro? Você quer que eu mande o que? Camille...?”

Camille arregalou os olhos ao máximo que conseguia. O cão já não tinha forma de cão. Se transfigurando aos poucos por causa da dor, o rabo não estava mais lá e o focinho diminuíra, o corpo estava mais largo, os pelos iam descendo para dentro da pele e Camille sentiu o coração na boca. Devagar ela colocou o telefone no gancho ainda pasma e olhando para o quase-cão. Sirius segurou ao máximo, mas quando deu por si, a maca balançou forte e ele pulou para fora, caindo de pé, como humano. Camille jogou suas costas na parede se afastando com medo.

– Calma... – Sirius tentou quando viu o terror nos olhos dela. – Eu não vou machuc...

– SOCOR...! – Camille gritou aterrorizada mas Sirius se aproximou e tapou a boca dela.

– Não grite! – Sirius ainda a segurava e o perfume contagiante dela veio de novo – Eu não vou fazer nada...eu juro...

Camille arregalou os olhos para o rapaz que lhe agarrara. Se ele podia se transformar, imagina o que mais podia fazer. Era perigoso. Ela nem tentaria gritar de novo. E o moço? Era alto, moreno dos cabelos pretos um tanto longos e perfeitamente bagunçados. Os olhos dele fitaram os dela. Ela quase viu seu reflexo nos olhos claros de Sirius e aquilo, de algum jeito a fez ver que ele era tão humano agora quanto ela. Mas o pavor ao que acabara de ver a fez ficar mais forte e se soltar dele rapidamente.

– O que você quer!? – Camille ofegava assustada ainda arregalando os olhos.

– Eu não quero...

– O que você é afinal? – Camille se afastou mais franzindo. Ela o interrompia e acelerava a voz em desespero - Você era um cachorro, depois isso... eu...eu vi... você estava ali...

– Eu sei... Tenha calma, eu posso explicar... – Ele sorriu – Na verdade eu não posso, mas...

– Saia! – Ela o fitou nervosa – Ou eu...eu...eu chamo a polícia!

– Desculpe... – Sirius tentou não piorar nada vendo o estado de quase desmaio de Camille – Eu não queria escutá-la...Eu realmente não quero machucá-la...me deixe explicar...

– Você é um lobisomem? – Camille tentou para sua própria calma.

– Não... – Sirius riu-se forte – Meu amigo é um lobisomem, mas eu não sou assim... – Camille franziu mais e ele deu um passo pra frente, mas ela foi um passo pra trás com medo.

– Não se aproxime!

– Acho que você me prefere como cachorro, não é? - Sirius riu-se de lado.

– Porque me salvou? – Camille já mirava um bisturi ao seu lado para atacar aquela criatura caso ele tentasse algo, mas o instinto curioso que passaria pra seus filhos floriu mais uma vez – Monstros não fazem isso... Por que me salvou daquele homem?

– Eu não tive escolha... – Sirius tentou não se mexer muito – Eu estava andando por ai... e a vi passando... O corpo mais lindo que já vi andar...

– Como se atreve? – Camille ofendeu-se mas ele nem ligou.

– Eu não pensei em segui-a...mas foi como um imã...Quando dei por mim...já estava atrás de você e o resto...você sabe...Nunca deixaria um moça ser atacada...

– Por que não foi embora? – Camille se acalmava aos poucos, mesmo a ficha não caindo - Porque não fugiu invés de vir para cá comigo?

– Por que não quis... – Sirius viu ela ser desarmada. Ele deu um passo pra frente, mas ela não recuou desta vez. Algo a prendia também – Eu quis conhecê-la...achei interessante...seu jeito...o andar... E eu não quis me mostrar assim... Me desculpe...

Sirius deu mais alguns passos a frente e ela sentiu seu coração ficar mais forte. Porque não fugia? Porque não o atacava? Porque raios ele era um cachorro? Porque ela estava agindo como se aquilo fosse normal?

– Isso não explica muita coisa... – Camille perdia a fala na medida que ele chegava próximo dela, galante como sempre.

– Tem certeza que você quer saber? – Sirius se aproximou mais e mais.

– Você vai me matar não vai? – Ela já estava imóvel frente a frente com ele.

– Só se você quiser... – Sirius abriu um sorriso de orelha a orelha, e por mais que parecesse malicioso, ela não sentiu medo. Sentiu um calor que nunca sentira.

– O que você é...? – A voz dela falhou ao sentir a respiração dele.

– Alguém totalmente diferente agora... – Sirius viu a mão dela tremer, solta ao lado do corpo e segurou uma delas. A mão gelada dela sentiu o aperto quente.

– Acho que vou desmaiar... – Camille o fitou e ele a fitou de volta.

– Vão ser os olhos negros mais lindos que já vi se fecharem...

Ao estranho, Camille deixou-se esquecer do que vira. Parecia um homem tão normal, quanto aos que namorara na adolescência. O rapaz alto e moreno, sedutor e misterioso a persuadiu. O silêncio tomou conta e o verdadeiro motivo de Sirius a segui-la ficava mais claro. Ele apertou a outra mão e o coração dela saltou de novo. A respiração dela afobou e Sirius sentiu seu perfume exalar mais forte. O olfato não era tão aguçado quanto ao que se tornava como cão, mas o enlouqueceu. Ele aproximou o rosto, e ainda apavorada, o coração de Camille veio a boca novamente. Ela o deixou lhe beijar.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades e agradecimentos no próximo!