Gwin estranhou ao não ver Loki de manhã. Sabia que Thor e o pai de Todos haviam partido em uma breve expedição para a obscura Niflheim, mas não via o deus da trapaça desde o dia anterior e aquilo a preocupou.

- Tia, permita-me perguntar onde Loki está...- disse enquanto tentava comer algo, sem vontade.

- Não sei, querida...não o vejo desde ontem à noite...- a rainha respondeu enquanto conversava animadamente com sua irmã.

Pedindo licença, se retirou e resolveu procurar pelo jovem príncipe. Andou por todo palácio e toda a extensão da propriedade, mas não conseguiu descobrir nada, ninguém tinha visto Loki.

Havia um último lugar, improvável, mas ainda assim possível. Andando pelo labirinto do jardim, ela chamava seu nome, mas a única coisa que ouvia era o canto dos pássaros ficar cada vez mais baixo conforme avançada.

O sol estava a pino quando chegou no meio do lugar. Alegrou-se ao vê-lo de costas, sentado perto da pequena fonte.

- Até que enfim eu encontrei você...- ela disse sorrindo e se aproximando.

- Gwin, não. – este respondeu sem se virar, fazendo-a parar.

- Está tudo bem?

- Não. Não está. Vá embora...

- Por quê?

- Porque sim...só...volte para o palácio.

- Não. Não vou até que me fale. O que aconteceu, foi o Thor? – a jovem perguntou se aproximando-se ainda mais enquanto Loki baixava sua cabeça.

- Não, não foi ele...- este respondeu tristemente.

- Então, você não se importará em me contar...foi algo que eu fiz?

- Eu estou pedindo, vá embora!

- Não! Vire-se e olhe para mim! Eu não irei até que me diga o que te aconteceu! Fiquei preocupada, estou te procurando desde manhã! – enfrentou.

Loki se virou rapidamente e ferozmente. Os dois então se encararam e ela levou a mão em sua boca ao ver que ele estava completamente diferente. Sua pele tinha tom azul muito escuro e seus olhos estavam completamente vermelhos.

- O-o quê...o que é isto?! – perguntou se afastando.

- Isto...sou eu. Eu sou um jotun, Gwin. – disse e havia muita tristeza, confusão e principalmente raiva em sua voz.

- O que você está falando? O que houve?!

- O que houve? Não consegue perceber? O que houve é que eu vivi uma mentira....todos estes anos. Eu sou um jotun! Um jotun ! – gritou desesperado sentando-se no chão.

Gwin que encarava ainda muito assustada hesitou, mas acabou se aproximando e abraçando-o enquanto este encarava o chão.

Ela queria poder dizer algo importante, ou ser Thor naquele momento. Vê-lo daquela maneira era mais do que seu coração podia suportar.

Após um tempo, Loki a encarou e isso fez Gwin se afastar, até que ele disse:

- Eu...eu sabia disso. Eu sabia que tinha algo errado. Sempre soube...

- Como...como você descobriu?

- Quando estive em Jotunhein...quando nos reeencontramos. Eu e Thor...quando ele me tocou.  – relevou e neste instante Gwin sentiu o ciúmes tomá-la por inteiro.

- Oh. Entendo.

- E ontem...ontem eu tive a certeza e...eu sou...eu sou isso, Gwin! – completou enquanto olhava para seus braços ainda não acreditando no que dizia ou via.

- Você está aqui a muito tempo?

- Desde ontem...

- Loki, você tem que voltar...nós temos.

- E por quê? Para continuar vivendo ao lado daqueles mentirosos?! Eu tenho vontade de sumir!

- Não diga isso. Não na minha frente. Não para mim, que sempre te achei perfeito. – ela relevou abraçando-o e ignorando qualquer intervenção que Loki pudesse fazer.

Mas ao contrário do que pudesse imaginar, o jotun não se afastou, e a abraçou de maneira carinhosa.

- Você tem que voltar.

- Não consegue ver? Eu não posso voltar, não para aquele lugar...

- Mas você tem que entender o houve, Loki! Seus pais te amam, disso eu estou plenamente certa...vocês precisam conversar! Fugir não é a solução...você sabe disso. – Gwin respondeu completamente desesperada ao ver os desespero tomar Loki – Por favor...apenas volte então. E descanse. Por mim. Pelo bebê.

Após um tempo ele concordou e tomou sua versão asgardiana. Seus olhos inchados por ter chorado a noite toda terminaram de partir o coração de Gwin.

Em séculos não poderia compreender o que ele sentia. Mas vê-lo assim a fez esquecer de sua própria agonia. Ela o queria tanto, desejava tanto ser amada por ele, tocada mais uma vez que chegava a doer. Doia demais.

- Obrigado, Gwin...por tudo. - ele agradeceu enquanto os dois voltavam.

Sentindo a mão de Loki em sua cintura, ela sentia seu corpo queimar.  Pararam por um instante no meio de um corredor, nada em sua volta. Nada além do labirinto, do céu nublado acima e de Loki encarando-a de maneira confusa.

- Não conte para ninguém. Não conte que me viu em forma jotun...por favor. – ele pediu encarando a jovem de perto.

- Eu prometo. Você pode contar comigo. Para o que quiser, Loki...- respondeu de maneira hipnotizada..

Enquanto seguiam para o palácio e no meio de todo o caos e suspense, no coração dela reacendeu uma esperança. Ela sabia que era perda de tempo. Mas Loki era seu noivo e pai do seu filho e isso devia, tinha que significar algo.

Pensava isso enquanto observava a feição selvagem que o rosto de Loki havia ganhado.

------------------------------------------------------------------------

- Você quer que eu peça para alguém levar algo no seu quarto? – ela perguntou enquanto eles subiam as escadas.

- Eu quero ficar sozinho.

- Mais ninguém?

- Thor. Quando ele chegar, quero vê-lo...sei que ainda hoje eles estarão aqui. – o moreno respondeu e isso entristeceu Gwin.

- Loki, meu filho! Estive preocupada com você! – Frigga disse enquanto alcançava os dois na escada.

O jovem então encarou a sua mãe rapidamente e saiu sem dizer uma palavra.

- O que houve? Aconteceu alguma coisa? – a rainha perguntou apreensiva.

- É melhor eu ficar com ele...- Gwin respondeu indo atrás de Loki e alcançando-o na porta de seu aposento.

- Me deixe sozinho...- este pediu assim enquanto entrava e sentava perto da janela.

- Tem certeza? Acho que precisa de companhia.

- Obrigado...mas eu não quero ver ninguém.

Os dois trocaram um olhar e então ela o deixou.

Respirando fundo eele olhou para o céu lá fora.  Sentia ódio. Desejo de se vingar. Mas sabia que parte daqueles sentimentos não eram seus, eram resposta de sentimentos muito mais profundos, o principal deles: decepção.