Three Federations: R-103 escrita por Aria S


Capítulo 13
Capítulo 10: Blue – Part 1


Notas iniciais do capítulo

Olááááááá pra quem ficou esperando até hoje! o/ Vocês acharam que eu morri? Mas eu não morri, pra felicidade de vocês! (ou pra infelicidade, num sei kkk)
Depois de taaanto tempo aqui está um novo capítulo! Com mais de 5 mil palavras, só pra deixar vocês mais felizes ainda (ou não kkk). Pior que só é a Parte 1 ainda! Imagina o resto kkkk
Eu ia criar uma capa nova, mas não tive tempo kkkkk
Chega de enrolar! Vamos postar logo esse capítulo!



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No capítulo anterior...

Nina e Ryan foram enviados para a Federação Submersa atrás de respostas para a morte do líder da R-103 daquela Federação.

Em apenas uma noite naquela Federação a relação de Ryan e Nina ficou estranha por algum motivo. Foi então que Nina descobre um segredo de Ryan: Ele escondia um crucifico prateado por baixo de sua camiseta. Havia algum valor sentimental por traz daquela bijuteria.

Na manhã seguinte, Nina tem estranhos sonhos com o passado envolvendo seu pai, e logo em seguida Saphira a liga pela manhã revelando a descoberta do arquivo Clio. Ambas não desconfiam da verdade escondida por trás deste arquivo. A verdade que Nina nunca desconfiaria.

Capítulo 10: Blue – Part 1

Uma nova manhã começou na Federação Submersa. E como planejado, Nina e Ryan seguiam até a instalação da R-103 daquela Federação.

A cidade estava muita mais agitada do que no dia que chegaram. Estabelecimentos estavam abertos e muitas pessoas andavam pelas ruas. A quantidade de pessoas era menor do que se encontrava na Federação Subterrânea. Pelo menos foi o que Nina notou.

Nina andava mais devagar do que Ryan naquele momento, fazendo-a ficar alguns passos atrás dele. Ela estava muito cansada por causa da falta de sono, e bocejava a cada minuto.

– Cadê aquela grande empolgação de ontem à noite quando chegou? – Ryan teve que perguntar, vendo o notável desânimo da garota.

– Dormindo, como eu gostaria de estar. – ela respondeu, coçando os olhos de tanto sono.

– Se estava tão cansada deveria ter me avisado. – ele dizia. – Eu poderia ter chamado um taxi.

– Não se preocupe, andar vai me manter acordada. – ela respondeu bocejando mais uma vez.

– Por que você não dormiu? Não gostou do quarto? – Ryan perguntou intrigado.

– O quarto não era problema. Não ligo pra esse tipo de coisa. – ela respondia. – É que... - Então ela hesitou. Não queria contar para Ryan o sonho que ela teve, nem que Saphira havia ligado para ela aquela manhã e lhe contou sobre o tal arquivo Clio. – Nada, deixe pra lá.

Ryan estranhou o comportamento repentino de Nina. Então ele percebeu que aquilo foi à mesma coisa que ele fez a ela noite passada, e se perguntou se Nina sentiu-se intrigada e incomodada do mesmo jeito que ele estava se sentindo agora. Certamente, começar um assunto e não termina-lo era um incomodo.

Após alguns minutos em silêncio, Nina tentou acelerar os passos e se manter ao lado de Ryan, não atrás dele. Olhando para ele, ela percebeu que suas camisetas eram um pouco mais largas para o tamanho do seu corpo, por isso ela não nunca pode notar o crucifixo de ontem.

Ryan olhou de canto disfarçadamente, e notou-a o observando. Ela com certeza estava se perguntando sobre o crucifixo. Ryan não teve escolha a não ser contar para ela.

– Era da minha mãe. – ele disse de repente sobre a corrente, bastante tranquilo. – As iniciais são do nome dela, Amanda Jackson.

Nina estranhou ele tocar naquele assunto de repente, e estar tão tranquilo. Ontem ele parecia incomodado por ela ter visto sua corrente, mas agora ele falava sobre ela tranquilamente, como se ele fosse outra pessoa pela manhã.

– E... Onde ela está agora? – ela perguntou incerta se deveria perguntar aquilo.

– Ela morreu já faz alguns anos. – ele respondeu sem parecer incomodado com aquilo. – Agora sua vez de falar.

– Minha vez? – ela estranhou.

– Sim. Eu te contei sobre o minha corrente. Que tal contar me contar sobre esse pingente que vive com você. – ele sugeriu, apontando para a corrente com pingente de estrela pendurado na calça jeans de Nina.

Ela suspirou, mas achou aquilo justo. Ele havia contado algo sobre ele, agora era a vez dela fazer isto também.

– Meu pai me deu isto. – ela explicava. – Foi a ultima coisa que ele me deu antes morrer, quando eu tinha 5 anos. Antes era um colar, mas a corrente acabou quebrando então o transformei num pingente. – ela passava a mão sutilmente sobre o pingente enquanto explicava.

– Entendo... – ele apenas disse. – Bem... Já descobrimos algo que temos em comum.

Nina fez uma careta ao ouvi-lo dizer aquilo.

– É uma coisa estranha pra se ter em comum. – ela dizia ainda com a careta. – Duas pessoas órfãs que receberam presentes estranhos dos pais antes deles morrerem.

Ryan riu.

– Bem, mas pelo menos já é alguma coisa. – ele continuava a rir.

Nina não se conteve e começou a rir junto com ele. Os dois riam verdadeiramente, mas ela sabia que Ryan fez aquilo para quebrar o clima. Mesmo isto já tendo acontecido há muitos anos, ainda doía lembrar-se deste tipo de coisa. Tanto para Nina, quanto para Ryan.

***

Depois de um pouco menos de meia hora de caminhada, os dois chegaram ao suposto local da instalação da R-103. Era um lugar bem esquecido na Cidade Central da Federação Submersa, quase nenhuma alma viva passava por ali.

Eles foram até um estabelecimento fechado, onde havia uma placa na porta de vidro escrito “Fechado por tempo indeterminado”. Nina olhou para cima e viu uma grande placa em neon desligada, anunciando que o local fechado era um fliperama. Ela não conseguiu conter a riso incrédulo.

– Um fliperama? Sério? – ela continuava com um sorriso incrédulo. – Vocês realmente sabem escolher locais pra esconder uma base secreta.

Ryan não disse nada, apenas riu junto com ela enquanto abria a porta com uma chave que estava guardada com ele.

Lá dentro estava escuro, mas os dois optaram em não acender as luzes para não chamar a atenção. O fliperama parecia bem grande, e mesmo no escuro podiam-se notar as dezenas maquinas de jogos espalhadas por todos os lados.

Nina seguiu Ryan até uma porta onde estava uma pequena placa escrita “Apenas funcionários”. Lá dentro, as luzes estavam acesas, e tudo que os dois viram foi apenas uma pequena sala simples, com uma mesa redonda no meio, rodeada com cadeiras dobráveis. Havia também alguns armários, uma maquina de café e uma maquina de doces. Parecia mesmo apenas uma simples sala para funcionários.

Lá estava um homem velho, calvo e de cavanhaque grisalho. Ele vestia um macacão esverdeado, algo que lembrava o uniforme de um zelador, e estava sentado em uma das cadeiras dobráveis da mesa, lendo um jornal tranquilamente. Ao ver os dois jovens entrarem, ele se levantou.

– Ryan, há quanto tempo! – cumprimentou o senhor, parecendo bem feliz ao vê-lo.

– Faz mesmo, senhor Wislow. – Ryan cumprimentou o senhor de volta, apertando fortemente a mão dele com um sorriso no rosto.

O senhor desviou sua atenção de Ryan e olhou para a garota de cabelos roxos que estava ao seu lado o acompanhando.

– Você deve ser a novata, não é mesmo? – ele esticou a mão para cumprimenta-la.

– Sim, meu nome é Nina. – ela se apresentou, também apertando sua mão.

– Bem, agora que estão aqui, é melhor leva-los logo lá para baixo. – o simpático senhor disse, tirando algo de seu bolso.

“Para baixo?”

Wislow tirou de se bolso um pequeno mecanismo, algo como um tablet, mas muito menor. Ele digitou alguns dígitos e depois pressionou seu polegar, que foi escaneado.

Segundos depois, um dos azulejos cinzentos perto da mesa se elevou alguns centímetros. Então o velho senhor se agachou e levantou o azulejo, revelando uma escada. Ele acenou para que Nina descesse primeiro, e Ryan foi logo atrás.

Descendo as escadas, os três se depararam com uma porta de metal trancada. O senhor Wislow passou pelos dois jovens e foi até um pequeno teclado ao lado da porta, onde começou a digitar uma espécie de código.

– Os estragos lá dentro estão muito feios, senhor Wislow? – perguntou Ryan.

– Ah, sim. Está uma bagunça lá dentro. – ele respondeu. – Mas não se preocupe, o Corredor Azul continua intacto.

“Corredor Azul?”

Ao terminar de explicar, a porta se abriu, e então os olhos de Nina se encantaram. Depois daquela porta havia um extenso corredor de vidro, revalando a imensidão azul do lado de fora. Mesmo estando no fundo oceano, a água era clara. Provavelmente por causa das luzes da cidade.

– Todos fazem a mesma cara ao verem esse corredor pela primeira vez. – o senhor Wislow riu sutilmente de braços cruzados, ao ver a expressão de Nina. – Bem, eu tenho que subir. Tenham cuidado lá dentro vocês dois.

Logo em seguida a porta se fechou, deixando apenas Ryan e Nina naquele corredor.

– Ele não vem com a gente? – Nina perguntou.

– Não. Wislow é apenas o “porteiro”, digamos assim. Ele quase nunca está dentro da instalação. – Ryan explicou enquanto começou a seguir pelo corredor.

O Corredor Azul parecia ser bem extenso. Já havia se passado alguns minutos desde que começaram a andar por ele, e Nina ainda não sabia dizer se eles já estavam na metade dele ou não.

Os dois se mantiveram em silêncio durante o caminho. Nina olhava para todos os lados daquele vazio azul, e analisava aquele vidro ao redor deles, pensando em como os vidros da Federação Submersa deveriam ser bem resistente para aguentar toda aquela pressão da água.

O corredor não era muito largo nem muito alto. Nina precisava ficar alguns passos atrás de Ryan para eles não ficarem exprimidos, e o teto não encostava na cabeça dele por questão de centímetros.

Nina não resistiu e esticou uma de suas mãos até o teto para sentir o vidro acima dela, como se ela quisesse sentir a própria água passar por cima dela.

Acidentalmente, Ryan olhou para traz naquele mesmo instante e viu a garota fazer isto. Ele não se conteve e soltou uma leve risada.

– Não ria. – Nina recolheu sua mão de volta e cruzou os braços, evitando olhar para Ryan.

– Você é inacreditável. – ele comentou ainda rindo. – Você vive agindo como garota durona e sarcástica a maior parte do tempo, mas tem hora que você age com uma garotinha de 12 anos que acabou de ganhar uma bicicleta nova.

– Calado. – Nina ficou ainda mais emburrada. – É que é muito difícil eu me impressionar com alguma coisa.

– Sei... – ele apenas disse olhando para frente, mas Nina pode notar que ele ainda estava rindo.

Os dois ficaram em silêncio novamente depois disto, até que Ryan começou a falar novamente.

– Nina... – ele começou. – Você não deveria sair da R-103.

Ele não se virou para dizer aquilo, então Nina não pode ver que expressão ele estava ao perguntar.

– Porque isto importa pra você? – ela desviou o olhar, mesmo sabendo que ele não estava olhando.

– Não é por mim, é por você. – ele respondia. – Se você sair, o que vai fazer? Vai voltar a ser uma delinquente, e continuar a frequentar o UnderGame? Ficar arriscando sua vida por nada? – ele soava indignado.

– Talvez eu sossegue. – ela respondeu por impulso, mas sabia que não aconteceria.

– Sei. Até parece. – ele riu incrédulo.

– Eu não ligo. Está é a minha vida. Quem está se arriscando sou eu, não as outras pessoas. – ela apenas disse.

– Será que dá pra parar com isto?! – Ryan se virou e parou subitamente na frente dela. – Há pessoas que se importam com você! Acha mesmo que acontece com você não os afeta?!

Os dois permaneceram em silêncio e imóveis. Ryan manteve o rosto indignado e Nina o encarava petrificada. Ryan havia dito “pessoas”, no plural. A única pessoa que importava para Nina era Saphira, sua melhor amiga, mas quem mais se importava com ela?

Sem obter resposta, Ryan se virou novamente e voltou a andar. Nina não sabia o que responder, ou se deveria responder. Ela nunca se preocupou em pensar sobre o que os outros pensavam sobre ela, ou que se importavam com ela.

Os dois continuaram a andar, mas em silêncio. Ryan continuou a se manter na frente de Nina, e não olhou mais pra trás. Mas ela tinha que falar com ele de novo.

– Ryan. – ela o chamou. – Por que... Por que você entrou para a R-103?

Ele ficou em silêncio. Nina imaginou que ele não responderia. Porém então ele começou a falar.

– Eu... – ele começou a falar, colocando as mãos nos bolsos da calça. Parecia estar desconfortável ao falar sobre isso. – Eu estava numa situação muito... difícil. Difícil de mais pra qualquer um. Então Alex apareceu, e me salvou.

– Isso tem a ver com a dívida que você disse que tem com Alexander? – Nina teve que perguntou.

– Exatamente. – ele respondeu. – Eu pude recomeçar graças a ele. Por isso não posso simplesmente abandonar tudo que ele me ofereceu.

Nina queria saber o que foi aquele momento “difícil” que Ryan havia mencionado, mas se ele não disse o que era então devia haver uma grande razão.

***

Após uma longa caminhada por aquele corredor extenso, os dois finalmente chegaram até o final. Lá eles se depararam com uma porta branca automática, que se abriu assim que os dois aproximaram.

Eles entraram em um corredor mais espaçoso e curto do que o interior. Era idêntico ao corredor branco que se encontrava na entrada R-103 da Federação Subterrânea, porém aquele estava com as luzes piscando, por alguma falha elétrica, deixando-o com momentâneos breus.

Ao saírem dele, se depararam com um enorme saguão, também idêntico ao da R-103 da Federação Subterrânea, mas com entulhos e destroços espalhados para todos os lados. Outra diferença é que não havia o Green Spes, o grande reator de energia que alimentava toda a Federação, e isso deixou o saguão muito mais espaçoso.

A explosão parecia não ter só afetado o escritório do líder, mas sim a instalação inteira. Várias paredes estavam rachadas, metais e pedras que despencaram das paredes e do teto estavam caídos para todos os lados, dezenas de lâmpadas estavam quebradas, deixando o local pouco iluminado, e algumas soltavam faíscas. Havia também muita água espalhada, que seria perigoso se encostasse nos fios expostos.

Ryan e Nina andaram com cuidado pelo lugar, evitando as pedras no caminho, e tentando não pisar em alguns fios expostos que estavam largados no chão.

Não, não! Sua maquina idiota! – exclamou uma voz distante. – Você quer desabar o resto do lugar?!

Ryan seguiu a voz que vinha de um canto do saguão, e Nina o acompanhou. Em um canto, onde estava uma passagem bloqueada por causa dos entulhos, estava o rapaz que gritava. Ele monitorava a maquina que tirava os entulhos do caminho bloqueado.

– Eu deveria doar você pra uma faculdade. – o rapaz reclamou mais uma vez antes de perceber as duas pessoas se aproximando.

– Sabe que gritar assim com ele não vai adiantar, não é? – comentou Ryan, chamando a atenção dele.

– Olhem só quem resolveu aparecer! – o rapaz se virou e abraçou Ryan fortemente com um sorriso.

O rapaz era mais alto que Ryan, tinha olhos azuis, cabelos mais claros que os de Ryan e um pouco de barba no rosto. Ele também parecia ser alguns anos mais velho que Ryan.

– Veio ajudar a limpar a bagunça? – o rapaz perguntou olhando a desordem que estava aquele lugar.

– Viemos tentar descobrir quem fez a bagunça, na verdade. – Ryan respondeu, e então olhou para Nina que estava ao seu lado. – Ah, esta é Nina. Nina Callaway.

– Você é a novata da Federação Subterrânea, certo? – o rapaz perguntou voltando sua atenção para a garota.

– Creio que sim. – ela sorriu. – Senhor...

– Ah, desculpe, sou William McBee. – ele respondeu percebendo que não havia se apresentado.

– Então, William, por que a obcessão por essa porta? – Ryan perguntou olhando para a passagem bloqueada que a maquina ao lado ainda tentava abrir.

– Estamos tentando chegar até a sala de vídeo. – William explicava. – Esse é o único corredor que vai até lá. Só espero que a água não tenha danificado nada...

– Então vocês ainda não têm pistas de quem fez isso? – Ryan perguntou intrigado.

– Não, ainda não...

Enquanto Ryan e William trocavam informações, Nina se afastou dos dois, sem que eles ao menos percebessem, e começou a andar pelo o enorme saguão.

Parecia ter poucas pessoas naquela instalação, muito menos do que na da Federação Subterrânea. Era de se esperar que Alexander mandasse alguém pra lá para poder ajudar.

Nina andou olhando para cima, observando as poucas pessoas passando pelos corredores e passarelas acima dela e os cabos expostos pendurados no teto. Neste pequeno momento de distração, ela não notou a poça de água que estava a sua frente, junto com um cabo elétrico exposto em cima. Mais um passo e seria fatal.

Cuidado! – subitamente, alguém agarrou o braço de Nina e a puxou para trás.

Nina se virou e viu que se tratava de uma garotinha, de apenas uns 12 anos. Ela tinha longos cabelos loiros, que se enrolavam nas pontas, e belos olhos azuis brilhantes. Vestia uma calça jeans azul escura, um par de tênis e uma longa camiseta cor de rosa.

– Nem queira imaginar o que teria acontecido se você desse mais um passo. – a garotinha avisou, apontando para a poça logo à frente.

– Uau, essa foi por pouco. – Nina respirou aliviada após olhar a poça. – Muito obrigada.

– De nada. – a garotinha sorriu. – Você é Nina Callaway, certo? A novata da Federação Subterrânea?

– Pelo visto acho que todo mundo já ouviu falar de mim. – ela revirou os olhos.

A garotinha riu levemente.

– É que novatos são muito raros. Geralmente só temos um por ano, mais ou menos. – a garotinha respondeu, parecendo ser bem informada. – A propósito, eu sou Livy Everhart.

– Muito prazer, Livy. – Nina sorriu de volta. – Então, o que uma garotinha como você faz aqui?

– Ora, eu sou um membro também. – Livy simplesmente respondeu.

Nina sabia quando as pessoas estavam mentindo, e Livy não estava. Ela notou que havia muitos poucos membros na R-103, mas não acreditou que eles recrutavam até mesmo crianças.

– Eu sei o que você está pensando. – Livy disse antes mesmo de Nina perguntar qualquer coisa. – Mas eu sou a única criança aqui, não preocupe. Eu sou diferente.

Antes que Nina pudesse perguntar o ela tinha de diferente, ela olhou por trás de Livy e viu Ryan acenando a chamando até lá.

Quando chegaram os dois rapazes riam de alguma coisa que Ryan havia dito anteriormente.

– Qual é a graça? – Nina perguntou curiosa.

– Nada de mais. – Ryan respondeu ainda rindo.

– Pelo visto você já conheceu minha sobrinha Livy. – William comentou trazendo Livy para seu lado e bagunçando o cabelo da garotinha.

“Sobrinha?”

As palavras irmãos, primos, tios e sobrinhos não eram nada comuns no mundo de agora. As pessoas não tinham irmãos, era uma lei em comum das três Federações para evitar a superpopulação. Se um casal tivesse mais de um filho essa criança seria retirada dos pais e criada pelo governo, porém ninguém sabe o que o governo faz com essas crianças, surgindo boatos muito bizarros sobre o que acontecia com elas.

– Como eu estava dizendo para o Ryan antes. – William começou a mudar de assunto. – Vai demorar um pouco até eu conseguir desbloquear essa passagem, e como não podemos progredir sem ela estava pensando se Livy poderia fazer um tour com vocês pela instalação. Vai ser bom para vocês descobrirem quais locais estão segurar para andar ou não.

– É! Vai ser legal! – sem pensar duas vezes, Livy saiu de baixo do braço de William e seguiu em frente. – Venham! Vamos começar por esse lado! – ela apontou para uma escada que levava até um corredor acima deles.

***

Havia poucas salas que eles podiam usar, mas a maioria era distante uma da outra então tiveram que caminhar por muitos corredores. Eles passaram por um corredor quase vazio, não só de pessoas, mas também de salas, e nele havia uma porta muito peculiar, uma que eles não haviam visto igual antes. Livy não disse nada ao passar por ela, então Nina teve que perguntar.

– Hey, Livy, o que tem aqui? – Nina perguntou parando em frente à porta.

– Ah, aqui? – Livy voltou alguns passos até o local em que Nina estava. – Esse é um local de segurança máxima. É uma sala de arquivos secretos. Nem eu tenho acesso a ele.

– E o quem tem acesso? – Nina perguntou.

– Apenas duas pessoas. O líder da R-103 Submersa e o Primeiro Ministro. – Livy explicava enquanto os três voltavam a andar. – Mas agora que Erick morreu... – ela fez uma breve pausa antes de continuar. – Só Primeiro Ministro tem acesso, até surgir um novo líder. Mas não se preocupem, já verificamos e mais ninguém entrou nesta sala no dia da explosão.

Quando Livy terminou, Nina puxou Ryan sutilmente para perto dela.

– Existe uma sala como essa na Federação Subterrânea? – ela perguntou sussurrando para ele.

– Não sei. – ele respondeu também sussurrando. – Mas se existe eu não sei onde fica.

– Venham! Tem um último lugar para levar vocês! – Livy avisou acelerando os passos.

Os três subiram mais uma leva de escada, e Nina já estava ficando cansada delas.

– Ficamos preocupados da explosão ter afetado esse lugar, mas por sorte ele continua intacto. – Livy explicava enquanto prosseguiam em um curto corredor. – Colocamos muitos equipamentos lá dentro agora, então não liguem pela bagunça.

Então se depararam com uma ala espaçosa, coberta por uma enorme cúpula de vidro, deixando um grande vazio azul os cobrir. Não havia lâmpadas lá dentro, apenas a luz natural vindo da imensidão azul, e o barulho das outras salas não chegavam até aquele lugar. Seria um local perfeito se não fosse por todos aqueles equipamentos que tiveram que guardar ali dentro.

Livy, você está aqui? – uma voz chamou pela garota, vinda da mesma passagem em que os três haviam entrado. Era um homem que Nina não conhecia ainda. – Pode nos ajudar com alguns equipamentos lá em baixo?

– Claro, pode deixar. – a garota aceitou sem pensar duas vezes, depois olhou para os dois. – Vocês vão ficar bem sem mim, não é? – ela perguntou.

– Sim, pode ir. Já vim aqui o suficiente para poder achar o caminho de volta. – Ryan respondeu.

Livy foi até o homem a esperando na entrada e o acompanhou, deixando Ryan e Nina sozinhos dentro daquela cúpula de vidro gigante. Livy parecia uma garota bem animada e prestativa, e Nina gostou disto nela.

Com o rosto erguido, Nina olhava hipnotizada sob aquele vazio azul sobre eles. Ryan já tinha ido até este lugar antes, mas se sentia da mesma maneira que Nina. Aquele vazio e silêncio trazia uma súbita paz inexplicável.

– Dá até vontade de... – Nina começou a dizer ainda de rosto erguido.

– ...Largar tudo e ficar aqui para sempre. – ele a completou acidentalmente.

Os dois trocaram olhares por um instante, mas Ryan desviou o olhar rapidamente voltando a olhar para frente. Nina não conseguiu perceber, mas o rosto dele havia ficado vermelho. Ele começou a andar e a passar as mãos no rosto para tentar tirar a vermelhidão.

– Hey, Nina. – ele começou a dizer continuando a olhar para frente. – Me desculpe... Por hoje mais cedo. Eu mal a conheço direito, não tenho direito de te dar um sermão.

Ele se referia ao sermão de mais cedo, quando ele disse para Nina não sair da R-103 e sobre as pessoas que se importavam com as coisas que ela fazia. Por um momento Nina havia se esquecido sobre aquilo, e agora ela não sabia o que dizer.

– Não se preocupe com isso. – ela deu de ombros. – Faz muito tempo que ninguém me dava um sermão. Tinha até esquecido como era. – ela brincou como sempre fazia para escapar das situações tensas.

– Certo... – ele riu de sua resposta, fazendo Nina rir também.

– Ryan. – Nina o chamou quando o silêncio tomou conta do local novamente. – Pode ser estranho perguntar isto agora, mas por que você não gosta da Federação Flutuante? – ela perguntou de repente meio insegura, não sabia como Ryan reagiria com aquela pergunta. Na última noite Ryan reagiu estranho quando mencionou a Federação Flutuante e ela queria saber o porquê.

Ryan ficou surpreso com a pergunta repentina, mas não tanto como Nina esperava.

– Você percebeu, não é? – ele colocou as mãos nos bolsos da calça e evitou contato visual com Nina. Ele até sorriu de canto, mas estava obvio que estava desconfortável.

– Não foi muito difícil. Você passa muito mais tempo na Subterrânea do que na Flutuante. – ela explicava com sutileza. – E ontem à noite você deixou isso muito claro.

Ryan não queria dar uma resposta falsa, mas também não queria contar a Nina toda a verdade. Não agora. E mesmo que ele mentisse, ela perceberia na hora.

– Ela me traz más lembranças. – ele deu uma resposta simples, esperando que Nina se contentasse com ela.

– Tem haver com a morte da sua mãe? – ela perguntou tentando continuar sutil, o que era uma coisa difícil para ela.

– Em parte sim. – ele disse.

Nina não sabia mais o que perguntar. Estava obvio que Ryan estava nada feliz em falar sobre aquilo. Agora ela não sabia o porquê de fazer tantas perguntas, afinal talvez quando voltasse para casa ela não se lembraria de nada que perguntou para Ryan. Ela nem saberia quem era o Ryan.

Por algum motivo uma pontada forte surgiu em seu peito ao pensar em esquecê-lo. Foi tão repentino que Nina passou a mão sobre a dor repentina.

– Você está bem? – Ryan perguntou quando se virou e notou a garota misteriosamente quieta e com um olhar vazio.

Nina sacudiu a cabeça para voltar à realidade e agir normalmente como antes.

– Sim, estou. – ela respondeu colocando uma mexa de cabelo para trás da orelha. Só agora ela percebeu que seu cabelo estava solto.

“Estou usando muito o cabelo solto ultimamente”

“Por quê?”

Os dois vagaram em silêncio entre as dezenas de equipamentos grandes guardados naquela sala. Era como andar no meio de um labirinto. Então passaram por uma pilha de caixotes enormes de metal um em cima um do outro, cobertos por um grosso tecido preto, formando quase uma torre. Com certeza alguma espécie de maquina deve ter erguido aquelas caixas. De repente uma ideia absurda passou pela cabeça de Nina.

– Hey, que tal nós subirmos isto? – ela sugeriu a Ryan, apontando para a pilha de caixotes.

– Você ta brincando, não é? – ele perguntou desconfiado.

– É sério! – ela respondeu com um sorriso travesso no rosto. – Deve ser muito legal ver tudo isso de cima.

Ele olhou Nina de cima a baixo, ainda incrédulo com a ideia repentina.

– Tudo bem, vá na frente então. – ele aceitou ainda receoso.

– Não acredito que você aceitou mesmo. – ela riu balançando a cabeça negativamente, enquanto tateava o primeiro caixote a procura de um suporte para poder começar a escalar.

– Posso mudar de ideia ainda. – ele disse.

– Agora já é tarde. – ela respondeu já apoiando as mãos no primeiro caixote.

A pilha de caixotes não era muito alta, mas se alguém caísse do topo com certeza quebraria algum osso, ou deslocaria um. Nina já estava na metade do caminho e Ryan estava logo atrás dela. Ela olhou para baixo para ver como ele estava e Ryan parecia não ter dificuldade em escalar, mas parecia não ter tanta experiência quanto ela.

Finalmente os dois chegaram ao topo, e se sentaram na beirada do caixote. Nina parecia estar bem, mas Ryan teve que recuperar o fôlego.

Lá de cima os ficaram mais altos do que qualquer outro equipamentos ali guardado, e eles pareciam estar mais próximo da cúpula de vidro do que antes.

– Você parece a Zoe, sabia? – Ryan comentou ainda recuperando o ar.

– A garota da Federação Flutuante? – Nina perguntou.

– Sim. – ele respondeu. – Vocês duas parecem adorar escalar lugares impossíveis.

– Não é tão impossível assim. Nós dois conseguimos subir, não é? – ela explicou.

– Certo... – ele riu, deixando aquele assunto de lado.

Os dois aproveitaram a tranquilidade daquele lugar. Estar naquela cúpula era como estar dentro de um aquário, como se nada do lado de fora pudesse os incomodar.

– Agora a pouco você me perguntou por que eu não gostava da Federação Flutuante. – Ryan começou a dizer. – Então eu posso te perguntar por que você não gosta da Subterrânea?

Nina não sabia ao certo como responder, ficou tão incomodada com a pergunta quanto Ryan ficou quando ela fez a mesma.

– Como você sabe que eu não gosto? – ela perguntou antes de responder a própria pergunta de Ryan.

– Acho que você deixa tão óbvio quanto eu. – ele respondeu. – Não vai me responder?

– Por que você quer saber? – ela continuava a desviar da pergunta principal de Ryan.

– Porque eu quero conhecer você. – ele foi direto. – Quero conhecer a Nina Callaway.

A pressão daquela resposta foi tão forte que Nina sentiu um arrepio do começo ao final da espinha. Nina queria dizer que ela também queria conhecer o Ryan Bennett, mas achou que era melhor responder quem era ela, já que ele perguntou primeiro.

Antes Nina achava que Ryan já sabia tudo sobre o passado dela desde o primeiro dia que se conheceram, mas pelo tom da pergunta de Ryan parecia que ele não sabia nada sobre ela, como ela também não sabia nada sobre ele.

Nina respirou fundo e começou falar.

– Meus pais eram pessoas importantes. Muito importantes. – ela explicava olhando para frente, parecia mais fácil de falar se não olhasse para ele. – Tudo que eles queriam eram ajudar e salvar a Federação Subterrânea, fazer de um lugar melhor para todo mundo que vivesse lá. E mesmo tão ocupados “salvando o mundo” eles ainda tinham tempo pra mim. Eram realmente incríveis. – ela riu sem graça ao falar aquele final, mas então uma raiva começou a acender em seu peito. – Mas de repente algum desgraçado achou que um mundo melhor para todos não era uma boa ideia, e então deu um jeito de se livrar deles. Foi assim que Nina Callaway ficou órfã.

Cansada, Nina se deitou sobre o caixote de metal que estava sentada e fitou o vazio azul que cobria aquela cúpula.

– Meus pais só queriam ajudar aquele inferno, e é assim que eles agradecem. – ela terminou.

Depois daquilo tudo Ryan não sabia o que dizer e como continuar a conversa. Ele olhava para trás, vendo Nina deitada sobre o topo do caixote, mas ela continuava a fitar o teto.

Ele então se virou para frente novamente e contou para Nina algo que ela não esperava.

– Sou um filho de dois mundos. – ele disse de repente, sem parecer arrependido de contar aquilo.

Subitamente Nina desviou sua atenção para Ryan num piscar de olhos, continuando a ficar deitada. Ela ficou completamente perplexa.

“Filho de dois mundos” significava ser filho de duas pessoas de Federações diferentes. Eles eram extremamente raros por causa da política atual, muito mais do que se ter irmãos, tios, primos e etc. Ter um filho com alguém de outra Federação significava destruir sua vida completamente, era como se tornar um indigente e seria muito pior para a vida da criança que crescesse nessa situação. Nina nunca havia conhecido um filho de dois mundos antes, e não esperava que Ryan fosse um.

– Espera... O quê? – ela questionou perplexa.

– Minha mãe era da Federação Flutuante, mas meu pai era da Federação Subterrânea. – Ryan explicava de uma maneira totalmente tranquila. – Minha mãe me contou que meu pai morreu antes de eu nascer, então não sei quem ele era.

– Mas como você está... Vivo?! – ela se sentou ao seu lado para entender a história por completo.

– Para sua informação tenho uma vida muito boa no meu apartamento na Federação Flutuante. – ele ergueu uma das sobrancelhas, achando que Nina estava pensando que ele vivia como prisioneiro em algum complexo do governo.

Aquilo foi um choque para Nina, mas também fez todo o sentido. Era por isso que Ryan conseguia ficar tanto tempo na Federação Subterrânea.

– Isso explica muito coisa... – ela murmurou perdida em seus pensamente, mas voltou sua atenção de volta ao Ryan quando uma curiosidade veio em mente. – Quem mais sabe sobre isso?

– Só você e o Alexander. – ele respondeu.

– Mas... Por que você contou pra mim? – ela perguntou intrigada já que somente uma pessoa sabia dessa informação.

– Bem... – ele pensou em uma resposta. – Já que conheci um pouco da Nina Callaway achei que era justo você conhecer um pouco do Ryan Bennett.

Ryan sorriu e Nina sorriu junto com ele. Ela ficou feliz em ouvir aquilo mesmo sem saber a razão. Seu coração começou a bater acelerado e, como estava tudo muito silencioso, ela pode ouvir o de Ryan bater tão rápido quanto o dela.

“Mas... O que está acontecendo?”

Foi então que Ryan começou a se aproximar vagarosamente de seu rosto.













(Não, isto não é uma cena do capítulo, é só um desenho dos dois que já fiz faz um tempo. Mas qual é, todos nós sabemos que isto vai acontecer mais cedo ou mais tarde u.u kkkk)




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Notas finais do capítulo

BAAAAAAAAAMMMMMMM!! Acabei numa parte ótima não é? u.u Vocês querem me matar ainda mais agora eu imagino kkkkk
Me digam nos comentários o quanto vocês estão me odiando kkkkk