Eu estou de pé, mas como ? Sinto meu pulmão se abrir e dilatar, mas me falta ar pra preencher todo esse espaço.

Estou dentro de uma sala, clara, tão clara que me dói abrir os olhos; a minha frente vejo minha filha numa encubadora, pequena e frágil, dormindo. As minha costas, ela, minha mãe e meu pai, eles estão chorando, mas... por que ? 

Olho novamente para a encubadora e não vejo mais a minha filha, olho ao redor e vejo que ela está estática, parada, inerte, e meus pais tentam reanima-la. E eu continuo sem entender.

Até que eu vejo alguma coisa num saco preto, tem algo pequeno ali, me proximo e pergunto a enfermeira o que é aquilo, ela pede para eu me afastar.

- Onde está minha filha ? A um minuto ela estava aqui e no outro... me diga, o que é isto ? - Pergunto

- Senhor você deveria consolar sua esposa, em vez de ficar olhando isso, você pode ficar com trauma- a enfermeira responde calmamente.

Com brutalidade eu e empurro para o lado, e abro o saco.

Me deparo com a minha filha, roxa, morta e gélida.

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Sinto algo me sacudir, depois sinto uma leveza e o chão duro sobre meu corpo. Cai da cama, um sonho, foi tudo um sonho.

Levanto atordoado, estou suado e tremendo, tiro a blusa e a jogo no chão. Cambaleando vou até a cozinha e bebo uma água.

Antes de voltar para o quarto, dou uma passada no quarto dela para ver minha filha.

Estranho isso, falar " minha filha" .

Ela está conosco a algumas semanas, estamos dando apoio a ela 24h, e ela não se cansa, chora e esperneia; mas essa até que foi uma noite tranquila, tirando o pesadelo.

Eu adorei o nome que ela escolheu para nossa filha. No mesmo dia que ela chegou, escolhemos o nome. Eu lembro do dia nitidamente. 

- Bom, a algum tempo eu tenho esse nome em mente, e quero saber a opinião de vocês ... - Ela segurava a criança no colo e todos nós estávamos sentados ao redor dela.

- Filha, porque você não coloca Maria Antonieta ? Eu acho lindo - Minha mãe lançou sua cabeça para trás como sinal de orgulho, já eu e ela fizemos careta. 

- Eu gosto de Mirella - Sugeriu meu pai.

- Eu até gosto desse- Respondi olhando para ele e depois para ela.

- Eu também gostei do nome, mas eu já decidi... então...- Ela falou balançando os ombros em dúvida sobre sua escolha.

- Diz logo o nome que você escolheu - Me aproximei dela e fique sentado do lado dela.

- Merida, o nome dela vai ser Merida - Disse decidida, olhando diretamente para a criança em seu colo, que pela primeira vez sorriu.

- Acho que ela gostou do nome - Comentei.

E ficou assim, Merida.