Puxou um cigarro do maço, que já estava quase amassado por completo e com um dos poucos fósforos que lhe restava, acendeu seu Memphis*. Pouco lhe importava se o regime que havia infiltrado suas células, dissesse que aquele era um hábito que deveria ser eliminado.

Ver a fumaça se desprender de seus lábios era uma das poucas coisas que conseguiam deixar Ludwing relaxado, depois de tudo que havia se passado, e que ainda perdurava, já não conseguia mais manter a consciência tranquila.

Tudo que conhecia, tudo o que era, havia sido contruído através de batalhas, mas a guerra na qual agora se encontrava, todos os ideais pareciam já não ter propósito. Já era tarde demais quando enxergou o que haviam feito proclamando seu nome.

Até mesmo o pequeno italiano já parecia ter se dado conta disso, seja por covardia, ou por se cansar de tudo aquilo. Ele havia abandonado o germânico novamente. Iria agora cair em sua própria ambição, sabia que no final de tudo iria afogar-se apenas em lembranças de vergonha, que jamais iriam se esvaecer.

O futuro parecia sombrio, mas não tanto quanto os dias em que estava vivendo.

O cigarro havia se consumido por completo, Ludwing estendeu a mão para pegar outro no bolso, mas ao invés disso sentiu seus dedos roçarem com algo que parecia ser papel. Puxando o braço de volta para a claridade, trazia em sua mão uma folha amassada e bastante amarelada. Era uma carta do natal passado.

Há um ano aquelas palavras estavam guardadas em seu bolso, já estavam quase apagadas, mas Ludwing ainda se lembrava do que diziam.

Era apenas Feliciano reclamando de qualquer coisa, dizendo que sentia falta do 'Doitsu', que estava prestes a fazer uma coisa que iria magoá-lo, novamente, mas que era o que achava certo.

Ludwing suspirou enquanto relia a carta com letras apagadas, lembrou-se de como nunca havia respondido o italiano, nunca mais havia lhe dirigido a palavra, embora sentisse falta dele. Nunca lhe dissera isso, nunca lhe dissera nada, nem mesmo havia lhe devolvido o feliz natal escrito no final da carta.

Dobrou o papel e colocou novamente dentro do bolso. Puxou o maço de cigarros amassados, e com um dos poucos fósforos que lhe restava, acendeu outro Memphis. Ainda pensando nas palavras que havia acabado de ler, ele comtemplava a fumaça que se desprendia de sua boca, sabia que não iria escrever para Feliciano, sabia que não iria lhe mandar presentes ou cartões-postais, mas pensou, pensou bem forte, em seu único desejo para aquele natal.

Desejava apenas que o pequeno italiano tivesse um 'buon natale', de todas suas vontades, essa era a única que gostaria que fosse atendida, naquele momento. Um Feliciano feliz, já seria o suficiente para iluminar aquele natal que deveria ser esquecido.